1961 - O princípio do fim do império

Os Acontecimentos

  • 05
      06/1961

    05/06/1961 - 

    Início do 1º Curso de Fuzileiros.

    Em Vale de Zebro, a Marinha deu início ao primeiro curso de Fuzileiros. A directiva para o seu início referia que este Curso se destinava “a preparar rapidamente o primeiro Destacamento de Fuzileiros Especiais que irá reforçar o dispositivo da Marinha em Angola”.
    A decisão de reconstituir unidades de Infantaria de Marinha foi tomada pelo Ministério da Marinha por “após os inícios das ocorrências em Angola se ter constatado que, apesar da valorosa acção das forças de desembarque das unidades navais presentes na área, a Marinha necessitava de unidades especialmente treinadas para operar em terra em acções contra guerrilha”. Assim, em 1961, foram criadas a nova classe de sargentos e praças – Fuzileiros – e as respectivas unidades operacionais: Batalhões, Companhias e Pelotões de Fuzileiros e Destacamentos de Fuzileiros Especiais.

    Fuzileiros: uma necessidade da Marinha
    A criação destas unidades resultou de uma necessidade da Marinha, mas nunca foi enquadrada nas necessidades gerais das Forças Armadas.
    Este tipo de decisões, em que cada ramo das Forças Armadas definia as suas necessidades e criava as suas unidades, como se houvesse uma guerra da Marinha, outra do Exército e outra da Força Aérea, foi uma constante ao longo de toda a guerra.
    Os Destacamentos de Fuzileiros Especiais e as Companhias de Fuzileiros organizaram-se de acordo com a doutrina da Marinha e sem qualquer coordenação com o Exército, que seria responsável pelo dispositivo operacional e pelo emprego das forças.

    Dificuldades de emprego e missões inadequadas
    Deste conceito resultaram grandes dificuldades de emprego, sentidas quer pelos Fuzileiros, quer pelos comandos militares no terreno.
    Os Destacamentos, de 75/80 homens, tinham efectivos inferiores em cerca de 1/3 relativamente às companhias de Caçadores, incluindo as de Pára-quedistas e de Comandos, e não dispunham de elementos de apoio nem de serviços de alimentação e transporte. Estas características limitavam o seu emprego como unidades de intervenção ao lado das companhias de Comandos e de Pára-quedistas. Por força do seu menor efectivo, a sua capacidade de manobra era inferior. Por ausência de apoios, os seus tempos de emprego nas zonas de operação também eram mais reduzidos. Como, por outro lado, pelo seu recrutamento e treino, eram excessivamente valiosos para serem empregues na defesa de pontos sensíveis, uma missão que devia ser desempenhada pelas companhias de Fuzileiros que, essas sim, tinham efectivos (140 homens) e orgânica semelhantes às companhias de Caçadores em quadrícula, era muito difícil aos comandantes-chefes atribuírem-lhes missões adequadas.
    Antes de uma verdadeira necessidade operacional, que nunca foi estudada nem estabelecida ao nível do Ministério da Defesa, a criação dos Destacamentos de Fuzileiros Especiais e, em certa medida, das companhias de Fuzileiros, resultou da necessidade da Marinha dispor de unidades para participar na guerra nos cenários terrestres onde ela se iria travar.

    Exercício de Fuzileiros com botes. [DGARQ-TT-SNI]

  • 06
      06/1961

    06/06/1961 - 

    Início do 1º Curso de Enfermeiras Pára-quedistas.
    Das 11 candidatas que iniciaram o curso, seis conquistam a Boina Verde.
    Pela primeira vez na história militar portuguesa as mulheres têm lugar nas fileiras.

  • 08
      06/1961

    08/06/1961 - 

    Primeiro avião da Força Aérea desaparecido em Angola, com três tripulantes a bordo.

    Tratava-se de um avião PV-2 que apoiava as operações do Batalhão de Caçadores 92 na reocupação da zona da fronteira, depois de ter partido do Negage em direcção ao Puri, Sanza Pombo e Quimbele.

    Os destroços vieram a ser descobertos perto de Cangola.

  • 09
      06/1961

    09/06/1961 - 

    Aprovação, pelo Conselho de Segurança da ONU, de uma resolução deplorando profundamente os massacres e demais medidas de repressão da população angolana, podendo a persistência desta situação comprometer a manutenção da paz e segurança internacionais.

  • 14
      06/1961

    14/06/1961 - 

    Reocupação do Tomboco por uma força da Marinha.

  • 17
      06/1961

    17/06/1961 - 

    Posse, em Lisboa, do cargo de governador-geral e comandante-chefe de Angola, do general Venâncio Deslandes.

    Segundo o que Adriano Moreira relata no livro A Guerra de África 1961-1974, de Freire Antunes, Salazar escolheu Venâncio Deslandes para governador-geral e comandante-chefe de Angola ao ler o anuário com a lista dos oficiais das Forças Armadas e dizendo ao apontar o nome – “este é o menos mau”.

    Venâncio Deslandes era um típico oficial do regime, pertencia ao grupo dos que haviam criado uma teia de relações familiares entre os que desempenhavam altos cargos, era cunhado de Botelho Moniz, fizera carreira entre cargos políticos e militares, era general da Força Aérea e embaixador em Madrid.

    Considerou a nomeação para este cargo como um passo mais na sua promoção pessoal, que poderia levá-lo à Presidência da República por caminhos diferentes dos do seu companheiro de Arma Humberto Delgado.

    Em Angola impulsionou uma política de autonomia, apoiado nas elites económicas locais, o que lhe granjeou simpatias e o fez entrar em conflito com o ministro do Ultramar, Adriano Moreira.

  • 19
      06/1961

    19/06/1961 - 

    Ataque dos guerrilheiros da UPA à vila de Ambriz, com utilização de armas automáticas.

  • 22
      06/1961

    22/06/1961 - 

    Criação da Secretaria de Estado de Aeronáutica que substituiu a Subsecretaria de Estado, mantendo-se como titular Kaúlza de Arriaga.

    Kaúlza de Arriaga, até aí subsecretário de Estado, pretendia que fosse criado um Ministério da Aeronáutica, à semelhança dos Ministérios da
    Marinha e do Exército. Salazar, que não lhe apreciava a ambição nem os métodos para conseguir os seus objectivos, não lhe concedeu essa promoção mas, dado o papel que Kaúlza desempenhara na contenção do golpe de Botelho Moniz, elevou-o à categoria de secretário de Estado.

