1973 - Perder a guerra e as ilusões

1973 - Perder a guerra e as ilusões

Os Acontecimentos

  • 12
      09/1973

    12/09/1973 - 

    Os ministros da Defesa de Portugal, África do Sul e Rodésia aprovam a criação de uma Organização Permanente de Planeamento Alcora (PAPO).

    Este novo órgão constituía o culminar de um trajecto percorrido desde a primeira reunião de alto nível em Março de 1970. Ele iria integrar as atribuições anteriormente dispersas pela comissão de coordenação e pelas diversas subcomissões Alcora.

    Ficou decidido também que a organização iniciaria o seu funcionamento em Pretória, em Janeiro de 1974. Na sequência desta reunião de ministros, o Governo da África do Sul condecorou Sá Viana Rebelo com a Ordem da Boa Esperança.

  • 13
      09/1973

    13/09/1973 - 

    Encontro do Papa Paulo VI no Vaticano com bispos de Moçambique.

    O Papa recebeu três bispos de Moçambique, os de Tete, Quelimane e Nampula, os quais o informaram da situação no território, especialmente sobre os massacres de Wiriyamu.

    Anteriormente Paulo VI tinha recebido o cónego liberiano Burgess Carr, secretário da Conferência Pan-Africana das Igrejas, também sobre o mesmo assunto.

    No dia 14 de Setembro Paulo VI referiu-se aos massacres “como os tristes acontecimentos de Moçambique”, que afirmou bem conhecer.

  • 13
      09/1973

    13/09/1973 - 

    Primeira reunião de capitães em Nampula, Moçambique, onde se fez um balanço da situação e se tomou conhecimento do documento de contestação aos decretos, passando-se à recolha de assinaturas.

  • 14
      09/1973

    14/09/1973 - 

    Encontro de generais para preparação de uma acção concertada contra o Governo.

    Os generais Spínola, Venâncio Deslandes, Kaúlza de Arriaga e Pinto Resende reuniram-se em Lisboa num almoço para discutir a hipótese de substituição de Marcelo Caetano. Estes encontros continuaram com diferentes actores, mas sempre com a presença de Kaúlza de Arriaga. Chegou a ser feito um contacto com a organização dos capitães, que rejeitaram qualquer hipótese de colaboração.

  • 21
      09/1973

    21/09/1973 - 

    Reunião do Movimento dos Capitães em Luanda, onde se decidiu a apresentação de um pedido individual de demissão de oficial do Exército, fórmula que veio a ser adoptada pelo movimento, chegando a reunir-se várias centenas de pedidos.

    O texto do pedido de demissão era muito simples, sem grandes  justificações:

    “(Nome e posto) considerando insustentável a situação de desprestígio para o Exército, criada com a entrada em vigor dos Decretos-lei nº. 353/73 e 409/73, solicita a sua DEMISSÃO DE OFICIAL DO EXÉRCITO”.

  • 21
      09/1973

    21/09/1973 - 

    Chegada a Bissau do general Bettencourt Rodrigues, novo governador e comandante-chefe.

    Em 21 de Setembro de 1973, chegou a Bissau o novo governador, general Bettencourt Rodrigues, trazendo na sua carta de comando outra frase célebre de Marcelo Caetano: “Resistir até à exaustão dos meios”. Não queria ceder na Guiné para não abrir um precedente para as outras colónias, sobretudo Angola, a jóia da coroa, aceitando um desastre militar à semelhança do da Índia, mas aqui, provavelmente, com muito mais baixas.

    Em 24 de Setembro de 1973, uns dias depois da chegada do governador, o PAIGC declarou a independência unilateral da Guiné-Bissau em Madina do Boé, que foi de imediato reconhecida por 72 países, mais do que aqueles com os quais Portugal mantinha relações diplomáticas.

    Uma semana depois, a ONU aprovou uma resolução na qual considerava Portugal potência ocupante e o convidava a retirar.

    Bettencourt Rodrigues, mal saído do comando da Zona Militar Leste de Angola, não conseguiu evitar a nomeação para substituir Spínola.

    Marcelo Caetano, confrontado com a necessidade de encontrar um substituto para Spínola, lançou o repto aos ministros mais fiéis: escolher o pior dos generais, para apressar o fim da Guiné, ou o melhor. A opção pelo melhor deixou Bettencourt Rodrigues sem alternativa à aceitação, apesar do cansaço dos anos de Angola.

    Ele aceitou os riscos da estratégia do Governo que admitia a resolução do problema guineense pela perda da colónia por uma derrota militar com o sacrifício da sua guarnição, se tal se tornasse necessário. Não levou consigo nenhuma ideia ou projecto para fazer face a uma situação que se agravava dia após dia. Limitou-se a procurar cumprir a “receita” marcelista: resistir até ao fim. A única preocupação que deve ter tido foi quando constatou que essa resistência não ia, com certeza, durar até ao final da sua comissão. Com efeito, a situação política e militar na Guiné, após a partida de Spínola, entrou em acelerada degradação. A pressão dos guerrilheiros do PAIGC, nas três zonas operacionais do teatro de operações, nomeadamente a Leste e a Sul, sobre as dispersas e desmoralizadas guarnições portuguesas, intensificou-se e só o 25 de Abril conseguiu evitar um completo desastre militar.

  • 24
      09/1973

    24/09/1973 - 

    Proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau feita pelo PAIGC, em Madina do Boé, no interior do território.

    O anúncio da independência foi publicado em Dacar no dia 25 pelo PAIGC, revelando que “a primeira Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau, reunida a 23 e 24 de Setembro, nas regiões libertadas do Boé, proclamou no dia 24, às 9h55m, a República da Guiné-Bissau”.

    O Estado da Guiné-Bissau foi dotado com uma Constituição e a Assembleia procedeu à eleição dumConselho de Estado constituído por quinze membros e presidido por Luís Cabral, secretário-geral adjunto do PAIGC, confirmou Aristides Pereira como secretário-geral e sucessor de Amílcar Cabral, assassinado em Janeiro, e votou os membros do Conselho de Comissários, que passou a ser presidido por Francisco Mendes, o responsável pela ideologia na Comissão Política e vice-presidente do Conselho de Guerra desde 1965.

