13/12/1972 -

Acordo MPLA-FNLA, assinado em Kinshasa por Agostinho Neto e Holden Roberto, que previa a criação de órgãos superiores comuns.

Dificuldades

O ano de 1972 foi dramático tanto para a FNLA como para o MPLA.

Além das derrotas militares sofridas no terreno, que obrigaram os dois movimentos a retirarem a quase totalidade das suas forças para as bases de retaguarda no Congo e na Zâmbia, as duas organizações viveram gravíssimas dissensões internas. A FNLA viu-se a braços com uma grave amotinação dos elementos do ELNA na base de Kinkusu, que obrigou as tropas do Zaire a intervir; e o MPLA foi confrontado com a Revolta do Leste, encabeçada por Daniel Chipenda, em oposição a Agostinho Neto. Estes factos, que tiveram grande ressonância regional e um forte impacto na OUA, traziam em si o gérmen da dissolução e da derrota dos dois movimentos.

Perante a sua desorganização geral, a OUA, com a interferência de Mobutu, ainda os juntou e fez assinar a Acordo de Kinshasa, a 13 de Dezembro de 1972.

O acordo

O acordo de Kinshasa foi estabelecido sob a égide da OUA para tornar mais eficaz a luta contra Portugal em Angola. A FNLA e o MPLA lutavam mais entre si do que contra os portugueses e os dois movimentos estavam mergulhados numa profunda crise. Para ultrapassar esta situação foi estabelecida a criação de organismos comuns aos dois movimentos: um Conselho de Libertação de Angola (CSLA), um Conselho Político Angolano (CPA) e um Comando Militar Unificado (CMU), este dirigido pelo MPLA.

Este acordo nunca se concretizou por divergências entre Holden Roberto e Agostinho Neto. Estas divergências tinham a ver, não só com diferentes concepções para a condução da luta de libertação, pois enquanto o MPLA defendia a intensificação das acções armadas, a FNLA preferia negociações, mas também com as ligações externas dos dois movimentos. O acordo era o concretizar de uma ideia defendida pela URSS e pela China a que os EUA responderam aumentando o apoio à FNLA, de modo a que esta suplantasse o MPLA.

Sem eficácia

Em 1973, já a FNLA voltava à anterior situação de luta contra o MPLA, prendendo dois dos seus comandantes e 36 dos seus guerrilheiros.

O acordo seria também considerado um erro tremendo por parte de alguns dirigentes do MPLA, nomeadamente Gentil Viana, que desenvolveu intensa actividade para devolver ao MPLA a supremacia relativamente à FNLA, no seio da OUA.

O Movimento de Reajustamento

Em Novembro de 1972, o MPLA iniciou um processo de reflexão sobre a sua estratégia que ficou conhecido por Movimento de Reajustamento. A situação era muito difícil e originou graves conflitos internos, as populações sob controlo do MPLA queixavam-se da fraca protecção que o movimento lhes dava, os guerrilheiros queixavam-se da logística e dos responsáveis, os fracassos sucessivos na frente de combate tinham provocado deserções, apresentações às autoridades portuguesas e recusas em combater, e muitos militantes punham em causa a actuação da direcção do MPLA, principalmente depois do acordo com a FNLA.

Foi com este quadro que Agostinho Neto aceitou abrir um debate interno sobre os problemas do MPLA e sobre as medidas estratégicas e reorganizativas que era urgente tomar, desencadeando o chamado Movimento de Reajustamento, que deveria ser também uma pausa para corrigir erros e afastar dirigentes corruptos.

Este movimento traduziu-se no reforço das posições de Agostinho Neto e no afastamento de dirigentes ligados a Gentil Viana.

Em Fevereiro, na Base Kalunga, no Leste de Angola, após uma tumultuosa assembleia, ficou definida a estrutura dirigente do MPLA e, a partir dos dirigentes contestatários, nasceu o movimento Revolta Activa.