    Embarque de tropas para uma operação helitransportada. [Revista Mais Alto].

  • 24
      06/1961

    24/06/1961 - 

    Reocupação de Cuimba, a este de São Salvador do Congo.

  • 27
      06/1961

    27/06/1961 - 

    Visita a Lisboa, para conversações com o Governo, de Dean Rusk, secretário de Estado norte-americano.

  • 28
      06/1961

    28/06/1961 - 

    Inauguração da Conferência de Estados Africanos Dependentes organizada pelo Grupo de Casablanca, no Gana, com o tema “A situação de Angola será criada em todos os países dependentes e o mundo ouvirá a voz de África”.

  • 30
      06/1961

    30/06/1961 - 

    Primeiro comunicado oficial das Forças Armadas, referindo a morte de 50 militares entre 4 de Fevereiro e 30 de Junho em Angola.

  • 30
      06/1961

    30/06/1961 - 

    Fuga de estudantes africanos da Casa dos Estudantes do Império (CEI) para França.

    A agitação dos anos 60 causada pelas independências africanas começou a levar jovens africanos que estudavam em Portugal a aderir às organizações que se preparavam para lutar pela independência das suas terras. A Casa dos Estudantes do Império, onde se alojavam a maioria desses estudantes, teve um papel muito importante na tomada de consciência política desses jovens
    que vão engrossar os quadros dos movimentos de libertação.

    Em Junho e Julho de 1961 deu-se a fuga de meia centena, na maioria da Casa dos Estudantes do Império, entre os quais José Ferreira, antigo jogador do Boavista e futuro comandante do MPLA, os moçambicanos Joaquim Chissano, Jorge Campinos, Pascoal Mocumbi e Sérgio Vieira e os angolanos Jorge Valentim e Francisco Rangel.

    A 2 de Julho chegaram a Hendaye, na França, mais 35 estudantes, entre eles os angolanos Iko Carreira e Carlos Pestana e o cabo-verdiano Osvaldo Lopes da Silva, tendo sido recebidos por três
    americanos do serviço ecuménico protestante CIMADE, que lhes garantiu o apoio em Paris.

  • 01
      07/1961

    01/07/1961 - 

    A Força Aérea foi reforçada, em Angola, com caças-bombardeiros F-84G, destacados da base da Ota.

    Em conjunto com os PV-2, os F-84 foram empregues na zona dos Dembos, utilizando bombas de napalm e metralhadoras.

    Também foram recebidos quatro aviões Broussard, que permaneceram operacionais durante pouco tempo. A 24 de Agosto um foi destruído ao receber tiros no motor e despenhou-se quando tentava aterrar de emergência em Nambuangongo, dois ficaram inutilizados em acidentes e o último foi transferido para Portugal.

  • 01
      07/1961

    01/07/1961 - 

    Operações do Exército e Força Aérea na serra da Canda, para reabertura da chamada “estrada do café”.

  • 03
      07/1961

    03/07/1961 - 

    Visita de J. Fouché, ministro da Defesa da África do Sul, a Lisboa.

  • 07
      07/1961

    07/07/1961 - 

    Comunicado das Forças Armadas sobre as actividades dos meses de Maio e Junho no Norte de Angola.

  • 10
      07/1961

    10/07/1961 - 

    Início da operação de cerco a Nambuangongo, ocupada pelos rebeldes desde o início da sublevação em Angola.

    A 19 de Março, logo após os massacres de Março, a 5.ª Companhia de Caçadores Especias (5.ª CCE) tinha alcançado Nambuangongo, que encontrou abandonada e destruída, excepto a enfermaria e a casa do enfermeiro.

    Esta companhia progrediu depois para Quissele e regressou ao Onzo.

    Esta acção da 5.ª CCE inseriu-se nas acções de reacção imediata aos massacres, realizadas pelas poucas unidades presentes no território, e que não puderam ocupar e manter-se no terreno.

    Após a chegada a Angola dos grandes efectivos desembarcados a partir de Maio, já era possível realizar essa ocupação permanente e esse foi o objectivo da Operação Viriato.

    A Operação Viriato, cujo objectivo era a recuperação de Nambuangongo, desenrolou-se entre 10 de Julho e 9 de Agosto de 1961. Ficou na memória como
    uma das mais emblemáticas acções do Exército neste início da guerra em Angola. A operação envolveu várias centenas de militares e muitas dezenas de
    viaturas, para concretizar o mais importante objectivo da reocupação das povoações saqueadas por grupos da UPA.

    Percorrendo um longo e difícil caminho, os homens do Batalhão de Caçadores 96, integrados nas Companhias de Caçadores 115, 116 e 117, chegaram a Nambuangongo no dia 9 de Agosto, onde se instalaram. Ainda nessa tarde, hastearam a bandeira portuguesa na igreja da povoação, cuja torre estava bastante
    danificada e apenas o alpendre que cobria a entrada se apresentava sem estragos. A povoação, situada num planalto, estava deserta.

    Nos últimos cem quilómetros, desde Quitexe, os militares do Batalhão de Caçadores 96 tiveram vários reveses. A ponte sobre o rio Danje foi reconstruída.

    No profundo vale do rio Luica, onde mais uma ponte foi reparada, viram-se confrontados com árvores tombadas sobre a picada; a força dos homens e das máquinas removeu esse obstáculo vindo da vasta vegetação que marginava o caminho. Até às portas de Mucondo e em Quincuzo sofreram fortes ataques. Logo após Muxaluando e até ao rio Onzo, continuaram os ataques. Os últimos cinco quilómetros foram os mais difíceis, pois o desgaste dos homens e das viaturas era evidente e as baixas começavam a causar danos psicológicos.

    Sete militares morreram e 21 foram feridos.

  • 15
      07/1961

    15/07/1961 - 

    Morte de seis militares em Quicabo durante a Operação Viriato.

    Os militares mortos pertenciam à Companhia de Caçadores 115, do Batalhão de Caçadores 96, cuja missão era atingir Nambuangongo pelo eixo central Caxito-Mabubas-Quicabo-Balacende-Quipedro.

    Na madrugada de 15 de Julho, a Companhia de Caçadores 117 do mesmo Batalhão sofreu um primeiro ataque junto a Quanda Maúa, depois da travessia do rio Lifune e, de seguida, foi a vez da Companhia de Caçadores 115 sofrer também um violento ataque conduzido por cerca de 500 homens, que sofreram cem mortos confirmados, enquanto a unidade portuguesa sofreu seis
    mortos e 13 feridos.

