1969 - Acreditar na Vitória

1969
A Marinha e a guerra colonial

A Marinha adapta-se

A partir de 1957, a Marinha criou os seus Comandos Navais e Comandos da Defesa Marítima em África e em 1959 apresentou um plano para renovação da sua esquadra para substituir os navios, na maioria obsoletos, construídos e dimensionados para operações no âmbito da NATO, no Atlântico Norte, e por consequência inadaptados a operar em climas tropicais e a enfrentar ameaças totalmente diferentes das existentes.

Foram adquiridos novos navios oceânicos e construídas em estaleiros nacionais um considerável número de lanchas de fiscalização e de desembarque, adaptadas aos teatros de operações africanos, foram criados os Fuzileiros, e foi desenvolvida a actividade hidrográfica nos territórios africanos, mas, apesar do esforço orientado para África, a Marinha nunca interrompeu os seus compromissos com a NATO, tendo sempre mantido pelo menos um navio periodicamente integrado na força naval da Aliança.

 

Comandos Territoriais

A estrutura dos Comandos Territoriais Ultramarinos da Marinha obedecia ao mesmo princípio dos do Exército e da Força Aérea, com os Comandos Navais ao mesmo nível das Regiões Militares e Aéreas e os Comandos da Defesa Marítima ao nível dos Comandos Territoriais do Exército e das Zonas Aéreas.

Os Comandos Navais de Angola e Moçambique e o Comando da Defesa Marítima da Guiné tinham simultaneamente funções logísticas e operacionais, sendo responsáveis pelo emprego dos seus meios.

A atribuição de responsabilidades operacionais a cada um dos ramos das Forças Armadas, como se existisse uma “guerra” do Exército, outra da Marinha e outra da Força Aérea, criou situações de difícil controlo e conduziu a situações de mau emprego de meios que foram atenuadas a partir de 1968/1969, quando os comandantes-chefes das Forças Armadas de cada um dos teatros de operações passaram a ter comando efectivo sobre todas as forças e não apenas funções de coordenação.

Até 1974 prestaram serviço em África os seguintes navios e embarcações:

  • Fragatas da classe Commandant Rivière (Comte. João Belo) – 4
  • Corvetas da classe João Coutinho – 6
  • Lanchas de fiscalização – 43
  • Lanchas de fiscalização grandes (LFG) – 10
  • Patrulhas costeiros – 10
  • Lanchas de fiscalização pequenas (LFP) – 23
  • Lanchas de desembarque – 64
  • Grandes (LDG) – 6
  • Médias (LDM) – 36
  • Pequenas (LDP) – 22

As unidades de menor dimensão, nomeadamente as lanchas, foram atribuídas com carácter permanente aos Comandos Territoriais e parte delas agrupadas em esquadrilhas, tendo sido criadas as Esquadrilhas de lanchas da Guiné, do Zaire e do Niassa.

 

Fuzileiros – a Infantaria da Marinha

Além destas unidades navais, a Marinha criou unidades de Fuzileiros para operar em terra – as Companhias de Fuzileiros (CF) com um efectivo de 140 homens, que podiam destacar parte da sua força, e dispunham de certos meios logísticos e que se destinaram essencialmente a assegurar a defesa de instalações navais em terra e embarcações mercantes nos portos e no meio aquático, desempenhar o serviço de polícia naval; e os Destacamentos de Fuzileiros Especiais (DFE), inicialmente com um efectivo de 75 elementos e posteriormente com 80, para acções essencialmente ofensivas de duração limitada e de restrita profundidade a partir da orla ribeirinha. Os DFE não dispunham de quaisquer meios logísticos, sendo totalmente apoiados pelos Comandos a que eram atribuídos. Foram empregues em acções de assalto sobre objectivos terrestres, no patrulhamento de águas costeiras e fluviais e participaram, com outros ramos das Forças Armadas, em operações anfíbias e terrestres.

 

Mergulhadores-sapadores

Em 1964, foi criada a primeira unidade de mergulhadores-sapadores. Até essa data apenas as guarnições das unidades navais dispunham de algumas praças com o curso de mergulhador-vigia. Em 1973 são criados dois Destacamentos de Mergulhadores-Sapadores. O Comando de Defesa Marítima da Guiné foi o único Comando a que foram atribuídas as primeiras unidades de mergulhadores, desde 1967, uma Secção, e a partir de 1973, um Destacamento.

 

Logística e apoio

A Marinha utilizou o navio reabastecedor da esquadra, S. Gabriel, para transporte de material, nomeadamente lanchas de desembarque e Fuzileiros para a Guiné e Angola. A partir de 1971, o antigo petroleiro Sam Brás, após importantes modificações, foi classificado como navio de apoio logístico e atribuído a título permanente ao Comando Naval de Moçambique. Também os escoltas oceânicos foram intensamente utilizados no apoio logístico quando em trânsito para e de África e também entre os vários portos dos três teatros de operações. Na Guiné, devido à configuração do território atravessado por uma densa rede de cursos de água que permitia acesso via fluvial à maioria das povoações e guarnições militares, a Marinha com as suas lanchas desempenhou um papel fundamental no transporte e apoio logístico.

 

LFP Antares em manutenção na base de Porto Amélia, Moçambique. [RA]

 

Transporte

Estima-se que cerca de 95% do material e pessoal destinado aos teatros de operações africanos foi transportado via marítima, tendo sido utilizados 21 paquetes da Marinha Mercante Nacional que, com o estatuto de navios do Estado, embarcaram oficiais da Armada como Capitães de Bandeira, e transportaram em viagens de ida e volta, de 1961 a 1974, cerca de 600 mil homens.

 

Um resumo

No que diz respeito a meios navais, a Marinha de Guerra Portuguesa estava mal preparada para enfrentar uma guerra como a que veio a declarar-se nas colónias de África, mas a existência de meios navais foi determinante em três aspectos:

  • soberania, ao assegurarem a defesa da fronteira marítima, fluvial e lacustre e vigilância das costas;
  • apoio de combate, através do transporte de forças de desembarque e sua protecção quando em terra, incluindo a participação de meios navais em operações irregulares em países estrangeiros (casos da Operação Mar Verde, das operações de infiltração no Congo através do rio Zaire e na Tanzânia com desembarques na baía de Mtwara, entre outros);
  • apoio logístico, de transporte de pessoal e de material e de comunicações.

Quanto às unidades de Fuzileiros especiais (DFE), elas tiveram limitações de emprego devido à sua orgânica e à inexistência de elementos de apoio logístico.

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