14/08/1973 -

O ministro da Defesa, Sá Viana Rebelo, afirma, em Mafra, que irão ser introduzidas “oportunas alterações ao primeiro decreto, por forma a que se consiga uma solução mais equilibrada para a actual situação do Quadro Permanente”.

Pela primeira vez o Governo admitiu publicamente um erro na publicação da legislação sobre o acesso aos quadros permanentes do Exército.

Mas nenhuma solução poderia ser satisfatória para todos. Ao alterar a orientação anterior, alguém iria sentir-se prejudicado – ou os oficiais oriundos de cadetes, ou os oficiais oriundos de milicianos.

Mas o discurso do ministro reflecte também a inevitável caminhada do regime para um confronto com a comunidade internacional, com consequências cada vez mais gravosas, bem expressas nas seguintes palavras:

“Desde o princípio de Julho que o País, e as Forças Armadas Portuguesas, estão a ser objecto de uma campanha internacional, com base num artigo publicado no ‘Times’, em que se diz de um ‘massacre’ feito pelas nossa tropas em Moçambique contra gente indefesa. Lá porque uns padres espanhóis, traindo o contrato feito com as autoridades portuguesas, ajudaram o inimigo a hostilizar-nos, e para se vingarem da nossa natural reacção, conseguiram que um seu colega inglês escrevesse aquele artigo para o jornal londrino, vá de serem acusadas as nossas tropas, de vários lados e países, de praticarem actos contra a humanidade e até genocídios”. E mais adiante: “Os militares cumprem as ordens dos seus superiores legítimos, orientadas para a defesa do nosso Ultramar e para a protecção das suas populações pretas e brancas. Esta é a missão de todos nós, os militares, com ‘Times’ ou sem ‘Times’; hajam (sic) ou não hajam marchas de protesto para impressionar em ruas do estrangeiro; hajam ou não hajam contra nós conluios em organizações internacionais”.