Conflito entre militares e missionários em Moçambique.
O director da missão do Charre (Tete), padre Perrault, recusou autorização para colocar cartazes de Acção Psicológica (APSIC) das Forças Armadas Portuguesas.
Relativamente ao boletim informativo do Batalhão de Cavalaria 1923, unidade responsável pelo sector onde se encontrava a missão católica, também recusou colaborar com ele.
Estes conflitos, entre os militares e as missões da zona de Tete, serão vulgares ao longo da guerra.
O ministro do Interior, Gonçalves Rapazote, declara que nas eleições de Outubro “apenas será permitida uma escolha de indivíduos e não qualquer confrontação ou discussão de políticas”.
Depois da última tentativa de separação do Catanga, em 1967, Tchombé foi condenado à morte por Mobutu, acusado de alta traição, quando já estava de regresso ao exílio em Madrid.
Meses mais tarde, quando viajava no seu avião particular de Ibiza para Palma de Maiorca, foi alvo de um rapto cinematográfico conduzido pelo mercenário francês Joseph Bodenan e conduzido para a Argélia, onde foi mantido na prisão até à sua morte, oficialmente de ataque cardíaco.
A sua morte contínua envolta em mistério. Para justificar a intervenção da Argélia é referida uma denúncia de Mobutu e a ligação financeira de Tchombé ao tesoureiro do FLN (o partido único da Argélia), apoiante de Ben Bella, que entretanto tinha sido derrubado por Boumedienne.
Nenhum dos governos nem das grandes empresas a quem serviu levantou um dedo para o salvar.
Ataque da FRELIMO ao Destacamento do Luatize, no Niassa, sendo utilizada, pela primeira vez, uma metralhadora pesada antiaérea de 12,7mm, num ataque a um quartel em Moçambique.
Carta aberta de Uria Simango (FRELIMO), Agostinho Neto (MPLA) e Amílcar Cabral (PAIGC) ao simpósio dos bispos africanos, reunido em Campala para a visita de Paulo VI.
O simpósio dos bispos africanos realizou-se em Campala e foi presidido pelo Papa Paulo VI. Os dirigentes dos três movimentos que combatiam o regime português acusavam a Igreja Católica Romana de apoiar explicitamente a guerra feita por Portugal nas suas colónias e condicionavam a atitude futura dos seus povos face à Igreja de acordo com a posição que esta tomasse.
A hierarquia da Igreja Católica de Moçambique, inicialmente convidada para participar, foi desconvidada, enquanto os bispos angolanos se apresentaram em Campala sem problemas. Era nítido o isolamento internacional da Igreja Católica de Moçambique.
Em nenhum outro território foi tão clara a divisão da Igreja e tão violento o confronto com as autoridades portuguesas. No centro do conflito esteve a diocese da Beira. O Governo Português recusou o sucessor do bispo D. Sebastião de Resende proposto pelo Vaticano. Este tivera problemas com as autoridades que lhe fecharam por várias vezes o jornal Diário de Moçambique que ele fundara e deixara atrás de si um rasto de contestação à guerra e de defesa das liberdades dos povos e da autonomia do território. A diocese ficou longo tempo sem bispo. Os padres brancos foram expulsos. Outros foram presos.
Acusações do MPLA a Savimbi e a Alexandre Taty de serem colaboradores do Exército Português.
Foram as primeiras acusações do MPLA de colaboração da UNITA com os militares portugueses e foram feitas na emissão do seu programa de rádio “Angola Combatente”, emitido de Lusaca.
Centralização em cada Comando-chefe das operações militares de cada teatro de operações.
Ao fim de oito anos de guerra o Governo reconhecia a necessidade de um comando completo por parte dos comandantes-chefes nos teatros de operações. Esta centralização teve a forte oposição do ministro da Marinha, que conseguiu manter a actividade naval dependente dos Comandos Navais.
Spínola não esperara pelo decreto-lei e também não se sentiu limitado sempre que necessitou de utilizar meios navais nas suas operações. Chegou mesmo a dar ordens de emprego de navios contra a opinião do comandante da Marinha e a determinar que “alterassem as marés…”.
O Decreto-Lei n.º 49.107, de 7 de Julho de 1969, reorganizou os comandos-chefes, que passaram a ser os responsáveis pelas operações militares, criando-se um Quartel-General que contava com uma Repartição de Operações e Informações centralizadas.
As forças ficavam organizadas em guarnição normal e de reforço. A primeira seria de carácter permanente e organizada, tanto quanto fosse possível, à base do recrutamento local, excepto os quadros e especialistas. A segunda interviria quando os meios da primeira se mostrassem insuficientes para garantir a segurança na área de responsabilidade do Comando-Chefe.
Holden Roberto pede a dissolução do Comité de Libertação da OUA.
Holden Roberto pediu a dissolução do Comité de Libertação da OUA numa entrevista a um jornal tunisino, acusando aquele comité de ser um factor de divisão da causa angolana.
A verdadeira questão de Holden Roberto era o apoio que o comité, dominado por países alinhados com a URSS, passara a dar quase em exclusivo ao MPLA.
Início da instrução de preparação e selecção dos futuros graduados da 1ª Companhia de Comandos Africanos, na Guiné.
Com esta acção, o general Spínola, comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, iniciava a criação de unidades de Comandos compostas na totalidade por militares oriundos da Guiné.
A instrução deste curso de futuros graduados decorreu em Brá e foi frequentado por 36 militares com experiência de combate e 18 soldados recrutas do Curso de Sargentos Milicianos. Terminou a 6 de Setembro 1969. Em Novembro e Dezembro foram feitos o recrutamento e selecção dos praças para a formação da 1ª Companhia de Comandos Africanos.
A OUA considera o PAIGC como o “único movimento válido” da luta pela independência da Guiné.
Na 15ª sessão da Comissão de Coordenação para a Libertação de África da OUA, realizada em Dacar de 15 a 21 de Julho, a OUA considerou o PAIGC como o “único movimento válido” da luta pela independência da Guiné. Na mesma reunião, a comissão propôs a retirada imediata do reconhecimento da FNLA/GRAE pelos países da OUA e a suspensão da sua ajuda material e o aumento da assistência ao MPLA, afirmando ser este o “único movimento angolano que efectivamente se bate”.
