1970 - A ilusão das grandes operações

1970 - A ilusão das grandes operações

Os Acontecimentos

  • 09
      07/1970

    09/07/1970 - 

    Início da Assembleia Mundial da Juventude, no âmbito das comemorações do 25º aniversário da ONU, com a presença de 110 países, em cuja mensagem final se denunciava a “guerra colonial empreendida por Portugal contra os povos de Angola, Guiné e Moçambique”.

  • 12
      07/1970

    12/07/1970 - 

    Ataque de um grupo de guerrilha da FRELIMO ao quartel de Miteda, em Cabo Delgado, só retirando após a utilização de helicanhões pelas tropas portuguesas.

    Este ataque, realizado em plena Operação Nó Górdio e num dos vértices da zona de exclusão do núcleo central do planalto dos Macondes e menos de uma semana após as forças portuguesas terem ocupado as bases abandonadas Gungunhana e Moçambique, é revelador da manobra da FRELIMO de preservar a sua capacidade operacional, evitando o combate frontal com as forças portuguesas e atacando os locais onde estas eram mais vulneráveis.

  • 14
      07/1970

    14/07/1970 - 

    Grande ataque do PAIGC a Pirada, no Norte da Guiné, junto à fronteira com o Senegal.

    A 15 de Julho foi distribuído à imprensa o seguinte comunicado:

    “O Serviço de Informação Pública das Forças Armadas informa que, segundo notícias recebidas ontem, 14, do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, um grupo inimigo com efectivo superior a 300 combatentes atacou Pirada na noite de 12 para 13 do corrente, com apoio de foguetões, canhões anticarro, morteiros e outras armas pesadas. A acção foi de apreciável envergadura e o inimigo que realizou o assalto entrou na povoação e saqueou e incendiou 50 ‘moranças’.

    Toda a acção foi desencadeada de território senegalês, onde estiveram implantadas as bases de fogos dos canhões anticarro rebocados e dos foguetões e morteiros.

    O inimigo causou na população 15 mortos e 41 feridos tendo desaparecido um militar europeu”.

  • 17
      07/1970

    17/07/1970 - 

    Ataque da UNITA a madeireiros no Leste de Angola.

    Numa acção no Leste de Angola contra madeireiros, guerrilheiros da UNITA raptaram nove trabalhadores e saquearam o material de trabalho.

    Estas acções dirigidas contra equipas de madeireiros que trabalhavam isoladas seria frequente por parte dos guerrilheiros da UNITA e levaria mais tarde ao estabelecimento de acordos de “convivência” que chegaram à cooperação entre a UNITA e as forças portuguesas naquela que ficou conhecida como a Operação Madeira.

  • 20
      07/1970

    20/07/1970 - 

    Anúncio da África do Sul da decisão de construir uma fábrica de enriquecimento de urânio.

    O primeiro-ministro sul-africano, John Vorster, informou o Parlamento da decisão do Governo de construir uma fábrica piloto de enriquecimento de urânio baseada numa técnica nacional. O projecto destinava-se a demonstrar a viabilidade de produção industrial dos estudos efectuados em laboratório.

    A Atomic Energy Corporation of South Africa (AEC) construiu o Building 5000, um complexo industrial e laboratorial na localidade de Pelindaba “com capacidade para produzir explosivos de alta potência, críticos e fabricar armas”.

    A África do Sul lançava-se na corrida aos armamentos nucleares e preparava-se para entrar no restrito clube dos países possuidores de armas deste tipo.

  • 21
      07/1970

    21/07/1970 - 

    Comunicado do MPLA acusando Portugal do uso de herbicidas contra plantações de populações no Leste de Angola.

    Herbicidas e desfolhantes

    O uso de herbicidas e desfolhantes pelas forças portuguesas em Angola e Moçambique teve o seu pico de utilização a partir do final dos anos 60, como uma das formas de garantir o controlo de certas áreas críticas e de negar o acesso a elas por parte dos guerrilheiros.

    A 21 Julho de 1970 o MPLA difundiu um comunicado acusando Portugal de operações contra as sementeiras das populações africanas no Leste de Angola e algumas testemunhas declararam ter visto cinco aviões C-47 Dakota em operações de lançamento de herbicidas contra plantações de mandioca.

    Esta acusação esteve na origem de uma resolução das Nações Unidas de 14 de Dezembro de 1970, pedindo a Portugal para não usar armas químicas e biológicas contra os povos de Angola, Guiné e Moçambique.

    Também o Stockholm International Peace Research Institute fez eco da notícia de 9 de Dezembro de 1970 do New York Times, dizendo que “diplomatas americanos tinham indicações que as autoridades portuguesas tinham usado agentes químicos contra sementeiras de populações sob controlo dos guerrilheiros”.

