Inquérito aos oficiais
Em Maio de 1967, no final de um dos habituais Estágios de Contra-Insurreição realizados no Centro de Instrução de Operações Especiais de Lamego aos oficiais do Quadro Permanente mobilizados para África, a Secção de Acção Psicológica do Estado-Maior do Exército lançou um inquérito aos 70 participantes, com as patentes de capitão, major e tenente-coronel, como já tinha feito no ano anterior nas Regiões Militares da Metrópole. As perguntas eram as seguintes:
A guerra tinha começado havia seis anos em Angola, quatro na Guiné e três em Moçambique, alguns destes oficiais iam para a sua primeira comissão, outros para a segunda, o que permitia obter a opinião dos que conheciam a situação de forma indirecta e de forma directa.
Um sentimento de apatia e de rotina
Nas suas respostas, os oficiais estranhavam a apatia com que o problema da guerra era encarado e manifestavam a convicção de que, se não fossem modificados os métodos rotineiros que vinham sendo passivamente aplicados, a derrota era inevitável.
Tinham consciência da situação e estavam descrentes
A situação actual é muitíssimo grave.
A situação actual das nossas províncias ultramarinas não é brilhante, havendo uma propensão natural para se agravar. A situação actual é má e a maior parte das pessoas não sabe, ou finge não o saber. A evolução da situação tem piorado e, visto que o tempo trabalha contra nós, não se vê que a situação tenda a melhorar.
Parece que a situação do Ultramar não é a melhor. Nós, militares, vemos a situação piorar, enquanto que a população está, em geral, cada vez mais afastada do problema. Temos a guerra duplamente perdida pois, nas zonas afectadas, o inimigo manterá a população sobre o seu controlo e, na retaguarda, a outra parte da população ou se torna indiferente, ou mesmo hostil…
Temiam voltar a ser “bodes expiatórios”
Haverá alguém neste País que, com total consciência, e abstraindo-se de partidarismos, seja capaz de responder a tal pergunta (que pensa do nosso problema ultramarino, da situação actual e da sua evolução?) face aos sistemas que são empregues? Nós, os militares, somos sempre os “bodes expiatórios” de todo o mal…
Não interessa focar agora as causas do nosso problema ultramarino, interessa sim mostrar que pelo caminho que trilhamos, impossível nos é alcançar um objectivo positivo, qualquer que ele seja. (…) A situação vem piorando de ano para ano, porque os nossos políticos resolveram fechar os olhos à realidade, isto é, insistem em vencer pelas armas uma guerra que não se vence assim…
A acção armada não resolve o problema
O Ultramar – um problema nacional. É de todos e não apenas de alguns (os militares). E também internacional – a evolução interna em cada província ultramarina está condicionada pela evolução da política mundial e também pela dos países limítrofes. Até hoje apenas se tem reagido à subversão onde ela aparece e pouco ou nada se tem sido feito para a impedir nas regiões ainda não afectadas particularmente. Uma resposta parece resumir o estado de espírito dos militares: “(…) No decorrer do 7º ano de guerra verificamos que não só a Política não obteve êxitos dignos de nota, tanto no campo interno como externo, como ainda as Forças Armadas, em número reduzido e com carências materiais de todos conhecidas, não têm podido, ao longo deste período, manter mais que uma situação que, embora permitindo a vida normal das populações em certas áreas, não resolve de forma alguma o problema de base, que é eliminar os movimentos terroristas. Desta forma, e porque o tempo conta a favor dos elementos da subversão, não se vislumbra que a situação possa evoluir favoravelmente, a manterem-se os actuais condicionamentos político-militares”.
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