Depois do significativo salto quantitativo verificado no ano anterior, o aumento das tropas do Exército no conjunto dos três teatros de operações estabiliza, sendo os efectivos, no final de 1972, acrescidos de pouco mais de um milhar de homens, relativamente a um ano antes, mantendo-se, com uma ligeira subida, a tendência para o aumento da percentagem de tropas oriundas dos recrutamentos locais. Uma significativa parte destas tropas de recrutamento local estão a ser utilizadas como forças especiais em acções conjuntas ou não, com as tropas especiais de origem metropolitana. A intensa actividade operacional que se regista nos três teatros de operações – onde somente em Angola são assinalados resultados classificáveis de positivos – vai decorrendo grandemente impulsionada pelas operações em que intervêm tropas das reservas dos respectivos comandantes-chefes, maioritariamente constituídas por companhias de Comandos, Fuzileiros, Pára-quedistas e Grupos Especiais de tropas do recrutamento local. As unidades de quadrícula, sobretudo em Moçambique e na Guiné, prosseguem a sua missão de intenso sacrifício e escassa produtividade operacional. As companhias chegam às zonas de guerra cada vez mais mal preparadas no capítulo da instrução e com um enquadramento quase totalmente miliciano. Neste ano, diversas unidades tipo batalhão vindas da Metrópole chegam aos teatros de operações, com apenas três oficiais do quadro permanente da respectiva arma: o comandante, o 2.º comandante e o oficial de operações. Os comandantes das companhias são oficiais milicianos, havendo batalhões em que os três capitães das companhias de caçadores (ou equivalente), além de milicianos, são todos “de aviário”, isto é, oriundos do CCC (Curso de Comandantes de Companhia, ministrado na Escola Prática de Infantaria). Sem pôr em causa a dedicação e o espírito de missão de muitos desses oficiais, o certo é que não era humanamente possível que oficiais com tão reduzida formação e experiência militar pudessem, salvo raras excepções, assegurar uma instrução eficaz das suas tropas e um comando prudente e esclarecido, uma vez na zona de operações que lhe seria destinada. A escassez de capitães do quadro permanente – situação que tinha enorme tendência para se agravar no futuro imediato – fica bem patente nos números dos últimos anos: 1100 (1970), 1034 (1971) e 885 (1972). Se cotejarmos estes valores com os efectivos do Exército nos três teatros de operações, obtemos este revelador resultado: 1970 – 1100 capitães/120 720 homens; 1971 – 1034 capitães/135 775 homens; 1972 – 885 capitães/136 997 homens. Dito de outro modo, verificava-se que os efectivos iam aumentando enquanto o número de capitães do quadro permanente ia diminuindo. Não era difícil prever que alguma coisa iria entrar em ruptura, por este lado. O Governo pressentia-o, mas a resposta a esta questão não poderia ter sido mais desastrosa, como adiante veremos.
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