    De facto, embora os Estados Unidos tivessem aderido ao embargo de armas a Portugal decretado pelas Nações Unidas, Portugal continuava a beneficiar de outras formas de assistência militar (nomeadamente treino) e, além do mais, a venda de desfolhantes e herbicidas nem sequer estava prevista no embargo!

     

    Guerra química e biológica

    As primeiras notícias da utilização de herbicidas numa guerra de contra-subversão têm origem na Malásia e no Quénia, onde os ingleses os empregaram para “desmatar” as bermas das vias de comunicações e locais de refúgio de guerrilheiros.

    Em 1961, logo após o início da guerra em Angola, Ronald Waring, um inglês especialista nestas armas, enviou um memorando aos comandos militares portugueses sobre o seu emprego. Oficialmente os chefes militares portugueses desprezaram a sugestão, que incluía uma demonstração de eficácia por parte do fabricante, a multinacional ICI, mas o certo é que, em 1966, a Força Aérea e o Exército estavam em condições de empregar tacticamente químicos herbicidas e desfolhantes na guerra de contra-subversão.

    Estas operações com agentes químicos ocorreram principalmente em Angola e em Moçambique, pois a política do general Spínola na Guiné pôs maior ênfase na conquista das populações. Acresce que o terreno húmido e pantanoso da Guiné tornava o seu emprego muito pouco eficaz.

     

    Operação Alcora – “operações sujas”

    O activista holandês anti-apartheid Klaas de Jonge denunciou que várias “operações sujas” de envenenamento foram realizadas na Rodésia nos anos 70 no âmbito da Operação Alcora, uma acção conjunta de Portugal, Rodésia e África do Sul para manter os seus territórios sob domínio das minorias brancas. No decurso da Operação Alcora teriam sido desenvolvidas armas químicas sofisticadas pelo Forensic Sciences Laboratory, em Visagie Street, que era dirigido pelo major-general Lothar Neethling.

    Também um antigo coronel do Exército Rodesiano, Lionel Dyck, revelou que membros dos serviços de informações da África do Sul estiveram directamente envolvidos na contaminação de rios com o bacilo da cólera.

     

    Desfolhantes e herbicidas – melhorar a eficácia

    Os desfolhantes eram usados para destruir a copa das árvores que escondia os abrigos e as bases dos guerrilheiros e os herbicidas para destruir os campos cultivados.

    O ideal seria encontrar um composto que reunisse as capacidades dos dois. Os laboratórios sul-africanos conseguiram-no, utilizando o conhecido Agente Laranja, uma mistura 50/50 do herbicida 2,4-D (2,4, ácido dichlorophenoxyacetic) e 2,4,5-T (2,4,5 ácido trichlorophenoxyacetic) baseado no Convolvotox. Estes agentes tinham a vantagem de serem eficazes quer contra as folhas das árvores quer contra sementes.

  • 23
      07/1970

    23/07/1970 - 

    Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra o programa nuclear sul-africano.

    Colocado perante o anúncio do lançamento do programa nuclear da África do Sul, o Conselho de Segurança das Nações Unidas adoptou a Resolução 282, intimando os Estados membros a revogarem todas as licenças e patentes militares concedidas ao Governo da África do Sul ou a companhias sul-africanas para o fabrico de armas e munições, aeronaves e navios e outros veículos militares. A resolução também proibiu os investimentos e a assistência técnica para o fabrico destes produtos.

    Apesar da proibição, a África do Sul criou a Uranium Enrichment Corporation (UCOR) para prosseguir o seu programa de enriquecimento de urânio e construir a nova fábrica de enriquecimento.

    Em 1971 a Uranium Enrichment Corporation foi encarregada de construir a fábrica de enriquecimento de urânio, que recebeu o nome de Y-plant.

    Ainda em 1971 e inspirado pelo programa Plowshares Peaceful Nuclear Explosion (PNE), promovido pelo Governo dos Estados Unidos, o ministro sul-africano das Minas, Carl de Wet, aprovou a investigação através da AEC (Atomic Energy Corporation) do fabrico e meios de lançamento de uma arma nuclear através de tecnologia disponível e da originada pelo projecto Manhattan que fora desclassificada.

    De 1972 a 1975, Israel seria o principal parceiro da África do Sul para o desenvolvimento e construção de armas nucleares.

  • 23
      07/1970

    23/07/1970 - 

    Cerimónia de içar da bandeira nacional às forças que ficaram no quartel de Muera – o fim da Operação Nó Górdio.

    O quartel era a antiga base Nampula, ocupada durante a Operação Nó Górdio.

