1963 - Guiné, uma nova frente de combate

10 DE JUNHO

O DIA DAS CONDECORAÇÕES

Bandidos e heróis

Em Março, o regime tinha demitido, à margem do respeito pelas normas da dignidade devida a militares, alguns dos oficias da Índia. Agora incensava os heróis de África. O regime de Salazar, que se servia dos militares e que nunca os conheceu, esquecia-se que eram todos feitos da mesma massa. Que muitos dos que tinham sido abandonados na Índia iriam combater em África, mas que não se esqueceriam das ofensas e do abandono.

Os heróis de África eram iguais aos “cobardes” da Índia. Salazar e o seu regime nunca entenderiam isso.

O “Dia da Raça”

O dia da morte de Camões começou a ser comemorado como feriado nacional em 1925, ainda no tempo da I República. O Estado Novo manteve essa celebração, tendo até utilizado o dia para a inauguração do Estádio Nacional, em 1944. Durante a cerimónia, Salazar proferiu um discurso em que rebaptizou o feriado como “Dia da Raça”, nome que já vinha sendo usado, embora não oficialmente.

Vista geral do Terreiro do Paço em Lisboa, numa cerimónia do 10 de Junho. [DGARQ-TT-Flama]

O “Dia da Raça” é, já em plena Guerra Colonial, aproveitado para condecorar os novos heróis por actos de bravura em combate, os mortos e os feridos.

 

Medalha da Cruz de Guerra. [AHM]

A cerimónia do 10 de Junho de 1963 serviu de padrão às que se viriam a realizar anualmente. Numa tribuna montada no Terreiro do Paço, em frente ao Cais das Colunas, reuniam-se os mais altos dirigentes do regime. Diante deles, formavam as unidades das Forças Armadas. À direita, os estandartes das unidades da Marinha, Exército e Força Aérea, depois uma formatura dos pequenos alunos dos Pupilos do Exército e do Colégio Militar, armados de espingarda, de seguida os cadetes da Escola Naval, de uniforme azul escuro e espada, os cadetes da Academia Militar de cinzento, espada e botas altas, um Batalhão da Marinha, um do Exército, um da Força Aérea e um de Pára-quedistas.

 

O público era mantido sob o olhar da polícia debaixo das arcadas dos ministérios.

A partir das dez e meia da manhã, à medida que chegavam as altas entidades para tomarem o lugar na tribuna, o clarim tocava a sentido.

Salazar era o penúltimo a chegar, antes do Presidente da República, Américo Tomás, de uniforme branco de almirante.

O clarim tocava a apresentar armas e a banda tocava o hino nacional.

De seguida iniciava-se a distribuição das condecorações. Por ordem de importância eram chamados os condecorados para receberem as medalhas de Valor Militar de ouro, prata e cobre, as quatro classes da Cruz de Guerra, as medalhas de Serviços Distintos. Nas primeiras cerimónias o locutor lia os louvores das condecorações que eram atribuídas aos militares ou às suas famílias, quando concedidas a título póstumo.

Depois, as forças em parada desfilavam perante as altas entidades e os condecorados alinhados na tribuna.

Os Pára-quedistas, de camuflado e lenço de seda ao pescoço, encerravam o cortejo militar ao som de marchas militares, subindo a Rua Augusta em direcção ao Rossio.

A partir de 1969 as cerimónias de condecorações de militares no 10 de Junho foram descentralizadas, passando a realizar-se também, além das do Terreiro do Paço, nas sedes das regiões militares e capitais das províncias.

Familiares de militares condecorados a título póstumo. [DGARQ-TT-Flama]

O papel da rádio e da televisão

Medalha de Valor Militar. [AHM]

Os meios de comunicação social desempenhavam um papel importante nestas cerimónias, que eram transmitidas pela rádio e pela televisão.

A RTP passou a ser, desde o início da guerra, um instrumento de manipulação da informação que o regime entendia dever ser fornecida aos portugueses.

Com as preocupações causadas nas famílias pela situação dos seus militares envolvidos nas operações no Norte de Angola e com as dificuldades sentidas pelo Governo para justificar a sua política colonial nas Nações Unidas e junto dos aliados tradicionais, a informação da RTP passou a apresentar reportagens realizadas nos locais em guerra, introduzindo inclusivamente edições especiais sobre os acontecimentos, e, depois, abrindo uma “campanha de auxílio às vítimas do terrorismo”, a qual constituiria um novo e importante elemento do dispositivo instrumental dos telejornais.

As grandes cerimónias serviam de catalisador ideológico e eram aproveitadas para glorificar o Governo.

Segundo Rui Cádima em “Televisão e Ditadura”, no período inicial da Guerra Colonial, este foi o principal tema de abertura dos telejornais, com a designação de “Acontecimentos de Angola”, à frente da agenda do protocolo oficial.

Profissionais da televisão chegaram a ser louvados e condecorados pelos comandos militares e pela administração da RTP.

Gomes de Araújo, ministro da Defesa, impondo uma condecoração. [DGARQ-TT-O Século]

 

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