  • 21
      07/1961

    21/07/1961 - 

    Ataque de um grupo de guerrilheiros ao aquartelamento de S. Domingos, na fronteira da Guiné com o Senegal, provocando quatro feridos militares.

  • 27
      07/1961

    27/07/1961 - 

    Corte de relações diplomáticas do Senegal com Portugal.

  • 27
      07/1961

    27/07/1961 - 

    Corte de relações diplomáticas do Senegal com Portugal.

  • 01
      08/1961

    01/08/1961 - 

    Ocupação do Forte de S. João Baptista de Ajudá pelo Daomé.

  • 03
      08/1961

    03/08/1961 - 

    Acções de sabotagem na Guiné efectuadas pelo PAIGC.

  • 04
      08/1961

    04/08/1961 - 

    Ocupação de Zala e Quicunzo pelas forças portuguesas que progrediram para Nambuangongo.

  • 07
      08/1961

    07/08/1961 - 

    Declaração do ministro do Exército à Emissora Oficial de Angola, afirmando que aos “terroristas” se colocava apenas um dilema, “rendição incondicional ou aniquilamento total”.

    O ministro do Exército, brigadeiro Mário Silva, realizou uma visita de inspecção a Angola, São Tomé e Guiné, de 25 de Junho a 11 de
    Agosto.

    Esta declarações foram proferidas na véspera da partida de Angola
    para São Tomé e depois Guiné, e destinavam-se a uso público.

    Mas os relatórios sectoriais sobre pessoal, engenharia e logística que
    elaborou reflectiam uma visão pessimista da situação em Angola, dizendo: “A destruição dos terroristas e a interdição dos mesmos da área da ZIN implica: meios avultados, longa duração das
    operações, grandes encargos financeiros e grande sacrifício de
    vidas”.

    É patente o realismo da análise de Mário Silva que prevê, como veio a
    acontecer, uma situação militar que levaria muito tempo a solucionar, uma perspectiva que nem os militares nem a população em geral tinham na altura.

  • 08
      08/1961

    08/08/1961 - 

    Entrega de brevets às cinco primeiras enfermeiras pára-quedistas.

    Em 1956, a que veio a ser a primeira mulher pára-quedista portuguesa, Isabel Rilvas Mathias, lançou a ideia de formar um corpo de enfermeiras pára-quedistas.

    Esta sugestão conduziu à criação de um curso e, posteriormente, de um corpo dessa especialidade, que foi o das primeiras mulheres integradas como militares nas Forças Armadas Portuguesas.

    As enfermeiras pára-quedistas dependiam dos comandos das unidades em que estavam integradas e realizaram inúmeras acções de apoio a evacuações de feridos nos teatros de operações.

    De 1961 a 1974 foram “brevetadas” 48 enfermeiras, tendo uma delas morrido na Guiné, ao embarcar para uma missão de evacuação, e outra sido ferida com um projéctil em Moçambique.

  • 09
      08/1961

    09/08/1961 - 

    Entrada do Exército português em Nambuangongo.

    Quando as forças portuguesas entraram em Nambuangongo, a vila encontrava-se deserta.

    A situação de tropas portuguesas encontrarem os objectivos desertos, após longas e penosas aproximações, será repetida inúmeras vezes ao longo de toda a guerra. Esta situação será típica das grandes operações.

    Os guerrilheiros souberam desde o início respeitar os princípios da guerrilha estabelecidos por Sun Tse: atacar o inimigo quando ele está parado, retirar quando ele ataca.

    A operação de tomada de Nambuangongo, com os sacríficios e as baixas que a Operação Viriato custou, é ainda uma consequência dramática da ausência de acção de Salazar durante o perído crucial de Março-Abril.

    É que, a 19 de Março, a 5.ª Companhia de Caçadores Especiais tinha chegado a Nambuangongo, tendo encontrado a localidade destruída, apenas com a casa do enfermeiro e a enfermaria intactas. Mas, por falta de efectivos para manter esta posição-chave para o controlo dos Dembos, a unidade teve de a deixar sem qualquer guarnição e partir para Quissele.

    Em 16 de Abril, já o Quartel-General da Região Militar de Angola considerava que “a rebelião em Nambuangongo atingiu um desenvolvimento que impede atacá-la com as forças de que, de momento, se poderia dispor”.

    Em Agosto foram necessários dois Batalhões e um Esquadrão de Reconhecimento, reforçados com Engenharia e Artilharia e apoiados pela aviação, para alcançar
    Nambuangongo.

    Nessa operação perderam a vida 21 militares e 61 ficaram feridos.

  • 11
      08/1961

    11/08/1961 - 

    Integração dos enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli por parte da União Indiana.

  • 11
      08/1961

    11/08/1961 - 

    Primeiro grande lançamento de Pára-quedistas em Quipedro, a leste de Nambuangongo.

    Esta acção foi realizada pela 1.ª Companhia de Pára-quedistas, cujas tropas saltaram na zona da povoação, com vista à tomada de posições que permitissem a ligação de Nambuangongo para Carmona e Negage via Quitexe, cortando as vias de reabastecimento dos guerrilheiros vindos da serra de Mucaba pelo Songo e Zalala.

    Depois de reorganizada a defesa da zona, os Pára-quedistas deram início à construção da pequena pista para aterragem dos aviões para apoio. A companhia de
    Caçadores que partiu de Nambuangongo em direcção a Quipedro, onde ficaria instalada para substituir os Pára-quedistas, deu origem a um tiroteio entre as
    duas forças. Tudo acabou bem, porque alguns militares de ambos os lados perceberam que aquela intensidade de fogo só poderia ser de camaradas seus e começaram a cantar o hino nacional como forma de identificação.

  • 16
      08/1961

    16/08/1961 - 

    Instrução pessoal e secreta do CEMGFA, general Gomes de Araújo, ao comandante-chefe da Guiné alertando para as “concentrações estacionadas junto à fronteira da província da Guiné com a República da Guiné, em frente à povoação de Cacine”, prontas para uma “acção de grande envergadura (…) em direcção a Bissau”.

