1971 - Lutar em novas frentes

1971 - Lutar em novas frentes

Os Acontecimentos

  • 08
      01/1971

    08/01/1971 - 

    Visita do ministro da Defesa, Sá Viana Rebelo, a Angola.

    Esta visita de Sá Viana Rebelo permitiu verificar como estava a ser implantada no terreno a nova estrutura de contra-subversão na sequência das directivas ministeriais de 1967. Tratava-se de analisar os resultados das estruturas de coordenação dos conselhos provinciais de contra-subversão que integravam os comandos militares, as autoridades de Governo provincial e administrativas, a Organização de Voluntários (OPVDCA) e a PIDE/DGS.

    A ideia geral foi a de que estes centros de coordenação estavam a dar boa resposta e a permitir uma melhoria no controlo da situação. O que estes conselhos nunca conseguiram foi libertar mais meios militares para as acções operacionais directas, ou permitir uma redução significativa de efectivos.

  • 11
      01/1971

    11/01/1971 - 

    Criação do Centro de Convalescença da ilha de Moçambique.

    Este centro foi a única unidade deste tipo criada nos teatros de operações.

    Era uma unidade destinada a receber os militares em regime de convalescença da Região Militar de Moçambique, na dependência directa do Hospital Militar de Nampula.

  • 12
      01/1971

    12/01/1971 - 

    Morte de um fornecedor das tropas portuguesas, em Tete.

    Numa acção típica de terrorismo selectivo, um grupo de guerrilheiros matou um africano que habitualmente fornecia as tropas portuguesas de carne e incendiou-lhe a casa na zona de Vila Gamito.

  • 15
      01/1971

    15/01/1971 - 

    Rapto de quatro europeus na zona de Tete, Moçambique.

    Um grupo de 15 guerrilheiros atacou o acampamento Mucangadazi e raptou quatro europeus que trabalhavam na Missão de Fomento do Zambeze e capturou cinco armas e um rádio.

    Estes raptos tinham por finalidade causar a desestabilização dos civis europeus da região e eram conjugadas com os assaltos e ataques a viaturas e a cantinas.

    A acção da FRELIMO em Tete assentava também na implantação de grande número de minas e de engenhos explosivos nas estradas, de modo a dificultar o tráfego e a actividade económica, levando os civis europeus a abandonarem a região.

    Relativamente às populações africanas a acção assentava em raptos, e em pressões violentas sobre autoridades tradicionais.

  • 23
      01/1971

    23/01/1971 - 

    Despacho de Kaúlza de Arriaga de criação dos Grupos Especiais (GE) em Moçambique.

  • 2
      1971

    2/1971 - 

    Organização militar da UNITA no Leste de Angola.

    A UNITA dividiu a sua zona de implantação em duas regiões separadas pelo rio Lungué-Bungo – a 1ª Região, na margem direita, chefiada por N’zau Puma, e a 2ª Região, na margem esquerda, chefiada pelo próprio Savimbi.

  • 2
      1971

    2/1971 - 

    Conferência sobre “Os Estudantes e o Movimento de Libertação Africano” em Helsínquia, com representantes de mais de 60 países e do PAIGC, MPLA, FRELIMO e SWAPO.

  • 08
      02/1971

    08/02/1971 - 

    O ministro da Defesa Nacional, por proposta do comandante-chefe de Angola, general Costa Gomes, aprovou a nova área da Zona Militar Leste, em Angola, que correspondia aos distritos da Lunda, Moxico, Cuando-Cubango, Bié e parte do distrito de Malange.

    No despacho de criação, Sá Viana Rebelo, ministro da Defesa, referia:

    “Esta Zona de Operações, que terá a designação de Zona Militar do Leste, será dotada com um comando próprio conjunto, cujo comandante, oficial general do Exército, ficará dependente do Comandante-chefe de Angola, perante o qual responderá pela defesa militar e civil do território colocado sob a sua jurisdição, e reconhecerá a orientação conjugada do Governador Geral e do Comandante-Chefe, nos termos da portaria ministerial conjunta referida a este Comando, quanto ao accionamento e coordenação dos serviços dependentes dos respectivos governadores em tudo o que lhes respeite nas funções de informação, contra-subversão e segurança.

    Para todos os efeitos logísticos e administrativos, a Zona Militar Leste é abrangida nas Regiões Militar, Naval e Aérea”.

    A decisão de Costa Gomes de combater no Leste

    A decisão do general Costa Gomes de fazer do Leste o seu campo de batalha tem a ver com a realização de uma manobra estratégica de defesa do planalto central de Angola, com o controlo das fronteiras norte (Congo) e leste (Zâmbia), mas tem também muito a ver com a defesa das potencialidades económicas da zona mais rica de Angola. A sua nomeação para comandante-chefe das Forças Armadas de Angola tem,certamente, a ver com a opinião positiva dos conselhos de administração das grandes empresas – ele era o mais experiente e competente general português e eles queriam o melhor.

