1971 - Lutar em novas frentes

1971 - Lutar em novas frentes

Os Acontecimentos

  • 24
      05/1971

    24/05/1971 - 

    Encerramento do II Congresso dos Povos da Guiné, subordinado ao tema da política de desenvolvimento.

    Os Congressos dos Povos foram um projecto político de Spínola para a conquista das populações, traduzido no slogan “Uma Guiné Melhor”, porque o general estava consciente da necessidade de atrair as populações e de combater o PAIGC em todos os campos. Esta sua política baseava-se em três medidas:

    • Os Congressos dos Povos da Guiné, através dos quais procurava envolver as populações nas decisões relativas à vida das suas comunidades e onde elas podiam exprimir os seus problemas (entre 1969 e 1974 foram realizados cinco congressos, o último presidido por Bettencourt Rodrigues, o substituto de Spínola);

    • Os reordenamentos, com a criação de novas aldeias, ou a melhoria das existentes;

    • A Força Africana, constituída por unidades cujos efectivos e quadros eram militares guineenses.

    Os Congressos dos Povos constituíam uma peça importante na estratégia de Spínola, visando a participação dos guineenses na administração da sua terra, de modo a esvaziar as acusações de sujeição feitas pelo PAIGC.

    Os congressos compreendiam uma fase regional, realizada nas sedes dos concelhos e das circunscrições, e uma fase cimeira, que se efectuava em Bissau.

    Na fase regional reuniam-se os povos dessa região, independentemente da etnia a que pertenciam. Na fase cimeira funcionavam cinco assembleias distintas englobando, cada uma delas, uma etnia ou um conjunto de etnias aparentadas:

    • manjacos, papéis e mancanhas;

    • balantas e mansoancas;

    • mandingas e etnias consanguíneas (jacancas, oincas, saracolés, pajadincas, beafadas, nalus);

    • fulas (fulas forros, fulas pretos, futa fulas, fulas do Boé);

    • pequenas etnias, como os bijagós, felupes, baiotes, cassangas, cobianas.

    O carácter étnico foi muito criticado, principalmente por elementos destribalizados, mas a estratégia de Spínola visava reforçar através desse processo a acção do seu governo e aparecer como um aglutinador de etnias, de modo a constituir um todo mais homogéneo, argamassado pela cultura e pela presença portuguesa.

    Era a tal portugalidade que insistentemente referia nos seus discursos.

    Os Congressos dos Povos eram meramente consultivos, mas representaram um importante instrumento da acção política de Spínola porque permitiram promover a dignificação dos vários povos e das suas culturas, dotaram as autoridades de informação directa sobre as necessidades e anseios das populações e até das suas críticas.

  • 28
      05/1971

    28/05/1971 - 

    Promoção de um jantar legionário no Porto contra a reforma constitucional de Marcelo Caetano.

    OEste jantar foi uma das manifestações dos “ultras” do regime contra Marcelo Caetano.

    Realizou-se no Pavilhão dos Desportos do Porto, com discursos contra Marcelo Caetano. Após o jantar os legionários organizaram uma manifestação contra o bispo do Porto durante a qual foram detidos vários elementos. Depois destas atitudes de desafio, Marcelo Caetano chega a ponderar a extinção da Legião Portuguesa, mas decidiu assistir à concentração realizada em Braga no dia 30, apresentando uma mensagem.

     

  • 31
      05/1971

    31/05/1971 - 

    Reunião de Uria Simango com outros dirigentes moçambicanos em Nairobi, para formar o MOPOLIMO.

    Entre 7 e 31 de Maio Uria Simango tentou estabelecer a sede do MOLIMO no Quénia e simultaneamente desenvolveu contactos para associar o seu partido ao COREMO, de Paulo Gumane, e ao PAPOMO, procurando o apoio da Zâmbia para este projecto de unificação.

    A reunião tinha por finalidade unir o MOLIMO, o COREMO e o PAPOMO numa nova organização que seria designada MOPOLIMO.

    Formou-se no entanto a FUMO (Frente Unida de Moçambique), resultante da fusão do MOLIMO e do Baraza ya Wazzee, chefiada por Narciso Mbule e inspirada por Uria Simango, cujo manifesto acusava a FRELIMO do falhanço da luta em Moçambique.

  • 02
      06/1971

    02/06/1971 - 

    Penetração do MPLA na área de Cuangar, distrito do Cuango-Cubango, com a finalidade de efectuar o reconhecimento do terreno e criar pontos de apoio, na área que constituía a 6ª Região Militar.