    A Assembleia manifestou ainda o seu agradecimento pela assistência prestada à luta do PAIGC aos países socialistas da Europa, a Cuba, à Suécia e à República da Guiné, e convidou todos os países do mundo a reconhecerem o novo Estado, apelo que encontrou eco imediato por parte dos seguintes países: República da Guiné, Togo, Tanzânia, Gana, Nigéria, Mauritânia, Congo, Argélia, Síria, Madagáscar, Libéria, Senegal e Líbia.

    A reacção portuguesa

    A delegação de Portugal nas Nações Unidas classificou a proclamação da República da Guiné-Bissau como um “acto de propaganda”, acrescentando que “o PAIGC não controla qualquer parcela do território” e que “a administração portuguesa exerce-se efectivamente sobre a totalidade dessa província”.

    Entrevistado pelo Diário de Notícias, o general Spínola, que acabara de ser exonerado dos cargos de governador e comandante-chefe das Forças Armadas na Guiné, manifestou idêntico parecer.

    O PAIGC declarara que tinha sob o seu firme domínio 75% do território.

    Prováveis consultas na CEE e na OTAN

    A proclamação da República da Guiné-Bissau foi comunicada às Nações Unidas, cuja Assembleia Geral estava reunida e onde o PAIGC já tinha lugar, com um estatuto de observador, tal como a FRELIMO e o MPLA. A Guiné-Bissau pediu o estatuto de observador permanente e a admissão a algumas das instituições especializadas da ONU – OMS, UNESCO e FAO. Em Haia, os nove países da Comunidade Económica Europeia e os 15 membros da Aliança Atlântica procederam a discretas consultas sobre o assunto que afectava um país aliado. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Holanda afirmou que o seu Governo cumpriria as instruções das Nações Unidas, visando auxiliar os territórios africanos a realizarem o seu direito à autodeterminação, tanto quanto possível por meios pacíficos.

    Tal ponto de vista foi, aliás, reafirmado pelo chefe da diplomacia holandesa na sua intervenção na Assembleia Geral da ONU.

    A independência da Guiné-Bissau colocou problemas diplomáticos aos Estados Unidos

    Face à possibilidade do novo país pedir a sua adesão à ONU, os Estados Unidos tinham que decidir se votavam, ou não, no Conselho de Segurança a admissão da Guiné-Bissau. Um veto sem outro apoio causaria grandes danos às relações dos Estados Unidos com muitas nações africanas. Em Dezembro de 1973 Kissinger presidiu a uma reunião em que a situação foi discutida e em que ele e outros altos funcionários manifestaram a sua irritação face à inflexibilidade de Portugal na questão colonial.

    O subsecretário de Estado para questões políticas, William Porter, queixou-se que “o problema é que eles (os portugueses) não nos dão nada para que os possamos defender. Não nos dão uma única coisa. Falam muito”. Kissinger afirmou que se os Estados Unidos queriam tomar uma decisão política e forçar os portugueses a abandonar Angola e Moçambique então deviam saber para onde queriam ir, se não, não iam a lado nenhum. Consultas que não vão levar os portugueses a abandonar Angola e Moçambique e o único meio que os forçará a sair é os africanos tornarem as coisas tão quentes que os obriguem a sair.

    Kissinger rejeitou mais consultas com Lisboa. Cinco meses depois, o golpe de Estado de 25 de Abril de 1974 evitou que Washington tivesse que tomar uma “decisão política” quanto às colónias portuguesas.

     

  • 24
      09/1973

    24/09/1973 - 

    Ataque da FRELIMO ao comboio da linha férrea do Niassa (Nacala-Catur), em Moçambique, causando quatro mortos e 14 feridos. Foi o primeiro ataque nesta zona da linha.

  • 25
      09/1973

    25/09/1973 - 

    Notícia de um jornal sul-africano confirmando a morte de 80 civis na aldeia de Wiriyamu.

    O jornal sul-africano The Star publicou um longo artigo, com a fotografia do antigo governador e comandante de Tete, coronel Armindo Videira, onde se afirmava estar confirmado o massacre de 80 civis na aldeia de Wiriyamu. Esta notícia causou grande irritação no Governo de Moçambique, que considerou “de gravidade e inoportunidade a publicação da notícia” e um “acinte e incompreensível antagonismo de certos círculos sul-africanos ao nosso país”.

  • 26
      09/1973

    26/09/1973 - 

    Reunião do Conselho Superior Militar para debater o problema dos capitães.

    Durante a reunião apenas o general Costa Gomes, CEMGFA, argumentou a favor da revisão dos decretos que estavam na origem da contestação dos militares.

  • 27
      09/1973

    27/09/1973 - 

    “Conversa em família” de Marcelo Caetano, em que afirma “ser inegável a conivência dos ardorosos partidários do abandono do Ultramar com os movimentos terroristas que lá atacam Portugal”.

  • 10
      1973

    10/1973 - 

    O Senado americano proíbe a administração de conceder a Portugal qualquer ajuda que pudesse apoiar a manutenção do regime colonial.

  • 10
      1973

    10/1973 - 

    Primeiros encontros de aproximação do Movimento dos Capitães do Exército com oficiais da Marinha, que se irá consolidando, embora com lógicas de organizações diferenciadas.

  • 04
      10/1973

    04/10/1973 - 

    Nomeação dos primeiros representantes portugueses na estrutura militar Alcora, por decisão do chefe do Estado-Maior General, Francisco da Costa Gomes.

  • 06
      10/1973

    06/10/1973 - 

    Início da guerra do Yom Kippur, entre Israel e os países árabes.

    Esta guerra teve consequências muito importantes para Portugal, não só porque provocou o choque petrolífero que ameaçou o desenvolvimento industrial português, como aumentou exponencialmente os custos da guerra e criou uma elevada inflação que gerou descontentamento contra o Governo. Também envolveu Portugal no conflito, embora indirectamente, através da cedência de facilidades aos americanos para utilização da base dos Açores.

  • 06
      10/1973

    06/10/1973 - 

    Reunião alargada do Movimento dos Capitães em Lisboa, realizada simultaneamente em quatro locais, onde se colocou a hipótese do emprego da força para derrubar o regime.

    A reunião realizou-se em vários locais por ser muito elevado o número de participantes, que, além de representarem as unidades do Exército, contavam ainda com observadores da Marinha e da Força Aérea e representantes de Angola, Guiné e Moçambique.

    Foram colocadas várias alternativas como formas de actuação futura do movimento, entre as quais se contava, pela primeira vez, o emprego da força contra o regime.

