Início de uma longa viagem ao continente africano de Chou-en-Lai, primeiro-ministro da China.
A longa visita de Chou-en-Lai a África decorreu de 14 de Dezembro de 1963 a 4 de Fevereiro de 1964.
Este périplo levou o primeiro-ministro chinês aos dez países com os quais a China tinha relações diplomáticas, tendo visitado a República Árabe Unida (Egipto), Argélia, Marrocos, Tunísia, Gana, Mali, Guiné, Sudão, Etiópia e Somália.
Esta visita ao continente africano revestiu-se de grande importância doutrinária, de tal modo que os discursos de Chou-en-Lai foram reunidos num volume intitulado “A solidariedade afro-asiática contra o imperialismo” e onde foram enunciados os oito princípios que iriam reger no futuro próximo as relações sino-africanas.
A política da China para África será baseada na igualdade entre chineses e africanos, no respeito pela soberania dos países receptores de ajuda e esta ajuda será fornecida para o desenvolvimento e auto-suficiência, através do lançamento de projectos que exijam baixos investimentos.
Estes princípios permitiram aos chineses ganhar os favores dos africanos, habituados a que a ajuda dos ocidentais e da União Soviética fosse acompanhada por condições limitadoras da sua soberania, ou que provocasse um aumento de dependência.
A partir desta visita, a China vai competir em África não só com os europeus, mas principalmente com a URSS e conseguirá estabelecer relações privilegiadas com países como o Congo Brazzaville, a Guiné (Conacri), a Zâmbia, a Tanzânia, o Mali e a Somália, mas não terá o mesmo sucesso em países que se manterão mais próximos dos soviéticos ou dos americanos, como a Tunísia, o Quénia, a República Centro Africana e o Daomé.
Durante os anos que se seguiram a esta visita e à revolução cultural, as relações entre a China e a África irão evoluir em função dos interesses estratégicos chineses, articulados ao redor de dois grandes eixos: o anti-sovietismo e as relações com os Estados Unidos.
Um dos grandes projectos chineses em África será o caminho-de-ferro Tanzam, que ligará a Tanzânia e a Zâmbia. Quanto ao apoio aos movimentos nacionalistas antiportugueses, a estratégia da China será a de privilegiar a luta armada e contrariar a União Soviética sempre e onde seja possível.
Angola
Os primeiros contactos de Pequim com o MPLA remontam a 1960, quando este procurava reconhecimento internacional que lhe permitisse impor-se à FNLA.
Embora o MPLA estivesse próximo da União Soviética e dos seus aliados do Leste europeu, a verdade é que entre os seus líderes se travava uma luta entre pró-soviéticos alinhados atrás de Agostinho Neto e os pró-chineses dirigidos por Viriato da Cruz, que lutou sem sucesso para que a China retirasse a ajuda militar ao MPLA, o que a China fazia de forma indirecta, através do “comité de libertação” da OUA.
Agostinho Neto nunca cortou relações com a China e foi mesmo recebido em Pequim por Chou-en-Lai, em Julho de 1971.
A FNLA desde 1963 que recebeu da China a maior parte das suas armas e assistência de 125 instrutores estacionados no Zaire, enquanto a UNITA de Jonas Savimbi obteve também auxílio militar chinês e os seus dirigentes frequentaram cursos na Academia Militar de Nanquim.
Moçambique
Em Moçambique, a China apoiou de início quer a FRELIMO quer o COREMO, mas, à medida que a FRELIMO se afirmava como a única organização capaz de lutar contra os portugueses, a China fez da organização fundada por Eduardo Mondlane a maior beneficiária do seu apoio entre todos os movimentos de libertação.