    Através desta directiva ficaram a conhecer-se os objectivos que as forças militares deviam considerar, assim como o dispositivo e as suas missões. Assim, deveria haver, como prioridade, um dispositivo de protecção, com a missão de proteger as populações, conquistar a sua confiança e colaboração, evitar a eclosão de actos
    subversivos e impedir incursões no território, e um “dispositivo de intervenção móvel (reservas)”, destinado a reforçar a protecção e a “contra-atacar e destruir as
    incursões do inimigo”.

  • 17
      08/1961

    17/08/1961 - 

    Primeira utilização operacional dos aviões caças-bombardeiros F-84, a partir da Base Aérea de Luanda.

  • 24
      08/1961

    24/08/1961 - 

    Extinção do regime da cultura obrigatória do algodão nos territórios coloniais.

    As culturas obrigatórias, e não só a do algodão, mas também as do arroz e da cana-de-açúcar, entre outras, estavam associadas ao sistema de exploração colonial que incluía também o trabalho forçado ou o regime de “contrato”.

    As culturas obrigatórias reguladas pelos poderes políticos coloniais surgiram no final do século XIX, quando os Estados europeus concessionaram actividades económicas às grandes companhias majestáticas e quando foram criadas as grandes companhias monopolistas, como a Companhia de Moçambique, ou a Cotonang, que promoveram as culturas de exportação que permitiam integrar o grande mercado mundial.

    As culturas obrigatórias, ou forçadas, assentavam no princípio do monopólio do lado da procura, o que quer dizer que era o comprador que fixava os preços e as
    condições ao vendedor, que não tinha alternativa nem para mudar a produção, nem para negociar preços.

  • 24
      08/1961

    24/08/1961 - 

    Início de uma operação conjunta, com aviação, Pára-quedistas e forças terrestres, na Serra da Canda.

    Na serra da Canda, elementos da 2.ª Companhia de Pára-quedistas saltaram e tomaram de assalto a povoação de Zenda, localizada nas faldas daquela serra.

    Durante os saltos morreu um militar devido a um acidente na abertura do pára-quedas.

    Durante quatro dias de batidas na região, dois pelotões da companhia avançaram em direcção à confluência dos rios Lueca e Mbridge, desmantelando os acampamentos da UPA aí instalados. O outro grupo reocupou Bazacomo e fez a ligação com as tropas do Batalhão de Caçadores que vieram por Madimba até ao rio Mbridge, tentando cortar uma importante via de reabastecimento dos guerrilheiros da UPA.

  • 25
      08/1961

    25/08/1961 - 

    Elementos da 2ª Companhia de Pára-quedistas saltaram e tomaram de assalto a povoação de Zenda, localizada nas faldas da serra da Canda.

  • 05
      09/1961

    05/09/1961 - 

    Anúncio, pelo ministro de Estado, Correia de Oliveira, da criação do Mercado Único Português, numa reunião com as associações económicas.

  • 05
      09/1961

    05/09/1961 - 

    Adesão à EFTA

    O começo da guerra coincidiu com a reestruturação das instituições económicas internacionais, no sentido de liberalizar o comércio e os pagamentos. O Governo português tinha de promover uma dupla adaptação: colonial e económica.

    A adaptação colonial acabou legalmente com o trabalho forçado, com a cultura obrigatória do algodão, que esteve na origem da revolta dos camponeses da Baixa do Cassange, e com o Estatuto dos Indígenas. O mercado das colónias também foi aberto ao capital norte-americano. A concessão da exploração do petróleo foi feita à Cabinda Gulf Oil. O regime violava uma vez mais a regra do Pacto Colonial, que reservava à Metrópole a exploração económica das colónias, mas desta forma o Governo português via enfraquecer a oposição dos Estados Unidos à sua política colonial.

    A liberalização económica obrigou à abolição de barreiras comerciais no seio do Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT).

    Portugal aderiu à EFTA, criada nesta altura, pois não podia ficar isolado, sem entrar na EFTA ou na Comunidade Económica Europeia, que dava os primeiros passos.

    O Mercado Único Português – Uma utopia que saiu cara Portugal entrou na EFTA como um dos países fundadores em 1959, e solicitou também a sua entrada no GATT (Acordo Geral de Comércio e Tarifas) em 1962, circunstâncias que obrigaram à alteração das relações entre Portugal e as suas colónias, agora chamadas respectivamente Metrópole e Províncias Ultramarinas. Este espaço deveria transformar-se numa zona de comércio livre, com abolição das restrições ao comércio entre Portugal e cada uma das suas colónias e das tarifas às mercadorias.

    As medidas estabeleciam uma situação de moeda comum e de circulação separada entre os territórios ultramarinos, com cotações cambiais estáveis e formalmente irrevocáveis.

    Este Mercado Único colocava o problema de as autorizações de pagamentos e o Fundo Monetário da Zona do Escudo (FMZE) serem ou não suficientes para garantir a cláusula de estabilidade e a irrevocalidade dos câmbios.

    A resposta foi-se revelando negativa.

    Demonstrando-se na prática que o sistema era de difícil concretização, foram criados dois instrumentos, um mecanismo de autorizações de pagamentos e o Fundo Monetário da Zona Escudo, com o Banco de Portugal como banco central de toda a zona e responsável pelo funcionamento do Fundo.

    No caso de algum dos fundos de câmbio se revelar incapaz de pagar as transacções, receberia um empréstimo do FMZE, até uma dada quota. As divisas internacionais funcionavam como meios de pagamento, à medida que cada colónia as obtivesse com as transacções com o resto do mundo.

    Mas os problemas estruturais das economias da Metrópole e dos diversos territórios conduziram a uma declarada ou encoberta desvalorização dos escudos ultramarinos e à falência da zona do mercado único e livre. A Metrópole manteve e aumentou o desequilíbrio da balança de pagamentos com os territórios ultramarinos a seu favor, provocando problemas de pagamentos. Surgiu assim o problema dos “atrasados”.

    Os erros

    O erro essencial deste mercado foi a violação do princípio elementar de não ser possível estabelecer relações de igualdade entre espaços com desenvolvimentos
    económicos muito desiguais.

    A balança de pagamentos entre Portugal e as suas colónias era favorável à Metrópole e este défice não era coberto pelas exportações das colónias para fora da Zona Escudo. Não existiam, por isso, meios de pagamentos em divisas convertíveis para pagar as dívidas.

