Ao completarem-se cinco anos sobre a data do início da guerra em Angola, começam a ser evidentes os primeiros sinais de esgotamento de recursos humanos, para já apenas ao nível dos oficiais e sargentos do Quadro Permanente do Exército. É neste ano que tem início a convocação para o serviço de campanha, em África, dos tenentes milicianos que se encontravam na disponibilidade e não tinham sido mobilizados como oficiais subalternos. São chamados com vista à frequência do Curso de Promoção a Capitão, para serem mobilizados como comandantes de companhia. Por outro lado, o ministro do Exército pode agora, por despacho, autorizar que a promoção de oficiais do Exército ao posto imediato se faça com dispensa da frequência dos cursos de promoção normalmente estabelecidos. Ao nível dos sargentos, o problema agrava-se em proporções idênticas, dificultando ou impedindo mesmo que se mantanha o nível de seis por cada unidade tipo companhia. Esta escassez de militares do QP é particularmente gravosa, porquanto, em contrapartida, o volume dos efectivos do Exército no conjunto Guiné-Angola-Moçambique não pára de subir, ano após ano. De um total de cerca de 97.181 homens, no final de 1965, passa-se para um efectivo conjunto de 107.205, no final de 1966, representando um acréscimo de 10,31%.
Entretanto, a abertura de uma nova “frente” no Leste de Angola, a tão grande distância da zona de operações do Norte, vem criar novas dificuldades às tropas portuguesas, num terreno substancialmente diferente daquele em que, até então, se travara o conflito, e numa área com uma extensão incomparavelmente superior. No imediato, todavia, a constatação dessa realidade não motivou mudanças significativas no dispositivo ou na composição das forças atribuídas à respectiva Zona Militar, mas a pressão dos guerrilheiros a isso irá conduzir num futuro próximo.
Em Moçambique, o alastrar da subversão vai implicar um notável reforço no dispositivo militar. Neste ano de 1966, os efectivos do Exército nesta colónia vão subir dos 22.856 homens presentes no final de 1965, para um total de 30 588 um ano volvido, representando uma acentuada subida, quantificável em 33,83%.
Ao aumento de quantidade dos efectivos não corresponde, todavia, um aumento da qualidade da instrução, bem pelo contrário. A lassidão proporcionada pela vida das unidades em quadrícula, transformada em doutrina pela experiência pessoal dos quadros, fazia com que as unidades se preparassem e preocupassem, sobretudo, com a sua sobrevivência. A ausência de meios técnicos modernos, a reduzida mobilidade e a progressiva melhoria dos meios inimigos representavam para as forças de quadrícula um peso muito difícil de superar. Daí a natural tendência para uma atitude de excessiva prudência. Compreende-se, deste modo, a crescente importância dada às forças especiais (Comandos, Pára-quedistas e Fuzileiros Especiais), fazendo com que as forças terrestres se apresentassem nos teatros de operações em dois registos diferentes; de um lado, as tropas especiais – de queixo levantado e peito para fora, bem instruídas, melhor equipadas, dispondo de grande mobilidade táctica, podendo gozar, no intervalo dos seus empenhamentos, de excelentes condições de repouso e contacto com os meios urbanos mais desenvolvidos, alardeando, por isso, agressividade e motivação –, às quais eram pedidos sacrifícios pontuais extremamente violentos e de elevado risco, vocacionadas que estavam para as missões de carácter ofensivo; do outro lado, cabisbaixas e tristonhas, estavam as unidades da quadrícula ou “tropa macaca” – mal instruídas, pobremente equipadas, com uma mobilidade não muito superior à consentida pelas pernas, castigadas pela permanente acção do inimigo ao longo dos itinerários de percurso obrigatório e, em alguns casos, pelos ataques que o mesmo lançava aos aquartelamentos portugueses, sofrendo os efeitos de um isolamento e de um desconforto de alojamento capazes de fazer esquecer os benefícios da modernidade, contando em cada dia o tempo em falta para o regresso a casa –, forças essas às quais, muito provavelmente, não se poderia exigir muito mais do que a prudência defensiva a que atrás aludimos.
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