15/05/1970 -

Samora Machel assume as funções de presidente da FRELIMO.

A nomeação de Samora Machel foi efectuada no decorrer da reunião do Comité Central da FRELIMO que teve lugar entre 5 e 15 de Maio em Naswinguea, na Tanzânia. Marcelino dos Santos assumiu as funções de vice-presidente.

A nomeação de Samora Machel irá contribuir para intensificar o esforço de guerra, pois ele era partidário da política de “avanço”.

A decisão do Comité Central da FRELIMO de expulsar Uria Simango e de acabar com o Conselho Presidencial, criado após o assassínio de Mondlane, e de que Simango era o presidente, foi o primeiro passo para a clarificação do poder no seio da organização.

O Comité Central da FRELIMO considerou “a consciência das massas populares fortalecida pela consolidação das estruturas e zonas controladas pelo partido, pela expansão das acções militares e pelo impulso nos programas de reconstrução nacional” (Comunicado do Comité Central a 22 de Maio de 1970, in FRELIMO, O Processo revolucionário da guerra popular de libertação).

 

Samora Machel e Cahora Bassa

Os analistas militares portugueses (Perintrep 21/70, de 25 de Maio, da Região Militar de Moçambique) consideravam, a propósito da subida de Samora Machel à chefia da FRELIMO, que havia “a necessidade ou a muita conveniência de Samora obter, em prazo curto, um êxito militar que possa ser explorado a nível internacional, procurando demonstrar a vitalidade da FRELIMO e a excelência das mudanças, não sendo de excluir a hipótese de uma acção intensa visando o empreendimento de Cahora Bassa”.

Previam que Samora iria: “Intensificar o aliciamento dos macondes, que sempre lhe tinham demonstrado desconfiança e hostilidade; colocar a população de Cabo Delgado em autodefesa, para pôr em marcha a criação do Exército Popular e, pela transferência de efectivos de Cabo Delgado, aumentar o esforço nas “zonas de avanço” e as possibilidades de intervenção em Tete e na Zambézia”.

Foi com este quadro de análise, que se revelaria globalmente acertado, que Kaúlza de Arriaga decidiu fazer o esforço em Cabo Delgado com a Operação Nó Górdio.

Os indícios da mudança do esforço da FRELIMO de Cabo Delgado para Tete

Os serviços de informação militares e a PIDE souberam a 11 de Maio que se encontrava em Fort Johnson (Zâmbia) um grupo de 100 guerrilheiros da FRELIMO, vindos da Tanzânia, aguardando oportunidade de entrar na zona de Tete. A estes 100 guerrilheiros vindos da Tanzânia reuniram-se outros 110 recrutados na região.

Souberam ainda que a intenção da FRELIMO era infiltrar este grupo pela área do chefe Albano. Estas notícias foram complementadas por uma outra que indicava que a FRELIMO estava a enviar fardamento e material da base de Nashingwea (Tanzânia) para a área de Cahora Bassa.

No dia 18 de Maio um camião com material de guerra da FRELIMO foi interceptado por autoridades da Zâmbia. Este material destinava-se a Milange, no distrito da Zambézia.

A 25 e a 27 de Maio o serviço de informações militares soube de fonte segura (A1) que se encontravam dois grupos de 20 guerrilheiros na base de Nashingwea (Tanzânia) prontos para partirem para Tete.

As autoridades militares portuguesas sabiam ainda que se encontravam em Nashingwea 80 recrutas da zona de Tete a receberem instrução de especialização (quadros).

Parecia clara a intenção da FRELIMO de transferir o seu esforço principal para Tete.