18/05/1972 -

Encontro de Spínola com Leopold Senghor em Cap Skiring, no Senegal, próximo da fronteira com a Guiné, no sentido de explorar as possibilidades de mediação entre as partes em conflito.

O plano de Senghor

“Dentro da sua estratégia, Spínola procurou estabelecer o diálogo com o opositor porque tinha consciência que o problema da Guiné não era possível de resolver sem o PAIGC. Mas esta tentativa de encontro não foi fácil de realizar (…).

Militarmente criou as condições que lhe permitiram aceitar o diálogo numa posição cómoda; não perdeu a guerra e manteve-a, no mínimo, empatada. Conservou o controle do Leste e impediu a sublevação do «chão» manjaco. Não estava pressionado. Conseguiu interessar no caso o Presidente Senghor doSenegal. Este, que nunca escondeu a sua simpatia pelo povo português, prestou-se a servir de intermediário e, após haver contactado, separadamente e por diversas vezes as duas partes interessadas, concebeu um Plano de Paz destinado a permitir uma descolonização da Guiné calma e amigável.

Era a solução política que Spínola procurava desde a sua chegada à Guiné. O plano previa três etapas: um cessar-fogo a que se seguiriam negociações sem qualquer preâmbulo; um período de autonomia interna da Guiné-Bissau cujas modalidades, limites e prazos seriam livremente discutidos durante uma conferência constitucional que reuniria, dum lado os representantes do Governo Português e do outro os de todos os movimentos políticos da Guiné-Bissau; por fim a independência seria concedida numa perspectiva de uma comunidade luso-africana que nada excluiria à priori.

Mas o governo de Lisboa não estava disposto a modificar a sua política colonial, isto apesar do pretenso apoio e incentivo que deu a Spínola nas suas diligências, de que estava a par. Logo que chegou à fase de concretização do Plano, Marcelo Caetano proibiu a Spínola a continuação dos contactos e negociações com o argumento de que na Guiné se aceitava um desastre militar mas nunca uma cedência política.

Face a esta posição de intransigência política do governo português, perdeu-se a última oportunidade de se poder negociar uma solução política para a guerra da Guiné.

A partir dali só restava, a ambas as partes, prosseguir com a luta, de acordo com as respectivas estratégias, adaptadas, agora, à nova situação político/militar que, entretanto se criara.

A Spínola ficou-lhe apenas a hipótese de continuar com a guerra, uma vez que o governo não aceitava outra solução que não fosse a vitória militar.

Mas ele sabia que isso não era possível, portanto, a esta imposição de uma só opção, a vitória militar, só lhe restou uma alternativa: o derrube do governo que impunha uma guerra desgastante, impossível de vencer, sem qualquer outra  alternativa.

De momento, no ano de 1972, não restou outra solução a Spínola que não fosse a de continuar a guerra, mas como tinha a plena consciência de que essa era uma solução antinacional, começou a conspirar. Ou seja, a preparar a outra alternativa.

O PAIGC, pelo contrário, sem abrandar o esforço militar, desencadeou uma grande ofensiva política. Nos finais do ano foi eleita, nas zonas libertadas, uma Assembleia Nacional Popular, com funções constituintes. Começou a esboçar-se um quadro de proclamação unilateral de independência e contra esta eventualidade, nada se podia fazer.

Senghor escolheu Spínola para interlocutor em alternativa negocial a Marcelo Caetano convencido que era o general que tinha poder real e futuro político, embora na reunião de Cap Skiring tenha proposto novos encontros a outro nível entre as autoridades portuguesas e o PAIGC para discutirem o seu plano de paz que tinha como ponto de partida um cessar-fogo e a concessão de, pelo menos, dez anos de autonomia progressiva com vista a uma ulterior independência, no quadro de uma comunidade luso-afro-brasileira ou, apenas, luso-africana.

Marcelo Caetano recusou o plano de paz, resguardando-se na teoria do dominó – ceder na Guiné-Bissau abriria um precedente irreversível em Angola e em Moçambique e o ministro Silva Cunha também corrobora aquela posição com um argumento insólito de não saber como se faz um cessar-fogo.

Mas, por detrás das questões de princípio que Marcelo Caetano apresentou estavam sérias questões políticas: o primeiro-ministro tinha o seu próprio plano de descolonização, o seu plano de contactos com os movimentos de libertação e, pelo que parece do que hoje se conhece desses contactos, nem Spínola, nem os seus militares da Guiné, faziam parte deles. Costa Gomes também não, nem Kaúlza de Arriaga, que fora substituído em Moçambique, nem Joaquim da Luz Cunha”.