  • 02
      06/1971

    02/06/1971 - 

    Guerrilheiros do MPLA emboscam forças portuguesas em Cabinda na estrada Caio Guembo-Ponte do rio Lombe causando um morto e 11 feridos. A última acção neste itinerário tinha sido em Fevereiro.

  • 3/6/1971
      e 4/6/1971

    3/6/1971 e 4/6/1971 - 

    Realização da reunião dos ministros da NATO em Lisboa.

    A realização da reunião ministerial da NATO em Lisboa era uma vitória do Governo português, que assim recebia apoio público para a sua política colonial. Reagindo a esta reunião, o secretário-geral da OUA, Diallo Telly, considerou-a uma provocação e a “prova irrefutável da ajuda da NATO a Portugal, o que lhe permite manter-se ainda nas suas colónias em África”.

  • 03
      06/1971

    03/06/1971 - 

    Atentado da ARA contra a central radiotelegráfica e telefónica de Lisboa no dia de abertura de uma cimeira da NATO.

    A ARA realizou esta acção cortando os cabos telefónicos e as linhas de transporte de energia eléctrica, o que provocou o corte de comunicações internas e externas, no dia em que se realizava a reunião do Conselho do Atlântico em Lisboa, com a presença de centenas de jornalistas estrangeiros.

  • 03
      06/1971

    03/06/1971 - 

    Criação na ZML (Leste de Angola) do grupo de trabalho para tratar dos assuntos da UNITA.

    Começava a desenhar-se a Operação Madeira e a relação entre Savimbi e as autoridades portuguesas. Este grupo de trabalho constituído por oficiais do quartel-general da ZML chefiados pelo tenente-coronel Ramires de Oliveira estudava o reordenamento das populações sob influência da UNITA.

    Eram já do conhecimento deste grupo os contactos entre a UNITA e os madeireiros que faziam cortes de árvores na região de Cangumbe (região a leste do Luso/Cuemba).

    Os madeireiros recebiam peles e cera dos guerrilheiros e pagavam com artigos de cantina, alimentos e remédios. Estes contactos começaram a ser controlados pelo comandante da polícia do Moxico e a ser do conhecimento do comandante da companhia de Cangumbe. Este grupo da ZML iria acompanhar os contactos entre Savimbi e os madeireiros e seria o embrião da Operação Madeira.

  • 03
      06/1971

    03/06/1971 - 

    Ataque da FRELIMO ao posto da PSP do Songo (Cahora Bassa).

    O Songo era a cidade construída de raiz para instalar os técnicos e trabalhadores da barragem de Cahora Bassa.

    Era uma cidade fortificada, dotada de defesa própria, no cimo dos morros de Cahora Bassa. O ataque efectuou-se a partir da margem esquerda do Zambeze.

  • 04
      06/1971

    04/06/1971 - 

    Criação do Corpo das Milícias da Guiné.

    A criação do Corpo das Milícias da Guiné foi feita através da Directiva 9/71 de Spínola. A nova entidade designava-se oficialmente por Comando-Geral das Milícias e dependia directamente do comandante-chefe. Foi nomeado comandante-geral das Milícias o major Carlos Idães Fabião.

     

  • 06
      06/1971

    06/06/1971 - 

    Publicação de um artigo sobre Angola no jornal alemão Frankfurter Rundschau, de autoria do jornalista Jochen Raffelberg, em que é denunciada a utilização de bombas de napalm e o emprego de desfolhantes pelas forças portuguesas.

    O director dos Serviços de Informação e Imprensa dos Negócios Estrangeiros enviou ao secretário adjunto da Defesa Nacional um ofício confidencial em que transmitia as notícias do jornal alemão Frankfurter Rundschau feitas com base no texto de um jornalista que efectuara uma visita a Luanda, sobre o emprego de produtos químicos em Angola.

    O texto foi classificado como “uma sombria e inquietante forma de ver a situação em Angola” e adiantava que “helicópteros sul-africanos transportariam soldados portugueses em operações e técnicos sul-africanos estacionariam no Luso”. Era acompanhado por fotografias de bombas de napalm no aeroporto de Gago Coutinho, denunciando também o emprego de produtos químicos pelas forças portuguesas.

  • 08
      06/1971

    08/06/1971 - 

    O superior regional da Congregação dos Padres Brancos, Cesare Bertulli, revela em Paris diversos casos de restrição às liberdades de culto e de expressão em Moçambique.

  • 09
      06/1971

    09/06/1971 - 

    Desvio de um táxi aéreo de Angola para a República Popular do Congo (Brazzaville).