    Apesar de tudo, a opção mais votada foi o pedido de demissão de oficial do Exército, através da fórmula que já estava em execução.

    Os pedidos de demissão deviam ficar na posse de comissões provisórias, sendo entregues em conjunto e em determinadas circunstâncias.

  • 07
      10/1973

    07/10/1973 - 

    Nova reunião do Movimento dos Capitães na qual se decide estruturar a sua acção e constituir comissões, sendo distribuídas tarefas de coordenação, de estudos e de ligação, incluindo aos núcleos ultramarinos.

  • 10
      10/1973

    10/10/1973 - 

    Ataque de um grupo do ELNA à fazenda Margarido, uma das maiores de Angola, no distrito de Luanda.

  • 12
      10/1973

    12/10/1973 - 

    Suspensão da aplicação dos diplomas sobre as carreiras no Exército (decretos de Sá Viana Rebelo sobre os milicianos) e nomeação de uma comissão para estudar o assunto.

    Esta suspensão devia levar ao estudo, caso a caso, das implicações da sua aplicação, mas as promoções deviam continuar a “fazer-se normalmente, de acordo com a legislação em vigor”.

  • 13
      10/1973

    13/10/1973 - 

    Reunião entre Kissinger e Rui Patrício para negociações sobre a utilização da base dos Açores e o fornecimento de mísseis terra-ar redeye a Portugal.

    “Estava então pendente, há longos meses, um pedido de Portugal aos EUA para o fornecimento de mísseis terra-ar Redeye, material cuja necessidade decorria de notícias que davam como altamente provável que, na Guiné, viessem a ser empregues meios aéreos contra as forças portuguesas. Mas o pedido havia sido recusado, invocando legislação aprovada pelas duas câmaras do Congresso, especificamente para serem aplicadas a Portugal.

    É, pois, particularmente frio, nessa altura, o relacionamento entre os dois países. Assim, quando o ministro dos Negócios Estrangeiros de então, Rui Patrício, é abordado pelo encarregado de Negócios da embaixada americana, Richard Post, no sentido de Portugal autorizar a aterragem, na base das Lajes, de aviões de carga que transportam equipamento militar para Israel, a resposta inicial é negativa. Aliás, na linha de igual reserva de neutralidade que a maioria dos países europeus (incluindo a Espanha) adopta, face ao legítimo temor de que os países árabes, produtores de petróleo, reajam com um embargo ao fornecimento da preciosa fonte de energia.

    Face à recusa portuguesa, o Governo americano volta a insistir no pedido, agora de forma mais persuasiva. O Governo português, perante a insistência, julga ser o momento de exigir algo em troca.

    Resumidamente, pelo Governo de Marcelo Caetano são colocadas as seguintes condições para a satisfação do pedido (a contraproposta portuguesa foi enviada para a embaixada portuguesa, em Washington, ao fim da tarde de 12 de Outubro, sexta-feira):

    • Garantias de auxílio em caso de retaliações;

    • Garantias sobre a não aprovação de legislação anti-portuguesa pelo Congresso dos EUA;

    • Garantia de maior tolerância relativamente à política portuguesa no Ultramar;

    • Execução escrupulosa do acordo sobre os Açores;

    • Fornecimento dos mísseis Redeye.

    A réplica americana, dirigida ao chefe do Governo português, chega no dia seguinte e é bem o tipo de “proposta irrecusável”:

    “Caro Senhor Primeiro-Ministro: Este é um momento difícil para a paz mundial e para as relações entre Portugal e os Estados Unidos. O que nós estamos a fazer visa contribuir para o fim das hostilidades e para uma paz durável no Médio Oriente, mas precisamos da vossa cooperação. O nosso encarregado de Negócios explicou o que requeremos. Não podemos estar agora a regatear convosco na base de hipotéticos resultados que poderão advir da vossa cooperação.

    Não podemos providenciar-vos as armas específicas pedidas pelo vosso Ministro dos Negócios Estrangeiros. Se forem ameaçados pelo terrorismo ou por um boicote de petróleo em resultado da vossa ajuda à paz mundial, estaremos dispostos a consultas bilaterais sobre as medidas que juntos poderemos tomar. Eu ficarei muito grato pela sua reflexão pessoal e cuidadosa acerca do que lhe exponho e do nosso problema comum. Sabe que o tempo é importante para ambos. Devo dizer-lhe com toda a franqueza, senhor Primeiro-Ministro, que a sua recusa em ajudar neste momento difícil forçar-nos-á a adoptar medidas cujos efeitos não podem ser outros senão os de melindrar a nossa relação. Se tivermos de procurar rotas alternativas, isso será um factor a recordar caso as contingências a que se refere o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros se verificarem (o MNE português aludira à questão da possibilidade de a proclamação da independência das chamadas “zonas libertadas” da Guiné-Bissau poder levar a um pedido de admissão do novo Estado nas Nações Unidas). Faço-lhe este pedido a si, pessoalmente, senhor Primeiro-Ministro. As melhores saudações. Sinceramente. Richard Nixon.” ( conforme publicado em Os Americanos e Portugal, de José Freire Antunes, pp. 258-259).

    A resposta do Governo português, enviada para Washington ao começo da noite do mesmo dia (sábado, 13 de Outubro), quando os primeiros aviões americanos já vinham no ar, é do seguinte teor:

    “Caro senhor Presidente: Recebi a sua mensagem e fará ideia da enorme responsabilidade que a resposta implica para mim numa ocasião em que me é impossível consultar os representantes dos órgãos constitucionais do país ou até os meus conselheiros pessoais e em pleno período eleitoral. Por outro lado, o risco que a decisão implica obrigaria em rigor a consultar também os países com os quais temos pactos de defesa, nomeadamente a Espanha. Vejo porém que o seu apelo é formulado em termos de extrema necessidade e não quero forçá-lo às medidas violentas que ele deixa supor. Nessas condições, vou instruir o meu Governo no sentido de autorizar a passagem dos aviões americanos, confiado na palavra de Vossa Excelência em que o meu país não ficará sem defesa no caso de prováveis consequências graves desta decisão. Sinceramente. Marcello Caetano” (Idem, p. 259).