    Costa Gomes não os desiludiu, decidindo combater os guerrilheiros do MPLA o mais à frente que podia, nas “chanas” do Leste, optando pelo Luso em vez de Silva Porto. Esta opção não era, como hoje parece, a única solução. Ele podia ter optado por combater na zona de Malange, ou no planalto central, naquilo a que chamava a “barriga mole” de Angola, encurtando distâncias aos apoios logísticos, evitando ter de criar mais infra-estruturas de apoio, mas isso teria deixado desprotegidas as grandes companhias com base na Lunda, em Cassinga e no troço mais problemático do Caminho-de-Ferro de Benguela. A escolha de Costa Gomes revelou ser a melhor, porque ele sabia que ao MPLA, o seu principal antagonista, não lhe interessava instalar-se no Leste.

    A Zona Militar Leste: uma organização empresarial para fazer a guerra

    O sistema de comando que Costa Gomes concebeu para o Leste obedeceu aos mesmos princípios de concentração de poderes para obter a maior racionalização dos meios e a mais rápida decisão face a alterações da situação das grandes empresas.

    Ao Leste foram atribuídos os melhores meios operacionais e Bettencourt Rodrigues será um verdadeiro director executivo da grande empresa do Leste.

  • 10
      02/1971

    10/02/1971 - 

    Início do julgamento em Lisboa de dez arguidos, entre os quais Joaquim Pinto de Andrade, preso em Portugal desde 1961, acusados de tentarem obter por meios violentos a separação de Angola da “Mãe-Pátria”.

  • 13
      02/1971

    13/02/1971 - 

    Bissau é sobrevoada por dois aviões MIG-17 da República da Guiné-Conacri.

    A cidade de Bissau foi sobrevoada na manhã do dia 13 de Fevereiro por dois aviões MIG-17 de Guiné-Conacri que se mantiveram em missão de reconhecimento fotográfico desde as 10 horas da manhã até às 10h30, voando a baixa altitude.

    À data não existia qualquer capacidade de reacção antiaérea na Guiné. Mais tarde, seria instalada uma bateria antiaérea na zona de Brá e do aeroporto.

  • 14
      02/1971

    14/02/1971 - 

    Reunião secreta de alto nível em Salisbúria entre dirigentes dos serviços secretos e de informações de Portugal, África do Sul e Rodésia.

    A África do Sul e a Rodésia estavam cada vez mais preocupadas com a deterioração da situação militar em Moçambique, considerando que as tropas portuguesas comandadas pelo general Kaúlza de Arriaga não faziam o suficiente para controlar a actividade dos guerrilheiros que combatiam em Angola e Moçambique e que ameaçavam a África do Sul e a Rodésia. Em 14 de Fevereiro reuniram-se secretamente em Salisbúria, capital da Rodésia, o general sul-africano Hendrik van der Bergh, chefe da BOSS (South African Bureau of State Security), e o seu adjunto-general Vervey, o major Silva Pais, director-geral da PIDE, António Vaz, director da PIDE de Moçambique, São José Lopes, director da PIDE de Angola, o inspector Gomes Lopes Sabino, da PIDE da Beira, e Ken Flower, do CIO (Central Intelligence Organization), e Ken Lever, o seu adjunto dos serviços secretos rodesianos. Os chefes dos serviços secretos concordaram em formar um comité tripartido para acções combinadas, com troca de agentes dos seus serviços. No dia seguinte, Ian Smith recebeu os participantes na reunião.

    Esta tripla aliança tinha sido precedida de várias acções de cooperação das forças rodesianas com as forças portuguesas e intensificou-se a partir daqui, em paralelo com a construção da aliança Alcora.

  • 15
      02/1971

    15/02/1971 - 

    Despacho do ministro da Defesa Nacional que integra os “Fiéis” nos “Irregulares” de Angola, destinando-lhes missões em “zonas politicamente convenientes”.

    O “Fiéis”, antigos gendarmes catangueses, eram cerca de 4600, tendo cerca de 2000 a 2300 homens em condições de combater e formaram três batalhões, conservando a sua cadeia de comando e respectivos oficiais e sargentos.

    Foram armados com espingardas automáticas e morteiros ligeiros e faziam algumas operações independentes para manter pressão sobre a guerrilha, mas actuavam, sobretudo, em escoltas e trabalhos em itinerários na zona da fronteira com o Catanga.

  • 16
      02/1971

    16/02/1971 - 

    Ataque de grande envergadura por forças do MPLA ao aquartelamento de Caripande, no Leste de Angola.

    O ataque foi feito com morteiros (113 granadas), lança-granadas-foguete e armas automáticas e ficou conhecido como o “Carnaval em Caripande”. O MPLA atacou com três grupos, durante 35 minutos, causando destruições no aquartelamento, incluindo as antenas de TSF.

  • 17
      02/1971

    17/02/1971 - 

    “Conversa em família” de Marcelo Caetano, em que afirma que as “reformas constitucionais previstas para o Ultramar não são um primeiro passo para a independência”, tentando acalmar as desconfianças dos “ultras” do regime.

