A Operação Nó Górdio
No mesmo dia em que, no Vaticano, o Papa recebia os líderes dos três movimentos de libertação, Kaúlza de Arriaga, um fervoroso católico, lançava em Mueda a grande Operação Nó Górdio no coração do planalto dos Macondes, o único povo cristianizado em Moçambique.
A Operação Nó Górdio iniciou-se com a presença do general comandante-chefe e do seu Estado-Maior em Mueda. Nela participaram mais de 8000 homens, uma concentração que esgotou as reservas disponíveis, pois empenhou a totalidade das unidades de forças especiais, Comandos, Pára-quedistas, Fuzileiros e até os Grupos Especiais (GE) recém-criados, mais a quase totalidade da Artilharia de campanha, das unidades de reconhecimento e de engenharia.
O conceito da operação era um misto de cerco e batida com grandes meios. Previa o isolamento da área do núcleo central do planalto, onde se encontravam as grandes bases Gungunhana, Moçambique e Nampula, pela montagem de um cerco ao longo dos itinerários Mueda-Sagal-Muidumbe-Nangololo-Miteda-Mueda (cerca de 140 km) e, após conseguido o isolamento da área, o assalto e destruição dos principais objectivos do núcleo central:
As acções militares eram conjugadas com uma intensa campanha de acção psicológica, para provocar a rendição e a desmoralização do inimigo e a manobra no terreno era apoiada com fogos de Artilharia e de aviação, em acção de flagelação e de concentrações de fogos sobre os objectivos.
Para criar condições de aproximação aos objectivos foram organizados agrupamentos à base de engenharia que procederam à abertura simultânea de picadas. Para o cerco foram constituídos dois agrupamentos (Norte e Sul), com unidades de caçadores e de reconhecimento e quatro agrupamentos de intervenção, um para cada objectivo e o quarto para reserva.
Os agrupamentos de assalto dispunham de uma composição interarmas, do tipo task force, incluindo unidades de forças especiais, forças regulares, de apoio de fogos, com Artilharia e morteiros e de engenharia, que abriu picadas tácticas até às proximidades dos objectivos, onde foram criadas as bases de ataque para as forças de assalto.
A operação foi concebida como uma manobra do tipo convencional, em que se pretendeu alcançar com um ataque em força o que do antecedente não fora conseguido empregando a surpresa.
Execução da operação
A 1 Julho os agrupamentos de cerco iniciaram a sua instalação e os agrupamentos de assalto A e B começaram o seu movimento para os objectivos. Os Pára-quedistas progridem de Nangololo para a base Moçambique, com o apoio da engenharia na abertura da picada desde Capoca até Gole; os Comandos da estrada Mueda-Miteda para a base Gungunhana.
A 6 de Julho os Comandos localizam e assaltam a base Gungunhana, que não se encontrava na localização prevista. A base fora abandonada recentemente, ocupava uma área de 100×500 metros, dispunha de mais de 100 palhotas, era circundada por uma vala, tinha abrigos contra morteiros e ataques aéreos.
Os Pára-quedistas assaltam a base Moçambique, que também se encontrava abandonada, neste caso há dois meses e que era constituída por cerca de 200 palhotas.
A 15 de Julho os Fuzileiros atingem a Base Nampula, objectivo C, constituída por cerca de 50 palhotas que se encontrava abandonada há dois meses.
A partir de 16 Julho e até 6 de Agosto realizam-se acções de permanência e consolidação de posições, de forma a eliminar todas as organizações inimigas e capturar populações.
Unidades participantes Forças de Assalto Agrupamento IA (Comandos) Objectivo A – Base Gungunhana
Agrupamento IB (Pára-quedistas) Objectivo B – Base Moçambique
Agrupamento IC (Fuzileiros) Objectivo C – Base Nampula
Forças de Cerco – Cerco Norte Cerco Sul
Apoio de Fogos Apoio de Combate
Forças Terrestres Empenhadas
Apoio Aéreo
A Força Aérea apoiou a Operação Nó Górdio com meios de ligação, reconhecimento e fogo.
A partir do AM 51 (Mueda) foram empregues os seguintes tipos de aeronaves:
O emprego de meios aéreos na Operação Nó Górdio recebeu o nome de código de Operação Santuário.
Resultados
Forças Portuguesas
Apreciação final
Na apreciação final da situação pelo comando português, com a destruição do “mito” do Núcleo Central, “toda a iniciativa no Distrito de Cabo Delgado passou, sem qualquer dúvida, para as FN (Forças Nacionais)”.
Pelo seu a lado, a FRELIMO seguiu as máximas de Sun Tsu, de retirar quando o inimigo ataca, de o atacar quando ele se movimenta. Reagiu à movimentação das forças portuguesas na abertura das picadas tácticas, quando estas se encontravam mais vulneráveis; não defendeu as bases porque o terreno não é importante na guerra de guerrilha. As populações tinham, por sua vez, abandonado a área de operações pelo que não se verificaram capturas nem apresentações, apesar das intensas campanhas de acção psicológica, utilizando meios aéreos de difusão de mensagens.
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