21/02/1972 -

Relatório da DGS sobre a situação de Cabo Delgado, Moçambique, referindo a fuga dos aldeamentos e as redes clandestinas da FRELIMO.

A DGS traçava um cenário muito preocupante dos aldeamentos da região de Cabo Delgado, de onde se verificavam fugas e onde foi descoberta uma rede de apoiantes da FRELIMO que incluía cipaios e polícias da administração portuguesa:

“Continuam a efectuar-se detenções de nativos implicados em actividades subversivas, no Chai, no Quiterajo, no Mucojo. No aldeamento de Mueda vão-se repetindo fugas de nativos para o mato, sem que seja possível evitá-las (…) isto porque as redes subversivas ali sucedem-se, mau grado o sistemático desmantelamento das mesmas efectuado pela Subdelegação da DGS de Porto Amélia. Ainda recentemente aquela dependência capturou ali um cipaio da administração e um guarda auxiliar da PSP que confessaram serem os chefes de uma das redes que tinha por missão fomentar a fuga de aldeados para a clandestinidade. Deram a conhecer vários outros elementos, alguns dos quais guardas administrativos.

Nos aldeamentos da zona de acção violenta o panorama subversivo tende a agravar-se de dia para dia. Verifica-se a necessidade da existência de um controlo absoluto nos aldeamentos atrás referidos, porquanto na sua maioria são compostos por mulheres e crianças, que vivem ligados por sentimentos e laços familiares às gentes do mato, a quem prestam todo o auxílio possível. Os poucos homens válidos ou estiveram na clandestinidade e a sua vinda até nós ou foi forçada (captura) ou então deve-se a determinação do inimigo, para qualquer fim em vista, exceptuando como é lógico, uma ou outra apresentação, sem significado. (…)

Numa tentativa de contrariar o que está mal, procurou a Subdelegação da DGS de Porto Amélia o recrutamento de informadores autóctones ligados às administrações locais ou estabelecimentos militares, mas verificou-se que estes na sua maioria estavam ligados ao inimigo, tal como em Mueda. Em Palma o próprio chefe da secretaria era o responsável de uma das células, em Nangade o intérprete e vários cipaios estavam ligados à FRELIMO desde há muito, em Mocímboa do Rovuma, Nhica e Chai verificava-se igual panorama”.

Ninguém era de confiança

“Milícias, GE ou guardas administrativos, quando não enquadrados por militares europeus, não oferecem qualquer garantia válida na guarda de elementos que, ideologicamente, nos são desafectos. Os autóctones dos aldeamentos das áreas do Quiterajo, Mucojo, Macomia, Muaguide, Meluco, Ancuabe e Nairoto, chamados de contenção, foram aliciados para a FRELIMO na sua quase totalidade nos anos de 1964 e 1965 e, embora não desejem abandonar o seu habitat, estão ideologicamente ao lado da subversão, oferecendo-lhe além da comunhão das ideias, vestuário, alimentação e as informações de que o inimigo carece”.