Uma grande operação inicial
Após o desencadear das acções violentas por parte da FRELIMO em 24 de Setembro de 1964, o dispositivo militar português na zona de Cabo Delgado centrou-se em Mueda, a capital do planalto dos Macondes e ponto de convergência de todas as grandes vias de comunicação – da estrada que liga o planalto ao mar, vinda de Mocímboa da Praia; ao Norte, para a Tanzânia através de Mocímboa do Rovuma; ao Sul em direcção a Montepuez e a Pemba (Porto Amélia); e ao interior do planalto, para Nangololo e Muidumbe.
Tal como em Angola e na Guiné, quando o dispositivo inicial, assente numa primeira fase em posições de companhias, possibilitou o suporte logístico mínimo a forças de escalão mais elevado, os comandos militares do território planearam e levaram a efeito uma grande operação convencional destinada a eliminar as bases da guerrilha e a demonstrar às populações a superioridade portuguesa.
Em Moçambique, a grande operação inicial recebeu o nome de Operação Águia e pretendeu eliminar a guerrilha do planalto dos Macondes. Teve início no dia 2 de Julho de 1965, quase um ano depois do ataque da FRELIMO ao Chai. A resistência que os guerrilheiros ofereceram revela a grande evolução ocorrida desde então nos seus efectivos, organização e armamentos.
As forças portuguesas
Para a Operação Águia foi constituído o Agrupamento 23, formado por dois Batalhões de Caçadores – o BCaç 558 e o BCaç A (Batalhão de Caçadores de Nampula), e por uma Bateria de Artilharia de 8,8 cm.
A missão
A missão das forças era, como constava da ordem de operações, “realizar uma nomadização contínua no tempo e tão vasta quanto possível no espaço” na área entre os rios Rovuma e Messalo e “desenvolver uma actividade destinada simultaneamente a exercer uma acção de presença junto das populações, destruir os elementos armados que entre elas se acoitam, destruir instalações caracteristicamente terroristas, furtando assim aos bandos inimigos todo o apoio por parte das populações, comprometidas ou não”.
Desenrolar da acção: como na Operação Tridente, na Guiné
A Operação Águia desenrolou-se em moldes semelhantes à Operação Tridente: uma fase inicial com o máximo de efectivos disponíveis em acções ofensivas e ocupação de pontos importantes, e instalação de bases operacionais, seguida de acções em superfície realizadas por unidades de menores efectivos de forma continuada, e, finalmente, a ocupação permanente da zona por unidades de quadrícula. Esta será, aliás, uma modalidade de acção usada com frequência pelas forças portuguesas, sempre que os guerrilheiros não dispunham de capacidade para se superiorizar a unidades de efectivos mais reduzidos.
Como virá a constar do relatório da operação, os guerrilheiros procuraram, inicialmente, dificultar a acção das forças portuguesas através de emboscadas e acções de flagelação às colunas.
Em 3 de Junho, duas emboscadas; em 1 de Julho, ataque à base de Miteda; em 2 de Julho, duas emboscadas; em 3 de Julho, ataque à base de Muatide e duas emboscadas; em 8 de Julho, uma emboscada. Estas acções provocaram quatro mortos e 18 feridos nas forças portuguesas.
Em 8 de Julho, as forças portuguesas desencadearam uma acção de bombardeamento com Artilharia e aviação sobre o triângulo Miteda-Nangololo-Muatide, acompanhada de emboscadas sobre as prováveis linhas de retirada dos guerrilheiros.
Em 12 de Julho foi alvejado um avião Auster; nos dias 14, 16, 17, 18, 20, 21, 22, 29 e 30 do mesmo mês colunas portuguesas foram emboscadas e a 31 os guerrilheiros fizeram accionar uma forte carga de trotil comandada à distância. Os militares portugueses sofreram mais seis mortos e 27 feridos.
Situação
A situação na zona era sintetizada do seguinte modo pelo comando da operação: “Existência de um inimigo numeroso, fortemente mentalizado, bem armado, sem quaisquer privações ou restrições no emprego de munições e que se habituara a actuar com relativo à-vontade na zona”.
A partir do final de Julho, a Operação Águia entrou numa nova fase, já não com a realização de golpes de mão, mas sob a forma de batidas. Estas acções receberam designações derivadas da palavra Águia, como Águia Branca, Águia Amarela, Águia d’Ouro, Águia Vermelha e irão prolongar-se até 6 de Setembro, data em que termina oficialmente a Operação Águia.
Ao findar esta grande operação, a situação no planalto dos macondes continha já todos os elementos que caracterizarão a guerra naquela zona durante os anos subsequentes – grande violência, especialmente sobre as estradas e vias de comunicação através de emboscadas e minas; perda de controlo por parte das forças portuguesas da esmagadora maioria da população do planalto, com excepção do pequeno número dos que se mantinham nas proximidades de alguns quartéis portugueses instalados em antigas povoações macondes (Mueda, Nangololo, Diaca, Mocímboa do Rovuma, Nangade), existência de elevados efectivos de guerrilheiros bem armados, dispondo de bases poderosas no interior do planalto e de apoios no trânsito a partir da Tanzânia.
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