03/02/1969 -

Assassínio de Eduardo Mondlane, líder da FRELIMO.

Eduardo Mondlane morreu em Dar es Salam ao abrir uma encomenda armadilhada contendo a tradução francesa das «Obras Escolhidas», de George Plekhanov. Não existem dúvidas que a PIDE foi a executora do assassínio de Mondlane. O explosivo foi fornecido pela casa Praff, de Lourenço Marques, a encomenda foi preparada por Casimiro Monteiro, o agente da PIDE que assassinou Humberto Delgado. Rosa Casaco, o inspector da PIDE que comandou o grupo que assassinou o general e a sua secretária, afirma que foi Casimiro Monteiro o executor, “a mando do António Vaz” (o chefe da PIDE em Moçambique). Os serviços secretos italianos (SDI), sempre muito bem informados nos meios fascizantes e de Extrema-Direita, atribuem o crime a uma rede que inclui a PIDE, a Aginterpress, o engenheiro Jardim, Uria Simango, mas referem também Casimiro Monteiro como autor material.

A quem aproveitava a morte de Mondlane?

Mondlane tinha uma formação ocidental, era casado com uma americana, funcionário das Nações Unidas, não era muito querido dos dirigentes da Tanzânia, não era
também um homem de Moscovo, cujas autoridades desconfiavam, justificadamente, dele e das suas simpatias pró-americanas. Qualquer substituto de Mondlane na chefia da FRELIMO seria mais favorável à Tanzânia e a Moscovo que Mondlane e seria menos favorável aos EUA e a Portugal. Dos possíveis sucessores, apenas Marcelino dos Santos estudara em Portugal, mas era agora um radical marxista, como muitos jovens universitários europeus e africanos da sua geração, Machel nunca fora a Portugal e Uria Simango também não. Em Lisboa parece que ninguém ganharia nada com a troca, a não ser que a intenção fosse piorar a situação…

 

Os homens da PIDE

O certo é que a PIDE esteve envolvida no assassínio e que António Vaz, o chefe da organização em Moçambique, não tinha autonomia para determinar o assassínio de Mondlane. António Vaz era um funcionário.

Dado que a morte de Mondlane não servia a Portugal, que não era agradável aos Estados Unidos e não dizia respeito a um território francófono, só interessava à URSS, ou à China. Resta saber qual dos chefes da PIDE prestou o serviço de afastar Mondlane.

Mas existe, como sempre em Moçambique, o engenheiro Jardim, a confundir qualquer análise.

Jorge Jardim

A estratégia de longo prazo de Jardim assentava na convicção de que Moçambique seria independente. A única possibilidade que Jardim tinha de contrariar esta evidência e de ganhar poder com a nova situação era dividir Moçambique. Dividir, não necessariamente ao meio (paralelo da Beira), mas o mais a norte possível: no rio Messalo, no Lúrio, quando muito, pelo paralelo de Nampula.

Nesta estratégia, Jardim era um aliado natural de Kavandame e dos macondes.

Quem era um obstáculo ao Moçambique dividido de Jardim, o Moçambique que garantia os corredores e os portos de Lourenço Marques e da Beira, era Mondlane, um homem do Sul, um shangana europeizado que queria ser presidente de um Moçambique como fora desenhado na Conferência de Berlim. Jardim tinha poucos argumentos contra um homem como Mondlane, um aliado dos Estados Unidos, um homem das Nações Unidas, um universitário.

A hipótese natural

Mas o assassínio de Mondlane pode ter causas unicamente centradas no seio da PIDE. Uma organização criminosa como a PIDE, com um assassino disponível como Casimiro Monteiro, ao deparar-se com uma oportunidade de matar um adversário, salta e mata-o sem pensar nas consequências, porque essa é a sua natureza.