15/03/1963 -
Aníbal São José Lopes assume a direcção da PIDE em Angola.
São José Lopes começou como subdirector da delegação da PIDE de Angola, mas transformou-se ao longo dos anos no principal responsável pelas informações em Angola e em Moçambique.
Na medida em que a informação é poder, São José Lopes terá sido o homem mais poderoso de toda a guerra.
Esteve envolvido nas acções mais complexas e melindrosas levadas a cabo pelos serviços secretos portugueses durante mais de onze anos e no vastíssimo território que vai do Equador ao Cabo da Boa Esperança e nos países que se encontravam na área de interesse de Angola e de Moçambique, uns aliados, como a África do Sul e a Rodésia, outros que serviram de base aos movimentos de libertação como os dois Congos, a Zâmbia, a Tanzânia e o Malawi.
Estabeleceu uma relação de trabalho muito próxima com o general Costa Gomes e partilhava com ele a análise da estratégia do MPLA tentar fazer a ligação da fronteira leste ao Norte, pela rota Agostinho Neto. São José Lopes surge também ligado à criação dos Flechas, as tropas especiais da PIDE, conseguindo para elas um estatuto de complementaridade com as Forças Armadas que evitou grandes atritos e disputas de protagonismos.
A acção militar no Leste não teria tido os assinaláveis resultados operacionais que teve se não fosse a “boa informação” que a PIDE/DGS forneceu ao comandante e ao seu estado-maior. As operações do “Agrupamento Siroco” em 1969 e 1970 assentaram em informações rigorosas sobre as movimentações e as intenções dos guerrilheiros.
Mas São José Lopes e Costa Gomes foram capazes de jogar o perigoso jogo que Savimbi lhes propôs através dos madeireiros do Luso. A Operação Madeira, com a qual Costa Gomes e São José Lopes colocaram a UNITA a combater o MPLA por sua conta, revela a sabedoria do homem que nos interrogatórios aos prisioneiros declarava “eu sou o cérebro!”
São José Lopes é dos poucos dirigentes da PIDE que não pertencia a nenhuma das facções conhecida da organização. Era o homem das informações de África, dele dependiam tanto os estados-maiores portugueses de Lisboa, Luanda ou Nampula, como os da África do Sul e da Rodésia, por isso era praticamente intocável.
Por ele passaram as altamente sensíveis informações relativas ao “Exercício Alcora” e o sistema de alianças entre Portugal e os dois países do apartheid.
Em algumas acções muito importantes, o papel de São José Lopes continua a ser um mistério: no caso do assalto ao navio Angoche e desaparecimento da tripulação e no caso do assassínio de Eduardo Mondlane.
Talvez nunca se venha a saber até que ponto São José Lopes foi, em qualquer destes casos, ultrapassado por uma toupeira de Lisboa, ou foi, ele próprio, o seu mandante.