1963 - Guiné, uma nova frente de combate

FRELIMO

UM COMEÇO DIFÍCIL

Divergências

Em Maio de 1963 verificam-se desinteligências entre Mondlane e Baltazar da Costa, que se apresentara em Dar es Salam como chefe da UNAMI. Este último não queria que os seus elementos recebessem treino militar, mas sim, e apenas, intelectual, para que no futuro pudessem ser úteis a Moçambique. Baltazar da Costa, em Dezembro de 1963, acabaria por abandonar a FRELIMO.

Desde a sua fundação, em 25 de Junho de 1962, a FRELIMO debateu-se com divergências entre os seus dirigentes, vindos de organizações diferentes. A união dos três partidos fundadores – UDENAMO, MANU e UNAMI – só fora possível nessa ocasião devido às fortes pressões dos dirigentes da Tanzânia, interessados em criar uma Frente com alguma eficácia e representatividade, que lhes permitisse virem a ter influência em Moçambique, pelo menos na zona Norte, integrando o planalto dos Macondes, dois terços dos quais viviam na Tanzânia.

Já em Janeiro de 1963 os desentendimentos dentro da FRELIMO tinham-se agravado, quando diversos membros quase lincharam o secretário de Publicidade, “Leo Mills”, que tinha sido trazido para o movimento por Eduardo Mondlane. Os amotinados, elementos originários da UDENAMO, foram expulsos pelas autoridades do Tanganica (Tanzânia) e, uma vez em Kampala, emitiram um comunicado a desvincular a sua organização da FRELIMO.

As divergências internas da FRELIMO assentavam em duas linhas distintas, uma que proponha uma independência tradicional, nacionalista, africana, tribalista, onde o inimigo era simplesmente o branco, e outra que pretendia uma independência acompanhada de uma revolução social.

As fragilidades iniciais da FRELIMO

A fragilidade da estrutura dirigente da FRELIMO na sequência do modo como se processou a sua criação e a escolha dos dirigentes que foi feita no primeiro congresso realizado em Setembro de 1962 criaram uma tendência natural e inevitável para as disputas e a competição interna.

A falta de experiência política e organizativa da maioria dos seus membros, combinada com o facto de terem vindo de diferentes partes de Moçambique, de diferentes organizações, de terem formações intelectuais muito diversas e diferentes pontos de vista, além das pressões externas exercidas sobre eles, criavam desconfianças mútuas e eram motivo de crises sucessivas.

Os primeiros conflitos sérios foram instigados por Leo Clinton Aldridge, aliás “Leo Milas”, que tinha sido recomendado a Mondlane por uma agência de informações e introduzido nos círculos dos novos dirigentes da FRELIMO por Adelino Gwambe, o antigo chefe da UDENAMO.

Milas dirigia o treino da FRELIMO, era licenciado pela Universidade da Califórnia do Sul e dizia-se moçambicano.

Enquanto Mondlane esteve nos Estados Unidos a completar as suas obrigações contratuais com a Universidade de Syracuse e a tentar aumentar o apoio à FRELIMO, Milas manobrou e conspirou de modo a provocar a expulsão de David Mabunda, o primeiro secretário-geral da FRELIMO, e de alguns dos seus apoiantes.

Esta expulsão causou fracturas e dissenções no interior do movimento, com muitos dos seus membros a pedirem agora a expulsão de Milas.

No regresso dos Estados Unidos, Mondlane esteve relutante em tomar essa decisão, com o argumento de que o movimento não podia suportar atitudes paranóicas de perseguição interna sem correr o risco de alienar potenciais apoios e devia tentar conciliar as diferenças, se queria crescer e desenvolver-se.

Por outro lado devia manter-se atento contra o mais perigoso tipo de infiltração organizada pelos seus inimigos. Com esta atitude conciliatória Mondlane deixou agravar a situação até 1964, só expulsando Leo Milas quando recebeu provas irrefutáveis de que ele era um impostor. Entretanto Mabunda e Paulo Gumane, que tinham sido expulsos por Milas, refundaram a UDENAMO.

Outras deserções e expulsões, mais devidas a rivalidades pessoais que a diferenças ideológicas, resultaram na formação de várias pequenas organizações, poucas das quais tiveram real impacto na luta pela independência de Moçambique e apenas causaram algum dano à imagem de unidade que Mondlane tentava transmitir para o exterior.

Adelino Gwambe

Adelino Gwambe foi o precursor da União Democrática de Moçambique, o primeiro partido político moçambicano, em 1960, com apenas 20 anos de idade.

Marcelino dos Santos, Fanuel Malhuza e Uria Simango, todos muito mais velhos, foram seus subalternos.

Escola da FRELIMO numa zona libertada. [AHM]

Quando a FRELIMO foi formada, pela união da UDENAMO, MANU e UNAMI, já Gwambe tinha um passado de militância revolucionária, sob influência de nacionalistas zimbabueanos.

Em meados de 1961 fixou-se em Dar es Salaam, advogando a guerrilha imediata contra o colonialismo português muito antes de essa opção vir a ser decida por Mondlane e seus continuadores.

A ligação de Adelino Gwambe com o Governo do Gana, por via da amizade com Nkrumah, não terá sido bem vista pela Tanzânia de Nyerere, competidor do Gana no que respeita ao pan-africanismo e à paternidade da causa da libertação de Moçambique.

O Governo de Nyerere acabaria por declarar Adelino Gwambe “persona non grata” na Tanzânia, alegadamente porque nas vésperas da independência deste país disse, numa conferência de imprensa, que a UDENAMO já havia feito preparativos para o início da luta armada em Moçambique.

As suas notas biográficas referem que nasceu na província de Inhambane em 1940.

Sabe-se igualmente que trabalhou no Buzi, então distrito de Manica e Sofala, antes de se refugiar em Bulawayo, segunda maior cidade da então Rodésia do Sul, hoje Zimbabue.

As rixas com Eduardo Mondlane

Quando se deu a eleição do presidente da Frente de Libertação de Moçambique, Adelino Gwambe não esteve presente. Durante o I Congresso da Frente estava na Índia. No seu regresso, contrariou a unanimidade à volta da eleição de Mondlane como líder do movimento, e acusou Mondlane de estar “sob vassalagem do imperialismo americano”.

As ligações de Eduardo Mondlane aos Estados Unidos da América estão hoje bem documentadas.

Fundador do COREMO

Mais tarde, afastado da Frente de Libertação de Moçambique, Adelino Gwambe fundou o Comité Revolucionário de Moçambique (COREMO).

O movimento COREMO era considerado pelos relatórios da CIA como gozando de pouco apoio popular, bem como de capacidade de organização e recursos diminutos.

Iniciou a “sua” guerra em Tete, não conseguindo penetrar, apesar de várias tentativas, na Zambézia. Começou a desmembrar-se, militar e politicamente, em meados de 1968, quando um dos seus mais proeminentes quadros, Mazungo Bob, foi morto em combate perto da fronteira com a Zâmbia.

Diversos confrontos armados entre a FRELIMO e o COREMO foram também registados, o primeiro dos quais ocorreu em 1968, com a FRELIMO, então liderada por Samora Machel, a prender vários quadros da organização rival em 1970, e dois comandantes militares e o tesoureiro do COREMO a serem mortos em 1972 numa emboscada da FRELIMO.

Após a independência de Moçambique, Adelino Gwambe foi executado, como Uria Simango, Kavandame e outros militantes, acusados de traição.

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