A reunião realizou-se de 17 a 21 de Julho com a presença de delegados do PAIGC, FRELIMO e MPLA e teve por finalidade a “coordenação dos esforços na luta contra
Portugal e contra todos os outros partidos que há muito deixaram a luta anticolonialista e não representam a população nativa dos seus países”.
A reunião coincidiu com os trabalhos do Comité de Libertação da OUA, uma coincidência que favoreceu os líderes dos movimentos de libertação que conseguiram um aumento da ajuda.
O apoio monetário da OUA ao PAIGC tinha sido em 1967/68 de um milhão de francos franceses e para 1968/69 foi aumentado para 1,65 milhões, um reforço considerável. Além do PAIGC, o auxílio monetário era apenas fornecido ao MPLA e FRELIMO.
Nesta sessão foi decidido mandar uma mensagem à Conferência Episcopal da Igreja Católica, reunida em Campala, pedindo aos bispos africanos que obtivessem do Papa Paulo VI a “condenação clara do colonialismo português”, pois a guerra feita por Portugal era apoiada pela Igreja Católica portuguesa.
Reunião em Lisboa dos chefes militares e dos serviços secretos de Portugal, Rodésia e África do Sul.
Com esta reunião reforça-se a cooperação entre os três Estados brancos da África Austral, apesar da afirmação de Marcelo Caetano, na “conversa de família” de 10 de Fevereiro, garantindo não existir nenhuma aliança de Portugal com a África do Sul e a Rodésia.
Autorização para D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, regressar a Portugal.
D. António Ferreira Gomes estava no exílio há dez anos por causa de uma carta escrita a Salazar.
Marcelo Caetano autorizou-o a regressar para resolver mais um problema herdado de Salazar e demonstrar alguma abertura política à Igreja Católica, um sector onde ele não dispunha da autoridade de Salazar.
Grandes incêndios em consequência de fogo posto nas plantações de eucaliptos ao longo do Caminho-de-Ferro de Benguela, em Angola.
Os eucaliptos eram o combustível das máquinas a vapor do CFB e ao longo da linha, a partir do Cubal, constituíam a maior plantação do mundo desta árvore.
Os incêndios de fogo posto destinavam-se a perturbar o tráfego no CFB e a envenenar as relações entre a Zâmbia e o MPLA e também com Portugal.
Era uma táctica da UNITA para demonstrar a sua importância na região.
Julgamento e absolvição de dois militares portugueses no Supremo Tribunal da Zâmbia.
Estes dois militares tinham sido capturados em território zambiano, onde tinham penetrado por engano.
O Supremo Tribunal da Zâmbia absolveu-os, mas o presidente Kaunda mandou prendê-los novamente, desautorizando o tribunal.
Esta atitude de Kaunda tem a ver com questões internas de domínio sobre o poder judicial e de questões externas de pretender utilizar os dois militares como moeda de troca com o Governo português.
Os juízes eram europeus de origem inglesa e a crise culminou com a sua saída da Zâmbia.
Abertura do Festival Cultural Pan-Africano em Argel.
No final deste festival, no dia 29 de Julho, o delegado brasileiro Amílcar Alencastre apresentou uma proposta de criação de uma Comunidade Afro-Luso-Brasileira à qual adeririam voluntariamente o Brasil e as repúblicas autoproclamadas da Guiné-Bissau, Angola e Moçambique.
A proposta de criação de uma comunidade luso-afro-brasileira é uma velha ideia brasileira, que teve no presidente Senghor, do Senegal, o mais empenhado dirigente africano.
Ataque do PAIGC a Quirafo, no Leste da Guiné, durante três horas, com grande poder de fogo, do qual resultou a destruição completa do aquartelamento.
Um grupo de mais de 100 guerrilheiros atacou este destacamento da Companhia de Caçadores 2406 com três canhões sem recuo, três morteiros 82mm, lança-granadas foguete P-27 e metralhadoras pesadas durante três horas, tendo sido referenciados 120 rebentamentos no interior do destacamento. Os guerrilheiros chegaram a cortar o arame farpado em vários pontos e penetraram no aquartelamento.
Aprovação, pelo Conselho de Segurança da ONU, de uma queixa da Zâmbia, por ataques aéreos portugueses a povoações fronteiriças, em que os aliados portugueses se abstiveram, mas manifestaram discordância com a política colonial portuguesa.
Emboscadas a forças do aquartelamento de Miconge em Cabinda, por duas vezes, na estrada Sanga Planície-Miconge por um grupo de 30 guerrilheiros que também atacaram o aquartelamento com morteiro.
Um grupo numeroso emboscou a coluna militar portuguesa que escoltava trabalhadores para a colheita do café na estrada Vista Alegre-Ponte do Dange.
Não eram normais em 1969 estes ataques da iniciativa dos guerrilheiros e a interpretação das autoridades portuguesas foi a de que se tratava de um grupo instalado recentemente nesta zona.
Chegada do Papa Paulo VI a Campala, Uganda, para a Conferência Episcopal dos Bispos Católicos de África.
Os bispos portugueses de Moçambique foram os únicos que não participaram. De facto, o Vaticano, aparentemente cedendo a pressões dos países africanos e da FRELIMO, anulou o convite feito.
Decisões do Conselho Superior de Defesa Nacional sobre a permanência nas fileiras dos militares que cumpriam serviço militar obrigatório.
Com estas decisões obtinha-se um maior equilíbrio entre o tempo de serviço dos militares que eram mobilizados para o Ultramar e o daqueles que ficavam a servir em unidades da Metrópole; e abria-se a possibilidade à convocação e mobilização dos ex-oficiais milicianos que, nos anos mais próximos, tinham passado à disponibilidade sem ter sido mobilizados para o Ultramar. Deste último grupo iriam sair diversos oficiais que, convocados com o posto de tenente miliciano, eram obrigados a frequentar o Curso de Promoção a Capitão (CPC) ministrado na Escola Prática de Infantaria (EPI), em Mafra, após o qual eram mobilizados para o comando de companhias e promovidos ao posto de capitão miliciano na véspera do embarque para a província de destino. Por este processo foram formados, anualmente, cerca de cem capitães.
Fim da remodelação do dispositivo militar da Guiné feita por Spínola.
Na carta de situação publicada a 3 de Agosto de 1969 estão completas as alterações que Spínola introduziu no dispositivo, de modo a adaptá-lo às novas circunstâncias da guerra e, principalmente, aos conceitos que queria impor. O território da Guiné ficou dividido em quatro áreas: Oeste, Leste, Sul e Bissau.