    De facto, quando o Governo português autorizou, em 13 de Outubro de 1973, a utilização da base das Lajes para reabastecer os aviões de transporte americanos com material destinado a Israel, durante a guerra de Yom Kippur, Rui Patrício insistiu com Kissinger para a obtenção de mísseis terra-terra e terra-ar, com prioridade para estes últimos (tipo Redeye), indispensáveis para a defesa da Guiné. Já depois dos acontecimentos, em 9 de Dezembro, o secretário de Estado:

    Henry Kissinger, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício, tiveram um novo encontro em Bruxelas, por ocasião da reunião ministerial da NATO. Perante a insistência do ministro português no sentido de obter o fornecimento de mísseis para as Forças Armadas Portuguesas, Kissinger declarou que seria necessário encontrar um devious way para o conseguir, e que estava procurando uma fórmula apropriada, pois o Congresso americano nunca permitiria um fornecimento de armas a Portugal.

    Assegurou ao ministro português que iria fazer tudo o que podia “ainda que tivesse de abater alguns colegas do State Department”. Em 17 de Dezembro Kissinger passou em Lisboa, num gesto de cortesia a que se sentia obrigado para com o Governo português. Jantou nas Necessidades e após a refeição teve um encontro restrito com o colega português a quem reiterou as afirmações que fizera em Bruxelas, sugerindo, no entanto, que seria de tentar um contacto directo com as autoridades israelitas que poderiam fornecer os mísseis que desejávamos obter. Disse que facilitaria esse contacto e, com efeito, o embaixador israelita em Washington encontrou-se com o embaixador português Hall Themido. Deste contacto, todavia, nada de positivo resultou, pois os israelitas não estavam dispostos a fazer qualquer fornecimento directo a Portugal. Kissinger remeteu-se então ao silêncio e, dado o carácter altamente secreto desta questão – acentuado pelo secretário de Estado americano quando esteve em Lisboa –, não foram praticadas quaisquer outras diligências pela parte portuguesa.

  • 15
      10/1973

    15/10/1973 - 

    Reunião do Movimento dos Capitães em Nampula (Moçambique), na qual os oficiais decidiram prosseguir o movimento apesar da suspensão dos decretos, em concordância com os outros núcleos do movimento.

  • 15
      10/1973

    15/10/1973 - 

    Cinquenta e seis países membros da ONU pedem o agendamento de um debate sobre “a ocupação ilegal de certas zonas da Guiné-Bissau pelas forças militares portuguesas”.

  • 16
      10/1973

    16/10/1973 - 

    Dez dias após o início da guerra do Yom Kippur, os países árabes produtores de petróleo decidem embargar o seu fornecimento aos países que apoiavam Israel na guerra.

    O embargo atingiu Portugal, como uma das consequências das facilidades concedidas aos americanos nos Açores.

  • 18
      10/1973

    18/10/1973 - 

    Reunião do Movimento dos Capitães em Bissau, decidindo continuar a recolha de assinaturas, apesar da suspensão dos decretos.

  • 21
      10/1973

    21/10/1973 - 

    Ataque a Mucondo, no Leste de Angola, por um grupo de cem guerrilheiros do MPLA, com canhão sem recuo, morteiros e armas ligeiras.

  • 23
      10/1973

    23/10/1973 - 

    Elaboração de um documento de análise do Movimento dos Capitães e necessidade da sua continuação e mobilização de outros elementos, feita pela comissão coordenadora, em Lisboa.

  • 28
      10/1973

    28/10/1973 - 

    Um avião civil dos Transportes Aéreos da Guiné (TAGP) é atingido em voo, entre Cufar e Catió (Sul), tendo um dos passageiros sido ferido com gravidade, um oficial dos Fuzileiros. Este incidente agravou a já difícil situação dos movimentos dos meios aéreos na Guiné.

  • 28
      10/1973

    28/10/1973 - 

    Eleições para a Assembleia Nacional com a desistência da Oposição (CDE), que classificou o acto de fraude eleitoral.

  • 11
      1973

    11/1973 - 

    Saudação da Assembleia Geral da ONU pela independência recente da Guiné-Bissau e condenação da ocupação por Portugal de algumas áreas do território.

  • 01
      11/1973

    01/11/1973 - 

    Grande emboscada na estrada Luvuei-Lutembo no Leste de Angola, por um grupo de 60 a 80 elementos do MPLA, durante a Operação Martelada, resultando seis mortos e 28 feridos das forças portuguesas.

  • 02
      11/1973

    02/11/1973 - 

    Resolução histórica da Assembleia Geral da ONU, única no direito de descolonização, reconhecendo a independência da República da Guiné-Bissau e a ilegalidade da ocupação colonial portuguesa – Resolução A/3061 (XXVII).

    A Assembleia Geral da ONU aprovou ainda, com o voto de 93 Estados membros, uma recomendação ao Conselho de Segurança para admissão da Guiné-Bissau.

  • 04
      11/1973

    04/11/1973 - 

    Reunião dos oficiais oriundos de milicianos em Porto de Mós para um ponto de situação e eleição de uma comissão representativa.

  • 06
      11/1973

    06/11/1973 - 

    Numa reunião do Movimento dos Capitães manifestam-se as primeiras divergências entre dois grupos de oficiais.

  • 07
      11/1973

    07/11/1973 - 

    Remodelação ministerial para responder à agitação nas Forças Armadas, com Silva Cunha na Defesa Nacional, Andrade e Silva no Exército, Baltazar Rebelo de Sousa no Ultramar, Viana de Lemos como subsecretário de Estado do Exército e Telo Polleri na Aeronáutica.

  • 11
      11/1973

    11/11/1973 - 

    Admissão da Guiné-Bissau na FAO, tornando-se um acto importante, pois era a primeira organização das Nações Unidas em que o novo Estado era aceite.

  • 11
      11/1973

    11/11/1973 - 

    Publicação da Portaria 777/73, que impunha restrições ao consumo de petróleo, medida que provocou uma corrida aos postos de abastecimento, com a formação de grandes filas e perturbações.

  • 12
      11/1973

    12/11/1973 - 

    Novas divergências entre os dois grupos de oficiais no seio do Movimento dos Capitães, que defendem dois rumos para a contestação – apenas reivindicações de natureza militar, a caminho da sua resolução pela nomeação dos novos responsáveis do Governo, e avanço das reivindicações, sem exclusão de qualquer hipótese.

  • 16
      11/1973

    16/11/1973 - 

    Resolução da Assembleia Geral da ONU convidando, pela primeira vez, a República da Guiné-Bissau a participar na III Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.

