Directiva de Spínola para o “Estudo da remodelação do dispositivo da Guiné”.
Acabado de chegar a Bissau, Spínola começou a colocar em prática as suas ideias. Nesta primeira directiva mandou o seu Estado-Maior estudar a remodelação do dispositivo, mas adiantou desde logo os seus conceitos, começando pela definição de dispositivos, como sendo “a articulação de meios para o cumprimento de uma missão, segundo uma ideia de manobra”.
A directiva está articulada nos seguintes pontos: esboço da manobra, em que o território seria dividido em áreas bem definidas quanto ao grau de controlo das populações; missão genérica às forças em Sector, em que a primeira delas é o controlo da população; princípios doutrinários a respeitar, reforçando o conceito de que na guerra subversiva o objectivo principal dos dois partidos em presença é a conquista das populações e que o terreno só vale pela população que nele está implantada.
Um avião Fiat G 91 é abatido por fogo de metralhadora junto à fronteira com a Guiné-Conacri.
Um avião Fiat G 91 pilotado pelo tenente-coronel Francisco da Costa Gomes, comandante do Grupo Operacional 1201 – Guiné, foi abatido por fogo antiaéreo de metralhadoras de 12,7mm, disparado a partir da fronteira da Guiné-Conacri. O piloto ejectou-se e foi recuperado.
Directiva operacional da Região Militar de Moçambique “Para a acção contra a realização do II Congresso da FRELIMO”.
Em 28 de Julho, o Quartel-General da Região Militar de Moçambique emitiu uma directiva às Forças Armadas para a realização de acções que impedissem a realização do II Congresso da FRELIMO. Esta directiva foi assinada pelo brigadeiro Francisco da Costa Gomes, na qualidade de comandante interino da RMM, e nela era admitido que o congresso se deveria realizar em 31 de Julho, em “território nacional” junto à fronteira da Tanzânia e do Lago Niassa, no canto noroeste do território, ou, em alternativa, em qualquer local no distrito de Cabo Delgado.
O congresso tinha-se realizado dias antes, sem qualquer interferência das forças portuguesas.
Progressão do MPLA na Rota Agostinho Neto: o primeiro grupo do destacamento Certeza, do MPLA, instala-se na margem esquerda do rio Lualo, a sueste de Nova Chaves (no seu objectivo), vindo o seu posto de comando a receber o nome de código “Kaladende”.
Lançamento à água da lancha de desembarque LDP 105 no rio Cuíto.
A partir de 1968 foi visível que o esforço das Forças Armadas Portuguesas em Angola se transferiu para o Leste. A Marinha tinha lanchas nos três rios principais – no rio Zambeze, no Chilombo, a LDP 208 e um DFE; no rio Cuando, a LDP 210 e um DFE; no rio Cuíto, uma LDP e uma Companhia de Fuzileiros.
Anúncio da construção da fábrica de aviões Impala, na África do Sul.
Os aviões serão construídos por um consórcio da Alemanha Ocidental com a companhia americana Atlas Aircraft Corporation e será instalada na Cidade do Cabo. A fábrica planeava construir 300 aviões, o que satisfaria as necessidades da RAS, como da Rodésia.
A Alemanha Ocidental estava também a apoiar a África do Sul na produção de minas, granadas e bombas de avião.
Acidente de Salazar no Forte de Santo António, no Estoril.
Salazar sofreu um acidente vascular cerebral no Forte de Santo António, em São João do Estoril. As consequências do acidente – conhecido como a queda da cadeira – só se farão sentir cerca de um mês depois.
A secção “Pachanga” do MPLA instalA-se na região de Luatxe, juntamente com a primeira secção do destacamento BBKO para tentarem realizar a ligação do Leste ao Norte (Rota Agostinho Neto).
Informação da ONU sobre refugiados das colónias portuguesas.
Segundo a organização da ONU para os refugiados, a guerra nas três colónias portuguesas provocara, até à data, os seguintes refugiados nos países vizinhos:
300 000 de Angola no Congo-Kinshasa;
61 000 da Guiné no Senegal;
122 000 de Moçambique na Zâmbia e Tanzânia.
Não estavam contabilizados os refugiados angolanos na Zâmbia, nem na Namíbia, os refugiados da Guiné na Guiné-Conacri, nem os moçambicanos no Malawi. Ao todo, as organizações especializadas da ONU consideram que a guerra colonial teria provocado entre 1,5 a 1,7 milhões de refugiados das três colónias portuguesas.
A África do Sul coloca um adido militar em Blantyre (Malawi).
