28/09/1972 -

Carta de Savimbi ao general Luz Cunha, comandante-chefe em Angola.

Nesta carta, Savimbi respondia às recorrentes dúvidas dos militares portugueses sobre as suas intenções futuras. Nela revelava os fundamentos da sua política de aliança, erigindo o MPLA como seu principal inimigo, e encontrando uma forma de se tornar indispensável para resolver a disputa por Angola entre as super-potências.

A aliança com Portugal foi um primeiro passo nesse caminho.

Mas, em 1972, Savimbi estava em grandes dificuldades, o que o obrigava a fazer pedidos “de mercearia” e a tratar de assuntos de “vida corrente” como foram os pedidos de consultas médicas, e era, talvez por isso, difícil aos oficiais portugueses da ZML entenderem que Savimbi era antes de tudo o líder de um movimento e libertação que estava certo de que Angola seria um dia independente, que teria um governo de maioria negra e ele se posicionava para ocupar um lugar central nesse futuro.

Na carta, Savimbi tenta explicar a sua posição e dirige os seus esforços contra o MPLA, o seu inimigo principal, oferecendo a cooperação militar da UNITA, até para a realização de operações contra as bases do MPLA na Zâmbia: “Não estamos interessados na OUA, nem na Zâmbia e ainda menos em alianças com o MPLA. Se estes aspectos da política da UNITA não são ainda suficientemente claros para as autoridades em Angola e em Portugal, eis então um facto irrefutável: nós participámos activamente no enfraquecimento do MPLA no Leste”.

A carta continua com Savimbi listando uma série de propostas com as quais ele pensa criar as condições de paz no Leste de Angola. A primeira recomendação ao general Luz Cunha é enfraquecer o MPLA no interior até à sua liquidação, o que pode ser conseguido com os esforços combinados das forças portuguesas e da UNITA, e Savimbi acrescenta uma segunda sugestão envolvendo a liquidação das bases do MPLA na fronteira da Zâmbia, o que pode ser feito pela UNITA sem censura de organismos internacionais.

Uma vez o MPLA enfraquecido ou liquidado no Leste, “grandes horizontes se abrem para nós”, conclui Savimbi.

É óbvio que esta carta implica uma aliança estratégica entre Savimbi, o líder do movimento de libertação, e as autoridades coloniais portuguesas com a finalidade de isolar e liquidar o MPLA. Era o anúncio da política de aliança ocidental que Savimbi prosseguiria após a independência.

O MPLA era visto como uma ameaça pelos ocidentais, com os Estados Unidos à cabeça, e não admira que a administração Nixon-Kissinger recorresse a Savimbi para tentar impedir a tomada do poder em Angola pelo MPLA e a sua consolidação.

Os políticos portugueses alinhados pela política americana seguirão esse mesmo caminho de aliança preferencial com a UNITA, embora sem perceberem completamente o fundo da questão.