    Angola sentiu problemas de pagamento desde o início do Mercado Único e Moçambique a partir do final dos anos 60, isto principalmente porque recebia ouro
    da África do Sul como parte do acordo de fornecimento de mão-de-obra para as minas. Este ouro revertia para o BNU. A solução imediata foi disfarçar a desvalorização, criando câmbios múltiplos para assegurar meios financeiros para pagamentos interterritoriais prioritários.

    As saídas eram muito difíceis, e foi tentado através do decreto-lei 471/71, de 6 de Novembro de 1971, encontrar algumas soluções, salientando-se o abandono da moeda única, a autorização para as províncias ultramarinas pagarem as suas dívidas nas suas divisas, que mais não era do que um modo de disfarçar os atrasados e os câmbios múltiplos, a médio prazo inviável. O que desde logo se constatou foi que o mercado único estava em falência, pelo que foi suspenso em Novembro de 1971.

    O regime não tinha outra saída. O Portugal multicultural, multirracial, do Minho a Timor, não tinha viabilidade monetária.

    [com base num texto de Nuno Valério]

  • 06
      09/1961

    06/09/1961 - 

    Revogação do Estatuto dos Indígenas.

    O documento chamava-se formalmente Estatuto dos Indígenas Portugueses da Guiné, Angola e Moçambique e tinha sido criado pelo decreto-lei 39.666 de 20 de
    Maio de 1954. Segundo o seu preâmbulo “visava defender as populações menos evoluídas e respeitar os seus costumes e usos na linha tradicional portuguesa”, mas apesar da bondade intrínseca que o regime atribuía às suas leis sobre os indígenas, foi revogado pelo decreto-lei 43.893, pois o Governo “entendeu vantajosa a revogação dessa lei de acordo com estudos especializados e o voto unânime do Conselho Ultramarino”.

    Na realidade, tratava-se de evitar que a ONU exigisse a Portugal o cumprimento do artigo 73º da Carta, no que respeitava à administração de territórios não-autónomos por parte de potências coloniais.

  • 10
      09/1961

    10/09/1961 - 

    Início da operação militar conjunta que conduziu à reocupação da “Pedra Verde”.

  • 15
      09/1961

    15/09/1961 - 

    Início da Operação Sacandica, no Norte de Angola.

    Um pelotão reforçado saltou de pára-quedas para reocupar a povoação de Sacandica localizada no extremo norte de Angola, a escassos quilómetros da fronteira com o ex-Congo Belga, o que facilitava a infiltração dos guerrilheiros e o seu avanço para Icoca e Quimbele, na direcção de Sanza Pombo. Com o sucesso desta operação ficou assegurada a ligação entre as forças militares instaladas ao longo da fronteira, de Noqui, Luvo, Buela, Maquela do Zombo, até ao Béu. As povoações de Quibocolo, Damba e 31 de Janeiro ficaram mais protegidas.

  • 16
      09/1961

    16/09/1961 - 

    Desordem entre militares Pára-quedistas e elementos da polícia em Luanda, de que resultou um morto e vários feridos, e que ficou conhecido como “Incidente
    da Versalhes”.

  • 16
      11/1961

    16/11/1961 - 

    Entrada das tropas portuguesas na “Pedra Verde”.

    Depois de várias tentativas do Exército e das suas companhias de Caçadores Especiais, que nelas sofreram mortos e feridos, foi tomada a “Pedra Verde”, zona de morros escarpados e esconderijos nas grutas. Era um local estratégico para dominar as estradas do Caxito para Quibaxe, pelo Piri. Foi mais um revés na tentativa da UPA em dominar os itinerários para o interior da região dos Dembos.

  • 16
      09/1961

    16/09/1961 - 

    Entrada das tropas portuguesas na “Pedra Verde”.

    Depois de várias tentativas do Exército e das suas companhias de Caçadores Especiais, que nelas sofreram mortos e feridos, foi tomada a “Pedra Verde”, zona de morros escarpados e esconderijos nas grutas. Era um local estratégico para dominar as estradas do Caxito para Quibaxe, pelo Piri. Foi mais um revés na tentativa da UPA em dominar os itinerários para o interior da região dos Dembos.

  • 17
      09/1961

    17/09/1961 - 

    Morte do secretário-Geral da ONU Dag Hammarskjöld, quando o seu avião se despenhou a caminho de Ndola (Rodésia do Norte), onde se dirigia para conversações com Tchombé, líder dos catangueses, visando o fim das hostilidades no Catanga.

  • 18
      09/1961

    18/09/1961 - 

    Apresentação do relatório do presidente do Subcomité dos Cinco sobre a situação dos territórios portugueses em África.

    O diplomata boliviano Carlos Salamanca, presidente do Subcomité das Nações Unidas encarregado de averiguar as condições nos territórios portugueses em África, apresentou o seu relatório depois de ter visitado o Congo, por não lhe ter sido autorizada a entrada em Angola.

    O diplomata boliviano apresentou um relatório muito crítico, feito a partir do que tinha visto entre a multidão de refugiados angolanos.

    Carlos Salamanca considerou que, a menos que os portugueses fizessem reformas profundas, haveria pouca escolha senão lançar um ultimato a Portugal e impor
    sanções.

  • 23
      09/1961

    23/09/1961 - 

    Cerimónia, em Luanda, do armamento das lanchas de fiscalização Espiga, Pollux e Formalhaut, que se destinavam ao patrulhamento do rio Zaire.

    Estas lanchas pertenciam a uma classe de oito, entradas ao serviço a partir de 1961, e estavam armadas com uma peça de 20 mm.

  • 25
      09/1961

    25/09/1961 - 

    Prisão de Agostinho Neto na cidade da Praia (Cabo Verde), onde se encontrava depois de ter sido preso em Angola.

    Foi transferido a 10 Outubro para Lisboa, seguindo depois para a prisão do Aljube, onde deu entrada em 17 de Outubro de 1961.

  • 27
      09/1961

    27/09/1961 - 

    Encerramento da estrada Carmona-Negage, devido a novas acções militares dos guerrilheiros da UPA.

  • 01
      10/1961

    01/10/1961 - 

    Divergências e mal-estar entre Venâncio Deslandes, governador-geral e comandante-chefe de Angola, e Adriano Moreira, ministro do Ultramar.

    O método de escolha de Salazar Venâncio Deslandes tomara posse do cargo em Junho, e em Outubro já eram visíveis as divergências entre ele e o ministro do Ultramar, Adriano Moreira.