    O táxi aéreo pertencia à CTA, foi desviado quando voava de Luanda para Cabinda e aterrou em Ponta Negra. O desvio foi feito pelos seus dois passageiros, um deles oficial do Exército português, um alferes miliciano natural de Angola, que desertou.

  • 09
      06/1971

    09/06/1971 - 

    Flagelação de Bissau pelo PAIGC com foguetões 122mm.

    Bissau, a capital da Guiné, foi flagelada com foguetões de 122mm, na zona do aeroporto. Este ataque foi conduzido pelo Corpo de Exército do PAIGC (FARP) estacionado na  zona do Morés e foi comandado por André Pedro Gomes.

    O PAIGC aproximava-se de Bissau pela primeira vez. Bafatá, a segunda cidade, foi igualmente atacada.

    Foguetes de 122mm

    Os foguetes de 122mm foram empregues em Moçambique e na Guiné pelos movimentos de libertação.

    Esta arma tem uma origem muito mais antiga do que geralmente se refere. Embora tenha sido usada pelos ingleses no século XIX (os foguetes de Congreve), só a partir dos anos 30 do século XX é que marcou a história militar, quando os alemães, proibidos pelo Tratado de Versalhes de ter artilharia pesada, criaram um sucedâneo através de um lança-foguetes a que chamaram Nebelwerfer (fazedor de nevoeiro), declarado como sistema de lançamento de potes de fumos, que vieram a revelar-se como lançadores de cargas explosivas. Os soviéticos reagiram com a criação do Katiusha (diminutivo de Catarina), foguete com uma ogiva de 122mm, equivalente à do obus do mesmo calibre, disparado em série a partir de rampas de 40 tubos montados num camião. A arma era pouco precisa, mas quando era usada em ataques de saturação de área tinha um efeito devastador sobre tropas não protegidas.

    Os foguetes usados na Guerra Colonial eram basicamente os mesmos, mas lançados a partir de rampas simples de um só foguete, semelhantes a escadotes, mas que tinham o mesmo efeito, com a vantagem de serem facilmente transportáveis, mau grado a perda de precisão.

  • 09
      06/1971

    09/06/1971 - 

    Um helicanhão é atingido por tiros da FRELIMO, no Niassa.

    O helicóptero participava na Operação Jaguar 3 no Niassa, na zona dos montes Chitalo/Serra Jéci.

    O facto dos guerrilheiros terem reagido com fogo antiaéreo a um helicanhão demonstra o elevado grau de preparação e de agressividade das tropas da FRELIMO.

  • 11
      06/1971

    11/06/1971 - 

    Destruição de uma base do COREMO, junto à fronteira com a Zâmbia, tendo sido mortos seis elementos.

  • 16
      06/1971

    16/06/1971 - 

    Detectada a existência de “Comités de Acção Clandestina” do MPLA em Luanda, no Dondo e na cidade de Salazar.

    Em Luanda foram detectados os comités Esperança e Trovoada, este último actuando no meio militar; no Dondo foram detectados os comités Henda, que controlavam a acção clandestina de todas as fazendas na margem direita do rio Cuanza, desde Catete a Quilemba, e os de Calulo e Quibala. O comité de Salazar controlava a acção clandestina das regiões de Colungo Alto.

  • 19
      06/1971

    19/06/1971 - 

    Promulgação da nova Lei Orgânica da Ultramar, passando Angola e Moçambique a ser designados por Estados.

    A nova Lei Orgânica do Ultramar deve ser analisada em conjunto com a revisão constitucional que seria aprovada a 6 de Agosto.

    Estes dois textos traduzem o pensamento de Marcelo Caetano e pretendem ser a resposta aos problemas de sobrevivência do regime. Marcelo Caetano reconhece que enfrenta em África uma guerra prolongada e que em Portugal está ameaçado pelos integracionistas que vêem nele um potencial traidor pronto a entregar as províncias ultramarinas e pelos evolucionistas reunidos na SEDES e na Ala Liberal que, desiludidos, o vêem como incapaz de provocar uma ruptura com o passado.

    A inócua Lei Orgânica do Ultramar e a cautelosa revisão da Constituição representam a confissão de impotência de Marcelo Caetano.

    O artigo 136º era claro em definir a continuidade do poder da Metrópole sobre as suas colónias que podiam adoptar o título honorífico de Estados: “… o exercício da autonomia das Províncias Ultramarinas não afectará a unidade da Nação, a solidariedade entre todas as partes do território português, nem a integridade da soberania do Estado…”

  • 19
      06/1971

    19/06/1971 - 

    Criação do Centro de Instrução de GE e de GEP (CIGE) no Dondo, Moçambique.

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