  • 24
      02/1971

    24/02/1971 - 

    Directiva de Costa Gomes de “Reorganização do Comando das Forças Armadas de Angola”.

    Nesta directiva Costa Gomes determinava que a partir de 1 de Março todas as forças militares existentes em Angola passavam ao comando operacional do Comando-Chefe e criava um verdadeiro Quartel-General conjunto para os três ramos das Forças Armadas. O Leste era claramente definido como a primeira das prioridades da acção.

  • 04
      03/1971

    04/03/1971 - 

    Dois técnicos franceses acompanham os helicópteros SA 330 Puma na entrada em operações em Angola.

    O jornal suíço Gazette de Lausanne noticiou que dois engenheiros franceses da Sud Aviation (fabricante francesa de helicópteros Alouette e Puma e que deu origem à Eurocopter) acompanharam os helicópteros Puma na sua entrada em serviço operacional em Angola.

    A França era o único país da NATO que fornecia material de guerra sem restrições de uso na guerra. Aliás, a França fornecia também a Rodésia e a África do Sul.

    É interessante notar que os países africanos raramente criticaram o Governo francês pelo seu apoio a Portugal e que também a opinião pública francesa, mesmo a que representava os partidos de Esquerda, raramente questionou o seu Governo pelo apoio concedido a Portugal.

  • 08
      03/1971

    08/03/1971 - 

    Atentado da ARA na Base Aérea de Tancos, com destruição de grande número de aeronaves.

    Nesta acção realizada por um comando da ARA foram destruídos cinco helicópteros e oito aviões e atingidas mais 15 aeronaves que se encontravam num hangar da base.

    A base de Tancos foi, durante a guerra, o centro de instrução de pilotagem de helicóptero.

    As acções das organizações armadas constituíram a expressão mais radical da luta dos oposicionistas portugueses contra a ditadura e a Guerra Colonial.

    A ARA era uma organização do Partido Comunista Português que surgiu em 1970, após a ruptura entre o núcleo de Argel da Frente Portuguesa de Libertação (FPLN) e o PCP. A FPLN decidiu apoiar as recém-criadas Brigadas Revolucionárias e a ARA apareceu como a organização armada do Partido Comunista, tendo como responsáveis alguns dos seus quadros, entre eles Manuel Serra, Francisco Miguel e Narciso Raimundo.

    A primeira acção da ARA teve como objectivo a sabotagem do navio Cunene, utilizado no transporte de tropas para as colónias. A acção mais espectacular da ARA foi a levada a efeito contra a Base Aérea n.º 3, em Tancos.

    A ARA viria ainda a sabotar a estação dos CTT que servia para apoiar a reunião do Conselho do Atlântico Norte, a grande reunião ministerial da NATO que se realizou em Lisboa, em 3 Junho de 1971.

    Informação de 25 de Novembro de 1971 com os prejuízos:

    Hangar – reparação avaliada em 1800 contos.

     

    Aeronaves no hangar:

      • Um helicóptero SA 330 Puma

      • Catorze helicópteros AL III

      • Cinco aviões DO 27

      • Quatro aviões Cub

      • Um avião Auster

      • Um avião Chipmunk

     

    Foram totalmente destruídos:

      • Um helicóptero SA 330 Puma

      • Quatro helis AL III

      • Quatro aviões Cub

      • Um avião Auster

     

    Sem possibilidade de recuperação:

      • Um AL III

     

    Atingidos com graves danos, mas recuperáveis:

      • Onze helis AL III

      • Dois aviões DO 27

      • Um avião Chipmunk.

  • 08
      03/1971

    08/03/1971 - 

    Relatório sobre refugiados de Moçambique.

    Um estudo sobre refugiados moçambicanos nos países limítrofes efectuado pelos Serviços de Informações Militares Portugueses (SIM) indicava que se encontravam 54 500 na Tanzânia, mais 4500 do que em 1969, o que obrigou as autoridades tanzanianas a abrir umcampo em Matekwe. Destes refugiados 3000 eram macondes e o seu número subiu para 6000 com a transferência de refugiados dos campos Mputa (Songea). No campo de Lunda, nas proximidades do lago Niassa, encontravam-se cerca de 5000 refugiados. No campo de Muhukuru encontravam-se 11 000.

    Na Zâmbia, no campo de Nyimba, encontravam-se 12 000, originários de Tete.

  • 17
      03/1971

    17/03/1971 - 

    Um grupo do PAIGC flagela dois botes que se dirigiam a Gadamael, do que resultou para as tropas portuguesas um morto por afogamento.

    Gadamael era a “porta” de entrada e saída para a guarnição de Guileje.

    Os militares portugueses utilizavam habitualmente nas suas deslocações no rio Cacine os botes de fibra de vidro Sintex.

  • 19
      03/1971

    19/03/1971 - 

    Kaúlza de Arriaga anuncia, na RTP, a vitória iminente das forças portuguesas em Moçambique.

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