    O método de Salazar para escolher os altos dirigentes não contemplava a compatibilidade entre os diferentes níveis da hierarquia, mas sim o da obediência de todos ao chefe supremo, ele próprio. Para Salazar, como eram inadmissíveis as divergências quanto à fidelidade aos princípios doutrinários, restavam as disputas interpessoais, que ele utilizava como modo de reforçar o seu poder arbitral.

    Deslandes e Adriano Moreira não se conheciam, nem conheciam as ideias um do outro, e Salazar não achou importante que o general conhecesse o ministro a quem, em princípio, ficaria subordinado.

    Cada um por si

    O governador e o ministro iriam, cada um por si, tentar pôr em prática as suas ideias.

    Venâncio Deslandes tomou uma série de iniciativas legislativas sem dar conhecimento ao ministro do Ultramar. Duas delas criam grande mal-estar em Lisboa: a criação de uma universidade em Luanda e o lançamento de impostos (em favor de Angola) às grandes empresas, nomeadamente à Diamang.

    Quanto à universidade, Adriano Moreira, um académico, tinha as suas ideias, e, quanto aos impostos, os sócios sul-africanos da diamantífera De Beers e os bancos protestaram junto de Salazar.

     A solução adiantada por Salazar foi Adriano Moreira revogar o despacho de criação da universidade, como modo de avisar o governador a conter os seus ímpetos. A medida provocou, contudo, descontentamento entre os colonos favoráveis a uma crescente autonomia de Angola, que fosse criando perspectivas de
    uma desejada independência branca. Venâncio Deslandes diz em público que comandava o maior Exército português de toda a história, uma ameaça que Salazar não deixou passar em claro, enquanto impunha uma mudança de política a Adriano Moreira. O resultado do conflito entre o governador e o ministro foi a posterior demissão de ambos, como aconteceu a vários dos altos funcionários que entraram em disputas públicas.

  • 01
      10/1961

    01/10/1961 - 

    Começou a assumir-se o conceito de quadrícula para as forças terrestres como o que melhor responderia à necessidade de exercer a soberania sobre o território e as populações.

    Desde o início, os militares instalaram-se junto de povoações, conviveram e apoiaram as populações locais.

    Exceptuando as operações militares de restabelecimento da ordem nas zonas afectadas pelo terrorismo (Março a Outubro de 1961), e que implicaram acções de reconquista de posições e progressões sobre objectivos sucessivos, a necessidade de exercer a soberania sobre o território e as populações levou a que o conceito global de defesa terrestre assentasse no sistema de quadrícula. Nesta base, o Exército atribuía a cada território um comando local – Região Militar, em Angola e Moçambique, e Comando Territorial Independente, na Guiné – que, por seu turno, se subdividia em Zonas Militares (ou Zonas Operacionais), Sectores ou Comandos Territoriais, consoante o ditava a extensão do território e a actividade da guerrilha.

    No patamar inferior das responsabilidades territoriais situava-se o escalão Batalhão, correspondendo, deste modo, ao tipo de unidade de maior dimensão que se organizava na Metrópole como força expedicionária. A cada Batalhão era atribuída uma área de responsabilidade ou “Zona de Acção” (ZA), na qual era implantado o respectivo dispositivo.

    Dentro dessa área, o comando da unidade era responsável não apenas pela busca, perseguição e eliminação dos grupos de guerrilheiros, mas também pelo controlo, defesa e apoio social das populações civis nela residentes.

    A necessidade de levar a presença do Exército ao maior número de locais obrigou a que, em regra, os batalhões dividissem a sua ZA em zonas de acção de companhia.

    Deste modo, o aquartelamento isolado “tipo”, durante os treze anos de guerra, era de escalão Companhia. Daqui resultava, para o respectivo comandante, um capitão, uma responsabilidade operacional, administrativa e logística, que, na Metrópole, só existia nos escalões Regimento (coronel) e Batalhão/Grupo independente (tenente-coronel). Por outro lado, as próprias características do conflito determinavam que a maior parte das operações militares decorressem com efectivos de dois a três Grupos de Combate (50 a 80 homens), não requerendo, por esse motivo, o directo envolvimento de comandantes de patente superior a capitão. O capitão tornou-se, assim, rapidamente, o posto-chave de toda a estrutura militar da contra-guerrilha.

  • 03
      10/1961

    03/10/1961 - 

    Ocupação de Caiongo, no Norte de Angola.

    Caiongo era a última povoação ainda ocupada por guerrilheiros da UPA. A sua tomada pelas Forças Armadas Portuguesas permitiu ao general Venâncio Deslandes, governador e comandante-chefe de Angola, anunciar em Luanda, quatro dias depois, a 7 de Outubro, a “Reconquista do Norte”, dizendo que: “As operações das Forças Armadas terminaram e deram lugar à actividade de policiamento militar.”

    Ficou proibido aos militares dizerem que havia guerra em Angola, porque “há apenas acções militares para manter a segurança pública”.

  • 12
      10/1961

    12/10/1961 - 

    Partida para Angola da imagem de Nossa Senhora de Fátima, depois de uma cerimónia em que estiveram presentes o cardeal Cerejeira e o chefe de Estado, Américo Tomás.

  • 13
      10/1961

    13/10/1961 - 

    Criação do Destacamento nº 1 de Fuzileiros Especiais.

  • 13
      10/1961

    13/10/1961 - 

    Carta aberta de Amílcar Cabral ao Governo português, reclamando a solução pacífica do problema da Guiné e Cabo Verde.

  • 18
      10/1961

    18/10/1961 - 

    Cerimónia da entrega das insígnias aos primeiros Fuzileiros navais no Alfeite, destinados a Angola.

  • 31
      10/1961

    31/10/1961 - 

    Entrega ao presidente da República de uma carta dos candidatos da Oposição exigindo a substituição do Governo.

  • 01
      11/1961

    01/11/1961 - 

    Visita a Angola do adido militar americano em Lisboa.

  • 01
      11/1961

    01/11/1961 - 

    Recomposição do Comité Executivo da UPA, com Alexandre Taty vice-presidente e Jonas Savimbi secretário-geral.

  • 05
      11/1961

    05/11/1961 - 

    Definição, pelo Governo português, das bases para a “unidade económica da Nação”.

  • 06
      11/1961

    06/11/1961 - 

    Manifestação do Exército de apoio ao Governo, na sequência da carta da Oposição de 31 de Outubro.

