Encontro de Salazar com dois enviados do presidente Youlou, do Congo Brazzaville, que se propunha mediar uma solução para o problema angolano.
O abade Fulbert Youlou foi o primeiro presidente da República do Congo. A sua nomeação para a Presidência desencadeou conflitos entre as etnias que compunham a população. Era um homem desacreditado no seu país e no exterior, que só o Governo português levava a sério. As suas propostas não tinham qualquer crédito e, de qualquer modo, não teria tempo para as acompanhar dado que, em Agosto, uma revolução o derrubou e ao seu Governo conservador e neocolonialista.
Youlou exilou-se em Portugal, protegido pela PIDE.
Declaração de Amílcar Cabral em Paris sobre a disponibilidade de o PAIGC suspender a luta, se Portugal quisesse solucionar pacificamente o problema colonial.
O tenente piloto-aviador Jacinto Veloso desertou para a Tanzânia, voando aos comandos de um avião da Força Aérea.
O avião de Veloso, um T-6 da Força Aérea Portuguesa, descolou de Mocímboa da Praia e aterrou na Tanzânia. A Força Aérea apresentou esta deserção como uma manobra por falhas técnicas.
Jacinto Veloso era um moçambicano filho de colonos.
Nos anos 50, tal como outros jovens moçambicanos da sua geração, entre os quais Otelo Saraiva de Carvalho e Silva Graça, foi para Lisboa prosseguir os seus estudos na Academia Militar, onde terminou o curso de Aeronáutica.
Durante a sua permanência em Lisboa teve contactos com outros estudantes das colónias que se reuniam na Casa dos Estudantes do Império.
Como tenente piloto-aviador da Força Aérea Portuguesa foi mobilizado para Moçambique e aproveitou um voo no Norte para desertar levando o avião para a Tanzânia.
Jacinto Veloso era acompanhado por João dos Santos Ferreira e tornar-se-á um dos seus mais importantes dirigentes.
Carta de Jorge Jardim para Salazar, a propósito da situação em Angola.
Nesta carta, o autor afirmava que se vivia “na mais completa desorientação e na mais total falta de confiança no futuro da Província, em resultado da descrença na acção do Governo. […] Enquanto que em 1961 havia decisão nos espíritos para vencer uma guerra que segundo certos padrões era tecnicamente insustentável, acontece que em 1963, perante uma situação tecnicamente muito mais favorável, a desorientação pode encaminhar-nos para um desastre de fundo acentuadamente psicológico”. Jorge Jardim censura a postura rotineira do dispositivo militar e acrescenta: “E seriam sobretudo dispensáveis os desabafos de altas patentes quanto à ânsia de se verem livres “disto” como se de fardo incómodo se tratasse o desempenho de tal missão de soberania. Pelo menos isto contagia e desmoraliza os subordinados”.
Aníbal São José Lopes assume a direcção da PIDE em Angola.
São José Lopes começou como subdirector da delegação da PIDE de Angola, mas transformou-se ao longo dos anos no principal responsável pelas informações em Angola e em Moçambique.
Na medida em que a informação é poder, São José Lopes terá sido o homem mais poderoso de toda a guerra.
Esteve envolvido nas acções mais complexas e melindrosas levadas a cabo pelos serviços secretos portugueses durante mais de onze anos e no vastíssimo território que vai do Equador ao Cabo da Boa Esperança e nos países que se encontravam na área de interesse de Angola e de Moçambique, uns aliados, como a África do Sul e a Rodésia, outros que serviram de base aos movimentos de libertação como os dois Congos, a Zâmbia, a Tanzânia e o Malawi.
Estabeleceu uma relação de trabalho muito próxima com o general Costa Gomes e partilhava com ele a análise da estratégia do MPLA tentar fazer a ligação da fronteira leste ao Norte, pela rota Agostinho Neto. São José Lopes surge também ligado à criação dos Flechas, as tropas especiais da PIDE, conseguindo para elas um estatuto de complementaridade com as Forças Armadas que evitou grandes atritos e disputas de protagonismos.
A acção militar no Leste não teria tido os assinaláveis resultados operacionais que teve se não fosse a “boa informação” que a PIDE/DGS forneceu ao comandante e ao seu estado-maior. As operações do “Agrupamento Siroco” em 1969 e 1970 assentaram em informações rigorosas sobre as movimentações e as intenções dos guerrilheiros.
