Telegrama da delegação da DGS da Guiné para Silva Pais sobre os objectivos da Operação Mar Verde.
O telegrama dizia o seguinte:
“Desembarque forças Operação Mar Verde realizada uma hora em Conacri. Instalações PAIGC totalmente destruídas. Amílcar Cabral ausente estrangeiro. Libertação 26 militares nacionais prisioneiros incluindo sargento Lobato. Sete vedetas destruídas. Golpe de Estado resultados duvidosos mas ainda desconhecidos…”
De realçar a referência à ausência de Amílcar Cabral, cuja captura ou morte constituía um objectivo principal.
Reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU a pedido da Guiné-Conacri, sendo aprovada uma resolução em que era exigida a “retirada imediata de todas as forças armadas e de todos os mercenários estrangeiros” da República da Guiné.
Aprovação, pelo Conselho de Segurança da ONU, do envio de uma missão especial à República da Guiné para investigar as acusações de que as forças portuguesas haviam invadido Conacri.
Transporte dos prisioneiros portugueses libertados pela Operação Mar Verde de Bissau para Portugal.
O regresso a Portugal do grupo de militares processou-se num avião cargueiro que se deslocou propositadamente de Lisboa a Bissau com um oficial superior do Exército para os trazer sem dar nas vistas.
Entre os militares recuperados na operação encontravam-se o alferes António Rosa e o sargento António Lobato.
Comunicado do Comando-Chefe da Guiné sobre os prisioneiros portugueses em Conacri.
O Comando-Chefe da Guiné emitiu um comunicado anunciando terem-se apresentado na fronteira os militares portugueses “retidos” pelo PAIGC na Guiné-Conacri, por se terem conseguido evadir. Na realidade eram os militares postos em liberdade pela Operação Mar Verde.
Início da Operação Apollo em Chicoa, Tete, com forças rodesianas.
Foi a primeira operação de longa duração de forças rodesianas em Moçambique. Esta operação teve o seu quartel-general em Chicoa, na margem sul do rio Zambeze, ondeestava instalado o COFI (Comando Operacional das Forças de Intervenção), e envolveu, da parte portuguesa, uma companhia de Comandos, duas companhias de Caçadores e um destacamento de cinco helicópteros portugueses AL III.
Pelo lado rodesiano as forças pertenciam à força aérea e eram constituídas por um destacamento de seis helicópteros AL III e respectivas tripulações, uma secção de operações e uma equipa de pisteiros de combate (Sellous Scout).
O objectivo da operação era detectar, perseguir e eliminar guerrilheiros da FRELIMO e da ZANLA (o Exército da ZANU) que fossem detectados a sul do Zambeze.
Operação Apollo foi o nome de código dado pelos rodesianos.
A opinião dos rodesianos sobre as tropas portuguesas
Descrição feita pelo comandante da unidade da Força Aérea da Rodésia e das suas impressões: “As forças portuguesas são constituídas maioritariamente por militares do serviço obrigatório (conscritos) cuja maior ambição é verem passar os dois anos de comissão e regressarem intactos a Portugal. Têm um “fraco coração” para combater. (…)
Fazer operações com os portugueses era muito frustrante para todos nós, especialmente para o Exército rodesiano.
Frequentemente as nossas tropas poderiam seguir pistas frescas e em poucos minutos poderiam estar em contacto com eles, mas o comandante português decidia que era tempo de sesta. Os terroristas podiam fugir e não ser encontrados naquele dia. Era certamente um bom modo de se assegurar que ninguém seria morto ou ferido. (…)
A operação terminou a 15 de Dezembro de 1970. As forças de segurança rodesianas começaram a perceber as razões pelas quais as forças portuguesas tinham tão pouco sucesso nas suas operações antiterroristas”.
Estes comentários, publicados no livro Only My Friends Call Me “Crouks”: Rhodesian Reconnaissance Specialist, de Dennis Croukamp, são pouco rigorosos e não correspondem ao que vários militares portugueses envolvidos nas operações relatam.
Avaliação negativa do estado de espírito dos militares portugueses.
O documento Supintrep 72, do Estado-Maior do Exército, fazia a seguinte “Apreciação do Estado de Espírito do Pessoal”: “O ritmo das comissões no Ultramar, associado às motivações negativas de âmbito socio-económico, vêm provocando nos quadros do QP, em especial nos quadros das Armas e na classe de sargentos, um progressivo e acentuado desgaste físico e psicológico, com indícios de irreversibilidade e evidentes reflexos na sua actividade profissional”.
Cedência de uma verba de quase cinco milhões de dólares pelo Governo americano, produto da venda de alimentos para a paz, para a reconstrução e recuperação de zonas danificadas em consequência da invasão de Conacri.
Início da Operação Vind’a Nós na região dos Dembos, no Norte de Angola, contra bases da FNLA e do MPLA.
Esta operação desenrolou-se de 1 a 23 de Dezembro, na zona dos Dembos, entre os rios Zenza, a sul, e o Lifune, a norte, numa área onde se encontravam bases da FNLA e do MPLA.
A operação era dirigida contra os dois movimentos, mas com objectivos distintos: contra a FNLA o objectivo era destruir as suas forças, enquanto que o objectivo relativamente ao MPLA era acelerar a desarticulação da sua ligação às populações. Esta operação tinha uma forte componente de acção psicológica sobre as populações e, para as recuperar, foi determinado às tropas portuguesas que se abstivessem de tomar a iniciativa de acções ofensivas, limitando-se a reagir em caso de serem atacadas.
