Passar o Geba…
No dia 30 de Junho de 1963 um grupo do PAIGC inutilizou a jangada de Barro, no rio Cacheu, que garantia a ligação entre Bissorã e Barro.
A tripulação desarmada foi maltratada e obrigada a fugir. Este foi o primeiro indício de que o PAIGC ia atacar na região que liga o Mores à fronteira norte.
O comando militar português não esperava que essa actuação fosse desencadeada com tanta agressividade, nem que os grupos guerrilheiros do PAIGC dispusessem de armamento tão aperfeiçoado e em tal quantidade.
A seguir a esta acção sucedem-se várias outras, reveladoras do potencial de combate e das capacidades militares do PAIGC.
Em 1 de Julho foram alvejadas viaturas entre Binta e Farim, na margem norte do rio Cacheu.
Em 2 de Julho os grupos guerrilheiros do PAIGC tentaram destruir com explosivos diversas pontes e pontões nas estradas Olossato-Farim, Olossato-Mansabá e Mansoa-Nhacra. Montaram também uma emboscada na estrada Mansoa-Bissorã, fazendo 5 feridos às tropas portuguesas.
Em 4 de Julho atacaram Binar e Olossato. Em Binar mataram o régulo e raptaram o encarregado do posto administrativo. No Olossato saquearam as casas comerciais situadas a uma certa distância do edifício onde estava aquartelada uma pequena guarnição local.
Em 6 de Julho os grupos guerrilheiros do PAIGC emboscaram uma força militar de Mansabá quando ela regressava de um reconhecimento a Mores.
Na noite de 12 para 13, os grupos guerrilheiros do PAIGC destruíram vários pontões na estrada Olossato-Mansabá.
Em 18 atacaram Encheia, onde não havia qualquer força militar.
Um plano de acções em larga escala para ocupar a zona Norte da Guiné
Era evidente que a actuação do PAIGC obedecia a um plano bem definido.
A PIDE de Bissau tinha informações de um plano para o desencadeamento de acções armadas na zona Norte da Guiné e de que as acções seriam desencadeadas por guineenses residentes no Senegal. O PAIGC contava nesta altura, na região de Ziguinchor, com perto de 300 elementos em Samine e a PIDE estimava existirem no interior do território cerca de 6.500 elementos treinados para a luta. Era ainda conhecida a existência de um depósito de armamento em Biambe, concelho de Bissau, e que estavam a aguardar mais material para distribuir nas áreas de Bula e Canchungo, onde, em princípio, pensavam desencadear as acções militares. O plano do PAIGC que a PIDE descobriu incluía ainda sabotagem de aviões e barcos.
Na sequência da passagem destas informações e por denúncia do PAIGC, foi preso no dia 25 de Julho o chefe da Alfândega de Ouassadou, no Senegal, que colaborava com a PIDE.
O plano do PAIGC – instalar-se no Mores, controlar as rotas entre o Norte e o Sul, o Leste e o Oeste O plano do PAIGC consistia em estabelecer-se nas matas do Mores e impedir ou dificultar a aproximação das tropas do Exército português. Já neste ano
o PAIGC se julgava com força suficiente para manter no centro do Oio um quartel-general, de onde os grupos guerrilheiros armados irradiariam para atacar Bissorã, Olossato, Mansabá e Mansoa ou para montarem emboscadas nas estradas que ligam estas povoações.
Por isso, em poucas semanas, todas as pontes da região circundante do Mores foram destruídas e as estradas cortadas com abatizes, em especial a de Bissorã-Mansabá, que proporcionava o mais fácil acesso à zona de Mores.
Além de criar uma zona de refúgio seguro no Mores, o PAIGC pretendeu também inutilizar os eixos rodoviários de interesse económico, o principal dos quais era a estrada Mansôa-Mansabá-Bafatá, por onde se escoava boa parte da mancarra produzida no Leste da Guiné e a madeira cortada na região do Oio.
A povoação de Mansabá, em si, constituía um importante cruzamento de estradas, pois por ela passam, além do eixo Mansoa-Bafatá, os de Bissorã-Bafatá e Farim-Mansoa, daí que os grupos guerrilheiros do PAIGC tentassem isolar Mansabá, ao longo de toda a guerra.
Estas acções fizeram diminuir o trânsito rodoviário para a região Leste, sobrecarregando os já congestionados transportes fluviais pelo rio Geba.
No final de Agosto de 1963, a situação na região chave que abrangia Bissorã, Binar, Encheia, Mansoa, Mansabá e Olossato era idêntica à de grande parte do Sul da Província: populações fugidas, tabancas abandonadas ou destruídas, estradas obstruídas, a vida administrativa e a actividade comercial profundamente afectadas.
O alastramento da actividade militar do PAIGC ao Oio foi anunciado por Amílcar Cabral num comunicado difundido em Agosto pelas emissoras de Dacar e de Conacri.
Com efeito, Amílcar Cabral disse então que o seu partido ia “intensificar a luta para tornar mais sólidas as suas posições no Sul da Guiné ao mesmo tempo que estenderia a acção armada ao centro e ao Norte”. Afirmou ainda que o PAIGC estudava o estabelecimento de um comando militar único no interior da Guiné, afirmação esta que respondia à sugestão feita anteriormente pela FLING no sentido de tal comando englobar elementos seus e ter o quartel- general num dos países da África Ocidental. De facto, irradiando do Oio, os grupos de guerrilheiros do PAIGC tentavam infiltrar-se na direcção de Binar e de Bula e em especial na região de Tama-Biambi, sobre a estrada Binar-Bissorã.
Este troço rodoviário foi daqueles em que o PAIGC montou maior número de emboscadas em toda a Guiné.
Intensificação da luta
A intensificação da luta, anunciada por Amílcar Cabral, correspondeu à realidade.
No Sul, o PAIGC, além de continuar a obstruir as estradas com abatizes ou valas, aumentou o número de acções contra aquartelamentos militares, tendo sido especialmente visados os de Fulacunda, Catió, Buba, Cacine, Chugué, Empada e Bedanda. Estas acções foram quase sempre realizadas de noite e com maior ou menor violência. Alguns dos quartéis foram visados mais que uma vez, como sucedeu a Fulacunda, Cacine, Bedanda e Catió.
Para responder a esta situação de grande violência as Forças Armadas Portuguesas deslocaram para a Guiné cerca de 5 mil homens durante o ano de 1963.
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