A FRELIMO sempre considerou como início da luta armada o ataque à localidade de Chai, em Cabo Delgado, no dia 25 de Setembro de 1964. Os três grupos da FRELIMO que haviam entrado em Moçambique em Agosto passaram a viver uma situação difícil, pois a morte do padre Daniel, da missão de Nangololo, que a FRELIMO atribuiu a guerrilheiros das fracções dissidentes da MANU e da UDENAMO, provocou a reacção das forças portuguesas, e os assaltos que fizeram a cantinas de indianos levaram a que a presença desses três grupos fosse denunciada. Face a essa situação, apenas o grupo de Raimundo obteve sucesso na região de Mueda, cortando as estradas para impedir a passagem dos militares portugueses. Para contrariar a imagem de banditismo e credibilizar a sua acção, a FRELIMO decidiu lançar a ofensiva que marcou o início da guerra em Moçambique, em 25 de Setembro, data oficial do início da luta armada. Segundo fontes da própria FRELIMO, nesta data o movimento dispunha apenas de 250 homens armados e equipados.
O ataque ao posto do Chai
O Chai era uma pequena povoação do interior de Cabo Delgado, junto à estrada 253 que liga Macomia a Mueda, perto do rio Messalo. Tinha pouco mais de meia dúzia de edifícios, uma secretaria, a casa do chefe do posto, a casa do gerente da Companhia Algodoeira do Sagal, dois estabelecimentos comerciais, uma pequena enfermaria, a cadeia, as residências dos polícias brancos e dos cipaios negros. Os guerrilheiros que deram os primeiros tiros não conheciam bem a zona, pelo que enviaram um explorador reconhecer o local. Depois de feito o reconhecimento, o comandante do grupo, Alberto Chipande, preparou o ataque.
A escolha deste lugar para o primeiro ataque não teve nenhum motivo especial e, segundo revelou Chipande, o primeiro objectivo previsto fora Porto Amélia, que era uma cidade capital de distrito, onde um ataque causaria muito maior impacto, simplesmente as condições adversas não permitiram e “calhou que no dia 25 de Setembro eu fizesse o combate em Chai. Eu fui o comandante. Precisamente pelas 20 horas do dia 25 de Setembro de 1964”.
O grupo era constituído por 12 homens, armados com espingardas de repetição e pistolas e atacou a casa do chefe do posto. A história oficial da FRELIMO refere que morreram pelo menos duas pessoas neste ataque, o chefe do Posto Administrativo Colonial de Chai e o sentinela que guarnecia a sua residência.
Hoje, quarenta anos depois, não parece haver consenso sobre as consequências dessa primeira acção e algumas investigações baseadas em testemunhos orais referem que durante o ataque dos guerrilheiros“nenhuma pessoa foi morta”, e que só uma semana depois é que houve uma morte numa emboscada entre o rio Messalo e o Chai.
Outras acções em Cabo Delgado e no Niassa
Além do ataque ao posto do Chai, naquele que é considerado pela FRELIMO como o primeiro acto da luta armada da guerra de libertação nacional de Moçambique, os grupos de guerrilheiros da FRELIMO que tinham entrado em Moçambique realizaram em 24 e 25 de Setembro de 1964 acções armadas em Cabo Delgado e no Niassa.
No mês de Outubro, as acções violentas continuaram. No dia 11 foram queimadas duas cantinas próximo da Estrada Nacional 253 junto ao rio Messalo; a 13 foi assaltada outra cantina na estrada Mueda-Nancatari e na noite de 17 para 18 foi destruída a loja de um indiano, Ibarimo Ucuba, na povoação de Namulumba.
Dentro das boas regras da guerra subversiva, os guerrilheiros espalhavam a insegurança na zona, dificultando a actividade rotineira das populações e pondo em causa a capacidade das autoridades para exercerem o seu domínio.
Cookie name | Active |
---|---|