1972 - Negar uma solução política para a guerra

1972 - Negar uma solução política para a guerra

Os Acontecimentos

  • 15
      09/1972

    15/09/1972 - 

    Assinatura em Paris de um acordo comercial hispano-soviético.

    Este acordo entre a Espanha e a União Soviética foi assinado em Paris e este acto ficou a constituir o primeiro acordo entre os dois países desde a Guerra Civil espanhola.Ao contrário de Portugal, a Espanha alargava os seus contactos diplomáticos e preparava-se para entrar nos grandes mercados mundiais sem peias ideológicas.

  • 15
      09/1972

    15/09/1972 - 

    Conferência de imprensa de um grupo de italianos que visitou as áreas libertadas de Moçambique a convite da FRELIMO.

    O grupo de italianos fazia parte da direcção do hospital de Santa Maria Nova de Reggio Emilia, perto de Bolonha, e era chefiado por Guiseppe Doncini. O hospital italiano tinha auxiliado a FRELIMO com medicamentos, material cirúrgico e pessoal médico.

    Visitaram o interior de Moçambique durante 11 dias e foi a primeira vez que italianos visitaram áreas libertadas.

  • 18
      09/1972

    18/09/1972 - 

    Ataque da FRELIMO à base aérea de Mueda (AM 51).

    Relato do comandante do AM 51:

    “Às 18.30, ao lusco-fusco, os militares do aeródromo de Mueda começam a ouvir uns fortes zumbidos, por cima das cabeças, seguidos de rebentamentos à distância, que se vão aproximando da área do quartel. O alerta é estabelecido e o capitão Estevinho, com o furriel Vaz de Carvalho como apontador, descola no helicanhão e dirige-se para a área donde saem os disparos, abrindo fogo.

    Imediatamente constata que a reacção antiaérea, disposta numa longa linha de metralhadoras pesadas ZPU de 14mm, é fortíssima e os disparos do canhão, denunciando a posição do AL III, expõem-no ao fogo inimigo e ao abate certo. O capitão Estevinho manda o furriel Carvalho cessar os disparos e pede para a base apoio aéreo de aviões Fiat e T-6.

    Já com pouca luz descolam dois com os furriéis Semedo e Vilela aos comandos, armados com foguetes e metralhadoras e descolam com um pequeno intervalo, enquanto o capitão Costa Joaquim e o alferes Zagalo põem em marcha as turbinas dos Fiat.

    O capitão Estevinho, apercebendo-se que o furriel Vilela se dirige directamente para a área dos disparos, agora em silêncio, ainda tenta avisá-lo para que circunde a área a fim de atacar pela retaguarda, mas não é ouvido. O furriel Semedo efectua a manobra de envolvimento e o avião do furriel Vilela, iluminado pela lua, é alvo das antiaéreas e é abatido, despenhando-se em chamas. Entretanto, com os Fiat, o T-6 e o heli reagindo fortemente, o inimigo retira”.

  • 21
      09/1972

    21/09/1972 - 

    Estado de sítio na cidade da Praia, Cabo Verde, após confrontos entre populares e forças militares.

  • 22
      09/1972

    22/09/1972 - 

    Atribuição, pela Assembleia Geral da ONU, do título de observadores a representantes dos movimentos nacionalistas de Angola, Guiné e Moçambique.

  • 26
      09/1972

    26/09/1972 - 

    Cisão entre os líderes do apartheid na África do Sul.

    O jornal Daily Telegraph dava notícia de uma cisão no Departamento Sul-africano de Assuntos Raciais em que oito dos seus membros se demitiram devido à eleição para presidente de Carel Bosh, cunhado do antigo primeiro-ministro Verwoerd, o arquitecto do apartheid.

    Um dos demissionários afirmou que “Carel Bosh era tão reaccionário que não dava quaisquer perspectivas para a solução dos problemas que, num futuro próximo, surgiriam no campo das realidades económicas e sociais da África do Sul”.

    A notícia esclarecia que o departamento era geralmente encarado como a fortaleza ideológica do apartheid e uma organização para, a longo prazo, bloquear os planos governamentais.

    Uma parte dos brancos da África do Sul preparavam compromissos para o futuro, enquanto os dirigentes portugueses se aliavam às facções mais reaccionárias, no programa Alcora.