As relações do Malawi com os regimes de Portugal e África do Sul eram claramente assumidas pelo presidente Banda. Portugal também tinha um adido militar acreditado no Malawi.
Entraram Manuel Pereira Crespo (Marinha), em substituição de Quintanilha Mendonça Dias; Bettencourt Rodrigues (Exército), em substituição de Luz Cunha; Gonçalves Rapazote (Interior), José Hermano Saraiva (Educação), João Dias Rosas (Finanças), José Canto Moniz (Comunicações) e Joaquim de Jesus Santos (Saúde).
João Dias Rosas, novo ministro das Finanças, julgava o projecto de Cahora Bassa muito acima da capacidade de realização de Portugal e defendia uma maior participação financeira da África do Sul.
Um “comando” da Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR) tenta ocupar a cidade da Covilhã, mas a operação fracassa devido à prisão de alguns dos dirigentes e operacionais.
Combates intensos entre Gandembel, Guileje e Aldeia Formosa, no Sul da Guiné, junto à fronteira com a Guiné-Conacri.
Em 22 de Agosto foram detectadas 27 minas no itinerário Gandembel-Aldeia Formosa e uma coluna portuguesa foi emboscada sofrendo sete feridos. A 23 de Agosto o PAIGC flagelou, com canhão sem recuo, Gandembel e Ponte Balana. A 24 emboscou forças da Companhia de Pára-quedistas 122 em Gandembel, causando um ferido, e realizou três ataques ao aquartelamento. A 25 flagelou com morteiro Gandembel, Aldeia Formosa e Nhala. A 26 flagelou Gandembel durante três horas, tendo sido referenciados 50 rebentamentos no interior do quartel. Flagelou ainda Ponte Balana. A 26 emboscou forças da Companhia de Caçadores 2316 junto ao rio Dade, causando feridos.
Realização de 1ª Assembleia Regional da 3ª Região Militar do MPLA no Moxico, com a presença de Agostinho Neto e vários jornalistas.
Em Fevereiro tinha ocorrido a assembleia das 1ª e 2ª Regiões Militares do MPLA (Norte e Cabinda), agora realizava-se a assembleia da 3ª Região, a do Leste, a mais importante na estratégia do MPLA.
A assembleia estava prevista para durar apenas três dias, mas prolongou-se por mais três.
Foi presidida por Agostinho Neto e estiveram presentes dois jornalistas americanos, dois italianos, um indiano e um zambiano. As principais resoluções foram rectificar a estrutura dirigente do MPLA, nomear novos comandos para as regiões militares, estruturar um plano de actividades para a IV Região Militar e foi decidido transferir o comando central para o interior de Angola. A estrutura ficou assim constituída por um Congresso e um Comité Director, cujo presidente era Agostinho Neto. Foi criada uma Comissão Militar, com um comando militar que tinha as regiões militares como órgãos de execução operacional.
A composição da direcção da III RM (Leste) era muito diferente das outras, pois tinha uma comissão directiva separada do comando militar, que foi atribuído ao comandante Toka. Para comandante da IV RM foi nomeado Ivan Castro e para as zonas urbanas Iko Carreira.
A Operação Nova Luz foi uma das grandes operações realizadas em Angola. A sua finalidade era atacar o MPLA na sua I Região Militar, onde o movimento tinha realizado acções muito violentas contra as forças portuguesas. O MPLA tentava ligar as áreas operacionais do Norte aos seus Comités de Acção Clandestina em Luanda e realizar acções na estrada de Luanda para Sul, o que causaria grande perturbação e teria grande impacto nas populações.
O objectivo era destruir as organizações de guerrilheiros entre a Fazenda Maria Fernanda e o rio Dange e abrir itinerários para futuras operações. A Nova Luz teve início a 28 de Agosto e prolongou-se por vários meses. Como aconteceu muitas vezes durante a guerra, as grandes operações tiveram pequenos resultados. Na Nova Luz foram destruídos 17 quartéis do MPLA (abandonados) e causadas muito poucas baixas.
Apesar disso, o general Edmundo da Luz Cunha, que determinou a sua realização, entendeu produzir doutrina com a experiência colhida, afirmando na apreciação ao seu relatório “que este é o tipo de operação mais aconselhável em regiões onde o In se encontra em permanência e devidamente organizado”.
Ataque ao quartel de Cassacatiza (Bene) em Tete, Moçambique.