O Comando de Bissau (COMBIS) dispunha de um comando de agrupamento, um comando de batalhão e duas companhias na sede, uma em Nhacra, outra em Quinhamel e duas companhias de milícias.
O Oeste tinha um CAOP com sede em Teixeira Pinto/Cantchungo, que coordenava três sectores de batalhão. O rio Cacheu tinha o TG3.
O Leste foi dividido ao meio, no sentido norte-sul, ficando com o comando de agrupamento de Bafatá e o COP5, este com sede em Nova Lamego.
O Sul continuou dividido em sectores independentes – Tite, Gadamael Porto e Catió, mais o COP4, com sede em Aldeia Formosa (hoje Quebo).
Libertação de 92 ex-militantes do PAIGC pelas autoridades portuguesas da Guiné, entre os quais Rafael Barbosa.
Exactamente no dia do décimo aniversário dos acontecimentos de Pidjiguiti, o general Spínola executou uma espectacular operação de acção psicológica e libertou 92 presos políticos que se encontravam detidos na ilha das Galinhas, entre os quais o presidente do Comité Central do PAIGC, Rafael Barbosa, preso a 13 de Março de 1962 pela PIDE. Na cerimónia realizada na Praça do Império, Barbosa agradeceu em nome de todos os prisioneiros, num discurso difundido pela rádio de Bissau e que causou forte impacto nas hostes do PAIGC.
O Governo da Tanzânia anunciou a instalação de 10 000 refugiados moçambicanos junto à fronteira, com o apoio de organizações filantrópicas como o Serviço Cristão de Refugiados.
Emboscada da FRELIMO a uma coluna portuguesa na região de Mueda, na chamada “curva da morte”, causando nove mortos e 16 feridos.
A emboscada foi feita a forças de uma companhia de caçadores e iniciou-se como rebentamento de uma mina na segunda viatura da coluna, seguida de uma emboscada de grande violência. Destas acções resultaram nove mortos, entre eles o oficial comandante da coluna e 16 feridos.
As “curvas da morte”
Os militares portugueses baptizaram como “curvas da morte” vários itinerários onde ocorreram emboscadas de grande violência e que causaram elevado número de baixas. Existiram “curvas da morte” na estrada de Mueda-Mocímboa da Praia, na região de Oasse (muitas vezes referida como “do aço”), no “caracol” na estrada Catur-Vila Cabral, na estrada para Nambuangongo. Eram habitualmente trechos de estradas em terrenos acidentados, com escarpas e floresta que forneciam bons abrigos e esconderijos.
Operação Talião, na região de Cuntima, fronteira norte da Guiné com o Senegal, com a captura de grande quantidade de material de guerra pelas forças portuguesas.
A operação teve início após um reconhecimento aéreo na zona do marco 99 da fronteira Guiné-Senegal, durante o qual os pilotos detectaram um possível descarregamento de material de uma viatura do PAIGC. Na sequência desta descoberta foi realizado um reconhecimento terrestre por forças da CCaç 2549 do Batalhão de Caçadores 2879, seguido de um heliassalto com apoio de fogo aéreo na região de Faquina por forças de Páraquedistas do BCP 12. As forças portuguesas capturaram cerca de 24 toneladas de material de guerra.
Este descarregamento de material revela que, apesar dos atritos entre o PAIGC e as autoridades do Senegal, este país continuava a manter o apoio aos guerrilheiros ao mesmo tempo que o seu presidente, Leopold Senghor, procurava vias de aproximação ao Governo português, agora chefiado por Marcelo Caetano, e a Spínola, o novo governador e comandante-chefe da Guiné.
Apresentação, feita por Amílcar Cabral em Argel, de cinco desertores portugueses, como resposta à libertação de presos do PAIGC feita por Spínola no aniversário dos acontecimentos de Pidjiguiti (3 de Agosto).
Reinício das operações de pulverização aérea com herbicidas em Angola.
As primeiras pulverizações aéreas com herbicidas em Angola tinham sido feitas em 1966, durante a Operação Quissonde. A 20 de Agosto de 1969 estas operações foram reiniciadas e decorreram até ao final de 1971. Para as pulverizações foram utilizados aviões Dakota e as principais zonas de lançamento eram as culturas (lavras) no Norte, entre outras, nas regiões do Zenza, do rio Dange, em Quitexe, em Santa Eulália, na serra de Calabinga, nos montes Camacume, no Onzo e na Bela Vista. No Leste as pulverizações com herbicidas tiveram como objectivos as nascentes do rio Cassai, no Lungué, Bungo, ao longo do rio Luena na Rota Agostinho Neto e ainda, consoante o evoluir da situação e da descoberta de novas culturas, nas regiões de Lucano e Nova Chaves, no saliente do Cazombo, em Gago Coutinho, Ninda-Chiume e rios Cuando e Chicolui.
Além do impacto directo na saúde das populações sujeitas ao lançamento de herbicidas, a pulverização com químicos implicava a destruição da colheita daquela época, agravando a fome das populações.
Ataque a Cantacunda, na Guiné, sendo este o primeiro a esta povoação na zona de Geba e na zona de acção da Companhia deCaçadores 2405. A povoação foi completamente destruída.
Reunião no Malawi dos chefes dos comités regionais da FRELIMO em Tete para ampliação da luta nas regiões do Chioco, Changara e Mucumbura.
Para realizar esta extensão da guerra os dirigentes nomeados estabeleceram um plano que implicava aliciar populações e afastar todos os que não colaborassem.
Do antecedente, em 5 de Abril, já tinha sido atacada a cantina do Adão e o cantineiro Taborda foi morto nos dias seguintes, com base nesta intenção de limpar a zona.
Accionamento de uma mina anticarro por uma coluna portuguesa nas proximidades de Fulacunda, Sector Sul, Guiné, de que resultaram cinco mortos e dez feridos.
Incorporação compulsiva, nas Forças Armadas, de 49 estudantes que se salientaram no conflito académico de Coimbra. A nova Lei do Serviço Militar de 1968 continuava a estabelecer, tal como a de 1937, a prestação do serviço militar em regime disciplinar.
Início da operação do Agrupamento Siroco no Leste de Angola.
