No início dos anos 60, a Força Aérea tinha muito poucos meios em Moçambique. No final de 1961 existiam meia dúzia de T-6 e de Douglas C-47 destacados na Beira, que fizeram as primeiras saídas operacionais em 1963. Em 1964 foram criados campos de aviação em Nampula e Vila Cabral, e a FAP aumentou o número de aeronaves até cerca de uma dúzia de T-6, oito PV-2 Harpoon, doze DO-27 e a alguns helicópteros Alouette II e mais tarde Alouette III.
O Comando da Força Aérea na Beira e a guerra a norte
O quartel-general da 3ª Região Aérea e Base Aérea 10, a principal instalação da Força Aérea em Moçambique, estavam na Beira, no centro do território, enquanto a guerrilha executava a suas acções no Niassa e em Cabo Delgado, bem no Norte, junto à fronteira com a Tanzânia.
Esta localização do comando dos meios aéreos, que era de início claramente excêntrica relativamente à área de operações, veio a revelar-se adequada com o desenvolvimento da guerra e o alastramento das acções da guerrilha para Tete e para o corredor da Beira.
1964–1966
Entre 1964 e 1966, o poder aéreo foi utilizado sobretudo para impedir a penetração de guerrilheiros através das fronteiras, atacando as suas bases e as suas rotas de infiltração e apoiando as forças terrestres. Os meios disponíveis em Nampula e Vila Cabral eram já insuficientes para este efeito e tornaram-se ainda mais críticos quando da declaração unilateral de independência da Rodésia.
“A guerra da Beira”
A declaração unilateral de independência da Rodésia em 1966 envolveu Portugal e as Forças Armadas Portuguesas na chamada “guerra da Beira”, resultante do bloqueio declarado pelas Nações Unidas e efectuado pelo Reino Unido ao porto da Beira. A FAP foi envolvida na crise que sobreveio e os PV-2 foram utilizados para prevenirem uma eventual invasão de Moçambique pelos ingleses, sendo reforçados por oito F-84G vindos de Luanda.
Moçambique: um território muito difícil de controlar
Moçambique foi o teatro de operações mais difícil de controlar operacionalmente. A Força Aérea sentiu grandes dificuldades devido às grandes distâncias entre a base principal, na Beira, e as zonas de operações no Niassa e em Cabo Delgado. Para apoiar as operações no Niassa foi criado o AB 6 em Vila Cabral (mais tarde transferido para Nova Freixo, enquanto em Vila Cabral era criado o AM61); para Cabo Delgado o conceito repetiu-se, sendo criado o AB5 em Nacala e o AM51 em Mueda. Os AB de Nova Freixo e de Nacala dispunham de uma esquadra de apoio de fogo ligeiro, com DO-27 e T6 e de uma esquadra de helicópteros. A solução era teoricamente correcta, mas os problemas surgiram com o aumento de intensidade da guerra, que exigiam maiores níveis de esforço dos meios, o que veio a revelar as limitações destes. No Niassa, a partir de 1968, a situação foi razoavelmente controlada porque a FRELIMO utilizou esta zona para passagem em direcção a Tete e diminuiu as acções directas contra as forças portuguesas. Já em Cabo Delgado a questão degradou-se progressiva e irremediavelmente. Cabo Delgado transformou-se até ao final de 1970 na grande zona de confronto entre as forças portuguesas e as da FRELIMO, provocando grandes necessidades de apoio de fogo, quer em acções independentes sobre objectivos identificados (bases e acampamentos), quer em apoio próximo a unidades do Exército, quer em transporte ligeiro e, principalmente, em evacuações. Para acções de ataque e apoio de fogo, a FAP dispunha apenas de T-6 e de DO-27, com armamento e capacidades muito limitadas. Os Fiat G91 que foram colocados em Nacala só dificilmente podiam operar no Planalto dos Macondes, porque a sua autonomia não lhes permitia sair e voltar de Nacala e permanecer por tempo útil sobre a área de operações. Por isso, numa primeira fase, os Fiat operavam aos saltos: o primeiro, de Nacala para a zona de operações, onde largavam as bombas e aterravam em Porto Amélia, no limite do combustível. Eram reabastecidos e voavam para Nacala, para serem rearmados, reiniciando o ciclo.
A Operação Nó Górdio
Para a Operação Nó Górdio, o general Kaúlza de Arriaga determinou a extensão da pista de Mueda de modo a torná-la praticável para a operação dos Fiat. Embora com limitações, esta pista permitiu que os caças-bombardeiros a reacção apoiassem a operação.
A frente de Tete
A solução de Mueda teria sido adequada se a FRELIMO não tivesse transferido o seu esforço do Norte para Tete, obrigando as forças portuguesas a reorientarem-se para aquela área. Isto obrigou a Força Aérea a repetir a organização que já tinha no Niassa e em Cabo Delgado. Assim foi criado o AB7 em Tete, com as mesmas funções e organização dos AB6 em Nova Freixo e AB5 em Nacala e com Aeródromos de Manobra em Furancungo, Chicoa e Mutarara para apoiarem as forças em operações.
As acções – ataque e guerra química
As acções mais importantes da Força Aérea no Norte de Moçambique foram os ataques a bases identificadas, principalmente junto à fronteira com a Tanzânia – Base Beira, Mataca, Catur, Moçambique, Gungunhana, entre outras, e o apoio às grandes operações lançadas pelo general Kaúlza de Arriaga, a Nó Górdio e a Fronteira. Em algumas destas operações foram utilizados intensamente napalm e produtos químicos desfolhantes.
Guerra psicológica
Em Dezembro de 1971 e em Maio de 1972, a Força Aérea esteve envolvida numa operação de guerra psicológica, lançando panfletos no Sul da Tanzânia contra o presidente Nyerere.
Cooperação com a Força Aérea da Rodésia
Em Tete, as acções da Força Aérea foram muitas vezes realizadas em cooperação com a Força Aérea Rodesiana. O AM de Chicoa, junto à barragem de Cahora Bassa, tal como aconteceu em Angola com o Cuíto Canavale, foi um centro de cooperação aérea, envolvendo um destacamento de helicópteros ALIII, de aviões ligeiros e uma unidade de pisteiros (selous scouts).
O interessado apoio da África do Sul e da Rodésia
A África do Sul e a Rodésia desempenharam um papel muito importante na guerra e fizeram-no em boa parte através das suas forças aéreas, que cooperaram intensamente com a Força Aérea Portuguesa em Angola e em Moçambique. Estes dois países governados pelas minorias brancas estavam muito interessados na forma como Portugal combatia os movimentos de libertação e preocupava-os uma possível derrota. Inicialmente o apoio da Rodésia e da África do Sul foi limitado ao fornecimento de material e armamento, mas, a partir de 1968, os sul-africanos começaram a fornecer helicópteros Alouette III com as respectivas tripulações e, por fim, várias companhias de Infantaria das South African Defence Forces (SADF) foram destacadas para o Sul e o Centro de Angola, para junto das minas de ferro de Cassinga.
3ª Região Aérea – Moçambique
Comando
BA10 – Beira
AB5, Nacala
AB6, Vila Cabral, (mais tarde em Nova Freixo)
AB7, Tete
AB8, Lourenço Marques
Aeródromos de Manobra
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