9/1971 -

Movimento de elementos militares do MPLA ao longo do rio Luena no Leste de Angola, com o fim de reabrir a Rota Agostinho Neto em direcção à zona do Luso, fazendo face à pressão da FNLA e da UNITA.

A Rota Agostinho Neto

Rota Agostinho Neto foi a designação geral das linhas de progressão dos guerrilheiros do MPLA a partir das bases na Zâmbia em direcção ao interior de Angola, com o objectivo geral de ligar a III Região Militar, o Leste, à I Região Militar, Dembos e planalto central (Huambo).

A designação de Rota Agostinho Neto reúne um conjunto de infiltrantes que ao longo dos tempos os guerrilheiros do MPLA foram percorrendo a partir da Zâmbia, na direcção leste-oeste, procurando na sua progressão encontrar protecção e povos a quem recorrer.

No final da guerra foi possível definir três dessas linhas gerais de infiltração, ou eixos de progressão, que constituíram em fases diversas a Rota Agostinho Neto.

De norte para sul encontrava-se a chamada Nova Rota, que saía da base Muiengo, na Zâmbia, e passava pelo Norte da fronteira do saliente do Cazombo; no Centro, a Rota Agostinho Neto, com variantes, que entrava em Angola pela zona do Marco 1 (marco de fronteira) e seguia pelo rio Luena, ou pelo rio Lungué-Bungo até Lucusse; finalmente uma terceira infiltrante, a sul, a Rota do Rio Nengo, que começava na base zambiana de Lingumbua, passava a sul de Gago Coutinho em direcção a Cangamba.

Estas linhas foram utilizadas pelo MPLA, consoante a situação e os objectivos a alcançar aconselhavam, por vezes simultaneamente, por vezes com o esforço concentrado numa delas.

Parece não haver dúvidas que a mais importante base de partida para a infiltração dos grupos do MPLA em Angola foi a de Kassamba, na Zâmbia, junto à fronteira sul do saliente do Cazombo e de onde saíam duas linhas de penetração.

Foi ao longo das linhas que constituíam a Rota Agostinho Neto que o MPLA enfrentou a oposição das forças portuguesas e sulafricanas que tinham bases operacionais no Cuíto-Canavale e Luso e de onde partiam para realizar operações de “caça” e de heliassalto e também os grupos da UNITA que disputavam o território.

Para o MPLA, a Rota Agostinho Neto consistia num eixo de aproximação ao planalto central de Angola e de ligação ao Norte, a sua I Região Militar, pois era ao centro nevrálgico de Angola que o MPLA queria chegar. As forças portuguesas, de acordo com a manobra gizada por Costa Gomes e levada à prática por Bettencourt Rodrigues, procuraram barrar essa progressão com uma acção dinâmica, em que as tropas portuguesas fizeram uma busca activa dos guerrilheiros em vez da clássica montagem de acções estáticas de emboscada e espera.

Quanto à UNITA, ao contrário do MPLA, para quem o Leste era uma zona de passagem que poderia vir a ser uma zona de retaguarda, utilizava o Leste como zona principal de combate e de acção política para ali se estabelecer. A aliança entre a UNITA e as autoridades portuguesas contra o MPLA e que tomou o nome de Operação Madeira resultou da conjugação de interesses em que o Comando português não queria deixar o MPLA avançar para a zona decisiva da guerra e a UNITA não o queria ver a estabelecer-se na única área em que tinha possibilidade de implantação e desenvolvimento.