08/02/1971 -

O ministro da Defesa Nacional, por proposta do comandante-chefe de Angola, general Costa Gomes, aprovou a nova área da Zona Militar Leste, em Angola, que correspondia aos distritos da Lunda, Moxico, Cuando-Cubango, Bié e parte do distrito de Malange.

No despacho de criação, Sá Viana Rebelo, ministro da Defesa, referia:

“Esta Zona de Operações, que terá a designação de Zona Militar do Leste, será dotada com um comando próprio conjunto, cujo comandante, oficial general do Exército, ficará dependente do Comandante-chefe de Angola, perante o qual responderá pela defesa militar e civil do território colocado sob a sua jurisdição, e reconhecerá a orientação conjugada do Governador Geral e do Comandante-Chefe, nos termos da portaria ministerial conjunta referida a este Comando, quanto ao accionamento e coordenação dos serviços dependentes dos respectivos governadores em tudo o que lhes respeite nas funções de informação, contra-subversão e segurança.

Para todos os efeitos logísticos e administrativos, a Zona Militar Leste é abrangida nas Regiões Militar, Naval e Aérea”.

A decisão de Costa Gomes de combater no Leste

A decisão do general Costa Gomes de fazer do Leste o seu campo de batalha tem a ver com a realização de uma manobra estratégica de defesa do planalto central de Angola, com o controlo das fronteiras norte (Congo) e leste (Zâmbia), mas tem também muito a ver com a defesa das potencialidades económicas da zona mais rica de Angola. A sua nomeação para comandante-chefe das Forças Armadas de Angola tem,certamente, a ver com a opinião positiva dos conselhos de administração das grandes empresas – ele era o mais experiente e competente general português e eles queriam o melhor.

Costa Gomes não os desiludiu, decidindo combater os guerrilheiros do MPLA o mais à frente que podia, nas “chanas” do Leste, optando pelo Luso em vez de Silva Porto. Esta opção não era, como hoje parece, a única solução. Ele podia ter optado por combater na zona de Malange, ou no planalto central, naquilo a que chamava a “barriga mole” de Angola, encurtando distâncias aos apoios logísticos, evitando ter de criar mais infra-estruturas de apoio, mas isso teria deixado desprotegidas as grandes companhias com base na Lunda, em Cassinga e no troço mais problemático do Caminho-de-Ferro de Benguela. A escolha de Costa Gomes revelou ser a melhor, porque ele sabia que ao MPLA, o seu principal antagonista, não lhe interessava instalar-se no Leste.

A Zona Militar Leste: uma organização empresarial para fazer a guerra

O sistema de comando que Costa Gomes concebeu para o Leste obedeceu aos mesmos princípios de concentração de poderes para obter a maior racionalização dos meios e a mais rápida decisão face a alterações da situação das grandes empresas.

Ao Leste foram atribuídos os melhores meios operacionais e Bettencourt Rodrigues será um verdadeiro director executivo da grande empresa do Leste.