Por David Martelo
Depois de um primeiro ano de guerra pleno de surpresas e sobressaltos, a reocupação do território de Angola afectado pelas primeiras acções da UPA proporcionou uma pausa na actividade militar e deu lugar a indispensáveis medidas reorganizativas. A pouco e pouco, desvaneciam-se as ilusões daqueles que, inicialmente, julgaram ser possível repetir a fórmula das operações punitivas do final do século XIX, que, uma vez concluídas vitoriosamente, permitiam a retracção das forças expedicionárias. Entendeu-se, então, que havia que encarar a inevitabilidade de uma longa presença em terras de África e preparar as estruturas e formas organizativas que melhor se adequassem ao objectivo político definido pelo Governo de Lisboa.
Da Metrópole vão continuar a chegar reforços para Angola e para as outras colónias africanas, esforço esse que pode ser melhor avaliado, ao nível do Exército, tendo em consideração a diferença entre os quase 50 000 homens presentes no conjunto Guiné-Angola-Moçambique, em finais de 1961, e os cerca de 62 000, um ano mais tarde.
Acontece, porém, que a quase totalidade do acréscimo atrás referido foi reforçar a guarnição de Angola, do que resultaria, naturalmente, um reajustamento do número de sectores e do efectivo das forças de reserva. Implementam-se planos com vista à remodelação do dispositivo, com a Companhia como unidade base da contra-guerrilha. A própria Região Militar de Angola muda de designação, sendo atribuídos novos comandos territoriais, do comando de oficiais-generais.
No âmbito da Força Aérea assinale-se a criação da Base Aérea 9 em Luanda.
As primeiras unidades de fuzileiros começam a chegar a Angola e Guiné. É neste ano, ainda, que é criado o Centro de Instrução de Zemba, onde se formariam os antecessores das tropas Comandos. A necessidade de forças especiais começa a ser patente, face à paralisia forçada a que as unidades de quadrícula se encontram sujeitas. Mais ainda, quando começam a surgir notícias que alertam para a possibilidade de acções guerrilheiras no longínquo Leste de Angola.
Enquanto se tem a percepção de que a própria reorganização do inimigo trará novas necessidades de adaptação do sistema de forças presente em Angola, na Metrópole acelera-se a produção de doutrina para distribuição aos diferentes escalões do sistema de instrução. As doutrinas em preparação, embora se fundamentem, sobretudo, nas experiências colhidas por oficiais portugueses em centros de instrução estrangeiros, começam já a incorporar alguma da que os relatórios vindos de Angola vão proporcionando.
Com esses elementos vai sendo melhorada, lentamente, a preparação das tropas que, entretanto, continuam a ser mobilizadas. Neste capítulo, deve assinalar-se a instrução relativa ao novo armamento ligeiro entretanto adquirido, nomeadamente as espingardas automáticas FN e G-3, destinadas a substituir a obsoleta Mauser modelo 1937.
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