1961 - O princípio do fim do império

LUANDA

OS ACONTECIMENTOS DE 4 DE FEVEREIRO

Os nacionalistas angolanos consideram os acontecimentos do 4 de Fevereiro de 1961 como o início da rebelião armada em Angola contra o colonialismo português e da luta pela independência. Contudo, estes ataques apanharam de surpresa Mário de Andrade e os outros dirigentes do então incipiente MPLA, instalados na Guiné-Conacri, assim como os dirigentes da UPA, instalados em Leopoldville a preparar o ataque ao Norte de Angola que viria a ser desencadeado a 15 de Março.

Por detrás do assalto às prisões não se encontrava uma organização estruturada, um partido ou um movimento com uma liderança clara, com um programa de acção visando o desencadear da luta armada para obter a independência de Angola. Mas Mário de Andrade, Viriato da Cruz e Lúcio Lara, os dirigentes do MPLA da altura, perceberam imediatamente que tinham que reivindicar para o seu movimento a responsabilidade dos acontecimentos.

Ao fazê-lo, o MPLA, maioritariamente constituído por intelectuais e estudantes no exílio, assumiu a paternidade do lançamento da luta armada contra o colonialismo português, um mês e meio antes da violência desencadeada no Norte de Angola pela então mais conhecida União das Populações de Angola (UPA).

Vista panorâmica de Luanda.[MG]

A competição MPLA – UPA

Para o MPLA, era importante passar à acção directa e competir com a UPA.

Em finais de 1961 e princípios de 1962, Mário de Andrade, Viriato da Cruz e Lúcio Vara, do MPLA, transferiram a direcção do movimento para Leopoldville, capital do recentemente independente Congo. Leopoldville era a escolha óbvia para o MPLA estabelecer uma base exterior e lançar a sua própria luta armada: estava próxima da fronteira com Angola e era a capital de um Estado africano independente, com uma comunidade significativa de angolanos refugiados. Apesar disso, o movimento encontrou sérias dificuldades para se instalar, devido ao facto de a UPA/FNLA estar já muito bem implantada em Leopoldville. A competição entre o MPLA e a UPA, mais tarde transformada em FNLA, começava e manter-se-ia ao longo de toda a guerra. Esta competição era um mau começo e teria sérias consequências no desenrolar da luta contra os portugueses.

4 de Fevereiro 1961: ataque às prisões

Na madrugada de 4 de Fevereiro, alguns grupos de patriotas angolanos sob a orientação de Neves Bendinha, Paiva Domingos da Silva, Domingos Manuel Mateus e Imperial Santana, dispondo de cerca de 200 homens empunhando catanas, efectuaram várias acções armadas na cidade de Luanda contra objectivos específicos da estrutura colonial portuguesa. Um grupo montou uma emboscada a uma patrulha da Polícia Móvel que se deslocava de carro na zona da “Casa Branca”, no Bairro do Sambizanga, tendo eliminado os seus quatro ocupantes. Depois de terem capturado as armas, tentaram sem êxito tomar de assalto a Casa da Reclusão Militar, onde se encontrava a maioria dos presos políticos do “Processo dos 50”, que, segundo notícias que circulavam na cidade, iriam ser transferidos para o Tarrafal.

Outros grupos atacaram simultaneamente, com armas artesanais, a cadeia da PIDE no Bairro de S. Paulo, a cadeia da 7.ª esquadra da Polícia de Segurança Pública à estrada de Catete e tentaram ainda ocupar a Emissora Oficial de Angola e o edifício dos Correios.

Chamar a atenção

Alem de libertar os presos, esta acção pretendia chamar a atenção para a situação colonial aos numerosos jornalistas interessados na cobertura do sequestro do paquete Santa Maria pelo capitão Henrique Galvão, que se pensava ter a cidade de Luanda como destino final, e ainda para o que se estava a passar na Baixa do Cassange, onde os camponeses revoltados estavam a ser atacados pelos militares portugueses.

Nos assaltos, os amotinados sofreram 15 mortos e um número indeterminado de feridos.

No dia dos funerais dos agentes da polícia e nos que se seguiram aos ataques da madrugada de 4 de Fevereiro, verificou-se uma “caça ao homem” por parte dos colonos europeus contra os negros dos bairros populares de Luanda.

Funerais dos polícias mortos no 4 de Fevereiro em Luanda. [DGARQ-TT-Flama]

A segunda tentativa Na madrugada de 10 de Fevereiro, 124 homens, comandados por Agostinho Cristóvão, que reorganizou o que restava dos participantes no 4 de Fevereiro, atacaram as dependências da Administração Civil de São Paulo e a Companhia Indígena. Estes assaltos fracassaram; 112 homens foram presos no Forte de S. Pedro e 22 foram mortos.

Os presos foram torturados e interrogados. Conforme se lê num relatório da PIDE, não se instruíram os processos em “moldes legais”. Raros sobreviveram.

A maioria desapareceu sem deixar rasto.

Pouco tempo após a chegada ao Congo, Viriato da Cruz viu-se afastado da direcção do movimento, cuja chefia foi entregue a Agostinho Neto, um dos nacionalistas angolanos mais conhecidos da altura, legitimado pela sua passagem por prisões portuguesas. Neto representava a aposta do MPLA no sentido de unir debaixo da sua liderança os vários grupos anticolonialistas angolanos.

Na primeira conferência do movimento, em Dezembro de 1962, Agostinho Neto tornou-se presidente e estabeleceram-se novas prioridades para o MPLA. No seu discurso aos quadros, Neto sublinhou a importância de o MPLA iniciar actividades militares no interior de Angola, em vez de focar todas as suas atenções na procura de apoios externos. Mas, apesar destas palavras, a tendência do MPLA para o circuito internacional continuou a ser característica das suas actividades durante a guerra. De facto, os primeiros meses de 1963 foram mais dedicados ao exterior do que ao interior de Angola. Depois de assumir a liderança do MPLA, Neto efectuou um intenso périplo internacional aos Estados Unidos, Norte de África e Europa, para se apresentar e angariar apoios.

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