31/03/1973 -

Substituição de Bettencourt Rodrigues por Barroso Hipólito na Zona Militar Leste, em Angola.

O acordo entre as autoridades portuguesas e a UNITA de Savimbi, estabelecido em 1971 na Zona Militar Leste, conhecido pelo nome de código de Operação Madeira, tinha permitido garantir não só a neutralidade da organização de Savimbi, mas ainda ganhar um aliado na luta contra o MPLA, o inimigo principal. A Operação Madeira era vantajosa para ambas as partes. As autoridades portuguesas jogavam na possibilidade de integrarem Savimbi e os seus homens na “ordem portuguesa”, e entretanto economizavam forças, tendo os guerrilheiros da UNITA a combaterem contra o MPLA.

Enquanto para Savimbi a situação lhe proporcionava tempo para desenvolver o seu movimento, tempo para ver como evoluía a situação, e o libertava de ter de se defender das forças portuguesas e sul-africanas.

Este acordo entre as autoridades portuguesas no Leste e a UNITA era apoiado pelo Governo geral e pelo comandante-chefe em Angola, assim como pelo Governo em Lisboa. No entanto, quando o general Bettencourt Rodrigues e a equipa de oficiais do Estado-Maior da ZML foram rendidos pelo general Barroso Hipólito, recomeçaram as acções militares entre as forças portuguesas e a UNITA e as acções de propaganda contra os dirigentes deste movimento junto das populações, acusando-os de enganarem o povo, prometendo a paz e trazendo de novo a guerra.

Esta reviravolta na estratégia para o Leste feita pelo substituto de Bettencourt Rodrigues revela que Barroso Hipólito não se conformava com a situação criada e preferia a linha de Kaúlza de Arriaga de “busca e destruição” e de centrar a procura de soluções na acção militar.

Em Janeiro de 1974, o novo comando da ZML lançou a Operação Castor para aniquilar a UNITA nos seus locais de refúgio e esta acção, em vez da pretendida aniquilação, fez com que a UNITA ripostasse militarmente e surgisse em Abril de 1974 como um movimento de libertação a lutar activamente contra as forças portuguesas.

A vitória militar no Leste

A alteração de atitude das autoridades portuguesas relativamente à UNITA após a substituição do general Bettencourt Rodrigues pelo general Hipólito é um revelador das contradições da condução da guerra por parte do poder político e das altas chefias militares.

Embora a doutrina de contra-subversão aceite generalizadamente nas Forças Armadas Portuguesas fosse a de considerar a manobra contra-subversiva como eminentemente política, económica e social e que à componente militar competia assegurar as condições para ela se desenrolar em segurança, existiu sempre um pequeno núcleo de oficiais adeptos da vitória militar prévia. Barroso Hipólito pertencia a este grupo, que vinha perdendo influência desde o início da guerra e, principalmente, após os maus resultados da Operação Nó Górdio, comandada por Kaúlza de Arriaga, o chefe de fila desta facção.

Ao chegar ao Leste, Barroso Hipólito fez uma análise da situação e concluiu que o ELNA e o MPLA estavam praticamente inactivos nas suas bases de retaguarda na Zâmbia e no Congo e que só a UNITA mantinha guerrilheiros em território angolano. Quanto à população, 78% estava reunida em 396 aldeamentos e reagrupamentos. A vitória militar estava à sua disposição, bastando atacar agora a UNITA. Foi o que fez.