Uma demonstração de força
Este tipo de operações, que são uma modalidade de demonstração de força, foi também utilizado por Spínola na Guiné em áreas de disputa do controlo das populações entre as forças portuguesas e os guerrilheiros.
Entrega, pelo Governo à Assembleia Nacional, de uma proposta de revisão constitucional, prevendo um estatuto de autonomia interna para as províncias ultramarinas.
Miguel Murupa era o secretário do Departamento de Relações Exteriores da FRELIMO e entregou-se a uma patrulha militar portuguesa na região de Macomia. Foi apoiante de Eduardo Mondlane enquanto este foi presidente da FRELIMO. Saiu em ruptura, acusando os dirigentes que tinham substituído Mondlane de estarem a transformar o movimento numa organização comunista. Era, a seguir a Lázaro Kavandame, o mais alto dirigente da FRELIMO a entregar-se às autoridades portuguesas.
A sua apresentação foi intensamente explorada, tendo o comandante-chefe de Moçambique, Kaúlza de Arriaga, aproveitado a deserção para fins de propaganda e desestabilização, difundindo 200 mil panfletos alusivos. Num despacho posterior, Kaúlza de Arriaga determinou a libertação de Miguel Murupa, a atribuição de uma verba de quatro mil escudos, sendo-lhe concedido o estatuto de 2º oficial.
Receberia ainda uma habitação e seria mais tarde empregado de Jorge Jardim, num dos seus jornais.
Resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando Portugal pela invasão da Guiné.
O texto desta condenação considerava pela primeira vez que “a presença do colonialismo português no continente africano é uma séria ameaça à paz e à segurança dos Estados africanos independentes”.
Declaração do chefe da delegação americana na ONU, Charles Yost, revelando que os Estados Unidos não tinham qualquer razão para duvidar das conclusões da comissão especial da ONU que investigou os acontecimentos de Conacri e o envolvimento de Portugal.
Resolução da Assembleia Geral da ONU contra a política colonial portuguesa, pedindo a Portugal que não utilizasse meios de guerra química e biológica contra as populações de Angola, Moçambique e Guiné.
A Operação Mar Verde, com a invasão da Guiné Conacri, causou sérios embaraços à diplomacia portuguesa e enfraqueceu ainda mais a posição de Portugal, mesmo entre os seus aliados tradicionais.
Um grupo de 30 guerrilheiros da FRELIMO passou o Zambeze para sul.
Este grupo seguia em reforço do primeiro grupo de 120 homens que em fins de Novembro já tinham ultrapassado o rio para a margem direita. O COFI recebeu a missão de deter, perseguir e capturar ou destruir este grupo desde a fronteira com a Rodésia até à região de Chicoa-Chinhanda.
Cinco helicópteros atingidos na zona de fronteira com a Tanzânia, no Norte de Moçambique.
Durante a Operação Cuco realizada sobre a Base Beira, nas margens do rio Rovuma, foram atingidos cinco helicópteros com tiros que lhes provocaram danos graves.
Conferência de imprensa em Bruxelas de três oficiais do Exército Português, que tinham desertado.
Os ex-tenentes Albino Costa, Victor Bray e Victor Pires, antigos alunos da Academia Militar, da arma de Engenharia, pertenciam a um grupo de dez oficiais que tinham desertado em Agosto por se oporem à guerra colonial. Os outros sete oficiais, Fernando Pais Mendes, Artur Pita, Fernando Cardeira, Carmo Silva, Marta e Silva e Azenha Lucas, dirigiram-se para a Suécia, onde pediram asilo político. Todos eles chegaram via Paris.
Estes ex-militares frequentavam o último ano dos cursos de Engenharia Militar no Instituto Superior Técnico e tinham a patente de alferes alunos.
O contacto com o movimento estudantil tinha-os levado a serem críticos do Governo e da Guerra Colonial. Pediram para abandonarem a Academia Militar, o que lhes foi negado, levando-os a criar condições para serem expulsos.
Outros alunos dos cursos de Engenharia da Academia Militar que fizeram idêntico requerimento de saída viram o seu pedido deferido mas foram imediatamente reclassificados como tenentes milicianos de Infantaria, colocados em Mafra, na Escola Prática de Infantaria, e mobilizados como capitães milicianos para comandarem companhias operacionais nos teatros de operações. Alguns desertaram nesta altura, quando foram mobilizados para a Guerra Colonial.
Ataque da FRELIMO ao comboio da linha do Catur, no Norte de Moçambique.
A linha de Caminho-de-Ferro do Catur ligava o porto de Nacala, no Índico, a Vila Cabral, no lago Niassa, e dispunha de um ramal a partir de Nova Freixo que servia o Malawi.
Este ataque pretendia cortar essa linha de reabastecimento vital para as tropas portuguesas no Niassa e demonstrar que a FRELIMO continuava activa na região.
Esta acção dos guerrilheiros teve lugar entre Catur e Nova Guarda e causou três feridos.
O Fundo Monetário da Zona do Escudo estava em falência. O montante dos “atrasados”, isto é, o que as colónias deviam à Metrópole por falta de divisas para pagarem os bens adquiridos, atingia o valor de 24 milhões de contos.
A título de comparação, as exportações totais de Portugal no mesmo ano foram de 29,7 milhões de contos, as importações foram de 51 milhões de contos, as reservas de Portugal em ouro (barras e amoedado) e em divisas estrangeiras eram de 50 milhões de contos e as despesas com a defesa foram de 14,5 milhões de contos.
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