  • 16
      11/1973

    16/11/1973 - 

    Visita de jornalistas estrangeiros a Madina do Boé, na zona Leste da Guiné.

    O general Bettencourt Rodrigues organizou uma visita de dois jornalistas alemães – Raffelberg e Kraabe – a Madina do Boé para desacreditar a proclamação de independência que o PAIGC ali fizera a 24 de Setembro. Para provar que Madina não era a capital do PAIGC o general levou os dois jornalistas alemães de helicóptero.

    As conclusões desses jornalistas transmitidas em telegramas da agência Reuter não foram muito abonatórias para as teses do general: “Os portugueses provaram que entre as 13 horas e as 13 horas e oito minutos o PAIGC não atacou os helicópteros estacionados em Madina do Boé.

    Ao transportarem de helicóptero jornalistas estrangeiros a qualquer das localidades que eles pediram para ver, as autoridades portuguesas mostraram que tinham acesso por via aérea às principais localidades do território”.

  • 19
      11/1973

    19/11/1973 - 

    Admissão da Guiné-Bissau como 42º Estado membro da OUA.

  • 20
      11/1973

    20/11/1973 - 

    Atingido um helicóptero civil que inspeccionava as linhas de transporte de energia de Cahora Bassa.

  • 23
      11/1973

    23/11/1973 - 

    Estudo do Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre a atitude de Portugal nas reuniões nas quais se encontrassem “representantes da auto-proclamada República da Guiné Bissau”.

    Um dos efeitos do reconhecimento da independência da Guiné por parte de vários países foi a entrada do novo Estado em vários organismos internacionais, o que causou sérios embaraços ao Governo português, cujos delegados não sabiam como lidar com a nova situação. O Ministério dos Negócios Estrangeiros elaborou um memorando para enquadrar as possíveis atitudes dos delegados de Portugal. As duas opções eram Portugal recusar-se sistematicamente a participar nessas reuniões e evitar assim as humilhações e os vexames a que fatalmente seria sujeito ou optar por uma linha de orientação flexível estando presente quando os interesses portugueses o aconselhassem. Isto porque no plano do direito internacional, como afirmavam os autores do estudo, os embaixadores Freitas Cruz e Tomás Anderson, a presença de Portugal não significava o reconhecimento da Guiné-Bissau.

  • 24
      11/1973

    24/11/1973 - 

    Proibição das manifestações da FLING pelo Governo senegalês, depois de ter reconhecido o Estado da Guiné-Bissau.

    Os dirigentes da FLING, que contava com 4000 simpatizantes espalhados por Koldá, Dacar e Velingara, no Senegal, procuraram contactar com as autoridades senegalesas e, segundo um dos dirigentes, iriam pedir aos seus militantes para fazerem a sua apresentação às autoridades portuguesas. O presidente Senghor tinha mandado prender em Outubro os adeptos da FLING, embora François Mendy, o presidente, tivesse continuado a exercer as funções de professor em Dacar.

  • 24
      11/1973

    24/11/1973 - 

    Reunião do Movimento dos Capitães na Parede, onde o tenente-coronel Luís Banazol falou da necessidade de fazer uma revolução e se colocaram três hipóteses de futura actuação: conquista do poder, exigência de eleições livres ou reivindicações exclusivamente militares.

    A estas alternativas principais, que os delegados das unidades deveriam transmitir a todos os oficiais, auscultando as suas opiniões, juntavam-se ainda outros assuntos que se tornava necessário discutir para consolidar o movimento – o seu alargamento à Marinha e à Força Aérea, a escolha de um chefe que representasse o sentido do movimento, a constituição de uma Comissão Coordenadora e suas funções. Para recolha das opiniões das unidades ficou desde logo marcada nova reunião em Óbidos, no dia 1 de Dezembro.

  • 26
      11/1973

    26/11/1973 - 

    Início da sexta reunião de alto nível dos representantes do Exercício Alcora, em Salisbúria, em que é apresentado, pela África do Sul, o major-general Clifton como primeiro director-geral da Organização Permanente de Planeamento Alcora (PAPO) e o brigadeiro Roos como director por parte da RAS para o seu Estado-Maior general.

    Nesta sexta reunião, na qual ficou decidida a implementação definitiva da organização permanente Alcora, com quartel-general em Pretória dirigido por um representante da África do Sul, foi estabelecido que “o objectivo do Alcora engloba a coordenação de todos os aspectos e facetas da defesa naqueles domínios em que tal coordenação possa ser tanto rendosa como benéfica. Isto deverá, portanto, incluir actividades relativas a todos os ramos das Forças Armadas (Marinha, Exército e Força Aérea). Deve incluir-se neste âmbito o estudo da possível cooperação de natureza não militar quando tal cooperação possa contribuir para as operações militares”. Durante a reunião, o general Ivo Ferreira, presidente da representação portuguesa, manifestou a sua satisfação por se encontrar na Rodésia e salientou os estreitos laços presentemente existentes entre os membros Alcora, vaticinando “êxitos futuros para a PAPO”. Depois das dezenas de reuniões efectuadas entre representantes dos três países, através de subcomissões de várias áreas definidas logo no início do “Exercício”, e para atingir os objectivos definidos, a organização Alcora contava finalmente com as seguintes estruturas:

    1. A Comissão de Alto Nível Alcora (ATLC), para “dirigir e coordenar as acções de todos os órgãos Alcora”, constituída, pela parte de Portugal, pelo secretário-adjunto do SGDN e pelos comandantes-chefes de Angola e Moçambique; pela parte da Rodésia, pelos comandantes da Força Aérea e do Exército; e pela África do Sul, pelo chefe de Estado-Maior da Defesa.

    2. A Comissão Consultiva Alcora para a Segurança das Comunicações, constituída por representantes dos órgãos de segurança nacionais, funcionando como comissão ad hoc de especialistas.

    3. A Comissão de Especialistas em Cartografia e Topografia, igualmente uma comissão ad hoc.

    4. A própria organização permanente de planeamento, “sediada na RAS” e funcionando “sob a supervisão do representante local da ATLC, através de um director-geral (DGSP)”, sendo este assistido por três directores, um de cada país, “que com o DGSP constituem o Estado-Maior General Directivo da PAPO”.