A operação do Agrupamento Siroco teve lugar no Leste de Angola na época seca de 1969, durante três meses. Iniciou-se em 1 de Setembro e desenrolou-se através de três acções sucessivas:
A Operação Eleita, de 1 a 20 de Setembro;
A Operação Trovão, de 29 de Setembro a 11 de Outubro;
A Operação Vigor, de 11 a 20 de Outubro.
Estas operações correspondiam à necessidade de matar à nascença qualquer tentativa de ameaça no Leste de Angola e de não deixar os guerrilheiros instalarem-se. O conjunto de operações causou 103 mortos, 23 prisioneiros e a recuperação do controlo de 600 elementos da população. Foi também capturado uma significativa quantidade de armamento. As forças portuguesas não sofreram baixas.
Conceito Siroco – um conceito dos Comandos
O Agrupamento Siroco e o seu emprego corresponde a um conceito de emprego de forças especiais desenvolvido pelo Centro de Instrução de Comandos (CIC) de Angola e em especial pelo seu comandante, o tenente-coronel Gilberto Santos e Castro, a partir da experiência dos Comandos de caça, muito utilizados pelos franceses na Argélia. O conceito Siroco é o desenvolvimento das acções de caça em ambiente de contraguerrilha, apoiado por meios aéreos que assegurem elevada mobilidade e por acções de recolha e análise de informações tácticas que permitam a sua exploração em tempo oportuno.
Constituição do Agrupamento Siroco
Comando
Agrupamento Aéreo (um DO27 e quatro helicópteros ALIII)
Três Companhias de Comandos: 11ª/12ª CCmds; 19ª CCmds e 20ª CCmds Brigada da DGS.
Anúncio da adjudicação definitiva de Cahora Bassa ao consórcio Zamco.
O contrato com a Zamco foi aprovado por Decreto-Lei (DL 49.225, de 4 de Setembro). Face a dúvidas levantadas sobre a obra, nomeadamente uma notícia do jornal República, o Ministério do Ultramar publicou um esclarecimento relativamente a vários aspectos que suscitavam essas dúvidas.
Entrevista de Salazar ao jornal francês L’Aurore em que pensa ser ainda presidente do Conselho e lamenta que Caetano se recuse a entrar no Governo.
Amparado por figuras íntimas, Salazar vive na ilusão de ainda mandar, oscilando entre depressões profundas e laivos de lucidez. Para evitar que os portugueses se apercebam da dimensão da farsa em que o regime vivia, a Censura impediu a publicação do telex da agência France Press que relatava a entrevista de Salazar.
Segundo o jornalista Roland Faure, que entrevistou Salazar “os que o rodeiam velam para que ele seja mantido na ilusão…»
Apresentação do relatório anual do secretário-geral da ONU, em que U’Thant lamenta a decepção sofrida por muitos que alimentaram a esperança de que o Governo português alterasse a política colonial e reconhecesse o direito à autodeterminação e à independência.
Reconhecimento do porto de Conacri por um navio português.
“Preparava-se a Operação Mar Verde. Spínola concordou com a operação proposta por Alpoim Calvão e a LFG (lancha de fiscalização grande) Sagitário foi disfarçada para parecer um navio do PAIGC. Deslocou-se de noite para fazer um reconhecimento a Conacri e entrou no canal que separa as ilhas Loos da península, durante cerca de duas horas.
Então, utilizando o radar, foram localizadas com rigor as posições dos diversos cais acostáveis. Uma hora mais tarde a lancha dirigiu-se para a saída”.
Assinatura do contrato de construção da barragem de Cahora Bassa com o consórcio ZANCO, formado por empresas portuguesas, sul-africanas, alemãs, francesas e italianas, do contrato entre o Governo português e a África do Sul para fornecimento de energia eléctrica e dos contratos de financiamento com bancos portugueses e estrangeiros.
Estes contratos oficializavam, em definitivo, a viabilização e a construção de Cahora Bassa e colocavam um ponto final nas dúvidas sobre a sua construção. Estas dúvidas resultavam da existência desde há muito de duas opiniões acerca da construção de Cahora Bassa e foram uma decisão difícil. Marcelo Caetano retardou a decisão, baseado em razões de ordem técnica, nomeadamente a passagem a definitiva da adjudicação provisória que dependia de algumas concessões do consórcio escolhido que não tinham sido ainda assumidas e também em questões de segurança, exigindo uma garantia do ministro da Defesa, Sá Viana Rebelo, de que as Forças Armadas asseguravam as condições necessárias para a realização do empreendimento.
Os opositores argumentavam com as difíceis condições existentes no terreno, nomeadamente as derivadas da crescente instabilidade decorrente da guerra e pelos problemas de segurança que essa situação levantava quer à construção da barragem, quer ao transporte da energia ao longo dos novecentos quilómetros de linha eléctrica em território moçambicano, quer ainda pelo enorme endividamento do Estado português que, não tendo possibilidades de financiar a totalidade da obra, era obrigado a assumir.
Os apoiantes argumentavam a favor, contrapondo que a concretização do empreendimento reforçava a presença portuguesa em África, demonstrando que a inabalável vontade de permanecer contribuía para o desenvolvimento do território e congregava o apoio de parte da comunidade internacional, envolvendo-a directamente no empreendimento, como veio posteriormente a verificar-se com a participação de empresas francesas e alemãs no consórcio vencedor (Zamco), embora outras tenham sido obrigadas a retirar-se por força das suas opiniões públicas.
Cahora Bassa em números
Segunda maior barragem de África;
ALBUFEIRA
Comprimento – 250 km
Largura – 38 km
Área da albufeira – 2700 km2
Capacidade de armazenamento – 63 milhões de m3
BARRAGEM
Capacidade de vazão – 13,5 mil m3/segundo
Potência (5 grupos geradores) – 20 GigaW
Linha de transporte – 1400 km (900 em Moçambique)
Número de torres – 6400
NÚMERO DE TRABALHADORES – 5000 (3000 africanos e 2000 europeus)
POPULAÇÃO DESLOCADA – 42 000
CUSTO (1969) – 7 033 048 345 escudos (515 milhões de dólares).
Nota:
Para um termo de comparação, os encargos com as Forças Militares Extraordinárias no Ultramar (OFMEU) em 1969 foram um pouco menos, 6,085 milhões de contos. A ponte sobre o Tejo custou 2,145 milhões de contos (1966).