Além deste ataque ao quartel, foi alvejado com metralhadoras antiaéreas um avião T-6 que atacava a Base Quelimane, no dia 5 de Setembro, e dois dias depois, a 7, outro avião T-6 foi alvejado junto ao rio Luatize. Estas acções, junto a Cassacatiza, na fronteira do Malawi, poderão ter sido da responsabilidade da FRELIMO, ou de elementos do Coremo.
Revelada publicamente a doença de Salazar, submetido a uma intervenção cirúrgica a um hematoma. A tensão, a intriga e, sobretudo, um sentido de orfandade dominam os círculos do poder.
Ao colocar minas em alguns itinerários da zona de Tete, a FRELIMO aumentava a sua capacidade operacional nesta zona.
No dia 12 de Setembro foram accionadas minas na estrada de Cassacatiza (Bene), com destruição de uma viatura, o que causou dois feridos graves a uma força do Batalhão de Cavalaria 2850. No regresso, a mesma coluna accionou nova mina que lhe causou um morto e um ferido.
Directiva do Comandante-chefe da Guiné, brigadeiro António de Spínola, sobre o “Exercício de comando na conduta de acções de combate”, em que são admitidos erros graves cometidos pelas NT (nossas tropas) frente ao inimigo.
A directiva afirma que dos erros resultava: “Não se cumprirem integralmente as missões; um aumento desnecessário de baixas e, em consequência, um muito sensível abaixamento moral das NT que, na generalidade, se encontram complexadas perante um inimigo melhor armado e manobrador”.
Considerado irreversível o estado de saúde de Salazar.
Salazar sofreu uma trombose cerebral e entrou em coma.
Américo Tomás ficou no centro de decisão do Estado e, pela primeira vez em dez anos de figuração mais ou menos ornamental como Chefe de Estado, teve de agir sem a caução prévia de Salazar.
Américo Tomás convoca de emergência uma reunião do Conselho de Estado, expondo a necessidade de medidas imediatas.
Estiveram presentes Mário de Figueiredo, Luís Supico Pinto, Albino dos Reis, Marcelo Caetano, João Leite Lumbrales, Fernando Santos Costa, Manuel Ortins de Bettencourt, Pedro Teotónio Pereira, José Soares da Fonseca, João Antunes Varela e José Osório.
Alguns conselheiros defenderam a nomeação de um substituto provisório até existir um diagnóstico inequívoco da doença de Salazar.
Outros consideraram desvantajosa a solução da interinidade. Mas todos delegaram em Tomás a decisão final.
Ronda de conversações do presidente da República, Américo Tomás, pelos chefes militares, ministros e demais figuras do regime, antes de convidar Marcelo Caetano para suceder a Salazar.
Vários nomes foram considerados para suceder a Salazar, como os de Antunes Varela, Adriano Moreira e Franco Nogueira.
Depois de optar por Marcelo Caetano como o que reunia o maior consenso entre as várias facções do regime, Américo Tomás exige-lhe que mantenha a política africana. Marcelo Caetano responde que quer sufragá-la nas eleições de 1969 e Tomás interrompe-o afirmando que se o resultado for negativo as Forças Armadas intervirão.
A ameaça de intervenção das Forças Armadas caso ocorressem mudanças na política colonial pairará sempre sobre Marcelo Caetano, que nunca conseguiu libertar-se desse receio, nem conseguiu ganhar uma parte significativa da sua hierarquia para qualquer outra solução que não fosse a continuação da guerra.
Como muitos políticos portugueses marcados pela instabilidade da I República, Marcelo Caetano tinha dos militares portugueses uma visão conspirativa.
Reacção dos guerrilheiros da FRELIMO em Tete a um ataque da aviação com tiro antiaéreo.
Guerrilheiros da FRELIMO reagiram com tiro antiaéreo ao ataque de dois aviões T-6 na região de Furancungo, e, na região do Bene, atingiram uma outra aeronave.
Este tipo de reacção dos guerrilheiros revela que já não pretendiam apenas passar despercebidos, mas que dispunham de meios de defesa e de iniciativa para ripostar à aviação portuguesa.
Emboscada da FRELIMO na zona de Marrupa (Niassa Oriental), a uma força de militares portugueses, causando cinco feridos graves e a destruição de uma viatura.
Operação Exarco realizada por forças portuguesas na Zona Militar Leste, área de Moxico, durante a qual foi destruído o quartel-general da III Região Militar do MPLA (acampamento Dengue).
O heliassalto foi executado a 25 de Setembro por Pára-quedistas da 3ª BCP 21 a SE da serra de Muié.
Foram feitos 11 prisioneiros (dois homens, sete mulheres e duas crianças) e destruídas 40 cubatas.