  • 28
      09/1972

    28/09/1972 - 

    Carta de Savimbi ao general Luz Cunha, comandante-chefe em Angola.

    Nesta carta, Savimbi respondia às recorrentes dúvidas dos militares portugueses sobre as suas intenções futuras. Nela revelava os fundamentos da sua política de aliança, erigindo o MPLA como seu principal inimigo, e encontrando uma forma de se tornar indispensável para resolver a disputa por Angola entre as super-potências.

    A aliança com Portugal foi um primeiro passo nesse caminho.

    Mas, em 1972, Savimbi estava em grandes dificuldades, o que o obrigava a fazer pedidos “de mercearia” e a tratar de assuntos de “vida corrente” como foram os pedidos de consultas médicas, e era, talvez por isso, difícil aos oficiais portugueses da ZML entenderem que Savimbi era antes de tudo o líder de um movimento e libertação que estava certo de que Angola seria um dia independente, que teria um governo de maioria negra e ele se posicionava para ocupar um lugar central nesse futuro.

    Na carta, Savimbi tenta explicar a sua posição e dirige os seus esforços contra o MPLA, o seu inimigo principal, oferecendo a cooperação militar da UNITA, até para a realização de operações contra as bases do MPLA na Zâmbia: “Não estamos interessados na OUA, nem na Zâmbia e ainda menos em alianças com o MPLA. Se estes aspectos da política da UNITA não são ainda suficientemente claros para as autoridades em Angola e em Portugal, eis então um facto irrefutável: nós participámos activamente no enfraquecimento do MPLA no Leste”.

    A carta continua com Savimbi listando uma série de propostas com as quais ele pensa criar as condições de paz no Leste de Angola. A primeira recomendação ao general Luz Cunha é enfraquecer o MPLA no interior até à sua liquidação, o que pode ser conseguido com os esforços combinados das forças portuguesas e da UNITA, e Savimbi acrescenta uma segunda sugestão envolvendo a liquidação das bases do MPLA na fronteira da Zâmbia, o que pode ser feito pela UNITA sem censura de organismos internacionais.

    Uma vez o MPLA enfraquecido ou liquidado no Leste, “grandes horizontes se abrem para nós”, conclui Savimbi.

    É óbvio que esta carta implica uma aliança estratégica entre Savimbi, o líder do movimento de libertação, e as autoridades coloniais portuguesas com a finalidade de isolar e liquidar o MPLA. Era o anúncio da política de aliança ocidental que Savimbi prosseguiria após a independência.

    O MPLA era visto como uma ameaça pelos ocidentais, com os Estados Unidos à cabeça, e não admira que a administração Nixon-Kissinger recorresse a Savimbi para tentar impedir a tomada do poder em Angola pelo MPLA e a sua consolidação.

    Os políticos portugueses alinhados pela política americana seguirão esse mesmo caminho de aliança preferencial com a UNITA, embora sem perceberem completamente o fundo da questão.

  • 30
      09/1972

    30/09/1972 - 

    Operação de forças dos Grupos Especiais Pára-quedistas de Moçambique, actuando disfarçadas de guerrilheiros no ataque a uma base da FRELIMO na zona de Monte Changa (Tete), sendo presos cinco guerrilheiros e capturadas várias armas.

  • 9/1972
      e 10/1972

    9/1972 e 10/1972 - 

    Operação Sable com forças rodesianas em Moçambique, no Nordeste da Rodésia e em Moçambique, com base em Nyamapanda.

  • 10
      1972

    10/1972 - 

    Aviões Fiat G-91 são colocados na Base de Luanda, substituindo os velhos Republic F-84.

  • 10
      1972

    10/1972 - 

    Reuniões entre ministros da Defesa da África do Sul, Rodésia e Portugal.

    Em Outubro, o ministro rodesiano da Defesa e o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, general G. P. Walls, tiveram uma reunião de quatro dias com os seus correspondentes sul-africanos, P. W. Botha e o almirante H. H. Biermann e o ministro português da Defesa, general Sá Viana Rebelo.

  • 02
      10/1972

    02/10/1972 - 

    Discurso do ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício, na ONU, boicotado pela maioria dos delegados.

  • 03
      10/1972

    03/10/1972 - 

    Amílcar Cabral discursa no Congresso do Partido Social-Democrata da Suécia.