Kaúlza de Arriaga erra o alvo por oitocentos quilómetros!
As obras da barragem de Cahora Bassa tornaram-se o pólo decisivo da guerra em Moçambique em que se empenharam a FRELIMO e as Forças Armadas Portuguesas. Mas, entretanto, Kaúlza de Arriaga preparava-se para concentrar os seus meios junto à fronteira com a Tanzânia e “atacar o coração da FRELIMO, no Planalto dos Macondes”. Foi fazer a Operação Nó Górdio, oitocentos quilómetros desviada do alvo.
Visita à cidade de Conacri dos militares portugueses prisioneiros do PAIGC.
Os militares portugueses presos em Conacri foram autorizados a visitar a capital. Foram apresentados a Amílcar Cabral, que estava acompanhado por vários dirigentes do PAIGC. Amílcar Cabral disse-lhes que uma vez conseguida a independência da Guiné seriam restituídos às suas famílias.
Nas visitas que fizeram a vários pontos da cidade foram tiradas fotografias para propaganda.
Criação em Amesterdão da Fundação Eduardo Mondlane.
Esta fundação tinha por objectivo obter fundos para subsidiar as actividades do Instituto de Moçambique em Dar es Salam e apoiar os movimentos de libertação de Angola e da Guiné.
Emboscada a uma viatura civil na zona do Furancungo, Moçambique, com a morte de um casal de europeus – cantineiro Taborda e mulher.
O grupo emboscou a viatura do cantineiro que seguia com a mulher e um empregado moçambicano, tendo morto os três. De seguida incendiou a cantina Taborda. Os guerrilheiros da FRELIMO pretendiam levar as populações da zona de Chizampeta a abandonarem Moçambique e a refugiarem-se na Zâmbia para assim terem mais
liberta a linha de infiltração do rio Mucanha em direcção ao Zambeze.
O cantineiro Taborda já havia sido ameaçado para deixar a zona em 28 de Agosto.
Anúncio, por Olof Palme, novo primeiro-ministro da Suécia, da criação de um programa de auxílio económico à FRELIMO e ao PAIGC, com desaprovação firme da política colonial portuguesa.
Os países escandinavos tiveram uma politica activa contra o apartheid e a favor das lutas de libertação africanas desde os anos 50 e foram muito mais generosos nas suas contribuições do que os outros países ocidentais. Existia um Africa Group, assim como um outro antiapartheid em cada país nórdico (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia).
A razão para este apoio deriva do facto destes países não estarem envolvidos nos problemas da África Austral, terem perdido as suas colónias no século XVIII, os seus negócios na área serem pequenos.
Como tinham saído da II Guerra Mundial sem grandes problemas internos, os seus jovens necessitavam de uma boa causa para se empenharem. As guerras de libertação em Angola, Guiné e Moçambique, na Rodésia e na Namíbia e a luta contra o apartheid ofereceram-lhes uma oportunidade de participarem num movimento política e moralmente estimulante, o que levou os movimentos de juventude a exercerem pressão sobre os seus governos para apoiarem os movimentos de libertação e suspenderem os investimentos nas colónias portuguesas, na África do Sul e na Rodésia.
O Governo sueco interveio para forçar a firma sueca ASEA a retirar-se do projecto de Cahora Bassa, a FRELIMO começou a ser apoiada com ajuda financeira a partir de Dezembro de 1968, embora essa juda tenha sido canalizada através do Instituto de Moçambique, dirigido por Janet Mondlane, e o PAIGC desde 1969. Ainda em 1969, o Partido Social-Democrata de Olof Palme convidou Amílcar Cabral, do PAIGC, e Oliver Tambo, do Congresso Nacional Africano (ANC) da África do Sul, a participarem no seu congresso em Estocolmo. Os países nórdicos, e em especial a Suécia, foram também muito activos no apoio a desertores portugueses da guerra colonial.
Recém-chegado a Moçambique (em Junho), a formação do Batalhão de Comandos de Moçambique foi uma decisão do general Kaúlza de Arriaga, já a preparar forças para executar o seu conceito de manobra, quando fosse comandante-chefe, o que ocorreria em Março do ano seguinte. Para realizar as grandes operações com que pretendia atacar a FRELIMO, necessitava de concentrar e aumentar forças. Para isso mandou reunir todas as companhias de comandos existentes em Moçambique (17ª CCmds, 18ª CCmds e 21ª CCmds) em Montepuez , dotou-as de um comando de Batalhão e determinou a constituição de um Centro de Instrução para formar mais companhias de Comandos com base no recrutamento local.
O Batalhão de Comandos de Moçambique foi a primeira unidade deste escalão, nas unidades de Comandos nos três teatros de operações e será constituído por seis companhias operacionais, três de origem metropolitana, mobilizadas pelo CIC de Angola, e três formadas em Moçambique.
Apesar da existência física e administrativa do Batalhão de Comandos, Kaúlza de Arriaga e o seu Estado-Maior nunca o utilizaram operacionalmente enquanto tal, preferindo distribuir as companhias por vários sectores e empregá-las isoladamente.
Mesmo na Operação Nó Górdio, o Estado-Maior de Kaúlza preferiu constituir agrupamentos em que misturou unidades de vários tipos, do que utilizar o Batalhão de Comandos e os Batalhões de Páraquedistas como unidades operacionais.
Na zona de Tete, também o COFI, o comando operacional de Kaúlza para as unidades de intervenção, preferiu dispersar as unidades de comandos, companhia a companhia, sem tirar proveito das vantagens do melhor enquadramento e do melhor aproveitamento operacional que lhes poderia ser dado pelo Batalhão.
Foi, em parte, esta falta de percepção das condições em que se desenrolava a guerra, com aumento de intensidade e de capacidade por parte da FRELIMO e de desgaste nas tropas portuguesas, incluindo nas tropas especiais, e que aconselhavam um enquadramento superior, que conduziram a situações lamentáveis como as que ocorreram em Wyriamu.
A concepção de autonomia progressiva e participada de Marcelo Caetano suscita a desconfiança dos chefes militares.
O chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), Venâncio Deslandes, transmitiu as suas reservas ao presidente da República, Américo Tomás.
Caetano estava sob vigia e resolveu descentralizar os processos de decisão. Passou a convocar o Conselho Superior de Defesa Nacional, paralisado durante o Governo de Salazar.
