02/05/1968 -

Nomeação do brigadeiro António de Spínola para os cargos de governador-geral e comandante-chefe da Guiné, em substituição do general Arnaldo Shultz.

Arnaldo Schultz – um clássico general clausewitziano nas malhas da contra-subversão

Arnaldo Schultz, como o próprio confessou mais tarde, debateu-se com o clássico dilema dos generais formados na guerra convencional de Clausewitz – tinham aprendido que o objectivo das batalhas era “conquistar uma área de terreno, destruir o inimigo e tirar-lhe a vontade de combater, mas na guerra subversiva não existe nenhum destes objectivos, o que há que fazer é ganhar simpatias, mas a formação militar desse tempo era outra, ou seja, a de alcançar objectivos, em lugar de conquistar vontades. De forma que a nossa actuação não se ajustava ao que se pretendia. A estratégia que pus em prática consistia em ter e controlar áreas determinadas, para que era necessário que as nossas forças conquistassem um terreno e ficassem ali para que outras forças, na mesma área, se ocupassem a procurar o inimigo”.

Fundamentalmente, Arnaldo Schultz tentou controlar o Centro-Oeste do território, perdido desde o início da guerra. Na realidade, a situação militar, com Arnaldo Schultz, piorou consideravelmente, apesar do aumento significativo de efectivos que passaram de 1000 homens em 1960 para cerca de 25 000 homens em 1967, deteriorando-se ainda mais nos primeiros meses de 1968.

A chegada de Spínola a Bissau iria dar um novo ânimo às forças portuguesas e, principalmente, iria criar um grupo de militares que acreditou ser possível vencer uma guerra de contra-subversão, levando à prática a receita preconizada nos manuais de conjugar a acção militar e a política.

Por que motivo Salazar nomeou Spínola para a Guiné?

Spínola era um oficial do regime, mas pessoalmente era difícil encontrar alguém mais diferente de Salazar. Viril, praticante das artes que Salazar dispensava, cavaleiro, apreciador de mulheres, corajoso, frontal, leal com os seus homens, integrado na alta sociedade, confiante em si mesmo.

A primeira razão para Salazar ter nomeado Spínola para governador e comandante-chefe foi as chefias militares considerarem que, no início de 1968, a guerra na Guiné estava atolada num impasse e que o PAIGC tinha tornado a situação crítica para as forças portuguesas e o corpo de Estado-Maior dirigido pelo florentino Câmara Pina não tinha entre os seus intelectuais da guerra nenhum que se quisesse expor ao risco de ir para a Guiné.

A Guiné era, em 1968, um pântano de atolar carreiras, mas Spínola corria fora de prémio, como correram outros oficiais da mesma estirpe, caso do coronel Rodrigo da Silveira – não necessitavam de um lugar nos conselhos de administração oferecido por Salazar.

A segunda razão foi porventura Salazar pensar que Spínola nunca se renderia e, portanto, que não teria na Guiné o mesmo problema da Índia.