1970 - A ilusão das grandes operações

1970 - A ilusão das grandes operações

Os Acontecimentos

  • 03
      01/1970

    03/01/1970 - 

    Reunião entre representantes da ONU e da OUA para decidir a localização da planeada emissora de rádio das Nações Unidas para transmitir contra o apartheid e o colonialismo, sendo as hipóteses Lusaca e Lumumbashi.

  • 05
      01/1970

    05/01/1970 - 

    Reunião entre o PAIGC e o Governo do Senegal para resolver a crise existente em Casamança.

    Desde Outubro de 1969 que se vinham acentuando as crises de relacionamento entre as estruturas do PAIGC em Casamança e as populações locais, com estas a pedirem às suas autoridades para expulsarem os militantes.

    Unidades das Forças Armadas senegalesas e duas companhias de militares franceses estiveram destacadas em Samine, o principal foco de conflito. Elementos do PAIGC foram presos pelas autoridades e só a intervenção de Amílcar Cabral possibilitou a sua libertação. Senghor argumentou não poder expulsar os elementos do PAIGC para não prejudicar as relações com outros países africanos, mas os guerrilheiros do PAIGC foram proibidos de andar fardados e armados nas principais localidades de Casamança.

  • 05
      01/1970

    05/01/1970 - 

    A Região Militar de Moçambique anunciou a constituição dos primeiros grupos especiais (GE) de milícias e de uma companhia de morteiros.

    Os GE eram constituídos por seis grupos, com um efectivo total de 550 homens. Estes grupos ficaram inicialmente estacionados em Palma e Pundanhar, Mocímboa da Praia, Nairoto, Muaguide, Macomia e Nambude, todos na zona de Cabo Delegado.

    Também no mesmo dia foi criada a Companhia de Morteiros Médios (81mm), tendo como finalidade o apoio de fogos às forças de intervenção.

    A criação destas unidades fazia parte da ideia de manobra de Kaúlza de Arriaga e quer os GE, quer a Companhia de Morteiros Médios, uma unidade de Infantaria e não de Artilharia, seriam empregues na Operação Nó Górdio.

     

     

    Companhias de morteiros

    A constituição de companhias demorteiros não era uma novidade no Exército português, uma vez que, na orgânica do final dos anos 50, os regimentos de Infantaria tinham uma companhia de morteiros pesados. Nem mesmo por parte dos movimentos de libertação, que também tinha organizado baterias de morteiros.

    No Exército português foram utilizados principalmente:

    • Os morteiros de 60mm, a nível Companhia, sendo normalmente distribuídos um por pelotão, ou grupo de combate, onde eram empregues mais como lança-granadas (usados individualmente) do que como morteiros (por secções). Foi mesmo criado um “morteirete” usando o tubo de 60mm, mas sem prato base, sem bipé e sem aparelho de pontaria, no fundo um lança-granadas semelhante ao inglês de 51mm (2”);

    • Os morteiros de 81mm, a nível Batalhão, mas por vezes distribuídos pelas companhias;

    • Os morteiros de 120mm em pelotões ou companhias próprias empregues de maneira mais convencional, por vezes como substituto da Artilharia.

    Quanto aos movimentos de libertação, utilizaram basicamente os morteiros de 82mm e de 120 mm, desenvolvidos na União Soviética ou fabricados em países de Leste, sendo em regra agrupados em bases de fogos para atacar aquartelamentos ou outras instalações fixas.

  • 05
      01/1970

    05/01/1970 - 

    Memorando do Comando-Chefe de Moçambique sobre o “Planeamento da acção de redução do núcleo central inimigo no Sector B”, constituindo um antecedente do que viria a ser a Operação Nó Górdio.

    No memorando apontava-se já um rudimentar conceito de operação, com um esquema assente em duas acções prioritárias – a montagem de um cerco descontínuo da área e a redução progressiva das organizações inimigas a executar no interior do cerco. Estas acções seriam complementadas pela acção psicológica, por acções de flagelação e uma maior actividade na zona da fronteira (equivalendo esta última ideia à Operação Fronteira, que depois viria complementar a Operação Nó Górdio).