Franco Nogueira demite-se do Governo, alegadamente para se preparar para a campanha eleitoral.
Marcelo Caetano assumiu interinamente o MNE. A saída de Franco Nogueira do Governo não foi pacífica e deixou Marcelo Caetano com um problema de interinidade. Foi ministro dos Negócios Estrangeiros durante quatro meses, até ser substituído por Rui Patrício, em Janeiro de 1970.
Suspensão de Uria Simango do triunvirato que dirigia a FRELIMO, por ter acusado os outros dois membros, Samora Machel eMarcelino dos Santos, de práticas autoritárias.
Era a rotura definitiva entre as duas tendências no seio da FRELIMO, a de Uria Simango, por um lado, e Samora Machel e Marcelino dos Santos, por outro, tendo estes o apoio de Janet Mondlane, viúva do dirigente da FRELIMO e das autoridades da Tanzânia. O grupo de Machel irá conduzir a FRELIMO até à independência, eliminando do seu caminho todos os opositores. Este grupo pretendia iniciar uma revolução social, criando “um Homem novo e um país igualmente novo, sem autoridade administrativa colonial e sem os tradicionais regulados”.
Tratava-se, em suma, de levar à prática as teorias da guerra revolucionária de subverter a ordem colonial e eliminar a influência ocidental em território africano, mediante a aplicação de influências ideológicas próximas do marxismo-leninismo.
A partir do afastamento de Uria Simango, depois da neutralização de Kavandame, que se entregaria às autoridades portuguesas, com Miguel Murupa, um outro jovem fundador da FRELIMO, a união em torno de uma linha de acção previamente definida reforçou-se e os apoios aos dirigentes próximos de Machel cresceram.
No acto de posse, o novo primeiro-ministrosueco, Olof Palme, declarou que o seu Partido Social-Democrata e o Parlamento apoiavam unanimemente os partidos emancipalistas das colónias portuguesas da Guiné e de Moçambique, o PAIGC e a FRELIMO. Este apoio foi materializado como ajuda para fins humanitários, sendo feito no cumprimento das disposições da ONU. Na sequência destas declarações o Governo português protestou junto do Governo sueco.
Ainda como reacção, as autoridades portuguesas e as câmaras municipais de Lourenço Marques, Luanda e Lisboa boicotaram os produtos suecos.
Em Lisboa explodiu na noite de 23 para 24 de Setembro uma bomba de fabrico doméstico nas instalações da firma sueca Volvo.
Não houve no entanto corte de relações diplomáticas com a Suécia.
O jornal Times of Zambia de 18 de Outubro noticiou a realização do congresso da UNITA no interior de Angola. O autor da notícia era um jornalista branco, Steve Valentine, e transmitia as ideias-força da UNITA – ser o único partido criado e com todos os dirigentes no interior de Angola e viver exclusivamente do apoio das populações libertadas.
Operação Ostra Amarga – quando uma operação de propaganda corre mal a Spínola.
A operação destinava-se a mostrar aos jornalistas da revista francesa Paris Match e aos da estação pública de televisão ORTF o domínio dos militares portugueses no terreno da Guiné.
Envolvia forças do Batalhão de Cavalaria 2862, uma unidade da confiança de Spínola, bem instruída e bem comandada, com sede em Bula, a norte de Bissau.
A operação desenrolou-se na zona da Caboiana, a NE de Bula, uma zona de grande domínio do PAIGC.
No dia 18, último dia da operação, os militares portugueses accionaram uma mina antipessoal na região de Badapal, provocando dois feridos e caíram numa emboscada na região de Pecure, sofrendo dois mortos e um ferido.
Toda a acção foi filmada e fotografada pelos jornalistas e a revista Paris Match publicou, na edição nº 1071, de 15 de Novembro de 1969, uma reportagem com o título: Guinée: l’étrange guerre des Portugais (Guiné: a estranha guerra dos Portugueses).
Refúgio de Marcelo Caetano no Posto de Comando da Força Aérea de Monsanto, por causa de rumores sobre um golpe de Estado.
Esta acção de Marcelo Caetano nunca foi esclarecida. Segundo André Gonçalves Pereira, que foi aluno de Marcelo Caetano e seu confidente, o homem que substituiu Salazar viveu durante os seis anos em que esteve à frente do Governo preocupado e temendo a hipótese de um golpe militar de direita. O próprio Américo Tomás, antes de lhe dar posse, tinha-o mais ou menos anunciado quando o avisou que as Forças Armadas interviriam se a política ultramarina fosse modificada.
Esta busca de refúgio ocorre nos dias anteriores às “eleições”, em que Marcelo Caetano inscreve Pinto Leite, Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Magalhães Mota e Miller Guerra nas listas de deputados e que viriam a constituir a “ala liberal” do regime.
Minas na estrada Lutembo-Gago Coutinho, no Leste de Angola.
No período de 25 a 30 de Outubro foram accionadas várias minas na estrada Lutembo-Gago Coutinho e Gago Coutinho-Ninda, que causaram a destruição de viaturas e vários feridos.
Eleições para a Assembleia Nacional – a ala liberal.
Entre os novos deputados estão alguns jovens políticos que constituirão aquela que ficará conhecida como a ala liberal do regime: José Pedro Pinto Leite, Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão, José Miller Guerra, Joaquim Magalhães Mota.
A Oposição concorre dividida entre a CDE e a CEUD.
A primeira defende negociações com os movimentos africanos. A segunda diz não à guerra e ao abandono.
Preparação do alargamento das acções da FRELIMO para Sul do rio Zambeze, junto à fronteira.
Um grupo de 16 elementos da FRELIMO executou várias acções de propaganda e aliciamento de populações a SW de Vasco da Gama, na zona de Tete. Para o efeito, este grupo organizou várias “banjas” durante as quais fez tratamentos sanitários às populações. Era a primeira vez que as forças portuguesas detectavam a assistência sanitária como veículo para aliciamento de populações.
Aumento global dos quadros aprovados por lei relativos aos oficiais do QP das armas de Infantaria, Artilharia e Cavalaria, com o fim de lhes garantir “um tempo mínimo de permanência na Metrópole, entre comissões consecutivas no Ultramar”, através da publicação do Decreto-Lei n.º 49.323.
