01/08/1973 -

Carta de Santos Costa, antigo ministro da Defesa ao seu actual sucessor, Sá Viana Rebelo, acerca do Decreto-Lei 353/73.

«Meu caro Sá Viana: Certamente não desconheço o mal-estar, quase a raiar a indisciplina, que reina entre os oficiais de carreira por causa de um decreto-lei recentemente publicado que, protegendo uns quantos oficiais milicianos entrados nas fileiras pela porta do cavalo, atinge nos seus direitos fundamentais, legitimamente adquiridos, no seu pundonor e na sua respeitabilidade, uma corporação que há doze anos se bate, denodadamente, na frente de combate e em toda a parte onde o bom nome do país é posto em jogo, e oferece a sua vida para a defesa dos altos interesses da Nação.

No meu entendimento, o mais elementar bom senso aconselha a suspensão do diploma para melhor consideração dos seus efeitos e fundamentos. Não fica mal a ninguém proceder de tal forma. Pelo contrário, só se prestigia quem, atento aos interesses de todos e ao respeito pelo equilíbrio que lhe cumpre acautelar, procura seriamente intervir para prevenir desvios, para corrigir um erro de direcção provocado pela dúvida surgida numa encruzilhada sem sinalização. […]

Assim se procedeu quando, no início de 1938, o Exército foi tocado por uma polvorosa, resultante da publicação das reformas militares que visavam a Nação e a sua armadura defensiva e não os interesses privados de um grupo, seja qual for a sua razão real ou aparente».