    A estrutura desta organização permanente incluía os seguintes órgãos:

    • Quatro Repartições de Estado-Maior, com as funções de “Operações”, “Informações”, “Logística” e “Telecomunicações e Guerra Electrónica”;

    • Oficial Coordenador;

    • Secretaria;

    • Centro Criptográfico e de Transmissões;

    • Oficial de Segurança.

  • 27
      11/1973

    27/11/1973 - 

    Carta do comandante da Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde, expondo a situação difícil naquele território.

    O comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné (ZACVG), coronel José Lemos Ferreira, que havia substituído o coronel Moura Pinto, enviou uma carta ao chefe do Estado-Maior das Forças Armadas a expor a situação que se vivia na Guiné.

    Relativamente à independência declarada pelo PAIGC em Setembro afirmava: “(…) julgo dever começar por referir que a chamada independência da “Guiné-Bissau” e o subsequente reconhecimento por um vasto número de países criou, mau grado a verdade da tese nacional e dos nossos desejos, uma conjuntura nova irreversível, plena de perspectivas adicionais vis-a-vis a anterior e susceptível das mais diversas intromissões desde as pressões políticas à intervenção armada directa ao lado do PAIGC de forças militares de países africanos ou quaisquer outros do denominado bloco socialista”.

    A situação na Guiné, do ponto de vista da Força Aérea

    Depois de referir as possibilidades militares do PAIGC, que incluíam o patrulhamento aéreo feito por aviões MIG 15 e MIG 17 da República da Guiné-Conacri, da eliminação de duas guarnições portuguesas junto da fronteira, a existência de blindados e de armas antiaéreas e anticarro, de mercenários e de lembrar a afirmação do PAIGC de que a guerra terminará antes do fim da época seca de 1974 com a derrota do dispositivo militar português, o coronel piloto-aviador Lemos Ferreira afirmava: “Sabendo-se que a sobrevivência militar nesta Província Ultramarina assenta quase exclusivamente no pessoal e nos meios da Força Aérea, por ser patente que as FT (Forças Terrestres) não parecem capazes de suportar e reagir a um safanão forte por razões conhecidas, nomeadamente a sua reduzida motivação, deduz-se o risco de, apesar de sermos aqueles que mais intensamente procuramos remar contra a maré, acabarmos por ser o “pião das nicas” por não termos realizado o milagre integral, ou seja, impedir todo e qualquer ataque inimigo!”.

    E prosseguia, mais adiante: “(…) é importante referir que o calendário da Guiné marcha em acelerado devendo entender-se as semanas como meses! Isto é, parece-me não haver tempo para perder em grandes estudos e congeminações, urgindo realizar mesmo correndo o risco de não atingirmos a optimização das soluções”.

  • 28
      11/1973

    28/11/1973 - 

    Decretado o embargo petrolífero a Portugal, Rodésia e África do Sul, na cimeira árabe de Argel.

    A política do Governo de estabelecer uma aliança de Portugal com a Rodésia e África do Sul começava “dar os seus frutos” internacionais.

    Portugal surgia claramente associado aos dois regimes brancos.

  • 29
      11/1973

    29/11/1973 - 

    Os generais reunidos em torno de Kaúlza de Arriaga tentam várias aproximações ao Movimento dos Capitães, no sentido de este aceitar o seu plano de tomada do poder. Todas foram sendo rejeitadas pelos capitães.

  • 30
      11/1973

    30/11/1973 - 

    Directiva do Comando-Chefe da Guiné para o apoio aéreo.

    Nesta directiva estavam expressas as novas orientações para o emprego da Força Aérea na Guiné, resultantes do emprego de mísseis antiaéreos pelo PAIGC.

    Assim, a Força Aérea suprimia as missões de DCON (DO-27 armado) em reconhecimento, de DACO (T-6 armado), ATAP (T-6 armado e Fiat G-91 armado) e RVIS (reconhecimento a baixa altitude).

    Foram estabelecidas altitudes de voo para as missões – acima dos 6000 pés e abaixo dos 200 pés.

    Entre estas altitudes todas as aeronaves deviam realizar bruscas mudanças de altitude e de rumo.

    Todas as missões deviam ser realizadas por parelhas de aviões e eram também restringidos os limites de carga a transportar para aumentar a manobrabilidade das aeronaves.

    Eram canceladas missões de transporte geral (TGER) nas zonas de Farim, Bigene, Ingoré e Aldeia Formosa.

    Para as evacuações sanitárias com helicópteros AL III estes deviam operar com as mesmas restrições dos DO-27.

  • 12
      1973

    12/1973 - 

    Aumento adicional de 130% do preço do petróleo, nos mercados internacionais, depois de um aumento de 70% em Outubro.

  • 12
      1973

    12/1973 - 

    Constituição de uma comissão nas Nações Unidas para investigar as atrocidades cometidas pelas forças portuguesas em Moçambique.

  • 12
      1973

    12/1973 - 

    Libertação de militares portugueses que se encontravam presos na República do Zaire.

  • 01
      12/1973

    01/12/1973 - 

    Reunião de Óbidos do Movimento dos Capitães, em que é eleita uma comissão coordenadora alargada e votados os nomes dos generais a contactar pelo movimento – Costa Gomes e António de Spínola.

    A reunião de Óbidos foi um marco importante na evolução do Movimento dos Capitães. Dois problemas foram especialmente abordados – a questão do rumo a seguir e a questão dos chefes a contactar. Na escolha das alternativas para o movimento acabou por ficar clara a ideia que se vinha tornando inevitável – era necessário o emprego da força, o que levaria à conquista do poder; quanto aos chefes, as opções não eram muitas e estavam já lançadas das reuniões anteriores – Costa Gomes, António de Spínola e alguns votos em Kaúlza de Arriaga.

    Finalmente, foi eleita uma comissão coordenadora alargada, com 19 elementos. As hesitações pareciam ter os dias contados.

  • 04
      12/1973

    04/12/1973 - 

    A guarnição de Buruntuma (Leste da Guiné) avista uma parelha de aviões MIG 17 sobre o seu quartel, tendo os dois aviões realizado um voo relativamente baixo às 9h20, com ligeira picada sobre o aquartelamento.

  • 05
      12/1973

    05/12/1973 - 

    Primeira reunião, na Costa da Caparica, da comissão coordenadora do Movimento dos Capitães constituída em Óbidos, onde se elege a Direcção do movimento, composta por Vasco Lourenço, Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves.

