8/3/1968 a 11/3/1968 -

Reinício das acções militares da FRELIMO em Tete.

Depois das dificuldades iniciais sentidas pela FRELIMO para abrir a frente de Tete em 1964, o movimento desencadeou acções militares nesta zona em 8 e em 11 de Março de 1968. A FRELIMO dispunha agora de apoios na Zâmbia, que lhe permitiam fazer a ligação entre Tete e as bases da retaguarda na Tanzânia. Instalou bases na área de Chofombo, na foz do rio Capoche, um afluente do Zambeze e em Furancungo. A FRELIMO considera o dia 8 de Março de 1968 a data da abertura da frente de Tete. Nesse dia, guerrilheiros comandados por João Moiane, secretário provincial do Departamento de Defesa de Tete, realizaram acções nas zonas de Chimuala e Cassuende, no vale do rio Capoche.

No entanto, já em Setembro de 1967 guerrilheiros da FRELIMO tinham sido detectados na zona de Macanga e, prevendo o aumento da actividade, o comando militar
português tinha criado em Novembro de 1967 o Sector F com sede em Tete.

O programa do Vale do Zambeze – colonos e barragem como barreira ao avanço dos guerrilheiros

Na realidade, no início de 1968 era já evidente que Tete e o Vale do Zambeze iriam ser o centro da guerra. Em Março, Eduardo Mondlane fez declarações no Comité Especial da ONU, afirmando que a FRELIMO tudo faria para impedir o programa do vale do Zambeze.

O programa do vale do Zambeze consistia na construção da barragem de Cahora Bassa e na instalação de milhares de colonos brancos ao longo do rio.

As autoridades portuguesas acreditavam que Cahora Bassa seria uma barreira ao avanço da FRELIMO a partir das suas bases na Zâmbia em direcção à Beira e que o
desenvolvimento criado a partir da barragem permitiria a instalação de milhares de colonos europeus, alterando por completo a composição racial da população e retirando base de apoio aos guerrilheiros. Numa primeira fase estava prevista a instalação de 80 000 colonos no vale do Zambeze, mas alguns políticos e militares chegaram a avançar o número de um milhão de europeus a colocar na região centro de Moçambique, muitos deles antigos militares que ficariam em Moçambique após as suas comissões.

Para a FRELIMO, estes programas de instalação de colonos em terras das populações negras, que teriam de ser desalojadas, e a construção da barragem eram excelentes bandeiras para acusarem o colonialismo português e mobilizaram contra Cahora Bassa quer os seus meios militares quer os seus argumentos políticos. Em 1968 teve início a ofensiva militar da FRELIMO em Tete e as autoridades portuguesas estimavam que em 1970 existiam cerca de 1800 guerrilheiros na zona, enquanto uma campanha internacional era desenvolvida contra o financiamento e a participação de empresas ocidentais na construção da barragem, obrigando companhias italianas e suecas a retirarem-se do projecto, que ficou reduzido à vertente de produção de energia eléctrica financiado pela venda de electricidade a baixo custo à África do Sul.