O acampamento Dengue, da III Região Militar do MPLA, estava perfeitamente camuflado, fortificado, rodeado de trincheiras e tinha 40 cubatas.
No assalto foi morto o comissário político e “Mundo Leal”, comandante da Zona C da III Região Militar do MPLA. Foi capturada bagagem com muitos documentos do dr. Américo Boavida, médico e militante do MPLA.
Entre os documentos figurava o Plano Geral do Movimento, estabelecido em Janeiro de 1968 e que constituiu a orientação para a acção do MPLA. Através dele as forças portuguesas ficaram a conhecer com pormenor o Plano Geral do Movimento, que continha um Plano Militar, o qual estabelecia como objectivos a conquista de localidades de forças inimigas, principalmente onde ela era fraca, a intenção de ganhar o controlo efectivo de determinadas zonas do país, a organização de guerrilhas em zonas onde elas ainda não existiam, criação de novas regiões militares (a IV, na Lunda, e a V, no Bié), o estabelecimento de via de ligação entre a I e a III Regiões Militares.
Este plano militar, atribuído a Iko Carreira, dava uma ênfase especial à actuação na III Região Militar em virtude de ser a que apresentava melhores condições para servir de trampolim para a criação de novas regiões.
A progressão do MPLA ao longo da Rota Agostinho Neto fazia parte de plano e era o seu elemento mais importante.
Operação Luambi dos comandos na região de Cuíto Canavale, com um elevado número de mortos.
Durante a Operação Luambi realizada na região de Cuíto Canavale forças de Comandos helitransportados, apoiadas por uma força da Companhia de Caçadores local, causaram 65 mortos e dois feridos num heliassalto nas margens do rio Maconde.
Esta foi uma operação com as características das Siroco que se iriam realizar nos anos seguintes, em 1969 e 1970.
Morte do médico Américo Boavida do MPLA, num ataque das forças portuguesas no Leste.
A notícia da morte do médico Américo Boavida no Leste de Angola, durante um ataque aéreo das forças portuguesas a um quartel do MPLA, causou algum impacto em Luanda, onde era umafigura respeitada e considerada.
Muita gente pobre ainda se lembrava de ele exercer medicina gratuitamente num pequeno apartamento em Luanda e muitas mulheres tinham ido ao seu consultório de médico especialista de ginecologia e obstetrícia.
O Comando Militar português em Luanda, ao anunciar a morte do doutor Boavida numa longínqua base de guerrilheiros do MPLA como uma vitória, provocou um
choque na sociedade angolana de que, por lhe ser estranho, não se apercebeu.
Boavida não era um negro qualquer que podia ser atirado para a categoria de “terrorista” pelos serviços de informação militar e que assim morria ignorado. Para os
antigos colegas de Américo Boavida no liceu Salvador Correia, onde estudou, para os amigos do bairro das Ingombotas onde nasceu, ele era um dos seus e, com a sua morte, a “vitória militar” anunciada pelos portugueses era a morte dos seus. Este sentimento de que a vitória militar estava a ser conseguida à custa da morte dos membros da sua sociedade agravar-se-ia com a morte de Hoji Henda, algum tempo depois, e também no Leste.
Américo Boavida era um médico conceituado, que tinha nascido em Luanda a 20 de Novembro de 1923, licenciando-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Regressou a Angola em 1955, optando por exercer Medicina por conta própria, por não pretender servir os hospitais do Estado colonial.
Exercia em dois consultórios, um na Baixa de Luanda para ginecologia e obstetrícia, o outro num pequeno apartamento, onde atendia pacientes mais pobres.
Em 1960, perante a ameaça de ser preso pela PIDE, saiu de Angola e participou na fundação do MPLA, em Conacri, e acompanhou Viriato da Cruz e Lúcio Lara na sua
deslocação para Leopoldville.
Como resultado das divergências no MPLA instalou-se em Marrocos e depois em Praga. Em Janeiro de 1967 respondeu a um apelo da direcção do MPLA para servir
como médico na recém-aberta Frente Leste.
Deslocou-se para a nova área de operações do MPLA acompanhado por José Mendes de Carvalho, Hoji ya Henda, e durante quase dois anos desenvolveu uma intensa actividade médico-sanitária nas regiões do Moxico e do Cuando-Cubango, organizando os Serviços de Assistência Médica do MPLA.
Na manhã do dia 25 de Setembro de 1968, na “Base Hanói II”, um lugar perto do rio Luati e da floresta de Cambule, morreu num bombardeamento aéreo português.
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