    Assumida a necessidade de empregar a força para obter uma solução de acordo com a vontade da maioria do movimento, era urgente fazerem-se os estudos e formularem-se os planos de actuação. Para além da Direcção do movimento que ficou eleita e se manteria até ao 25 de Abril, também se criou uma estrutura com tarefas parcelares, transformando o movimento reivindicativo num processo conspirativo de fundamentos políticos. Consolidava-se a ideia do derrube do Governo, baseada na consciência crescente da natureza do regime e da guerra.

  • 11
      12/1973

    11/12/1973 - 

    O Comando Operacional da Defesa de Cahora Bassa (COCB) assume a responsabilidade da defesa da zona da barragem.

  • 11
      12/1973

    11/12/1973 - 

    Abate de um helicóptero em Tete, durante uma operação de largada de GEP, em que três helicópteros foram atingidos por tiros, sendo um deles forçado a aterrar e posteriormente incendiado pelos guerrilheiros.

  • 13
      12/1973

    13/12/1973 - 

    Ataque do PAIGC à povoação do Ingoré (Norte da Guiné), feito a partir do Senegal, revelando o apoio que este país passara a conceder ao PAIGC. O ataque causou 14 mortos e 16 feridos entre a população.

  • 14
      12/1973

    14/12/1973 - 

    Identificação de meios aéreos na Guiné-Conacri.

    Informação do Comando da Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde referindo que “um cidadão guineense evoluído que se apresentou alegando motivos políticos identificou sem legendas os seguintes meios aéreos na Base de Conacri: 6 a 12 MIG 21; alguns Nordatlas; helicóptero Bell armado, tipo USArmy; aviões de ligação Otter”. Referiu ainda que Luís Cabral tinha insistido junto da Rússia no sentido de serem acelerados os cursos de formação de 10 a 12 pilotos do PAIGC, que estavam previstos para o início de 1974.

  • 17
      12/1973

    17/12/1973 - 

    Resolução da Assembleia Geral da ONU aprovando os poderes da delegação de Portugal “tal como ele existe no interior das suas fronteiras na Europa”, excluindo desses poderes os “territórios sob domínio português de Angola e Moçambique” e a “Guiné-Bissau, que é um Estado independente”.

  • 17
      12/1973

    17/12/1973 - 

    Carlos Fabião denuncia o golpe de Kaúlza de Arriaga numa aula no Instituto de Altos Estudos Militares.

    Desde o seu regresso de Moçambique, Kaúlza de Arriaga seguiu com muita atenção a situação em Portugal. Apercebeu-se de que o enfraquecimento da posição de Marcelo Caetano era irreversível, e que crescia a contestação ao regime no seio das Forças Armadas.

    Tornava-se por isso urgente criar uma alternativa, antes que os capitães pudessem organizar-se. Mesmo no seio do movimento tinha os seus apoios, em que devia incluir-se a grande maioria das tropas Pára-quedistas. A partir de Setembro procurou aliciar alguns generais e com eles planear uma intervenção na política.

    Mas também o Movimento dos Capitães conhecia as pretensões dos generais. Depois de vários episódios, como o contacto com os generais escolhidos pelo movimento, Costa Gomes e Spínola, que não provocaram qualquer reacção, só restou a denúncia pública das intenções de Kaúlza de Arriaga e do seu grupo. Deste propósito foi encarregado Carlos Fabião, que frequentava um curso de formação em Pedrouços, no Instituto de Altos Estudos Militares. No final de uma aula pediu a palavra e fez uma denúncia pública do golpe que Kaúlza de Arriaga estava a preparar.

    O escândalo teve repercussões imediatas e foi suficiente para fazer gorar qualquer iniciativa dos generais. Ficou por resolver o problema das repercussões que o caso teve no seio do movimento e continuava em aberto a dinamização de uma acção decisiva por parte dos capitães.

  • 17
      12/1973

    17/12/1973 - 

    Directiva do general ghefe do EMGFA, general Costa Gomes, sobre a reorganização das estruturas nacionais do Exercício Alcora, em face das decisões tomadas de avançar com novas acções conjuntas.

    A directiva começa por fazer o historial do “Exercício”, recordando que o seu estabelecimento remontava a 14 de Outubro de 1970, quando os governos de Portugal, da RAS e da Rodésia estabeleceram o acordo. Refere também que, desde a sua criação, a organização se compunha, a nível tripartido, de uma Comissão de Alto Nível, uma Comissão de Coordenação e oito subcomissões, e que todas se vinham reunindo duas vezes por ano. A nível interno, tinha sido constituída, em Portugal, uma comissão de acompanhamento, a Comissão de Coordenação para os Assuntos do Ultramar (CCAU), junto do Secretariado-Geral de Defesa Nacional. Agora, ao fim de três anos de trabalho, impunha-se a criação de um órgão tripartido permanente que conferisse aos trabalhos Alcora “uma continuidade que se não obtinha no sistema de reuniões periódicas”, tendo em conta que fora “aprovada a nível Ministros da Defesa dos três países, em 12 de Setembro de 1973, a criação de uma Organização Permanente de Planeamento Alcora (PAPO), integrando as atribuições anteriormente conferidas à Comissão de Coordenação e às Subcomissões”. Estando já previsto que o seu funcionamento se iria iniciar em Pretória, em Janeiro de 1974, a sua organização permanente passaria a constar dos seguintes órgãos: Comissão de Alto Nível Alcora (de que passariam a fazer parte os comandantes-chefes de Angola e Moçambique) e a Organização Permanente de Planeamento Alcora, com sede em Pretória. Em face desta alteração tornava-se necessário adaptar a estrutura a nível nacional, “por forma a assegurar um eficiente apoio à PAPO e à ATLC em estudos e pareceres (…) habilitando aqueles órgãos, em tempo útil, com os elementos de que necessitam para a realização dos seus trabalhos”.

    Sendo assim, o CEMGFA determinava que, a nível do SGDN continuasse a existir uma Comissão de Coordenação para os Assuntos do Ultramar, cujos membros seriam nomeados de entre os próprios oficiais; a nível dos estados-maiores dos três ramos deviam passar a existir, em todas as repartições, oficiais para assuntos Alcora; e a nível dos comandos-chefes de Angola e Moçambique deveria ser nomeado um oficial superior para coordenador dos assuntos Alcora.

