19/09/1969 -

Assinatura do contrato de construção da barragem de Cahora Bassa com o consórcio ZANCO, formado por empresas portuguesas, sul-africanas, alemãs, francesas e italianas, do contrato entre o Governo português e a África do Sul para fornecimento de energia eléctrica e dos contratos de financiamento com bancos portugueses e estrangeiros.

Estes contratos oficializavam, em definitivo, a viabilização e a construção de Cahora Bassa e colocavam um ponto final nas dúvidas sobre a sua construção. Estas dúvidas resultavam da existência desde há muito de duas opiniões acerca da construção de Cahora Bassa e foram uma decisão difícil. Marcelo Caetano retardou a decisão, baseado em razões de ordem técnica, nomeadamente a passagem a definitiva da adjudicação provisória que dependia de algumas concessões do consórcio escolhido que não tinham sido ainda assumidas e também em questões de segurança, exigindo uma garantia do ministro da Defesa, Sá Viana Rebelo, de que as Forças Armadas asseguravam as condições necessárias para a realização do empreendimento.

Os opositores argumentavam com as difíceis condições existentes no terreno, nomeadamente as derivadas da crescente instabilidade decorrente da guerra e pelos problemas de segurança que essa situação levantava quer à construção da barragem, quer ao transporte da energia ao longo dos novecentos quilómetros de linha eléctrica em território moçambicano, quer ainda pelo enorme endividamento do Estado português que, não tendo possibilidades de financiar a totalidade da obra, era obrigado a assumir.

 

 

Os apoiantes argumentavam a favor, contrapondo que a concretização do empreendimento reforçava a presença portuguesa em África, demonstrando que a inabalável vontade de permanecer contribuía para o desenvolvimento do território e congregava o apoio de parte da comunidade internacional, envolvendo-a directamente no empreendimento, como veio posteriormente a verificar-se com a participação de empresas francesas e alemãs no consórcio vencedor (Zamco), embora outras tenham sido obrigadas a retirar-se por força das suas opiniões públicas.

Cahora Bassa em números

  • Segunda maior barragem de África;

  • ALBUFEIRA

    • Comprimento – 250 km

    • Largura – 38 km

    • Área da albufeira – 2700 km2

    • Capacidade de armazenamento – 63 milhões de m3

  • BARRAGEM

    • Capacidade de vazão – 13,5 mil m3/segundo

    • Potência (5 grupos geradores) – 20 GigaW

    • Linha de transporte – 1400 km (900 em Moçambique)

    • Número de torres – 6400

  • NÚMERO DE TRABALHADORES – 5000 (3000 africanos e 2000 europeus)

  • POPULAÇÃO DESLOCADA – 42 000

  • CUSTO (1969) – 7 033 048 345 escudos (515 milhões de dólares).

Nota:

Para um termo de comparação, os encargos com as Forças Militares Extraordinárias no Ultramar (OFMEU) em 1969 foram um pouco menos, 6,085 milhões de contos. A ponte sobre o Tejo custou 2,145 milhões de contos (1966).

Kaúlza de Arriaga erra o alvo por oitocentos quilómetros!

As obras da barragem de Cahora Bassa tornaram-se o pólo decisivo da guerra em Moçambique em que se empenharam a FRELIMO e as Forças Armadas Portuguesas. Mas, entretanto, Kaúlza de Arriaga preparava-se para concentrar os seus meios junto à fronteira com a Tanzânia e “atacar o coração da FRELIMO, no Planalto dos  Macondes”. Foi fazer a Operação Nó Górdio, oitocentos quilómetros desviada do alvo.