    Esta manifestação de apoio surgiu na sequência da campanha eleitoral de 1961, em que a questão colonial foi levantada pela Oposição, que entregou uma carta ao presidente da República criticando a política ultramarina do Governo, acusando-o de violação da Carta das Nações Unidas, de ofensa aos direitos humanos e de
    desrespeito pelo direito dos povos à autodeterminação.

    O regime hesitou em censurar a carta, mas Salazar julgou útil a divulgação do manifesto da Oposição e autorizou a sua publicação, juntando-lhe no entanto uma obrigatória nota oficiosa.

    Na dramatização que Salazar utilizava nos grandes momentos, os militares foram chamados a aparecer à sua retaguarda como garantes da política ultramarina.

  • 07
      11/1961

    07/11/1961 - 

    Despacho n.º 6 (confirmado, mais tarde, pelo decreto-lei n.º 44.184, de 10 de Fevereiro de 1962), primeiro documento que abordou a questão da falta de capitães do Quadro Permanente.

    O despacho referia que:

    “1) A carência acentuada de capitães das várias armas (mormente da arma de Infantaria) em face das necessidades de mobilização para o Ultramar impõe solução imediata com vista a, se não eliminar, obviar as faltas existentes.

    2) Nesse sentido, e porque a via normal de obtenção de oficiais com este posto não é de momento utilizável, em virtude da existência diminuta de subalternos do Q.P. (Quadro Permanente), há que recorrer a tenentes do Q.C. (Quadro de Complemento).”

    O crescimento do exército de campanha colocou, desde o início da guerra, questões de enquadramento em matéria de oficiais e de sargentos. Para os postos inferiores de ambas as categorias, o recrutamento obrigatório estava em condições de dar resposta satisfatória através da formação de grande quantidade de oficiais e de sargentos milicianos. Com este pessoal, assegurava-se o comando das pequenas unidades de escalão pelotão e secção.

    Relativamente ao escalão companhia ou equivalente (bateria de Artilharia ou esquadrão de Cavalaria), sendo o seu comandante um oficial com a patente de capitão, não era difícil antecipar que o número de capitães existentes no conjunto das armas de Infantaria, Artilharia e Cavalaria (829) seria insuficiente para garantir o comando de sucessivas unidades a mobilizar para uma campanha que se antevia longa.

    O despacho prosseguia com um convite aos tenentes milicianos para, mediante a frequência de um estágio de dez semanas, numa Escola Prática, serem promovidos a capitães milicianos e mobilizados para o Ultramar, onde serviriam por dois anos. Depois, nos casos em que o serviço prestado fosse objecto de
    informação favorável, poderiam os capitães milicianos requerer a frequência da Academia Militar, onde lhes seria ministrado um curso “devidamente adaptado à
    idade e seus conhecimentos militares”. Todavia, estipulava-se que, findo o curso da Academia Militar, seriam “intercalados na escala dos capitães do Q.P., com
    a antiguidade do termo do curso, e ordenados na escala conforme as classificações obtidas”.

    Esta última disposição implicava que os referidos capitães milicianos, seguramente com mais de dois anos de antiguidade no posto à data de ingresso na Academia Militar, só se tornariam capitães do Q.P. quando os cadetes-alunos seus contemporâneos de curso ascendessem a esse posto, isto é, passados sete ou oito anos. Era esta a regra que, desde antes de 1961, vigorava para os oficiais milicianos que, voluntariamente, ingressavam na Academia Militar.

    A alteração desta legislação, em 1973, favorecendo os ex-capitães milicianos, viria a estar na base da contestação que deu origem ao Movimento dos Capitães e, mais tarde, tendo evoluído do estrito plano profissional para o plano político, à revolução de 25 de Abril de 1974.

  • 09
      11/1961

    09/11/1961 - 

    Salazar fez “um apelo ao povo”: a defesa da retaguarda. 

    Ainda integrado na dramatização dos seus actos na sequência da campanha eleitoral, Salazar lançou “um apelo ao povo”, considerando altamente preocupante a
    campanha conduzida pela Oposição, que não serviria os interesses da nação. O seu objectivo foi o de mobilizar os portugueses e consolidar a retaguarda, que abria brechas após um ano cheio de acontecimentos.

  • 10
      11/1961

    10/11/1961 - 

    Chegada a Luanda, de avião, do Destacamento de Fuzileiros Especiais 1.

    O DFE 1 foi a primeira unidade da nova infantaria de Marinha a chegar a África. Destinava-se a reforçar o dispositivo da Marinha em Angola e, numa nota dirigida ao comandante naval de Angola, o contra-almirante Reboredo, subchefe do Estado-Maior da Armada, recomendava: “É preciso que eles tenham um período de adaptação à África. As condições são muito diferentes, e que só concorram com os Pára-quedistas ou os bons Caçadores Especiais após essa adaptação. É uma força que vai impregnada de espírito de Corpo e de panache.”

    Para se adaptarem a África, os homens do DFE 1 embarcaram no final do mês a bordo das fragatas Diogo Gomes e Pedro Escobar, partindo em direcção ao Sul, à
    zona de Moçâmedes para um período de adaptação com os exercícios “Calema”.

  • 10
      11/1961

    10/11/1961 - 

    Desvio de um avião da carreira Lisboa-Casablanca, por membros da Oposição ligados a Henrique Galvão e dirigidos por Palma Inácio, com lançamento de panfletos sobre Lisboa.

    O avião descolou de Casablanca e o voo decorreu com normalidade até às proximidades de Lisboa. Já sobre a capital, Palma Inácio, o chefe do comando, ordenou ao comandante do avião para voar a baixa altitude sobre a cidade passando pelas zonas de Alcântara, Terreiro do Paço e Barreiro e depois dirigir-se para Beja e Faro, para lançar panfletos contra o regime.

    O avião aterrou em Tânger, onde o comando assaltante desembarcou.

    O desvio do avião foi apresentado nacional e internacionalmente como um acto contra a política colonial do Governo de Salazar.

  • 10
      11/1961

    10/11/1961 - 

    Desastre de aviação do Chitado, em que morreram o general Silva Freire, comandante da Região Militar de Angola, e mais 14 militares do Exército e da Força Aérea.

    O general Silva Freire estava a preparar a instalação do dispositivo militar em todo o território. A prioridade a seguir à Zona Norte era a Zona Leste (ZL) e ele já se tinha deslocado à Lunda e ao Luso.