    Preparava-se, desta forma, a estrutura militar para responder às novas responsabilidades e âmbito de actuação que resultariam da entrada em funções do novo projecto Alcora, com quartel-general em Pretória, e a perspectiva de acções militares conjuntas.

  • 20
      12/1973

    20/12/1973 - 

    Ordem de embarque imediato para a Guiné para alguns oficiais do Batalhão de Ataíde Banazol.

    O tenente-coronel Ataíde Banazol estava mobilizado para comandar um Batalhão de Caçadores com destino à Guiné. As suas actividades conspirativas no Movimento dos Capitães chegaram ao conhecimento da hierarquia militar, que decidiu acelerar o embarque do batalhão.

    Esta atitude revela a fraqueza da hierarquia militar, que evitou agir disciplinarmente contra um oficial, optando por apressar o seu embarque para o teatro de operações.

    No entanto, para prevenir atitudes consideradas inconvenientes, o Estado-Maior do Exército decidiu desmembrar o batalhão e enviar os quadros separados das tropas e as unidades separadas entre si.

    Chegado à Guiné, o tenente-coronel Banazol reuniu-se com os oficiais do Movimento dos Capitães em Fevereiro de 1974. Essa reunião teve lugar em Nhacra, a poucos quilómetros de Bissau, estando presentes os capitães Matos Gomes, José Manuel Barroso e Franco (os dois últimos milicianos). Nesta reunião, o tenente-coronel Banazol apresentou um plano de tomada de poder em Bissau com o seu batalhão, que cercaria o palácio do Governo e o Quartel-General.

  • 21
      12/1973

    21/12/1973 - 

    Publicação do Decreto-Lei 686/73, introduzindo algumas alterações ao DL 49.324, de 27 de Outubro de 1969, pelo qual havia sido criado o QEO. Como novidade mais expressiva, o novo diploma alargava o quadro, passando a dispor de oito coronéis (nenhum do antecedente), 24 tenentes-coronéis (20), 48 majores (40) e 220 capitães e subalternos (120+180).

    Foi também aprovada uma nova tabela de vencimentos dos militares do Quadro Permanente. Esta nova tabela surgia no final de um período de grande agitação entre os oficiais do Exército de patente mais baixa – capitães e subalternos – devido à polémica em torno dos decretos-lei 353/73 e 409/73. É à luz deste desassossego que se deve entender a generosidade do Governo precisamente para com os oficiais com a patente de capitão. De facto, comparando nas quatro tabelas anteriores a percentagem do vencimento de general que correspondia ao vencimento de capitão, percebe-se que esta tabela de 1973 tinha a clara intenção de “acalmar as tropas”, pois nunca a relação entre os vencimentos de general e de capitão fora tão favorável aos últimos.

  • 22
      12/1973

    22/12/1973 - 

    Criação do cargo de vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.

    Este cargo foi expressamente criado para o general António de Spínola.

    O Governo preferia ter o antigo governador e comandante-chefe da Guiné integrado na hierarquia do que livre para conspirar. No mesmo Diário do Governo que criou este cargo, foram publicados três diplomas que visavam corrigir os decretos-lei 353/73 e 409/73 que haviam estado na origem da contestação dos capitães.

  • 22
      a 29/12/1973

    22 a 29/12/1973 - 

    Operações de forças rodesianas em Moçambique, na zona de Tete.

    Em 22, 24 e 29 de Dezembro forças especiais rodesianas dos SAS (Special Air Service) realizaram operações na margem esquerda do Zambeze perseguindo um grupo de 15 a 20 guerrilheiros da FRELIMO. Três soldados rodesianos foram feridos por fogo de morteiro e um helicóptero foi forçado a aterrar em Macombe, depois de ter sido atingido por tiros.

  • 23
      12/1973

    23/12/1973 - 

    O Semanário Expresso elege António de Spínola como “Político do Ano”.

    Dizia o texto de justificação:

    “O político do ano foi — concorde-se ou não com as suas posições — o general António de Spínola. Torre e Espada na sua saída da Guiné, ele foi notícia em Novembro e voltou a sê-lo recentemente.

    Só se aguarda com ampla curiosidade o seu próximo livro acerca do futuro do Ultramar”.

  • 31
      12/1973

    31/12/1973 - 

    Ao findar o ano de 1973, as Forças Armadas Portuguesas presentes nos três teatros de operações (Angola, Guiné e Moçambique) haviam atingido efectivos de cerca de 170 000 homens (150 000 do Exército), dos quais quase 90 000 provenientes do recrutamento metropolitano.

    Se os efectivos globais não cessaram de crescer, o mesmo se não pode dizer da importante parcela do enquadramento garantida pelos quadros permanentes (QP), em relação ao Exército. Os jovens com habilitações literárias que possibilitavam a admissão às escolas superiores militares ofereciam-se em número cada vez menor. Daí que o Governo procurasse, de todas as maneiras, recrutar oficiais para o QP noutras fontes. Os milhares de oficiais milicianos que haviam cumprido a sua comissão de serviço nos teatros de operações ultramarinos, e que, ao regressarem à Metrópole, se encontravam sem profissão certa, constituíam, naturalmente, um campo de recrutamento que o poder político não podia deixar de aliciar.

  • 31
      12/1973

    31/12/1973 - 

    De 1959 a 1973 foram aprovadas pela ONU 173 resoluções condenando a política ultramarina do Governo português. Uma média superior a 11 condenações por ano, sem contar as das agências especializadas como a Organização Internacional do Trabalho, a Organização Mundial da Saúde, da Educação e Cultura (UNESCO), etc.

  • 31
      12/1973

    31/12/1973 - 

    Os efectivos do Exército no final do ano de 1973, nos três teatros de operações, eram de 149 090.

    • Angola – 65 592 militares (37 773 da Metrópole)

    • Guiné – 32 035 militares (25 610 da Metrópole)

    • Moçambique – 51 463 militares (23 891 da Metrópole)

    • Total – 149 090 militares (87 274 da Metrópole)

    O Exército sofreu, durante o ano de 1973, 242 mortos em Angola, 215 na Guiné e 399 em Moçambique, num total de 856 nos três teatros.

  • 31
      12/1973

    31/12/1973 - 

    Morreram em combate, no ano de 1973, 51 militares em Angola, 139 na Guiné e 202 em Moçambique, num total de 392.

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