  • 11
      10/1972

    11/10/1972 - 

    Abertura de um crédito adicional de um milhão e quarenta mil contos à verba inscrita em “Outras Despesas com as Forças Militares Extraordinárias no Ultramar”, do Orçamento Geral do Estado.

  • 12
      10/1972

    12/10/1972 - 

    Morte do estudante Ribeiro dos Santos no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, e agravamento da agitação estudantil durante o seu funeral, a 14.

  • 14
      10/1972

    14/10/1972 - 

    Apresentação de cartas dos Padres de Burgos de várias missões da congregação em Moçambique perante a Assembleia Europeia “Justiça e Paz” da Igreja Católica sobre situações consideradas de violação dos direitos do homem cometidas pelas autoridades portuguesas.

    As cartas denunciavam situações consideradas de violação dos direitos do homem e descreviam a actuação das autoridades portuguesas.

    No final da reunião em Roma a assembleia emitiu um comunicado no qual assumia uma posição nitidamente contrária à política portuguesa nos territórios ultramarinos e em favor da autodeterminação. Esta atitude e a colaboração com alguns grupos da FRELIMO transformaram os Padres de Burgos em elementos inconvenientes, pelo que seriam expulsos de Moçambique.

    Os padres do Instituto Espanhol das Missões Estrangeiras, ou Padres de Burgos, tinham chegado à Beira em 1954, a convite de D. Sebastião de Resende, sendo-lhes confiadas as missões da Beira e Tete.

  • 12/10/1972
      a 30/10/1972

    12/10/1972 a 30/10/1972 - 

    Primeira operação da Unidade Táctica de Contra-Infiltração, em Angola, unidade criada pela Força Aérea junto da base do Toto. Em 2 de Agosto de 1973, a UTCI passou a designar-se Centro de Contra-Infiltração.

    Em 1972 foi criado no Norte de Angola, no aeródromo do Toto, o Centro Especial de Contra-Infiltração (CECI), posteriormente transformado em Unidade Táctica de Contra-Infiltração (UTCI).

    Composta por unidades mistas de helicópteros AL III e pisteiros Pára-quedistas, tinham uma vasta área atribuída entre os rios M’Bridge e Loge, com a missão de sobrevoar diariamente estas zonas em busca de pistas deixadas por grupos de guerrilheiros. Uma vez detectados e confirmados os vestígios, iniciava-se uma operação de perseguição conjugando forças Pára-quedistas, helicópteros e pisteiros.

    Este tipo de operações, chamadas na gíria de “saltos de rã”, foi responsável por alguns êxitos nos últimos anos da guerra.

    No principio dos anos 70, com o aparecimento do helicóptero SA-330-Puma e a exploração das informações obtidas por equipas de pistagem, deu-se um salto qualitativo na conceptualização e execução das operações, especialmente na ZIN, onde foi criada a unidade de contra-infiltração.

  • 14/10/1972
      e 15/10/1972

    14/10/1972 e 15/10/1972 - 

    Encontro de Ian Smith com Marcelo Caetano em Lisboa.

    Ian Simth discutiu com Marcelo Caetano a situação militar em Moçambique. Segundo a opinião do primeiro-ministro rodesiano esta situação deteriorava-se e ele defendia a urgência de uma maior cooperação bilateral. Preocupava-o a possibilidade da FRELIMO cortar as vias de comunicação entre a Rodésia e o porto da Beira, por onde entrava e saía a maior parte dos produtos rodesianos.

    Ian Smith e os dirigentes rodesianos das Forças Armadas e dos serviços de informações tinham má opinião sobre a forma como o general Kaúlza de Arriaga conduzia as operações.

     

  • 16
      10/1972

    16/10/1972 - 

    Reconhecimento, pela Assembleia Geral da ONU, do PAIGC como legítimo representante do povo da Guiné-Bissau.

  • 17
      10/1972

    17/10/1972 - 

    Morte dum padre italiano da missão Nova Esperança, de Vila Cabral, em Moçambique, em consequência de a sua viatura ter accionado uma mina.

  • 18
      10/1972

    18/10/1972 - 

    Militares portugueses capturam dois cidadãos do Malawi, na aldeia de Govati, o que motivou uma azeda troca de correspondência com o Malawi, um importante aliado da política do Governo português na região.

