11/02/1970 -

Início do 1º Curso de Comandos na Guiné, destinado à formação de companhias de Comandos africanos, que se realizou em Fá Mandinga, na região do Oio, Guiné.

Um novo conceito de africanização

O conceito tradicional de “africanização da guerra”, aquele que os franceses designaram por “jaunissement” e que os americanos utilizaram como “vietnamização”, contempla dois tipos básicos de forças: as convencionais, constituídas por unidades militares cujos efectivos de linha (as praças) são militares locais (voluntários ou conscritos), instruídas e empregues como unidades das Forças Armadas da potência ocupante e comandadas por quadros destas, e as especiais que, na panóplia portuguesa, incluíram forças tão heterogéneas como as milícias, os grupos especiais, as unidades de antigos guerrilheiros (TE), até certas unidades de forças especiais réplicas das nacionais, sejam Comandos, Pára-quedistas, ou Fuzileiros.

Objectivos da africanização

Os objectivos clássicos da africanização da guerra são a diminuição de baixas entre os efectivos metropolitanos, para atenuar o consequente impacto no moral da retaguarda metropolitana e o aproveitamento dos efectivos locais, mais adaptados ao meio e melhor conhecedores dos modos de actuar do inimigo. Contudo, o poder nacional não abdica do comando e do controlo destas forças. No caso português, para exercer esse comando e controlo, a norma foi a de nomear quadros nacionais para o seu comando. Nas unidades convencionais (companhias de caçadores de recrutamento local) o comando nacional começava logo nos postos de sargentos e subalternos comandantes de grupo. O comandante da companhia era invariavelmente um capitão metropolitano.

Os comandos africanos na estratégia de Spínola

Os comandos africanos desempenharam um papel fulcral no conceito de Spínola de “uma Guiné para os guinéus”. Em termos organizacionais, as companhias de comandos africanos eram aparentemente semelhantes a algumas unidades do Exército, constituídas por quatro grupos de combate, não dispondo de apoio de serviços, como as companhias de comandos “ligeiras”.

 

 

Os grupos podiam ter efectivos variáveis consoante a missão, o armamento era maioritariamente o dos guerrilheiros, em especial as Kalashnikov como arma individual e o RPG como arma de apoio.

Nos comandos africanos da Guiné todos os graduados, do sargento, chefe da equipa, ao capitão comandante da companhia eram “locais”. Não existia nenhum metropolitano na estrutura, apenas um capitão europeu com a qualidade de “supervisor”, que por vezes acompanhava as operações.

O comandante da 1ª CCA (Companhia de Comandos Africana) era o capitão graduado João Bacar Jaló, um antigo milícia de etnia fula, altamente condecorado por feitos em combate.

 

 

Para além do papel táctico que lhes era atribuído, como unidades de reserva do comandante-chefe, Spínola quis desde o início da criação da Força Africana que os Comandos fossem o seu núcleo duro. Os Comandos africanos são pois um instrumento da política de uma “Guiné Melhor” que evoluiu para a de “Uma Guiné para os Guinéus” e este conceito era radicalmente diferente do de Costa Gomes, que em Angola multiplicou as forças africanas mas sempre com base em “tropas auxiliares” e
do de Kaúlza de Arriaga em Moçambique, que replicou nas unidades africanas a organização e a doutrina das unidades metropolitanas.