Mas São José Lopes e Costa Gomes foram capazes de jogar o perigoso jogo que Savimbi lhes propôs através dos madeireiros do Luso. A Operação Madeira, com a qual Costa Gomes e São José Lopes colocaram a UNITA a combater o MPLA por sua conta, revela a sabedoria do homem que nos interrogatórios aos prisioneiros declarava “eu sou o cérebro!”
São José Lopes é dos poucos dirigentes da PIDE que não pertencia a nenhuma das facções conhecida da organização. Era o homem das informações de África, dele dependiam tanto os estados-maiores portugueses de Lisboa, Luanda ou Nampula, como os da África do Sul e da Rodésia, por isso era praticamente intocável.
Por ele passaram as altamente sensíveis informações relativas ao “Exercício Alcora” e o sistema de alianças entre Portugal e os dois países do apartheid.
Em algumas acções muito importantes, o papel de São José Lopes continua a ser um mistério: no caso do assalto ao navio Angoche e desaparecimento da tripulação e no caso do assassínio de Eduardo Mondlane.
Talvez nunca se venha a saber até que ponto São José Lopes foi, em qualquer destes casos, ultrapassado por uma toupeira de Lisboa, ou foi, ele próprio, o seu mandante.
Captura, por guerrilheiros do PAIGC, dos navios Mirandela e Arouca perto de Cacine, que mais tarde utilizou para transporte de pessoal e material na Guiné-Conacri.
A 19 de Março, guerrilheiros do PAIGC capturaram os navios de transporte de mercadorias Mirandela e Arouca.
O Mirandela deslocava-se de Bissau para Cacine, no Sul. Foi capturado junto a esta povoação.
Os mesmos guerrilheiros encontraram o barco a motor Arouca sem rumo e levaram-no também a reboque para a Guiné-Conacri.
Demissão de dez oficiais, em consequência dos inquéritos levantados na sequência dos acontecimentos da Índia.
O veredicto sobre os oficiais da Índia foi conhecido em Março de 1963.
As sanções pela perda da jóia do império foram severas: expulsão das Forças Armadas de 10 oficiais, a começar pelo general Vassalo e Silva, o governador da Índia, os oficiais do seu estado-maior e alguns comandantes de unidades; reforma compulsiva para cinco; meio ano de inactividade para nove. Sem recurso. A mão pesada dos castigos quase faz esquecer as condecorações e promoções de outros militares, algumas a título póstumo.
O comportamento da guarnição militar foi analisado à luz de um mero Regulamento de Disciplina.
Em vez de tribunais, o processo foi entregue a generais e burocratas, sem que os acusados tivessem direito de defesa.
São os métodos do Conselho Superior de Disciplina que funciona como um órgão corporativo, onde os militares não têm direito a serem defendidos por advogado e a apreciação dos factos é feita de acordo com os conceitos da hierarquia.
Os militares portugueses que passaram por esta humilhação nunca mais esqueceram o vexame e a arbitrariedade.
Como dirá Carlos Azeredo: “Tudo isto fez crescer em mim uma profunda revolta contra Salazar e contra a sua política estreita e antinacional” – o que o leva a participar no 25 de Abril de 1974.
[Texto com base em declarações do general Carlos Azeredo, em Trabalhos e Dias de um Soldado do Império. Porto, 2004.]
Inauguração dos Serviços Mecanográficos do Exército, no quartel da Graça, em Lisboa, pelo ministro do Exército Luz Cunha, e pelo subsecretário de Estado, João António Pinheiro.
A companhia aérea portuguesa TAP criou o Prémio Governador-Geral para galardoar acções valorosas em defesa de Angola. Este prémio consistia na concessão de passagens aéreas de ida e volta à Metrópole para gozar licenças de férias de 35 dias aos militares que se tinham distinguido por feitos em combate. O prémio era independente da atribuição de condecorações ou louvores e podia ser acumulado com estas distinções. Podia ser atribuído a oficiais, sargentos e praças e estendeu-se aos outros teatros de guerra da Guiné e de Moçambique.
Tentativa, por parte do MPLA, de reactivar a acção da ATCAR, Associação dos Quiocos do Congo, Angola e Rodésia.
A ATCAR era de início uma associação mutualista e regionalista do povo quioco do Catanga e que se estendeu aos quiocos da Rodésia do Norte e da Rodésia do Sul e a Angola, onde viviam nas regiões de Dala, Luso e Moxico. Transformou-se aos poucos, e como outros movimentos associativos, numa organização emancipalista, embora com fraca actividade.
Em 1963, com a queda de Tchombé e a integração do Catanga na República do Congo, os quiocos da ATCAR ligaram-se tanto à UPA como ao MPLA para manterem a sua autonomia.
Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto transmitido ao Conselho de Segurança da ONU.
Publicação da Encíclica Pacem in Terris de João XXIII, que confirmou o interesse da Igreja pela questão dos conflitos coloniais, mais tarde retomado nas resoluções do Concílio Vaticano II e pela política de Paulo VI.
Esta encíclica continha uma referência explícita à independência de todos os povos.
A encíclica e os debates preparatórios do Concílio Vaticano II deram algum estímulo a um sector de católicos na busca de soluções pacíficas para os conflitos coloniais.
François Mendy, presidente da Frente de Luta pela Independência da Guiné (FLING), preconizou uma conferência para o reagrupamento de todos os movimentos nacionalistas das colónias portuguesas.
Mendy era um manjaco com nacionalidade francesa, que foi antigo militar na Argélia.
Fundou o Movimento de Libertação da Guiné, MLG, em 1959, e, nessa qualidade, foi também fundador da FLING em Agosto de 1962.
A FLING era um movimento que integrava manjacos e mandingas mais ou menos reunidos em movimentos sem expressão e que se envolveram em conflitos permanentes e nunca conseguiram criar uma verdadeira alternativa ao PAIGC de Amílcar Cabral, que era o objectivo de Senghor ao apoiar o movimento.
A proposta de Mendy de união entre a FLING, que nunca realizou qualquer acção militar e não tinha bases no interior, e o PAIGC precedeu a que Senghor faria em Outubro a Sekou Touré.
Mas o PAIGC era já a única força no terreno, tinha como líder um dos mais conceituados nacionalistas africanos e a FLING não tinha nada para apresentar, nem sequer um dirigente respeitável.
A diferença abissal entre a capacidade política e operacional do PAIGC e da FLING é a que vai de Amílcar Cabral a François Mendy e revela a importância dos homens no sucesso das organizações.
Nomeação do comandante Vasco Rodrigues como governador-geral da Guiné.
Vasco Rodrigues sucedeu a Peixoto Correia, outro oficial da Marinha, que seria ministro do Ultramar.
A nomeação de Vasco Rodrigues para o cargo é mais um exemplo da forma displicente como Salazar tratava os assuntos africanos.
Em Maio de 1963 era não só previsível mas certo o início da luta armada na Guiné. O Governo e Salazar conheciam em pormenor as actividades de Amílcar Cabral no estrangeiro, tinham recebido dele várias cartas a solicitar a abertura de negociações, sabiam da existência de guerrilheiros em treino na Argélia, mas, apesar de saber tudo isso e de ter reforçado o dispositivo militar na Guiné, Salazar nomeou um oficial da Armada para governador e um brigadeiro do Exército para comandante-chefe, criando condições para um conflito de competências entre a condução da guerra e a administração virtuosa das populações, que era a primeira condição para ela ter alguma possibilidade de êxito.
O conflito entre o governador e o comandante militar ocorreu mal começaram as acções violentas e levou à substituição dos dois governantes. Foram ambos rendidos por Arnaldo Schultz, que acumulou os dois cargos.
Conferência entre Peterson, representante da UPA, e o presidente Kaunda em Elisabethville sobre a possibilidade de a UPA utilizar o território da Rodésia do Norte (depois Zâmbia) como base.
O Governo da Zâmbia tentou desde sempre controlar as actividades dos vários movimentos de libertação que lutavam contra Portugal, a Rodésia e a África do Sul. Uma das formas de melhor os controlar era obrigá-los a manterem as suas sedes em Lusaca, a capital. Os movimentos, por sua vez, procuravam instalar-se em áreas junto das fronteiras, que lhes permitiam maior liberdade de acção e contacto directo com as populações.
Em 1965 Kenneth Kaunda chegou a proibir formalmente os movimentos de se instalarem fora de Lusaca e interditou-lhes também a colecta de fundos.
Nomeação de Eduardo Macedo dos Santos como representante permanente do MPLA em Argel.
Eduardo Macedo dos Santos era um médico angolano e um dos fundadores do MPLA. Na crise que se seguiu à I Conferência Nacional deste movimento em Dezembro de 1962, tomou o partido de Agostinho Neto. Negociou com o Governo argelino a abertura do bureau do MPLA em Argel.
Após o reconhecimento da FNLA como representante da luta do povo de Angola feito pela OUA, o MPLA lutou em várias frentes para inverter a situação e ganhar apoios internacionais. A Argélia, recém-independente, era um ponto importante para o MPLA se afirmar.
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