  • 19
      10/1972

    19/10/1972 - 

    Amílcar Cabral anuncia nas Nações Unidas a constituição, em breve, de uma nação independente na Guiné-Bissau.

    Falando na Comissão de Curadorias da ONU, Cabral afirmou que o Governo português não podia nem devia representar o povo da Guiné nas Nações Unidas e que em breve este se constituiria em Estado africano. Anunciou ainda que o PAIGC iria proclamar a independência unilateral até ao fim de 1972 ou no início de 1973.

  • 20
      10/1972

    20/10/1972 - 

    Nomeação do engenheiro Fernando Santos e Castro como governador-geral de Angola.

    A revisão constitucional de 1970 tinha ficado muito aquém das esperanças de aumento da autonomia das colónias e havia decepcionado as elites locais, especialmente em Angola. Para ultrapassar esta decepção, Marcelo Caetano engendrou um processo de dar às grandes colónias a autonomia que não tivera coragem de incluir nas alterações à Constituição, publicando uns novos estatutos político-administrativos.

    Santos e Castro foi o homem que ele escolheu para “dar a volta” ao texto da Constituição e ainda o peão através do qual o primeiro-ministro neutralizaria o integrista Silva Cunha, que seria transferido do Ministério do Ultramar para o da Defesa.

    Santos e Castro, além da fidelidade a Marcelo Caetano, tinha a vantagem de ser um antigo dirigente da Casa dos Estudantes do Império, presidente da sua primeira direcção, amigo de nacionalistas angolanos e de alguns membros das elites brancas e mulatas locais. Como tem sido referido através de testemunhos de pessoas envolvidas nesse processo, levou também para Angola a missão de preparar, se fosse necessário, uma secessão controlada da colónia.

  • 24
      10/1972

    24/10/1972 - 

    Carta de Spínola a Marcelo Caetano, solicitando autorização para se encontrar com Amílcar Cabral, que foi negada.

  • 11
      1972

    11/1972 - 

    Fim do mandato do embaixador americano em Lisboa, que se retirou sem ser substituído, situação só solucionada em Janeiro de 1974.

  • 11
      1972

    11/1972 - 

    Terceira reunião de alto nível do Exercício Alcora, em Lisboa, com representantes de Portugal, África do Sul e Rodésia, na qual foi aprovado e confirmado o Projecto de Conceito Militar para os Territórios Alcora, concluindo que as ameaças aos “Países Alcora” eram o comunismo e o nacionalismo africano, em que o segundo era “o instrumento escolhido pelo primeiro para alcançar os seus objectivos mais profundos”.

    Na reunião de Lisboa os representantes começaram por distinguir os Países Alcora (Portugal, República da África do Sul e Rodésia) dos Territórios Alcora (África do Sul, Rodésia, Angola e Moçambique).

    Desenvolvendo uma teoria em torno de determinados conceitos gerais, da “Estratégia mundial e suas implicações”, da “Interdependência estratégica dos territórios Alcora” da “Ameaça aos territórios Alcora”, a proposta aprovada acabou por concluir sobre a “Política militar para os territórios Alcora”. Nesse sentido propunha como primeiro objectivo estratégico o de “assegurar a inviolabilidade individual dos territórios Alcora, pela eliminação da subversão”, “através de um esforço mútuo”, com as seguintes formas de acção:

    • “Organizar uma força estratégica constituída por meios aéreos de ataque e forças terrestres altamente móveis, que sirva de dissuasor convincente contra uma ameaça externa e que assegure uma intervenção oportuna e eficiente”;

    • “Desenvolver uma intensa campanha socio-psicológica no interior dos territórios Alcora, por forma a desacreditar o inimigo e a captar as populações para o nosso lado”;

    • “Desenvolver uma intensa campanha psicológica externa, para convencer as nações africanas e do mundo livre de que a sua própria sobrevivência está sendo ameaçada na África Austral e assim ganhar aliados para a nossa causa”;

    • “Promover a actuação de uma eficiente rede de agentes dos serviços de informação, particularmente nos países vizinhos”;

    • “Dentro dos limites das suas possibilidades, conjuntas e individuais, garantir a segurança das linhas de comunicação marítimas, em especial da rota do Cabo”.

  • 02
      11/1972

    02/11/1972 - 

    Criação do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné.

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