  • 09
      01/1970

    09/01/1970 - 

    Visita de MacNamara, presidente do Banco Mundial, à Tanzânia.

    O Banco Mundial era um dos veículos para os Estados Unidos exercerem a sua influência no continente africano e MacNamara deslocou-se à África Oriental (Tanzânia, Uganda e Quénia) para tratar de empréstimos pedidos ao Banco Mundial. O crédito concedido à Tanzânia foi duplicado.

  • 11
      01/1970

    11/01/1970 - 

    Intercepção de um grupo da FRELIMO junto à fronteira com o Malawi.

    Um grupo de dez guerrilheiros vindos do Niassa foi interceptado pelas forças portuguesas junto à fronteira com o Malawi. A importância desta intercepção residiu nas informações recolhidas.

    Através delas foi possível saber que os guerrilheiros tentavam infiltrar-se na região da Zambézia para aí desenvolverem a actividade de aliciamento de populações e organização de estruturas que possibilitasse a abertura de mais uma frente militar.

  • 15
      01/1970

    15/01/1970 - 

    Remodelação ministerial, com Sá Viana Rebelo a assumir a pasta do Exército (já era ministro da Defesa), Veiga Simão a da Educação e Baltasar Rebelo de Sousa a das Corporações.

    Além destes ministros, entraram também os “tecnocratas” Xavier Pintado, João Salgueiro e Rogério Martins, que deram sinal de aproximação à Europa, contra o afro-centrismo que fora defendido por Franco Nogueira e Correia de Oliveira, herdeiros do espírito salazarista.

  • 17
      01/1970

    17/01/1970 - 

    Conversações entre Agostinho Neto e Mobutu para concessão de facilidades de instalação no MPLA no Congo-Kinshasa.

    Estas conversações constituíram uma mera acção de fachada para darem a entender à OUA que quer o presidente do Congo quer o do MPLA tentavam unificar esforços na luta pela independência de Angola.

    A unidade de acção entre o MPLA, pró-soviético, e a República do Congo de Mobutu, pró-americana, jamais foi possível.

    Pelas mesmas razões nunca foi possível o entendimento entre o MPLA e a FNLA.

  • 22
      01/1970

    22/01/1970 - 

    Reunião preparatória da Conferência Internacional de Apoio aos Povos da Colónias Portuguesas realizada em Roma pela OSPAA (Organização de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos), que decide realizar a Conferência em Roma de 27 a 29 de Junho.

  • 27
      01/1970

    27/01/1970 - 

    Constituição de uma comissão, em Lisboa, para os assuntos do “Estado da Índia”.

  • 28
      01/1970

    28/01/1970 - 

    Os Estados Unidos decidem fornecer a Portugal equipamento militar “não letal”.

    Nixon abandonou o embargo imposto por Kennedy e autorizou o fornecimento a Portugal de equipamento militar “não letal” para uso em África. Aprovou também uma recomendação de Kissinger para que se evitassem pressões políticas sobre Portugal.

    Foi a viragem “pró-regimes brancos” da política americana. Os Estados Unidos, com Nixon e Kissinger, assumiram as vantagens que a posição portuguesa lhes conferia, ao manter a situação colonial: um regime de confiança, sem os excessos comprometedores do apartheid sul-africano e rodesiano, numa zona do globo onde não queriam ter problemas.

    Se Portugal conseguisse fazer uma guerra invisível seria o ideal!

  • 06
      02/1970

    06/02/1970 - 

    Operações Teste 1 e Teste 2 realizadas por unidades de Comandos na Lunda, Angola.

