17/08/1970 -

Ordem de Kaúlza de Arriaga para o COFI passar a actuar na zona de Tete, especialmente em Cahora Bassa.

Terminada a Operação Nó Górdio, a ordem era agora exercer o esforço na zona mais importante, aquela onde se situava Cahora Bassa.

O COFI reorganizou-se e instalou-se em Chipera, na margem norte do Zambeze, para iniciar um período de operações nas áreas de Chamanga-Vasco da Gama-Fingoé. Recebeu o reforço de duas companhias de Pára-quedistas do BCP 31 (Beira).

Nesta zona começavam a realizar-se operações de aldeamento pelas autoridades administrativas.

 

Tete – um ambiente operacional de contornos especiais

A transposição dos conceitos tácticos de Kaúlza de Arriaga aplicados em Cabo Delgado revelaram-se catastróficos em Tete, não lhe permitindo encontrar uma alternativa eficaz para manobrar naquele ambiente contra forças de guerrilha muito móveis, numa área de povoamento disperso, num meio onde se desenvolviam já actividades económicas importantes e com uma significativa presença de colonos europeus.

O COFI, concebido para operações militares de grande intensidade operacional e campos definidos, e as suas unidades de forças especiais, quase todas vindas para Tete depois de passarem pela dura experiência de combate no Norte, sentir-se-ão sempre pouco à vontade a lidar com a realidade cheia de nuances desta região.

A passagem de um meio operacional de guerra declarada para outro muito fluido causou sérias perturbações e teve as consequências conhecidas e dramáticas com a máxima expressão nos massacres de populações em Mucumbura, Wiriyamu, Inhaminga, entre outros referidos em vários relatórios das Nações Unidas e de organismos religiosos.

Vantagem do “avanço” sobre o “esforço”

Foi na zona de Tete que o desencontro entre a ideia de “esforço” que Kaúlza de Arriaga concebia como sendo a manobra da FRELIMO para alargar a sua influência e a de “avanço” que esta praticava surgiu mais claramente.

Na organização das forças e no tipo de acções em que as empregou manteve também uma grande coerência de pensamento: em Tete, como em Cabo Delgado, quando julgou ter superioridade, exerceu o esforço no forte do inimigo, atacando com unidades de elite o inimigo onde ele se manifestava. Nos espaços de incerteza, desenvolveu acções de transferência de populações, acompanhadas ou não do seu aldeamento. A construção de Cahora Bassa e da respectiva linha de transporte de energia consumia enormes efectivos, o que obrigava a desguarnecer outras frentes. Apesar do recrutamento local já representar mais de 40% dos efectivos, as substituições de unidades metropolitanas estavam atrasadas vários meses, o que significava estarem também no limite os recursos humanos.

 

 

Foi neste cenário que só então foram implantadas em Moçambique soluções testadas noutros teatros, nomeadamente em Angola, para coordenar as acções militares e civis através dos conselhos de contra-subversão. Tete foi colocada sob autoridade militar, com a criação da ZOT (Zona Operacional de Tete), à semelhança do que fora feito no Leste de Angola com a ZML e até um inspector da DGS de Angola foi chamado para criar uns Flechas moçambicanos.

Multiplicam-se os conflitos

Entretanto, a pura acção militar no ambiente de contraguerrilha conduzia as forças militares em operações de combate em Tete contra alvos que deviam ser tratados
por outros meios: contra os religiosos das missões, contra as populações forçadas ao aldeamento, contra os colonos brancos inseguros. As consequências traduziram-se em conflitos com igrejas cristãs, incluindo a católica, os massacres de populações e, por fim, as revoltas de colonos quando se sentiram ameaçados, depois de terem sido mantidos na ilusão de uma vitória próxima por uma discurso de inquebrantável optimismo, mas desfasado da realidade.