27/11/1973 -

Carta do comandante da Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde, expondo a situação difícil naquele território.

O comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné (ZACVG), coronel José Lemos Ferreira, que havia substituído o coronel Moura Pinto, enviou uma carta ao chefe do Estado-Maior das Forças Armadas a expor a situação que se vivia na Guiné.

Relativamente à independência declarada pelo PAIGC em Setembro afirmava: “(…) julgo dever começar por referir que a chamada independência da “Guiné-Bissau” e o subsequente reconhecimento por um vasto número de países criou, mau grado a verdade da tese nacional e dos nossos desejos, uma conjuntura nova irreversível, plena de perspectivas adicionais vis-a-vis a anterior e susceptível das mais diversas intromissões desde as pressões políticas à intervenção armada directa ao lado do PAIGC de forças militares de países africanos ou quaisquer outros do denominado bloco socialista”.

A situação na Guiné, do ponto de vista da Força Aérea

Depois de referir as possibilidades militares do PAIGC, que incluíam o patrulhamento aéreo feito por aviões MIG 15 e MIG 17 da República da Guiné-Conacri, da eliminação de duas guarnições portuguesas junto da fronteira, a existência de blindados e de armas antiaéreas e anticarro, de mercenários e de lembrar a afirmação do PAIGC de que a guerra terminará antes do fim da época seca de 1974 com a derrota do dispositivo militar português, o coronel piloto-aviador Lemos Ferreira afirmava: “Sabendo-se que a sobrevivência militar nesta Província Ultramarina assenta quase exclusivamente no pessoal e nos meios da Força Aérea, por ser patente que as FT (Forças Terrestres) não parecem capazes de suportar e reagir a um safanão forte por razões conhecidas, nomeadamente a sua reduzida motivação, deduz-se o risco de, apesar de sermos aqueles que mais intensamente procuramos remar contra a maré, acabarmos por ser o “pião das nicas” por não termos realizado o milagre integral, ou seja, impedir todo e qualquer ataque inimigo!”.

E prosseguia, mais adiante: “(…) é importante referir que o calendário da Guiné marcha em acelerado devendo entender-se as semanas como meses! Isto é, parece-me não haver tempo para perder em grandes estudos e congeminações, urgindo realizar mesmo correndo o risco de não atingirmos a optimização das soluções”.