Morte do médico Américo Boavida do MPLA, num ataque das forças portuguesas no Leste.
A notícia da morte do médico Américo Boavida no Leste de Angola, durante um ataque aéreo das forças portuguesas a um quartel do MPLA, causou algum impacto em Luanda, onde era umafigura respeitada e considerada.
Muita gente pobre ainda se lembrava de ele exercer medicina gratuitamente num pequeno apartamento em Luanda e muitas mulheres tinham ido ao seu consultório de médico especialista de ginecologia e obstetrícia.
O Comando Militar português em Luanda, ao anunciar a morte do doutor Boavida numa longínqua base de guerrilheiros do MPLA como uma vitória, provocou um
choque na sociedade angolana de que, por lhe ser estranho, não se apercebeu.
Boavida não era um negro qualquer que podia ser atirado para a categoria de “terrorista” pelos serviços de informação militar e que assim morria ignorado. Para os
antigos colegas de Américo Boavida no liceu Salvador Correia, onde estudou, para os amigos do bairro das Ingombotas onde nasceu, ele era um dos seus e, com a sua morte, a “vitória militar” anunciada pelos portugueses era a morte dos seus. Este sentimento de que a vitória militar estava a ser conseguida à custa da morte dos membros da sua sociedade agravar-se-ia com a morte de Hoji Henda, algum tempo depois, e também no Leste.
Américo Boavida era um médico conceituado, que tinha nascido em Luanda a 20 de Novembro de 1923, licenciando-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Regressou a Angola em 1955, optando por exercer Medicina por conta própria, por não pretender servir os hospitais do Estado colonial.
Exercia em dois consultórios, um na Baixa de Luanda para ginecologia e obstetrícia, o outro num pequeno apartamento, onde atendia pacientes mais pobres.
Em 1960, perante a ameaça de ser preso pela PIDE, saiu de Angola e participou na fundação do MPLA, em Conacri, e acompanhou Viriato da Cruz e Lúcio Lara na sua
deslocação para Leopoldville.
Como resultado das divergências no MPLA instalou-se em Marrocos e depois em Praga. Em Janeiro de 1967 respondeu a um apelo da direcção do MPLA para servir
como médico na recém-aberta Frente Leste.
Deslocou-se para a nova área de operações do MPLA acompanhado por José Mendes de Carvalho, Hoji ya Henda, e durante quase dois anos desenvolveu uma intensa actividade médico-sanitária nas regiões do Moxico e do Cuando-Cubango, organizando os Serviços de Assistência Médica do MPLA.
Na manhã do dia 25 de Setembro de 1968, na “Base Hanói II”, um lugar perto do rio Luati e da floresta de Cambule, morreu num bombardeamento aéreo português.