    A missão seguinte era a de prever a colocação de tropas no Sul para reconhecer locais de instalação de tropas na zona onde se fazia sentir a influência de Simão Toco, a quem fora fixada residência na Baía dos Tigres. Estava previsto visitar Forte Roçadas e Pereira de Eça. O avião despenhou-se na manobra de aterragem em Chitado, junto à fronteira com a Namíbia, tendo morrido todos os passageiros e tripulantes do Dakota C-47.

  • 13
      11/1961

    13/11/1961 - 

    Condenação, pela Comissão de Tutela da ONU, da política colonial portuguesa.

  • 14
      11/1961

    14/11/1961 - 

    Abandono de Portugal de uma sessão da 4ª Comissão da ONU, em protesto pela audição de dois dirigentes do Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde.

  • 14
      11/1961

    14/11/1961 - 

    Partida do primeiro destacamento de Fuzileiros especiais para Angola.

  • 18
      11/1961

    18/11/1961 - 

    Visita do primeiro-ministro da Federação das Rodésias e Niassalândia a Lisboa para conversações com Salazar.

  • 22
      11/1961

    22/11/1961 - 

    Alteração do sistema tributário português para fazer face às despesas de guerra.

  • 27
      11/1961

    27/11/1961 - 

    Criação do Comité de Descolonização da ONU.

  • 27
      11/1961

    27/11/1961 - 

    Anúncio, pelo governador-geral de Angola, de uma “nova actividade terrorista” no Norte do território.

  • 01
      12/1961

    01/12/1961 - 

    Intercepção, pela UPA, de um grupo de guerrilheiros do MPLA nos Dembos.

    Este acontecimento ficou conhecido como “O incidente Ferreira” e revela as insanáveis divergências entre os dois movimentos desde o início da luta de libertação.

    Em finais de 1961, um grupo armado de cerca de 20 elementos, chefiado por Tomás Ferreira, foi enviado pelo MPLA do Congo para o interior de Angola, com vista a reforçar grupos da resistência nos Dembos, região cercada pelas forças portuguesas na zona de Nambuangongo.

    Ferreira e seus homens foram interceptados por unidades da UPA/FNLA, detidos e eliminados.

    Quando acusados do massacre, um dirigente da UPA, Rosário Neto, negou que o incidente tivesse ocorrido, mas acrescentou com condescendência que não tinha sido inteligente da parte do MPLA enviar homens para uma zona de guerra sem ter informado a UPA. A UPA sublinhava o facto de ter acesso privilegiado ao território angolano e considerava publicamente a guerra anticolonial em Angola como sendo exclusivamente do seu domínio.

    Mais tarde veio a ser revelado, todavia, que Rosário Neto desconhecia, de facto, que a UPA tinha interceptado e eliminado o grupo Ferreira, sob ordens directas de Holden Roberto (Marcos Cassanga, dirigente da ala militar da UPA, ao abandonar o movimento em 3 de Maio de 1963 acusou Holden Roberto de ter dado ordens aos seus grupos armados para exterminar quaisquer unidades do MPLA que fossem encontradas em território angolano).

    Este seria apenas um dos muitos incidentes entre a UPA/FNLA e o MPLA.

     Em princípios de 1967, guerrilheiros da FNLA apreenderam material de guerra ao MPLA e levaram-no para a base de Kamuna, onde se encontravam detidos vários dirigentes do MPLA.

    Em meados de 1973, a FNLA deteve dois comandantes do MPLA, dando sequência a uma directiva de Holden Roberto para prender todos os guerrilheiros do MPLA encontrados nas suas áreas.

  • 02
      12/1961

    02/12/1961 - 

    Expulsão de Portugal de quatro missionários norte-americanos acusados de apoio aos movimentos angolanos.

    Os missionários protestantes tinham sido pioneiros nos campos da educação e da assistência social nas colónias portuguesas e muitos dos futuros líderes dos
    movimentos de libertação estudaram em missões protestantes.

    Em Angola, as igrejas protestantes mais importantes eram a Igreja Metodista, com a casa-mãe nos Estados Unidos, e a Igreja Baptista, de origem britânica.

    Em 1961 existiam em Angola cerca de 300 missionários americanos, a quem as autoridades portuguesas acusaram de serem responsáveis pela doutrinação de guerrilheiros.

    Alguns deles limitaram-se a revelar crimes cometidos pelas autoridades militares e civis.

  • 12
      12/1961

    12/12/1961 - 

    Evacuação de mulheres e crianças de Goa.

  • 14
      12/1961

    14/12/1961 - 

    Determinação de Salazar sobre a Índia: “Apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos.”

  • 16
      12/1961

    16/12/1961 - 

    Intimação do Governo da União Indiana para a evacuação dos territórios de Goa, Damão e Diu.

  • 16
      12/1961

    16/12/1961 - 

    Veto da União Soviética a um projecto de resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando a União Indiana pela ameaça militar contra Goa, apresentado pelos Estados Unidos, França e Turquia.

  • 17
      12/1961

    17/12/1961 - 

    Início da Operação Vijay que levou à ocupação de Goa, Damão e Diu por parte da União Indiana.

    Chegada a Lisboa dos primeiros refugiados da Índia após a invasão. [DGARQ-TT-SNI]

     

     

    Manifestação em Lisboa contra a invasão de Goa. [DGARQ-TT-O Século]

  • 19
      12/1961

    19/12/1961 - 

    Instituição pela Assembleia Geral da ONU de um Comité Especial para os Territórios Administrados por Portugal (Comité dos Sete), convidando os Estados membros a recusarem qualquer ajuda ou assistência utilizável contra as populações dos territórios coloniais.

  • 19
      12/1961

    19/12/1961 - 

    Apresentação da rendição das tropas portuguesas ao comando indiano.

  • 30
      12/1961

    30/12/1961 - 

    Discussão de Salazar com alguns ministros sobre a hipótese de abandono da ONU por Portugal.

  • 31
      12/1961

    31/12/1961 - 

    Os efectivos do Exército no final do ano de 1961, nos três teatros de operações, cifravam-se em 49.422 militares.


    O Exército sofreu durante o ano de 1961, 194 mortos em Angola e 13  em Moçambique.

  • 31
      12/1961

    31/12/1961 - 

    Morreram em combate, no ano de 1961, 126 militares (não inclui os da Índia).

    Todos estes mortos ocorreram em Angola. No contexto global da guerra naquele território, haveria de cifrar-se como o ano em que as forças do Exército sofreram mais baixas mortais em combate.

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