A Oposição e as colónias
Os comunistas foram os primeiros a contrariar a ideia de que as colónias faziam parte da unidade nacional que o regime de Salazar pretendia transmitir como sendo de consenso geral. Fizeram-no em 1957, durante o seu V Congresso, pedindo a independência imediata e completa, mas o resto da Oposição, com quem se aliavam nas actividades de contestação ao regime, principalmente nas eleições presidenciais enquanto elas se realizaram, nunca teve uma posição clara sobre o problema colonial.
Os republicanos – bons colonialistas
Norton de Matos chegou a defender uma independência branca e algumas teses de desenvolvimento separado, muito próximas das que viriam a ser implantadas pela África do Sul. Os republicanos, maioritariamente maçons, nunca foram defensores da independência das colónias na versão do poder vir a ser exercido pela maioria negra. Preferiam defender o princípio geral da autonomia e recusavam-se tanto a declarar a aceitação da independência das colónias como a assumirem a recusa.
Humberto Delgado
Humberto Delgado sentiu, durante as suas viagens e encontros durante o exílio, esta assumida indecisão. Mas Humberto Delgado era um voluntarista, não fazia uma ideia muito clara de como as coisas se iriam passar. Formou o Movimento Nacional Independente (MNI) que, em Outubro de 1960, defendia a necessidade de preparar o povo das colónias, antes de lhe ser concedido o direito à autodeterminação, mas em 1963 estava a preparar-se para liderar um levantamento subversivo em Portugal. Para isso teria chegado a acordo com o presidente da Argélia, Ahmed Ben-Bella, com o objectivo de criar um campo de treino destinado a um eventual exército de libertação de Portugal em território argelino. Em Janeiro de 1964, Delgado solicitou apoio a vários países africanos no âmbito dos preparativos para a passagem imediata à acção directa em Portugal.
Entretanto o PCP criou (em 1964) a Acção Revolucionária Armada (ARA), mas as acções violentas só terão efectivamente lugar em 1970.
Oposição e a guerra
Durante os anos 60, a Oposição foi-se consumindo lentamente nas suas lutas internas, esperando pelo fim da luta armada. Primeiro, com Salazar, acreditando que a guerra fosse de curta duração, depois com Caetano, acreditando na mudança de política, até se aperceber que o conflito estava a durar tempo demais. Em fundo pairava o sentimento oficial do Estado português: Portugal possuía direitos inalienáveis e legítimos sobre as colónias.
Era uma excepção a exigência de “Ponhamos fim à guerra de Angola”, da revista clandestina Tribuna Militar cujos autores estavam ligados às Juntas de Acção Patriótica (JAP), apoiantes de Humberto Delgado, responsáveis pelo ataque ao quartel de Beja.
A Acção Democrata-Social
Em Abril de 1964, o Directório de Acção Democrata-Social reivindicava, para a guerra, uma resolução política e não militar. Em sintonia com esta iniciativa, em 1966, Mário Soares sugeria a preparação de um referendo sobre a política ultramarina a seguir por Portugal, e que deveria ser precedido por um debate nacional a realizar durante seis meses. Nem a morte de Salazar fez com que o panorama político da Oposição se alterasse. As atenções dos seus dirigentes centrar-se-ão nas consequências da nomeação de Marcelo Caetano para a chefia do Governo e na esperança de que o novo inquilino de S. Bento introduziria mudanças na política africana. Tal sentimento reflectir-se-á nos sucessivos apelos à abertura de negociações, incluindo os de alguns dirigentes nacionalistas, como Amílcar Cabral, e de vários países europeus. No entanto, rapidamente estas esperanças se diluem. Caetano não prometerá mais do que mudança na continuidade. Goradas as expectativas em relação à reforma do regime português, os movimentos de libertação africanos, principalmente o PAIGC e a FRELIMO, intensificaram a acção no plano militar, enquanto se desdobraram num esforço diplomático sem paralelo tendo em vista o isolamento de Portugal e a “conquista” da comunidade internacional para a sua causa.
A radicalização de 1969
Só com as eleições legislativas de 1969 se viria a verificar uma radicalização da atitude política, nomeadamente entre as camadas mais jovens, que mais se sentiam ameaçadas pela continuação da guerra. As universidades desempenharam um papel fundamental na difusão deste posicionamento.
Surgiram, assim, as publicações Cadernos Circunstância, Cadernos Necessários, Tempo e Modo, e Polémica. É neste ambiente que a Acção Revolucionária Armada (ARA) e as Brigadas Revolucionárias (BR) se revelaram como uma importante forma de resistência contra o sistema colonial português, dirigindo os seus ataques, principalmente, contra o Exército. A ARA, vinculada ao PCP, viria a iniciar as suas acções militares em Outubro de 1970, mantendo-as até Agosto de 1972. Destacam-se o ataque à Base Aérea de Tancos contra equipamento da Força Aérea, a 8 de Março de 1971, e o atentado contra as instalações do quartel-general do Comiberlant, em Oeiras, em Outubro do mesmo ano. As BR, por sua vez, iniciaram as acções armadas a 7 de Novembro de 1971, com a sabotagem da base da NATO de Pinhal de Arneiro, verificando-se a última a 9 de Abril de 1974, contra o navio Niassa que se preparava para zarpar de Lisboa transportando tropas para a Guiné. As BR chegaram, inclusive, a agir nas colónias, colocando uma bomba no Comando Militar de Bissau, a 22 de Fevereiro de 1974. Também o alinhamento dos sectores da finança e negócios, classes médias e movimentos operários, com a greve dos metalúrgicos de Outubro de 1970, por exemplo, constituiu um importante ponto de inflexão na contestação à política do regime, em 1973. Todos se apresentavam, agora, concordantes quanto à independência das colónias, poucos meses antes do 25 de Abril.
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