11/11/1971 -

Cerimónia de apresentação da Força Africana na Guiné.

A maior concentração jamais vista

Em 11 de Novembro realizou-se em Bissau, no Estádio Sarmento Rodrigues, a cerimónia de Juramento de Bandeira da 2ª Companhia de Comandos Africanos e do Destacamento de Fuzileiros Especiais 22 (Africanos) e da imposição de insígnias dos novos postos em que foram graduados dois tenentes, cinco alferes e trinta e dois sargentos das tropas do recrutamento local.

Participaram na cerimónia três batalhões integrados por militares guineenses, sendo a população de Bissau convidada a assistir e a participar. Segundo as palavras do general Spínola aquela foi “a maior concentração da Força Africana jamais vista na Guiné”.

O aparato da cerimónia realizada no estádio de Bissau e o simbolismo de cada acto só poderão ser convenientemente entendidos como uma mensagem de Spínola para o povo da Guiné e para Lisboa, de que estava a iniciar uma nova fase na condução da guerra – a que iria ser jogada no terreno entre guineenses. À qual se seguiria a autonomia política. Spínola terminou o seu discurso dizendo:

“A Força Africana é um passo bem claro no caminho de uma Guiné governada pelos seus filhos, mas inserindo-se no quadro estrutural da Nação Portuguesa pela adequada e activa participação dos que aqui nasceram…”.

Força Africana

Um dos aspectos mais relevantes da acção militar de Spínola foi a importância que deu à formação e emprego de unidades africanas dentro do seu conceito de desenvolvimento político dos territórios ultramarinos.

A Força Africana, seria constituída por batalhões e companhias de tropas especiais, Comandos e Fuzileiros, por companhias de Caçadores, as antigas companhias do recrutamento da província, e por unidades de Milícias, reunidas sob um comando unificado na dependência do comandante-chefe, o Corpo de Milícias.

Spínola previa utilizar as unidades militares africanas na acção dinâmica de contraguerrilha e as milícias na protecção e enquadramento da autodefesa dos núcleos populacionais, reservando as operações especiais além-fronteiras para o Batalhão de Comandos Africanos e o Centro de Operações Especiais.

Ao atribuir estas missões à Força Africana, deixando para as forças metropolitanas as missões estáticas e de apoio, o general Spínola, embora nunca o tenha afirmado publicamente, colocava a guerra como uma questão entre africanos, uns pró-portugueses a combater contra outros, nacionalistas do PAIGC.

Mas não chegava que a questão fosse colocada nestes termos, era necessário que as populações aderissem ao projecto político de Spínola e rejeitassem o projecto do PAIGC, o que as obrigava a escolher entre um projecto em que a autonomia seria limitada e porventura incerta, mas o desenvolvimento era visível, e uma independência política real, com um desenvolvimento incerto. A Força Africana era o embrião das Forças Armadas de uma Guiné independente, embora dentro dum espaço lusófono, e o conceito de africanização de Spínola ia claramente nessa direcção.