    A partir de 6 de Fevereiro foram realizadas as operações Teste 1 e Teste 2 por unidades de Comandos que assaltaram bases do MPLA na região de Peso, na Lunda, tendo sido apreendidas 37 armas, entre as quais dois morteiros e duas metralhadoras ligeiras.

  • 11
      02/1970

    11/02/1970 - 

    Início do 1º Curso de Comandos na Guiné, destinado à formação de companhias de Comandos africanos, que se realizou em Fá Mandinga, na região do Oio, Guiné.

    Um novo conceito de africanização

    O conceito tradicional de “africanização da guerra”, aquele que os franceses designaram por “jaunissement” e que os americanos utilizaram como “vietnamização”, contempla dois tipos básicos de forças: as convencionais, constituídas por unidades militares cujos efectivos de linha (as praças) são militares locais (voluntários ou conscritos), instruídas e empregues como unidades das Forças Armadas da potência ocupante e comandadas por quadros destas, e as especiais que, na panóplia portuguesa, incluíram forças tão heterogéneas como as milícias, os grupos especiais, as unidades de antigos guerrilheiros (TE), até certas unidades de forças especiais réplicas das nacionais, sejam Comandos, Pára-quedistas, ou Fuzileiros.

    Objectivos da africanização

    Os objectivos clássicos da africanização da guerra são a diminuição de baixas entre os efectivos metropolitanos, para atenuar o consequente impacto no moral da retaguarda metropolitana e o aproveitamento dos efectivos locais, mais adaptados ao meio e melhor conhecedores dos modos de actuar do inimigo. Contudo, o poder nacional não abdica do comando e do controlo destas forças. No caso português, para exercer esse comando e controlo, a norma foi a de nomear quadros nacionais para o seu comando. Nas unidades convencionais (companhias de caçadores de recrutamento local) o comando nacional começava logo nos postos de sargentos e subalternos comandantes de grupo. O comandante da companhia era invariavelmente um capitão metropolitano.

    Os comandos africanos na estratégia de Spínola

    Os comandos africanos desempenharam um papel fulcral no conceito de Spínola de “uma Guiné para os guinéus”. Em termos organizacionais, as companhias de comandos africanos eram aparentemente semelhantes a algumas unidades do Exército, constituídas por quatro grupos de combate, não dispondo de apoio de serviços, como as companhias de comandos “ligeiras”.

     

     

    Os grupos podiam ter efectivos variáveis consoante a missão, o armamento era maioritariamente o dos guerrilheiros, em especial as Kalashnikov como arma individual e o RPG como arma de apoio.

    Nos comandos africanos da Guiné todos os graduados, do sargento, chefe da equipa, ao capitão comandante da companhia eram “locais”. Não existia nenhum metropolitano na estrutura, apenas um capitão europeu com a qualidade de “supervisor”, que por vezes acompanhava as operações.

    O comandante da 1ª CCA (Companhia de Comandos Africana) era o capitão graduado João Bacar Jaló, um antigo milícia de etnia fula, altamente condecorado por feitos em combate.

     

     

    Para além do papel táctico que lhes era atribuído, como unidades de reserva do comandante-chefe, Spínola quis desde o início da criação da Força Africana que os Comandos fossem o seu núcleo duro. Os Comandos africanos são pois um instrumento da política de uma “Guiné Melhor” que evoluiu para a de “Uma Guiné para os Guinéus” e este conceito era radicalmente diferente do de Costa Gomes, que em Angola multiplicou as forças africanas mas sempre com base em “tropas auxiliares” e
    do de Kaúlza de Arriaga em Moçambique, que replicou nas unidades africanas a organização e a doutrina das unidades metropolitanas.

     

  • 13
      02/1970

    13/02/1970 - 

    Sobrevoo de Bissau por dois aviões MIG que também sobrevoaram a Base Aérea de Bissalanca.

    O significado da aparição deste avião era claro: a Força Aérea Portuguesa estava em inferioridade. Daí que fosse decidido adquirir em França uma bateria de mísseis antiaéreos de médio alcance Crotale e que, na Operação Mar Verde, um dos objectivos fosse a destruição dos Mig-17.