As justificações desta medida incluíam a necessidade de “repartir o esforço exigido pelas três armas”, harmonizando o mais possível o ritmo das promoções, pelo que se estipulava um aumento dos quadros das referidas armas em 20 vagas de tenente-coronel e 40 vagas de major. Se os pressupostos em que assentava este diploma eram uma realidade, o facto era que, deste modo, se acelerava a promoção dos capitães mais antigos, a uma velocidade que não era compensada pelas promoções possíveis de tenentes a capitães.
Esta circunstância, de resto, daria origem a outro diploma, com a mesma data (Decreto-Lei n.º 49.324), através do qual se criava um novo quadro, igualmente de carácter permanente, a ser alimentado já não pelos oficiais oriundos da Academia Militar, mas por oficiais milicianos que para ele transitavam voluntariamente.
Criação do Quadro Especial de Oficiais do Exército (QEO), destinado a oficiais dos quadros de complemento (milicianos), mediante certas condições.
O Decreto-Lei n.º 49.324, de 27 de Outubro, alegando no seu preâmbulo que “a subversão que […] tem afectado as províncias ultramarinas portuguesas obrigou o País ao empenhamento […] de apreciáveis efectivos do Exército” e que, até então, apenas se tinha recorrido a oficiais de complemento até ao posto de capitão e que, em consequência, “o esforço em campanha de oficiais superiores, particularmente intenso nos postos de tenente-coronel e major das principais armas combatentes” tinha incidido exclusivamente sobre os quadros permanentes, e, considerando também que oficiais do quadro de complemento (QC) e sargentos do quadro permanente (QP) e do quadro de complemento (QC) tinham “revelado em campanha dotes de comando e de chefia” que, na conjuntura, importava “aproveitar na defesa do património nacional e, de certa maneira, reconhecer”, criava o “quadro especial de oficiais – QEO –, destinado à instrução e enquadramento de unidades do Exército na Metrópole e no Ultramar”. Também se abria a possibilidade de admissão neste quadro aos sargentos do QP ou do QC, desde que, possuindo menos de 32 anos, tivessem sido agraciados com condecoração de grau não inferior ao de Cruz de Guerra de 2.ª classe e viessem a ter aproveitamento num curso de preparação para ingresso no QEO. Em qualquer caso, porém, o seu ingresso no quadro permanente era obtido directamente, sem frequência da Academia Militar.
Tratava-se de mais uma solução de recurso para a obtenção de capitães, decididamente o posto mais crítico da hierarquia do Exército, em torno do qual girava todo o esforço de guerra nos teatros de operações ultramarinos.
Apresentação de um pedido deindemnização à ONU por parte de Portugal por causa das perdas sofridas com o bloqueio do porto da Beira resultante do embargo decretado à Rodésia.
O pedido era de 28,5 milhões de libras e a diligência do Governo português baseava-se num capítulo da Carta das Nações Unidas. Já em Março de 1968 o Governo português tinha apresentado um primeiro pedido de indemnização.
A cidade foi flagelada com foguetões, tendo três deles caído no seu interior e provocado três feridos.
Foi a primeira vez que a cidade foi atacada e foi também o primeiro ataque com armas deste tipo nesta região. Estes foguetões eram de calibre 122mm e tinham alcances da ordem dos 16 km. Também foram utilizados no ataque a Empada.
Bolama, que foi a antiga capital da Guiné, está situada numa ilha.
Guerrilheiros da UNITA destroem uma aldeia do reordenamento de populações no Leste de Angola.
Um grupo de guerrilheiros da UNITA destruiu 54 cubatas de uma aldeia do plano de reordenamento de populações no Leste de Angola, provocando a fuga dos habitantes.
Ofício do ministro da Defesa Nacional para o presidente da Cruz Vermelha com a indicação dos militares portugueses prisioneiros.
O ofício informava que as Forças Armadas Portuguesas tinham 23 militares “retidos” na República da Guiné-Conacri, cinco na República Democrática do Congo (Kinshasa), três na República Popular do Congo (Brazzaville), quatro na Tanzânia e um na Zâmbia, e solicitava as melhores diligências para que estes 36 militares fossem entregues.
Suspensão de Uria Simango da presidência da FRELIMO.
Um comunicado da FRELIMO noticiou a suspensão de Uria Simango das suas funções de membro do Conselho Presidencial por ter violado os princípios e as regras da organização e ter cometido um acto de indisciplina grave ao publicar um documento de 13 páginas intitulado “Situação Sombria no Interior da FRELIMO”.
Uria Simango ficou suspenso até à reunião seguinte do Comité Central, durante a qual seria resolvido o seu caso. Uria Simango afirmou que a “Frente” estava a ser minada pelo nepotismo, pelo regionalismo e pelo tribalismo, denunciando a existência de uma conspiração para o eliminar.
Após a saída de Uria Simango, Samora Machel considerou-o um traidor, como Kavandame.
Notícias sobre as possibilidades aéreas da FRELIMO.
O Consulado-Geral de Portugal em Salisbúria informou o Ministério dos Negócios Estrangeiros de ter recebido notícias de que a FRELIMO se preparava para constituir uma pequena Força Aérea, equipada com 24 aviões fornecidos pela China.
Segundo o cônsul, os serviços de informação rodesianos julgavam saber que já estariam escolhidos os locais e que seriam perto das localidades de Chipata, Nymba e Petauke, na Zâmbia.
O Governo da Nigéria anuncia a captura de um piloto português, forçado a aterrar de emergência quando procedia a bombardeamentos no Norte do país por conta dos separatistas do Biafra.
Tratava-se de um ex-piloto da Força Aérea Portuguesa, Gil Pinto de Sousa, desmobilizado depois de cumprir uma comissão em Angola.
Foi contratado por mercenários com ligações a Bob Denard e acabou por ir para o Biafra. Esteve lá em duas ocasiões diferentes – foi na segunda que foi obrigado a ejectar-se de um T-6 atingido em território inimigo. Ficou preso cinco anos em Lagos.
Operação Jove – captura do capitão cubano Pedro Peralta.
A Operação Jove teve lugar no Sul da Guiné, corredor de Guileje e foi levada a cabo por forças páraquedistas, em resposta a informações sobre a passagem de uma coluna militar do PAIGC onde seguiria Nino Vieira. Durante a operação foi capturado o capitão cubano Pedro Peralta, a quem foram apreendidos documentos que descrevem os ataques do PAIGC aos quartéis de Buba, Bedanda e Jabadá.
