15/11/1962 -

Fim da secessão do Catanga e Cassai, que são reintegrados na
República Democrática do Congo.

A grande questão aberta com as independências das antigas colónias de África era a unidade territorial e a manutenção das fronteiras desenhadas na Conferência de Berlim em 1884-85.

As elites africanas que se preparavam para ocupar o lugar dos colonos queriam ser, como eles, dirigentes de Estados-nação de matriz ocidental e não tradicionais chefes de povos e tribos.

A secessão que alguns interesses ofendidos pelas independências tentaram promover, em nome de velhas e tradicionais rivalidades étnicas, contaram sempre com a rejeição maioritária das potências ocidentais e dos líderes locais.

Portugal esteve ao lado de Tchombé e da independência do Catanga porque essa secessão enfraquecia o Congo, uma base de apoio a guerrilheiros nacionalistas e, sobretudo, porque as lutas entre africanos reforçavam a tese do Governo de Salazar da falta de preparação dos povos de África para a independência.

Plano U Thant para a unificação do Congo

U Thant tinha substituído Dag Hammerskjöld nas Nações Unidas, após a morte deste num desastre de avião, quando se deslocava para conversações com Tchombé.

U Thant tinha concordado com um novo ataque das tropas das Nações Unidas ao Catanga, depois do fracasso da primeira acção, e este será então o ataque decisivo que levará à integração da província rebelde na República Democrática do Congo. Esta integração não conduzirá à paz nem à estabilidade. O Congo continuará até 1967 a ser palco das disputas das grandes companhias e dos grandes interesses mineiros. Portugal, por causa da extensa fronteira de Angola com o Congo e o Catanga, e pelas elevadas participações financeiras das companhias mineiras belgas na Diamang, no distrito da Lunda, esteve sempre activo em todas as manobras mais ou menos encobertas que ocorreram. Portugal foi sucessivamente acusado nas Nações Unidas de favorecer o trânsito de mercenários para o Congo, quando não de ser mesmo a sua base de retaguarda.

Moisés Tchombé nasceu em Musumba, na actual República Democrática do Congo, filho de um homem de negócios, descendente directo do rei da Lunda. Estudou numa escola missionária americana e era contabilista e proprietário de uma cadeia de armazéns. Fundou o partido CONAKAK, que defendia a independência do Catanga.

Este partido ganhou as eleições de 1960 e Tchombé tornou-se primeiro-ministro. Lumumba foi executado em Janeiro de 1961, na sequência das tensões com Kasavubu e Mobutu, incentivadas pelos Estados Unidos e potências ocidentais, que o consideravam “comunista”. Kasavubu e, mais tarde, Mobutu, um notório pró-ocidental e pró-americano, assumiram o poder no Congo e a secessão do Catanga deixou de interessar. As Nações Unidas demoraram dois anos a dar o controlo do Catanga ao Governo de Kasavubu, e Tchombé, o cristão, anticomunista e pró-ocidental, foi descartado como um objecto inútil.

Partiu para o exílio, primeiro para a Rodésia do Norte (actual Zâmbia) e depois para Espanha, deixando os seus gendarmes e mercenários em Angola. Os gendarmes transformar- se-ão nos “Fiéis Catangueses” e os mercenários retornarão aos seus países via Lisboa. Bob Denard será recebido em França sem problemas, graças aos bons ofícios do ministro da Defesa, Pierre Messemer.

Tchombé voltará ao Congo em 1964 como primeiro-ministro de Kasavubu, mas foi demitido, regressou ao exílio em Espanha e, em 1967, Mobutu condenou-o à morte por traição. Em 1969, o avião em que viajava foi desviado para a Argélia, onde foi preso e acabou por morrer de um estranho e mal explicado ataque cardíaco.