    O general Kaúlza proferiu as seguintes palavras na cerimónia:

    “Aqui, onde há pouco tempo o inimigo tinha a sua principal organização e se situava a direcção política e o comando militar da subversão em todo o Cabo Delgado, aqui, senhor comandante, lhe entrego a bandeira nacional, neste novo aquartelamento de Muera, como símbolo da soberania de um país livre e progressivo e da presença de um povo generoso, justo e bom, mas de um país e de um povo que sabem o que querem e sabem querer”.

  • 25
      07/1970

    25/07/1970 - 

    Queda de um helicóptero na Guiné, em que morreram os deputados José Pedro Pinto Leite, Leonardo Coimbra, Vicente de Abreu e Pinto Bull.

    Uma delegação de deputados da Assembleia Nacional constituída por José Pedro Pinto Leite, Cancela de Abreu, Lopes Frazão, Covas de Lima, Leonardo Coimbra, Vicente de Abreu, Salazar Leite e Pinto Bull, este um médico guineense, realizou uma viagem de estudo a Cabo Verde e à Guiné.

    As soluções heterodoxas de Spínola estavam no seu auge e a visita dos deputados não era inocente. Os liberais procuravam nela motivos inspiradores de uma saída política para a guerra e os ultras pretendiam avaliar os perigos que o general poderia representar para a ortodoxia do regime.

    A 25 de Julho os deputados realizavam a sua última etapa na Guiné, com a visita ao “chão manjaco” e, depois da passagem por Teixeira Pinto, sede de circunscrição e do CAOP, onde foram recebidos e guiados por Spínola, embarcaram em três helicópteros que os deveriam conduzir a Bissau, num voo com a duração de 20 minutos.

    Sensivelmente a meio do trajecto começou a chover e a visibilidade diminuiu drasticamente, com as nuvens baixas a envolver os aparelhos. A turbulência que envolveu os aparelhos fez com que se deixassem de ver uns aos outros e perdessem o contacto rádio.

    Dois dos helicópteros conseguiram aterrar em Mansoa, enquanto o terceiro se despenhou no rio.

    Nas buscas que foram efectuadas foram apenas resgatados dois corpos de entre os cinco passageiros e o piloto que seguiam a bordo e os restos da aeronave.

  • 27
      07/1970

    27/07/1970 - 

    Morte de Salazar.

    O funeral, com a pompa do Estado, seguiu para o Vimieiro, terra da naturalidade de Salazar, no dia 3 de Agosto. A homilia religiosa foi proferida pelo cónego Moreira das Neves e o discurso foi proferido por Afonso Queiró, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.

  • 28
      07/1970

    28/07/1970 - 

    Início das operações do Agrupamento Siroco – 1970, no Leste de Angola.

    As operações do Agrupamento Siroco de 1970 foram semelhantes às de 1969. A experiência tinha sido um sucesso e havia que a aproveitar.

     

    Comando unificado e longa permanência no terreno

    O agrupamento foi constituído por três companhias de Comandos, que actuaram na modalidade de “caça”, um agrupamento aéreo com aviões de reconhecimento e ligação e helicópteros de transporte táctico e um destacamento da DGS.

    O agrupamento realizou quatro operações de longa duração.

    A Operação Energa, de 35 dias consecutivos na “Chana da Cameia”, hoje parque nacional, em condições de sobrevivência muito difíceis, a Operação Ébano, de 18 dias, na região do lago Dilolo, a Operação Zebro, de 12 dias, a longa distância das anteriores, na região de Alto Cuíto-Cangamba e que foi realizada com o apoio de Flechas, o que não provou ser uma boa ligação, e a Operação Eclipse, um assalto de duas companhias de Comandos a um quartel da UNITA.

  • 30
      07/1970

    30/07/1970 - 

    Reunião em Nashingwea entre dirigentes da FRELIMO e da Tanzânia para tratar dos problemas de refugiados moçambicanos causados pelas operações militares portuguesas.

    Neste encontro estiveram presentes Samora Machel e Marcelino dos Santos, pela FRELIMO, e o vice-presidente da Tanzânia, Kawawa, e o comandante-chefe das forças armadas Sarakikya. Além dos movimentos de populações para a Tanzânia foi detectado durante a Operação Nó Górdio o trânsito de populações e guerrilheiros na picada de Miteda-Capoca (zona de Nangololo), para sul, na direcção do Messalo e dirigindo-se para norte, pela região de Nancatari para os vales dos rios Sinheu e Mutamba.

  • 02
      08/1970

    02/08/1970 - 

    Elaboração da nova carta de situação de Spínola, com a criação de zonas e sectores.

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