1968 -

Segundo Franco Nogueira, a situação no seio do Governo durante o ano de 1968 seria a pior de sempre, incluindo a disposição das Forças Armadas.

A este propósito escreverá mais tarde o ministro dos Negócios Estrangeiros:

«De mais alarme se apresenta o ânimo de alguns círculos centrais das Forças Armadas. Mantém-se a desinteligência, mesmo atrito entre os ministros militares; e o facto tem reflexo nos oficiais que formam a roda de cada um. Criticam muitos o ministro da Defesa, Gomes de Araújo, pela conduta das operações em África: tudo obedece a uma “concepção de Estado-Maior” em Lisboa; a substituição frequente de unidades permite ao terrorismo grandes “abertas” entre rendições; os terroristas já aprenderam a defender-se de métodos que se repetem como rotina; e o ministro parece sem moral para enfrentar problemas de estratégia militar. Mas outros acusam o ministro do Exército, Luz Cunha: não tira da máquina do Exército todo o rendimento possível, não coordena com eficácia os planos administrativos e logísticos. E muitos na Armada consideram ultrapassado e exausto o ministro da Marinha, Quintanilha Dias, há dez anos no Governo. Por outro lado, os meios ligados a Belém mostram-se impacientes: nos termos constitucionais, e em princípio, o presidente da República é o comandante-chefe das Forças Armadas: mas o almirante Thomaz nunca é consultado, nem procurado pelo ministro da Defesa de modo a ter oportunidade de ao menos formular uma pergunta ou uma sugestão: e das críticas que por este facto emanam da Presidência da República muitos se fazem eco. E todo este quadro suscita mal-estar no interior do regime: há um sentimento de desagregação, de fim de época, de que os mais veteranos não alcançam memória, nem nos piores lances de 1945, nem na turbulência de 1958» (Franco Nogueira, Salazar, Vol. VI, p. 327).