1973 - Perder a guerra e as ilusões

1973
Força Aérea na Guiné - uma resposta difícil

Primeiras reacções

Com o aparecimento dos SAM-7 Strela houve dificuldades iniciais na habituação dos pilotos e nas tácticas a utilizar. Os Fiat foram pintados com uma tinta especial que se destinava a reduzir a assinatura do avião e deixá-lo menos visível aos mísseis e foram estudadas novas tácticas que implicavam voos a altitudes diferentes. Os resultados foram satisfatórios. O PAIGC lançou cerca de um milhar de mísseis SAM-7, atingindo cinco aeronaves.

As limitações do Fiat G-91 começavam a tornar-se evidentes. Em 1973, o governador da Guiné, general Spínola, escreveu a Marcelo Caetano, presidente do Conselho de Ministros, a pedir para a Guiné o fornecimento de armas capazes de responder aos novos desafios, entre os quais se encontravam não só os SAM-7, mas também os MIG-21 que tinham sido fornecidos ao PAIGC através da Guiné-Conacri. De entre os meios pedidos por António de Spínola encontravam-se aviões Mirage-III idênticos aos adquiridos pelo Brasil, e que poderiam continuar a garantir a Portugal a superioridade aérea nos céus da Guiné e também mísseis terra-ar. Estes chegaram a ser adquiridos em França (mísseis Crotale) e oficiais portugueses realizaram cursos para a sua utilização. Não chegaram a ser enviados para a Guiné, pois entretanto ocorreu o 25 de Abril.

Os Fiat da Esquadra 121 operaram durante oito anos na Guiné, totalizando cerca 10 000 horas de voo, com cinco aviões abatidos, sem contabilizar os que foram atingidos e conseguiram regressar à base. 

 

O SAM-7 Strela

O míssil portátil anti-aéreo SAM-7 Strela (código NATO Grail) tornou-se famoso em conflitos de baixa intensidade, a par do equivalente americano Redeye. Ambos  funcionavam pelo mesmo sistema: eram atraídos por uma fonte de calor (os escapes ou jactos dos aviões), sendo portanto auto dirigidos.

Foram ambos concebidos para auto defesa das pequenas unidades, mas foi na guerrilha que se tornaram famosos, sobretudo o Redeye no Afeganistão. Podendo ser disparados ao ombro, eram as armas ideais para um grupo de guerrilheiros contestar
a normal superioridade aérea das forças convencionais.

O Strela podia ser evitado através de fontes de calor, normalmente pirotécnicas (os flares tão vistos na televisão), ou através de manobras evasivas, coisa em que os pilotos portugueses se tornaram mestres.

Lista de aeronaves Fiat G-91 destruídas durante a guerra devido a acidentes ou em acções de combate:

 

22/02/1967

Piloto: major Armando Augusto dos Santos Moreira (comandante da Esq. 121– Guiné).

Causa: explosão prematura de uma bomba de 110 lbs.

 

28/07/1968

Piloto: tenente-coronel Francisco da Costa Gomes (comandante do Grupo Operacional 1201 – Guiné).

Causa: fogo antiaéreo de .50 polegadas (12.7mm) disparado a partir da fronteira da Guiné-Conacri.

 

15/03/1973

Piloto: tenente Emílio José Lourenço (Esq. 702, Moçambique), morto.

Causa: explosão prematura de bomba.

 

25/03/1973

Piloto: tenente Miguel Cassola Cardoso Pessoa (Esq. 121, Guiné).

Causa: abate por SAM-7 “Grail”.

 

28/03/1973

Piloto: tenente-coronel José Fernando de Almeida Brito (comandante do Grupo Operacional 1201 – Guiné), morto.

Causa: abate por SAM-7 “Grail”.

 

01/09/1973

Piloto: capitão Carlos Augusto Wanzeller (Esq. 121, Guiné).

Causa: fogo antiaéreo de 0.50 polegadas (12.7mm).

 

04/10/1973

Piloto: capitão Alberto R. Cruz (Esq. 121, Guiné).

Causa: fogo antiaéreo de 0.50 polegadas (12.7mm).

 

31/01/1974

Piloto: tenente Victor Manuel Castro Gil (Esq. 121, Guiné).

Causa: abate por SAM-7 “Grail”.

 

Novos desafios para a Força Aérea na Guiné

O emprego da Força Aérea na Guiné tem dois períodos distintos: antes e depois do aparecimento dos mísseis Strela (SAM-7).

O Strela provou ser extremamente efectivo quer contra aviões a jacto quer contra aviões de hélice e na Guiné abateu aviões Fiat G-91, T-6 e DO. Aviões maiores, como os B-26 e os PV-2, podiam sobreviver a um disparo, porque a cabeça do míssil era relativamente pequena.

 

Fiat G-91 pintado com uma tinta anti-radiação para limitar a acção dos mísseis Strela. [AMGu]

 

Alterar procedimentos e até a cor dos aviões

O Strela obrigou a Força Aérea a alterar os seus procedimentos operacionais, a diminuir o nível de empenhamento, a voar a maiores altitudes, no caso dos aviões, ou a muito baixas altitudes NOE (Nap of the Earth) no caso dos helicópteros. Também os aviões portugueses foram repintados com uma tinta cor de azeitona absorvente das radiações de calor.

O aparecimento do Strela na Guiné teve um efeito devastador no moral das tropas, que deixaram de contar com a supremacia aérea que lhes garantia apoio de fogo em caso de emergência ou evacuação sanitária em caso de ferimento. Para tropas mal instruídas, com baixo moral e pouca vontade combater, as limitações no apoio aéreo, rapidamente tomado como ausência de apoio, causaram graves problemas.

 

Problemas com os pilotos

Mas também entre o pessoal da Força Aérea, nomeadamente nos seus pilotos, o aparecimento do Strela causou um profundo impacto e vários pilotos ficaram na situação de não prontos para combate depois de missões onde foram alvejados. Ao longo dos anos da guerra a Força Aérea perdeu 14 pilotos na Guiné.

 

Um Dakota C-47 transformado em bombardeiro

A necessidade de diminuir a pressão e a iniciativa dos guerrilheiros do PAIGC nos anos de 1973 e 1974 e de ultrapassar a perda de supremacia aérea fez surgir soluções improvisadas no pessoal da Força Aérea na Guiné. Uma delas foi a de transformar um Dakota C-47 em bombardeiro, carregando-o de bombas que eram lançadas pelas escotilhas destinadas às máquinas de fotografia aérea. Não existem notícias de resultados destes bombardeamentos.

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