  • 19
      02/1970

    19/02/1970 - 

    Expulsão de Uria Simango da Tanzânia.

    A 16ª sessão do Comité de Libertação da OUA, reunido na cidade tanzaniana de Moshi, decidiu pedir a expulsão de Uria Simango da Tanzânia. Esta atitude do Comité de Libertação da OUA revelava já o poder interno e externo do grupo de Samora Machel na FRELIMO. Samora Machel e Marcelino dos Santos, apoiados por Janet Mondlane, eram agora os homens-fortes da FRELIMO e preparavam-se para assumir o poder.

    Uria Simango refugiou-se no Quénia, onde se encontravam muitos estudantes moçambicanos dissidentes da FRELIMO, e iniciaria um percurso de dissidente, criando várias organizações que nunca tiveram força para se opor nem à FRELIMO nem às forças portuguesas e estabelecendo alianças com outros dissidentes, como Paulo Gumane.

  • 20
      02/1970

    20/02/1970 - 

    Prisão do pároco de Belém (Lisboa), padre Felicidade Alves, por denunciar a situação da Guerra Colonial.

  • 25
      02/1970

    25/02/1970 - 

    Apreciação pouco optimista da situação feita pelo director da PIDE/DGS de Angola, São José Lopes, numa informação de 25 de Fevereiro, intitulada “Apreciação da situação político-subversiva em Angola e sugestão para um melhor aproveitamento das populações nativas na luta contra os terroristas”.

    Nesta informação, São José Lopes começava por considerar que “a situação político-subversiva em Angola é grave e tudo indica que venha a piorar a curto prazo”.

    Quanto ao MPLA, “a subversão vinda de Leste (3ª RM) tende a alastrar rapidamente em direcção à Lunda e Malange (4ª RM), aos distritos do Huambo e Bié (5ª RM), em direcção à Huíla e Moçâmedes (6ª RM)”; considerava ainda que, embora tendo grande dificuldade de reabastecimento em homens e material no Quanza-Norte, essa hipótese constituía séria ameaça para a cidade de Luanda. “A subversão na cidade de Luanda e arredores poder-se-á avaliar o que tem sido e o que continuará a ser pelo número e perigosidade das organizações clandestinas detectadas e desmanteladas, com a captura de centenas, num ano apenas, de elementos fortemente subversivos, incluindo estudantes universitários, alguns europeus e euro-africanos”.

    Embora o inimigo principal fosse o MPLA, São José Lopes apresentava também um resumo do que se passava com os outros movimentos – UPA e UNITA.

    “No Norte, na região dos Dembos, o ELNA (UPA) encontra-se bem estruturado e armado, sendo de esperar que venha a reactivar-se nos tempos mais próximos.” A UNITA estende-se por uma faixa que vai do Cuando-Cubango à Lunda, passando pelos distritos do Bié e Moxico e tende a progredir em direcção a Silva Porto.

  • 25
      02/1970

    25/02/1970 - 

    Cento e quarenta e sete figuras de perfil “liberal”, entre as quais Xavier Pintado e Rogério Martins, secretários de Estado, pedem a legalização da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES).

    Na sua maioria os peticionários eram técnicos, incluindo 22 engenheiros e 15 economistas, assim como 14 advogados. A SEDES foi pensada como um instrumento de apoio ao Governo e um pólo agregador do “centro político”, mas tornou-se depois um grupo crítico e distanciado.

  • 26
      02/1970

    26/02/1970 - 

    Apresentação por Amílcar Cabral do “Relatório da Guiné Portuguesa e do Movimento de Libertação” perante o Sub-Comité de África do Comité dos Negócios Estrangeiros dos Estados Unidos.

  • 27
      02/1970

    27/02/1970 - 

    Criação do Gabinete do Plano do Zambeze (GPZ).

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