O “corredor de Guileje”
O “corredor de Guileje” constituía a principal linha de infiltração do PAIGC no território da Guiné. Na realidade tratava-se de um trilho de terra batida aberto na floresta, que vinha de Kandianfara, na República da Guiné-Conacri, e penetrava no território pela região do Quitafine, no Sul. Em Novembro de 1969 os serviços de escuta portugueses captaram a informação da passagem de uma importante coluna com material de guerra, na qual se deslocaria Nino Vieira, ao tempo o mítico comandante da Frente Sul, e o Comando-Chefe das Forças Armadas Portuguesas na Guiné atribuiu ao Batalhão de Caçadores Pára-quedistas a missão de interceptar os guerrilheiros. Duas companhias de páras foram transportadas em 16 de Novembro por avião de Bissau para Aldeia Formosa, no Sul, e a partir deste quartel os homens foram colocados no terreno por helicóptero. A emboscada foi montada em 17 de Novembro com 70 homens numa base recuada, 35 em apoio e outros 35 sobre o trilho do “corredor de Guileje”. No dia 18 de Novembro, depois de uma progressão difícil pela mata, pouco depois dos 35 homens deste grupo de assalto terem instalado o dispositivo, ouviram-se vozes e surgiram na picada dois homens armados, um branco e um negro. O Páraquedista apontador da metralhadora
abriu fogo, matando o guerrilheiro negro e ferindo o branco. Este conseguiu fugir para o interior da floresta, tentando dissimular o rasto de sangue. Após uma perseguição difícil os Pára-quedistas encontraram finalmente o ferido completamente exausto pelo sangue perdido.
Foram-lhe prestados os primeiros socorros e num interrogatório sumário ele identificou-se como Pedro Rodriguez Peralta, capitão do Exército cubano, de 32 anos, nascido em Santiago de Cuba.
Seria evacuado por helicóptero para Bissau e daqui para Lisboa, sendo libertado após o 25 de Abril de 1974.
Início de um seminário de quadros do PAIGC em Conacri, em que Amílcar Cabral aborda os seguintes aspectos: duração da guerra e renovação dos quadros, aspectos económicos da guerra, doutrina portuguesa de unificação cultural e papel da luta armada.
Aprovação, pela Assembleia Geral da ONU, de uma resolução de condenação da política colonial de Portugal, de tom moderado, mencionando expressamente o Manifesto de Lusaca.
O Governo muda o nome à PIDE para Direcção-Geral de Segurança (DGS).
Marcelo Caetano muda o nome às velhas organizações do salazarismo. Através do Decreto-Lei 49.401 foi criada no Ministério do Interior a Direcção-Geral de Segurança para suceder à PIDE.
Todo o pessoal desta passa para a nova direcção-geral, incluindo Silva Pais, o seu director. As missões e os procedimentos mantêm-se.
Visita a Angola e Moçambique dos adidos militares em Lisboa dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Brasil.
Esta visita era uma operação de charme de Marcelo Caetano e uma vitória para romper o isolamento político em que o regime se encontrava devido à guerra.
Criação do Comando Operacional das Forças de Intervenção (COFI), em Moçambique.
O COFI foi criado a título experimental (esta era uma fórmula para ultrapassar a necessidade de autorização legislativa do Governo) por despacho de 16 de Novembro, com a missão de preparar e conduzir operações com forças de intervenção e apoio da Força Aérea e Marinha quando necessário, em todo o território de Moçambique. Era um comando terrestre, dado nesta data Kaúlza de Arriaga ser apenas o comandante da Região Militar e só ter autoridade sobre o Exército. O comando era móvel, previa o emprego de forças da Região Militar, da Região Aérea e do Comando Naval em operações terrestres, com apoio aéreo. Nas operações intervinham companhias de comandos, Pára-quedistas e Fuzileiros.
Spínola intensificou a acção militar ofensiva, tentando inverter a situação de vantagem do PAIGC no terreno. A partir de Novembro de 1969, as Forças Armadas Portuguesas intensificaram os bombardeamentos às povoações fronteiriças dos países vizinhos com o objectivo de retirar o apoio destes ao PAIGC, chegando a utilizar, no período compreendido entre 1 e 27 de Dezembro de 1969, bombas de napalm, sobre algumas localidades do Sul da Guiné.
Incidente de fronteira entre Angola e o Congo-Kinshasa.
Tropas Portuguesas reagiram com fogo de Artilharia a uma flagelação do ELNA feita a a partir da base de M’Pinda no Congo-Kinshasa causando sete mortos.
Anúncio da concessão de direitos de prospecção mineira em Moçambique à companhia sul-africana Johanesburg Consolidated Company.
O contrato foi assinado entre o Governo português e uma entidade industrial formada pela companhia sul-africana e por uma firma portuguesa denominada “Leonel Gomes dos Santos.”
Este contrato deu direitos exclusivos de prospecção mineira numa larga faixa que abrangia as bacias do rio Zambeze até às fronteiras com o Malawi e a Zâmbia.
Condenação de Portugal na ONU por tratamento desumano a prisioneiros.
Na Assembleia Geral foi votada uma condenação contra Portugal e a África do Sul por tratamento “inumano e torturas aos prisioneiros políticos”. Foi, mais uma vez, referida a questão dos prisioneiros de guerra e as convenções de Genebra.
A Assembleia Nacional exortou, por unanimidade, Marcelo Caetano a prosseguir a “política nacional de manutenção e defesa da unidade e integridade de todos os territórios portugueses”.
Reunião do Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos em que é definida uma política de apoio aos regimes brancos.
Na reunião do Conselho Nacional de Segurança dos EUA, presidida por Nixon e em que estiveram presentes o secretário de Estado, William Rogers, o director da CIA, Richard Helms, e Kissinger, foi definida uma política dos EUA para África claramente concordante com os pontos de vista da África do Sul, da Rodésia e de Portugal. A ideia geral era a de que os brancos em África “vieram para ficar”.
Operação Birch com forças rodesianas em Moçambique.
Operação combinada entre forças portuguesas e rodesianas na região de Vila Pery. A operação foi conduzida pelos rodesianos contra guerrilheiros da ZAPU (Zimbabwe African People Union). Foram mortos seis guerrilheiros e capturados 10.
As Forças Armadas Portuguesas fizeram duas baixas.
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