Savimbi
Savimbi, filho de um pastor protestante, recebeu a educação primária emvárias missões evangélicas e, apesar de posteriormente ter frequentado colégios cristãos, cedo revelou ideias anticolonialistas, o que lhe permitiu, nos anos que passou como estudante em Lisboa (1958-1960), contactar com a UPA através da rede que as organizações protestantes tinham em Portugal e que se encarregava de tirar do país os africanos que quisessem aderir à FNLA, partido que era então o mais representativo de Angola.
Exilado em Paris, Savimbi trabalhou para a FNLA, de que chegou a ser secretário-geral em 1961. No ano seguinte, quando se constituiu o GRAE, foi nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros, mas em Julho de 1964 abandonou o cargo e o partido por divergências com Holden Roberto.
Início da guerrilha
A UNITA iniciou a sua actividade no interior de Angola, no distrito do Moxico, contando com apoios da população ovimbundu, que representa cerca de 40% da população de Angola. Embora estabelecendo cumplicidades com as gentes do planalto, não conseguiu montar aí a guerrilha, nem tão-pouco viria a implantar-se nos meios urbanos. Embora o número dos seus quadros fosse sempre muito reduzido, conseguiu alguma audiência a nível externo, em especial da China e do Egipto. Teve também alguns apoios por parte da Zâmbia, mas nunca conseguiu construir uma retaguarda firme como foi a do PAIGC em Conacri ou da FRELIMO na Tanzânia.
A UNITA realizou a primeira acção armada em Setembro de 1966 em Lucusse e Calunga e prosseguiu com um ataque a Teixeira de Sousa no Natal do mesmo ano. Em Março de 1967 atacou a linha de caminho-de-ferro de Benguela, importante para as Forças Armadas Portuguesas, mas fundamental para o trânsito de mercadorias da Zâmbia. O incidente acabou por se traduzir em crescentes dificuldades de utilização, por parte da UNITA, do território zambiano. Este facto, contudo, não impediu a guerrilha de penetrar no distrito do Bié, realizando acções na estrada Luso-Gago Coutinho e ao sul de Gago Coutinho, entre as suas bases e a fronteira.
A UNITA contra o MPLA
A UNITA surgiu como opositora do MPLA pelo controlo do Leste do território angolano, o que se traduziu em sucessivos confrontos entre os dois movimentos. Foi então que surgiu a oportunidade de entendimentos com as autoridades militares portuguesas, com base no combate contra o MPLA, que estava então empenhado em alargar a sua acção militar na zona, onde actuava desde 1966. Até 1970 não tinha sido possível ao Exército português responder com eficácia ao alastramento da guerrilha no Leste de Angola. O MPLA tinha chegado ao planalto do Bié, planeando penetrar até ao mar para dividir Angola em duas metades.
Operação Madeira
O comando militar português encontrou uma solução para a zona Leste que incluiu um acordo de cessar-fogo com a UNITA, concretizado em 1972. Este acordo assegurava à UNITA a utilização de uma extensa área nos rios Lungué-Bungo ao sul do caminho-de-ferro de Benguela, zona onde o Exército português não entraria, a troco do combate que o movimento de Savimbi deveria fazer ao MPLA e do fornecimento de informações militares. As autoridades portuguesas comprometiam-se também a fornecer à UNITA alguma ajuda logística e material. Os contactos entre a UNITA e o Exército português estabeleceram-se por intermédio dos madeireiros portugueses que trabalhavam na área de refúgio da UNITA e nas florestas do Moxico, pelo que as diligências efectuadas ficaram conhecidas pelo nome de código de Operação Madeira. Estes acordos mantiveram-se até 1973, quando Costa Gomes e o seu comandante da zona Leste, Bethencourt Rodrigues, deixaram Angola. Os seus substitutos iniciaram, em Setembro de 1973, um ataque às posições de Savimbi, por dois motivos: porque o entendimento dos novos comandantes não se conformava com a situação criada e porque a UNITA, uma vez diminuída a acção dos grupos rivais, queria estender a sua zona de acção ao planalto central.
A correspondência
Em Fevereiro de 1974, os militares portugueses e os guerrilheiros da UNITA iniciaram novos contactos para recuperar a situação existente anteriormente. Contudo, quando se deu o 25 de Abril, não se tinha chegado formalmente ao restabelecimento do cessar-fogo.
A correspondência entre Savimbi e as autoridades portuguesas viria a ser publicada na revista Afrique-Asie, com o título de “La longue trahision de l’UNITA”, no nº 61, de 3 de Julho de 1974, num artigo não assinado, mas de autoria de Aquino de Bragança.
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